B – F# – E – Bb – C – F – C# – G – D – A – Ab – D#

patch

http://organismo.art.br/puredata/

interface


control shift b
é:
bang é um botão “faça”

control 2
é uma mensagem
control 1 é um objeto
cada objeto é um programa

control shift chama-se toogle é um “liga e desliga”
o metro em milisegundos
500 milisegundos é correspondente í  seminima a 120 – 0.5 hertz
a mensagem “sei lá” a cada meio segundo aciona o bang
o pulso de refresh é de 60 hertz
ou seja, 250 milisegundos

control 3 é numero inteiro
array – vetor / tabela
control 5 é comentário

som do oscilador

A4 – 69 – 440 hz

o objeto gráfico fala diretamente com o sistema ou com outros objetos

Eterno

As janelas mudaram de cor e ainda são incompreensí­veis os ventos que sopram os nimbos nos últimos seis meses. Faz frio e as tormentas são noturnas. Um entrecortado de vazios entorpece e como que pára este tempo. Lugar de sombras ou de profundo amor. Ponta de precipí­cio ou beirada de túmulo. Flores murchas e o odor úmido do decompor atravessam as horas presas nas carnes quase usufruí­das como prostituição, puramente. Arremetidas. Retido. Flores fadadas í  secura e í  escuridão segundo grita um oco lá do infinito das gavetas de memórias e instintos. Embora felizes com as passagens velozes de quase amor, os dias de ausência cobrem as pernas de veias. O envoltório da Alma repetirá o destino destas murchas e ensimesmadas pétalas de mãos dadas. As pequeninas, por não poderem andar, restarão presas ao vaso mal cuidado, sua terra velha semi-árida e as beiras com lascas adquiridas ao longo dos tratos. Flores e Alma a sentirem o aroma da morte. Sem pernas na beirada de um túmulo, murcharão, por destino, inevitavelmente, jazendo simplesmente como margaridas esquecidas que são. O corpo, em pó esmaecido, padecerá do suplí­cio eterno da constatação de que quanto mais antigo o túmulo, mais sozinho.

O REI EST� NU!

antipostal
Antipostal, foto tirada em 2002, por Daniela Mattos: humor contra o estelionato cultural.

Há mais de 2 mil anos, o estrategista chinês Sun Tzu, autor de A Arte da Guerra, já dizia: “Toda a arte da guerra tem por base o logro”.

171

Por Rubens Pileggi Sá

“AMOR: humor”
Oswald de Andrade

171 é um artigo do código penal, sobre estelionato, mas que se transformou em gí­ria para designar alguém malandro, sempre tentando dar um golpe, vendendo o que não possui, entregando documentos falsos em lugar dos verdadeiros, enganando, mentindo, levando prejuí­zos dessa espécie a quem lhe aparecer pela frente.

171 é aquele polí­tico que não tem nada a perder em uma eleição e promete até trazer as próximas olimpí­adas para a cidade, motel de graça para todos, acabar com os impostos, arranjar até namorado(a) para quem não tem. É aquele tipo de polí­tico que sempre coloca o verbo na primeira pessoa, repetindo o bordão do fez e vai fazer mais. Que sempre tem um ílib (sic) contra quem o denuncia como desonesto e corrupto. Por sorte, não temos deles por aqui!

171 é aquele sujeito que tira “um sarro” em todo mundo e muita gente ainda acredita em suas palavras como se fossem sérias e verdadeiras. O 171 sabe que não adianta levar a vida tão í  sério, afinal, dela ninguém sairá vivo, como já disse o compositor Belchior. O 171, por fim, garante-nos a diversão e o entretenimento, com sua “lábia”. 171 é o palhaço da ocasião, aquele que nos obriga í  risada constrangida. É o enganado que aprendeu com o enganador o exercí­cio da sobrevivência. É o anti-herói por excelência. É o nosso Macunaí­ma. É o que há de mais profundamente verdadeiro em cada um. Em cada um de nós, brasileiros.

Transformar esse método em piada é a única chance de não se deixar contaminar por algo que poderia nos tirar o humor. Devolver ao 171 – sob forma de chiste, blague, blefe – a mentira que, de tanto repeti-la, ele próprio acaba acreditando, é a melhor arma. Responder-lhe com argumentos sérios ou indignados seria como que validar sua posição. Seria dar corpo a um engano.

No fundo, no fundo, é isso que se espera, também, da arte. Da verdadeira Arte. A arte como engano, como “vontade de ilusão” , como já disse o filósofo. E nada melhor para aceitar o engano do que o humor.

Marcel Duchamp foi, talvez, o primeiro artista a se dar conta desse “jogo de enganos”, ao deslocar do objeto para a idéia, a “aura” que até então cobria a arte. Ao eleger um banquinho com uma roda de bicicleta como peça de arte, todo o entendimento que se tinha, até então, de arte como “ciência do belo”, caiu por água abaixo. Ao retirar um objeto industrial de sua função e colocá-lo dentro de um museu de arte, chamou í  responsabilidade os artistas para o mundo em que estão inseridos. Não dava mais para o artista ficar de costas para a realidade, mudando cores para lá e para cá. Era preciso mais. Era preciso se posicionar. Arte passava a ser sinônimo de atitude. Aos que lhe perguntavam se sua atitude era uma ironia, respondia que não, que sua atitude tinha era “humor”. O que podia ser uma ironia, mas não deixava, de qualquer modo, de ser, também, humor.

Humor é uma estratégia da qual muitos artistas e movimentos têm lançado mão, desde então. O movimento “Força Jovem” é um deles. Inspirado em slogans de campanhas eleitorais e na eterna relação entre a juventude e o novo (sí­mbolo antigo do modernismo), brinca com sí­mbolos e mitos revolucionários, vendendo carteirinhas de anarquista, atestado de herói, passe de lí­der, etc e utiliza-se da mais deslavada cara de pau para anunciar a redenção pelo futuro, com frases vazias, mas cheias de efeitos. Seu assumido cinismo o torna politicamente incorreto, e, ao mesmo tempo, crí­tico feroz da cooptação de quem usa a ingenuidade alheia para dela tirar partido.

O Stressionismo é outro movimento – movimento, não, surto! – cuja poética “está fundamentada na falta de poética”, segundo seu criador Wilson Inácio (www.stressionismo.hpg.ig.com.br) . O manifesto Stressionista prega que “todo artista é um crí­tico, mas nem todo crí­tico é um artista”. O ví­deo que apresenta trabalhos stressionistas começa com a gravação de uma fita cassete, parada, enquanto uma voz feminina diz coisas como: “o stressionismo quer defender a culinária enquanto arte. Comer é privilégio de poucos. A Arte, também”.

Outro “movimento surgido recentemente é o “Miguelismo”. Miguelismo, vem de “Migu锝. Dar uma de “Migu锝. De “João-sem-braço”. De conversar, tentando convencer. Ou de fingir que não é consigo a questão. Seu “fundador”, João Fábio, inventou até uma exposição relâmpago de suas pinturas, cujo evento recebeu o sugestivo nome de C.I.P.í. (Circuito Independente Paralelo de Artes), mostrando que até na falta do que dizer, “si pá, joga um migué que cola”. Essa a lei do 171. Pode parecer ridí­culo, e o é, mas é incomparavelmente mais corrosivo e inteligente do que querer se passar por sério, fingindo-se estar acima do sarro e da gozação.

Os ingredientes finais para o sucesso são as altas somas de dinheiro em jogo e a arte do blefe: um jogador pode vencer uma partida mesmo com cartas ruins na mão, desde que faça seu adversário acreditar no contrário, por meio de gestos, olhares e apostas.

axis mundi

axis mundi (by Mathieu Struck)
Photo: Mathieu Struck
Creative Commons License

The Human Abstract
(William Blake)

Pity would be no more
If we did not make somebody poor,
And Mercy no more could be
If all were as happy as we.

And mutual fear brings Peace,
Till the selfish loves increase;
Then Cruelty knits a snare,
And spreads his baits with care.

He sits down with holy fears,
And waters the ground with tears;
Then Humility takes its root
Underneath his foot.

Soon spreads the dismal shade
Of Mystery over his head,
And the caterpillar and fly
Feed on the Mystery.

And it bears the fruit of Deceit,
Ruddy and sweet to eat,
And the raven his nest has made
In its thickest shade.

The gods of the earth and sea
Sought through nature to find this tree,
But their search was all in vain:
There grows one in the human Brain.

(Proximidades de São Luiz Gonzaga-RS, janeiro-2007)

torço pra que o robô delete e/ou manchete sem foto, há cores.

simples se fosse só caospital
macaco puxando bugio lesado de volta pra espantar chuva
pra espantar ví­rus da gripe surtando que urro ou rabisco é penicilina
eloquencia da lesão do esforço repetitivo
banaliza eloquencia
dispensa a trema
aki. com ponto.

isso não é verso
e tua gramática que se molde no sono do ââ? Â

todas tuas subsâncias anestesicas

vetor

teu desespero servidão
se move se culpa por mascar o osso do morto
mente que viu o que pensa virar carne
liga a caixa dissimula o autismo

epifaniza o delí­rio da dicionária

multiplica os corpos
justifica os copos
cospe em silêncio os totens nomes-próprios a não-reler

acabou-se o fim do mundo

seios para um novo reino
genêros pra quem verte leite

tua culpa – tu que decidiu prover sentido

e do analfabeto ao rabisco, do rabisco ao gesto

do tropeço ao ââ? â??

I LOVE THIS COMPANY, YEAH!

surplus

Charuto Cubano: As sociedades de consumo
destruí­ram o meio ambiente.
Exterminaram milhões de espécies
de plantas e animais.
Envenenaram os mares,
os rios e os lagos.
Poluí­ram o ar.
Encheram a atmosfera com dióxido
de carbono e outros gases nocivos.
Destruí­ram a camada de ozônio.
Esgotaram nossas reservas
de petróleo, carvão e gás natural,
além das fontes de minério.
Exterminaram nossas florestas
e destruí­ram suas próprias.

E o que restou para nós?

Subdesenvolvimento. Pobreza.
Dependência. Atraso.
Dí­vidas. Incerteza.

Para as sociedades superdesenvolvidas,
o problema não é o crescimento,
mas a distribuição.
Não apenas entre eles mesmos,
mas entre todos.

O desenvolvimento sustentável
é impossí­vel
sem uma distribuição mais justa
entre todas as nações.

Antes de tudo, a humanidade
é uma grande famí­lia
que compartilha o mesmo destino.

Dada a severa crise atual,
estamos diante de um futuro ainda pior,
que nunca nos permitirá
resolver a tragédica econômica, social
e ecológica de um mundo
cada vez mais fora de controle.

Alguma coisa precisa ser
feita para salvar a humanidade.

Um mundo melhor é possí­vel!
Dano í  propriedade,
destruição da propriedade.

Ferrari: Aqueles que vieram aqui,
para se manifestarem pacificamente,
não puderam fazê-lo
por causa de certos indiví­duos
com uma quase profissional
dedicação í  violência.

Coquetel Molotov: Dano í  propriedade não é violência. Um edifí­cio
ou uma janela não podem ser violentados.
É diferente para nós
da questão da violência.
Isso não é violência, a não ser que
se trate de ataque a indiví­duos.
Coisa que não fazemos.

Pessoas: Polí­cia… Assassina!

Coquetel Molotov: A elite estava em pânico,
especialmente depois de Seattle.
Estavam como que
buscando as causas.
E o único nome ao
que poderiam associar era John Zerzan.

Se você está buscando
a mente por trás de movimento,
ela é definitivamente John Zerzan.
Ele escreveu um livro,
dizendo que para salvar o mundo
devemos voltar
í  idade da pedra.
E o modo de chegar lá é
destruir a indústria e tudo mais.

Doador de Sangue: É meio curioso ou estranho
que eu tenha sido chamado
o arquiteto da tática de
destruição da propriedade
ou do ativismo Black Block.
Isso certamente não é verdade.

Coquetel Molotov: Zerzan tem uma vida modesta, e por
muito tempo sua única fonte de renda
vinha a partir da
doação de seu próprio sangue.

Doador de Sangue: Nós estamos tentando estimular
apenas o questionamento.
Por que as pessoas vão lá fora e tentam
protestar ou fazer alguma coisa?
Isso não é violência insensata.

A insensatez é sentar ali,
drogar-se, assistir í  MTV.
E então você arranja um emprego e cai
na submissão. Para mim essa é a violência.

Há cada vez mais sinais
em todo lugar
de que a vida do consumismo
não é nada satisfatória.

Tio Sam: Não podemos deixar com que o
terrorismo atinja seu objetivo
de intimidar nossa nação
o ponto de que não possamos mais…
Onde as pessoas não possam mais comprar.
Onde as pessoas não possam mais comprar.

Doador de Sangue: A vontade de consumir te aterroriza.
Somos aterrorizados para
nos tornarmos consumidores.

Nós temos a liberdade de escolher
entre as marcas A e B.
É essa a liberdade que temos.

Tio Sam: Não podemos deixar com que o
terrorismo atinja seu objetivo
de intimidar nossa nação
ao ponto de que não possamos mais…
…não possamos mais
conduzir nossos negócios.
Onde as pessoas não possam mais comprar.

Doador de Sangue: Sim, eu acho que há coisas demais.
Trabalhar constantemente
e consumir constantemente. É loucura.

Está destruindo tudo,
vai tudo desaparecer.

Eu vejo muito pouco
do que vale a pena preservar.

Não é proveitoso ou saudável
manter esse sistema.

Conseguir todas essas coisas
é uma questão de compulsão.

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Pessoas são obrigadas a trabalhar
em minas e em linhas de produção.

Sem essas coisas, nós não temos
tudo isso. Um mundo de coisas
para as quais devemos lutar
na formação das nossas vidas.

Eu acho que ninguém leva isso a sério,
mas a inércia se encarrega de levar tudo adiante.

Isso precisa parar.
Isso precisa ser destruí­do.

Charuto Cubano: Eles andam pelas ruas, expostos
ao constante veneno da propaganda,
semeando a fantasia, a ilusão
e o desejo do
consumo impossí­vel.

Nós teremos um novo mundo.
Onde as pessoas não compram.

Consciência: O desejo de consumo te aterroriza.

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Televisor: Acho que os jovens de hoje
não têm nenhum futuro.

Coquetel Molotov: Acho que todos no
mundo agora podem sentir…

…podem sentir a força dessas
grandes corporações multinacionais

que estão efetivamente
começando a dominar o mundo.

Essas grandes
corporações multinacionais
gastam 400 bilhões de dólares
por ano tentando nos vender
fast food e carros, então é claro
que isso provoca um grande impacto em nós.

O comercial de TV de 30
segundos é a mais poderosa
peça de comunicação que os
seres humanos já criaram.

Você…
…está sentado na sua poltrona,
passivo, sem nada a dizer.

Enquanto lá fora há pessoas espertas
fazendo programas de TV e comerciais fantásticos.
Eles são os poderosos produtores
da informação e do significado.

Você é o consumidor passivo
de todo esse significado.
E o significado não é nada bom.
É apenas propaganda para a cultura de consumo.

Você pensa que felicidade é comprar
cada vez mais, especialmente no Natal.
Vamos aos shopping centers
e comprar coisas pra caramba, sabe como é?

Vendedor: O cliente pode escolher o
tipo do corpo e o da cabeça.
Então ele escolhe
a cor da pele,
a maquiagem, incluindo
a cor da boca,
a quantidade de sombra nos olhos,
delineador. Eles escolhem a cor do olho,
a cor do cabelo, o tipo de cabelo,
as unhas, praticamente tudo.

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Eles podem escolher exatamente o que quiserem.
A diferença entre nossas bonecas e
a maioria das que você vê por aí­ é óbvia.
Nós usamos técnicas hollywoodianas
de efeitos especiais para fazê-las.

Se formos pra ali dentro,
eu posso te mostrar cinco delas.

Esse é o tipo de cabeça ní° 3.
Ela se adapta a certos corpos.
As cabeças e corpos são combináveis.
Esse é o tipo de cabeça ní° 2.
Esse é o tipo de cabeça ní° 6.
Está sem cabelo por enquanto.
Essa é outra cabeça, ní° 7…
Essa é a cabeça 4… e cabeça 8.

Estamos lançando agora o boneco masculino.
Aqui está um dos corpos masculinos.
Ele está sem a
“coisa” ainda, mas…
Se você olhar ali
naquele canto, há um.
Esse na verdade é careca.

Esse é o corpo tipo 5.
Pequeno com seios bem grandes.
Este é um dos corpos mais recentes.
Esse é o corpo tipo 2, que também
é pequeno, mas com seios um pouco menores.
Mas são ainda de um bom tamanho.
Esse é o corpo tipo 4, que é pequeno
com seios também bem pequenos.
E aqui está outro ní° 2…
Esse é o numero 1,
bem mais alto que os outros.
Esse é um corpo do tipo top-model,
bem magro e alto,
pra quem gosta desse biotipo.

Elas não são baratas. Cada uma dá
bastante trabalho, usamos materiais caros.
então elas custam algo
entre 6 e 7 mil dólares,
dependendo do corpo
e se é feminino ou masculino.

Veja, os seios são macios,
preenchidos com silicone mais macio.
Então eles são mais macios
que o resto do corpo.
É uma das caracterí­sticas de venda
que mais atraem os consumidores.

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Mentirosos: …o PIB, PIB, PIB…

…um por cento.
…um por cento.
…um por cento.

Doador de Sangue: Dizem que o futuro
tecnológico dá poder í s pessoas,
torna-as mais próximas,
dá a elas acesso í 
variedade…

Disseram-nos que a
tecnologia libertaria as pessoas
e elas não teriam
que trabalhar tanto.

Viajo por todo lugar e só escuto
as pessoas dizendo:

“Tenho meu bipe, meu
celular, meu…”

Não posso nunca me afastar do trabalho.
As pessoas estão em uma coleira eletrônica
com todos esses novos aparelhos.
Elas estão cada vez menos
separadas do trabalho e da tecnologia.

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Ví­rus: Como usamos Bluetooth,
Como usamos 3G…
Será possí­vel
ficar em casa e trabalhar
apenas realizando uma ví­deo-conferência
com seus colegas de trabalho.

O computador será a melhor
ferramenta de socialização.
É realmente uma ferramenta
que pode aproximar as pessoas
mais do que isolá-las.

Doador de Sangue: A moderna tecnologia favorece
mais o distanciamento do que a proximidade,
a eficiência sobre a diversão.

Variedade…

Eu gostaria de ver
um projeto gigantesco de demolição.
Para nos livrar de todas essas coisas.
Para arrancar as estradas e as ruas.

Livrar-nos de tudo isso que se baseia
na destruição da natureza
e que nos separa dela,
que mantém as pessoas nessa monotonia
de trabalhar constantemente
e consumir constantemente. É loucura.

Isso está destruindo tudo,
vai tudo desaparecer.

Consciência: Um norte-americano comum consome
5 vezes mais que um mexicano.
10 vezes mais que um chinês.
E 30 vezes mais que um indiano.

Dez…

Trojan Macedo: Empreendedores, empreendedores, empreendedores…

Nove…

Coquetel Molotov: Acho que todos no
mundo agora podem sentir…

Oito…

…podem sentir a força dessas
grandes corporações multinacionais.
Muitas dessas empresas são mais
poderosas até do que governos.

Sete…

O primeiro mundo…

Seis…

…nós somos 20 por cento
da população mundial.
Mas consumimos 80 por cento
dos recursos do planeta.
Esse ní­vel de consumo
é simplesmente insustentável.

Se continuarmos a
consumir nesse ní­vel,
certamente iremos bater
contra a parede.

Cinco…

Se formos idiotas ao
continuar não escutando

Quatro…

os primeiros sinais de aviso
que o planeta está nos mandando,

Três…

teremos uma era terrí­vel e talvez
levaremos séculos para a cura do planeta.

Dois…

Haverá um colapso
econômico mundial.

Um…

Haverá um colapso
econômico mundial.

Zero

Ignição

Decolar!

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Charuto Cubano: Quanta porcaria!
É repugnante o comportamento de muitos
lí­deres ao assistirem, como a um castelo
de cartas desmoronando, ao colapso
de seus modelos econômicos.
Cuba não promove o consumismo!
Viva o socialismo!
Pátria ou morte!
Venceremos!

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ECONOMIZE: CONSUMA APENAS O NECESSíRIO

Dona da Bodega: Você tem um cartão com todas as
coisas que você pode pegar do armazém.
Isso é arroz, isso é feijão,
isso é óleo, de cozinhar, é claro,
açúcar, sabão e ali
vai estar a pasta de dentes.

Você pode ter tudo.
Isso é carne, isso é pão…
Você pode notar que temos cotas
diárias de pão. Todo dia, todo mês.
Janeiro, fevereiro, março…
Bom, é isso.

Você tem esse cartão,
vai até o armazém
e todo mês eles te dão uma cota
de acordo com o sistema de consumo.
Acho que é um sistema muito bom
para que cada um tenha
pelo menos suas necessidades
básicas cobertas.

Animador de Festa: E agora nosso lí­der supremo:
Comandante-chefe Fidel Castro Ruz!

Pessoas: Fidel, com certeza,
pros ianques não dá moleza!
Fidel, com certeza,
pros ianques não dá moleza!
Fidel, com certeza,
pros ianques não dá moleza!

Charuto Cubano: Distintos convidados.
Queridos compatriotas…

Risonha: Arroz.
Feijão.
Arroz e feijão.
Arroz, feijão.

Para um cubano, viajar é
um grande acontecimento.
Eu fui í  Europa com uma
carta-convite de um amigo.
Na primeira vez em que fui a um
supermercado, meu queixo caiu.
Tudo foi um grande choque.
Existe tanta coisa de tudo.
Maçãs, pêras, bons perfumes,
xampus bons, tênis.
E foi assim.
Fui muito bom, muito mesmo!

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Dona da Bodega: Nós a chamamos de pasta de dientes.
Sua marca é Perla. Todo mundo conhece.
Nem precisam mais colocar a marca no produto.

Charuto Cubano: Cuba não promove o consumismo.
Cuba não se utiliza da propaganda.
Cuba, nosso paí­s, é de longe
o mais democrático
paí­s do planeta.

Risonha:
Na Inglaterra eu não comi feijão.
Não queria comer feijão.
Eu disse: “Eu não quero feijão,
quero alguma coisa diferente.”

A primeira coisa que fiz
foi ir ao McDonald’s.
Eu queria ver o McDonald’s.
Eu queria… Meu Deus!
Um Big Mac, um grande, grande Big Mac!

E eu via a TV,
trocava os canais, comia…
Eu cheguei em casa,
81 quilos, 81 quilos!

Tanta comida!
Comendo, de novo e de novo!
Eu sempre estava com fome,
meu corpo pedia por mais!
Comia e assistia TV.
Música. Programas musicais…
McDonald’s, Burger King…

Charuto Cubano: Quanta porcaria!
A economia global de hoje
é um cassino gigante!

Consciência: O Natal parece ter chegado
mais cedo em Wall Street neste ano.
As cada vez mais absurdas ações
de internet aumentaram de novo ontem.
Spray tem 50 empregados
da geração Nintendo,
que sabem tudo sobre internet
e trabalham por puro prazer.

Svante é um tí­pico jovem
da sociedade da informação.
Com apenas 19 anos, já milionário, vai
freqüentemente a trabalho para San Francisco.

Volvo:
Cerca de 1 ou 2 milhões.
– 3 milhões e meio.
– 5 milhões.
– Quase 10 milhões.
– 14 milhões.
18 milhões…

Lá no fundo eu odeio dinheiro, e
não quero pensar mais sobre isso.

É engraçado, metade do meu tempo se destina
a achar maneiras de gastar meu dinheiro.

É tudo tão fácil.
Tenho tudo quando eu quiser,
todo o dinheiro que quero.
Não tenho nenhum problema.

às vezes eu realmente sinto
falta da vida dura de antes, mesmo.
Pensar que seria difí­cil
gastar dinheiro. Posso viajar…
Há tantas maneiras simples
de gastar dinheiro.

É como: “Não tem problema,
vem comigo, meu bem…”
Mas sei bem que não é fácil,
toda minha energia está centrada nisso.

É isso o que me leva cada vez mais
pra dentro de mim mesmo, eu me sento e…
Estou tão vazio.
Quero encontrar um propósito pra isso tudo.
Preencher meu espí­rito com alguma coisa.
É engraçado, metade do meu tempo se destina
a achar maneiras de gastar meu dinheiro.

Minha mãe me disse ontem:
“Quem dera se você não tivesse esse dinheiro”.
“O que você está falando?” – “Quem
dera se você não tivesse esse dinheiro!”

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1 milhão.

2 milhão.

3 milhões e meio.

5 milhões.

Cerca de 10 milhões.

14 milhões.

18 milhões…

Era um excesso constante,
e você se acostuma a ele.
Um carrossel de dinheiro
que saiu de controle,
e em retrospectiva tudo
me parece tão idiota.

Quem vai querer isso, realmente? Ninguém.

Posso comprar um bom apartamento,
e me sentar ali, numa boa.
E então eu posso conhecer uma garota,
impressioná-la com meu apartamento.
Eu poderia dizer: “Minha querida,
vamos nos casar e comprar uma casa.”
E quando tivéssemos filhos,
então – opa, tudo acabou.

Opa, tudo acabou.

às vezes eu realmente sinto
falta da vida dura de antes, mesmo.

18 milhões.

14 milhões.

10 milhões.

5 milhões.

3 milhões e meio.

2 milhões.

1 milhão.

1 milhão.

1…

Doador de Sangue: Uma existência confortável,
uma carreira, todas as promessas
de bem-estar material
são um tanto vazias.
Algumas pessoas certamente
compreendem esse vazio,
bem como os sérios limites
da realização e da liberdade.

De outra forma elas não
o fariam. Elas diriam:
“Vou apenas conseguir um emprego
e ser feliz.” Bem, quem é feliz?

Animador de Festa: Senhoras e senhores: Steve Ballmer!

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Trojan Macedo: Vamos lá! Levantem! Vamos!

Eu tenho quatro palavras pra vocês:

Eu…

Amo…

Esta…

Empresa!

YEAH!!!!

Consciência: Mais uma vez…

Tio Sam: Estou clamando por uma nova ética.
Os paí­ses desenvolvidos têm o dever
de não apenas dividir nossa riqueza,
mas também o de promover fontes
de produção dessa riqueza.

Doador de Sangue: Por que as pessoas vão lá
fora e tentam protestar
ou fazer alguma coisa?

Isso não é violência insensata.
A insensatez é sentar ali,
drogar-se, assistir í  MTV.
E então você arranja um emprego e cai
na submissão. Para mim essa é a violência.

Danos limitados í  propriedade
ou destruição da propriedade são necessários.
Isso quebra os limites
da “polí­tica comum”.

O que você conquista segurando uma
placa em um desses “protestos comuns”?
Por décadas eu vi isso.

Não adianta nada.

As pessoas não dão atenção. Por que
elas dariam? Não vale a pena.
Mas quando as pessoas lutam,
isso é alguma coisa.

Isso atrai e realmente deveria
atrair, porque é real.
Não é apenas um jogo simbólico de “Eu me
sinto bem. Eu tenho minha placa de protesto.”

Bem, eu não dou importância a isso.
Se isso fosse válido,
se fosse eficiente…
Eu preferiria uma manifestação pací­fica.
Ninguém correria riscos.
Ninguém se machucaria ou seria preso.
Ninguém seria atingido na cabeça por um policial.
Nem mesmo uma janela seria quebrada. Perfeito.

Mas a coisa não funciona dessa forma.

Dano í  propriedade…

Destruição da propriedade…

Tio Sam: Estou clamando por uma nova ética.

Doador de Sangue: As propriedades corporativas são os alvos
legitimamente mais óbvios para mim.
Bancos, lojas caras e franquias
como a Starbucks e outras.

As pessoas as percebem como parte
de um sistema global, parte desta forma
abusiva, regulatória
e destrutiva,
que está acabando com todas as
diferenças, toda a liberdade.

As pessoas de 2 milhões de anos
atrás não destruí­am a natureza.
Elas não faziam guerras.
Tinham tempo livre e tudo mais.

É o que se entende por
primitivismo, de certa forma.

E para mim isso é muito inspirador.

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Coquetel Molotov: Neste novo mundo…
Neste novo mundo…
Neste novo mundo, as pessoas
recuperariam sua própria cultura.
Terí­amos um novo conjunto de
valores. Uma mudança de paradigma.

Uma grande mudança mental global,
em que as pessoas rapidamente diriam:

“Eu não quero um carro da moda.”

Em que as pessoas rapidamente diriam:

“Eu não quero outro Big Mac.”

Em que as pessoas rapidamente diriam:

“Eu não quero vestir

um jeans da Diesel.”

Em que as pessoas rapidamente diriam:

“Eu quero ter uma vida

simples e prazerosa.”

Em que as pessoas rapidamente diriam:

“Eu quero ter uma vida

simples e prazerosa.”

Risonha: Eu quero alguma coisa diferente.

surplus-46.jpg

Tio Sam: …uma vida simples e prazerosa.

**Legenda do filme Surplus (2003) de Erik Gandini

Move 36. Now itôs your turn.

Brain and Body

Knowledge and will
As discussed in sections knowledge and will, we understand knowledge as a model, or recursive generator of predictions; while will is that agency which selects, or resolves uncertainty, in systemic processes. Knowledge and will are intimately related in the actions of all neural systems: the availability of knowledge acts as an a priori constraint on the range of possible actions; while the will selects a final action from that set.

In our thought and language we distinguish two different classes of elements which we say exist: our beliefs, expressing what we think we know; and our desires or intentions, expressing what we are striving for and intend to do. We can describe the elements of the first class collectively as knowledge, and the elements of the second class as will. They are not isolated from each other. Our goals and even our wishes depend on what we know about our environment. Yet they are not determined by it in a unique way. We clearly distinguish between the range of options we have and the actual act of choosing between them. As an American philosopher noticed, no matter how carefully you examine the schedule of trains, you will not find there an indication as to where you want to go. We think about knowledge as a representation of the world in our mind.

Another way to describe the relation between knowledge and will is as a dichotomy between not-I and I, or between object and subject. The border between them is defined by the phrase “I can”. Indeed, the content of our knowledge is independent of our will in the sense that we cannot change it by simply changing our intentions or preferences. On the contrary, we can change our intentions without any externally observable actions. We call it our will. It is the essence of our “I”.

Source: Principia Cybernetica

Brain in Action


ON SLEEP AND SLEEPLESSNESS
Aristotle (350 BC)

WITH regard to sleep and waking, we must consider what they are:
whether they are peculiar to soul or to body, or common to both; and
if common, to what part of soul or body they appertain: further,
from what cause it arises that they are attributes of animals, and
whether all animals share in them both, or some partake of the one
only, others of the other only, or some partake of neither and some of
both.
Further, in addition to these questions, we must also inquire what
the dream is, and from what cause sleepers sometimes dream, and
sometimes do not; or whether the truth is that sleepers always dream
but do not always remember (their dream); and if this occurs, what its
explanation is.
Again, [we must inquire] whether it is possible or not to foresee
the future (in dreams), and if it be possible, in what manner;
further, whether, supposing it possible, it extends only to things
to be accomplished by the agency of Man, or to those also of which the
cause lies in supra-human agency, and which result from the workings
of Nature, or of Spontaneity.

Measure of the Head


Cuidados com seu pitbull

Uma boa caminhada é um exercí­cio bem gostoso para o cão, deixar ele cheirar e fazer xixí­ faz parte do processo, o passeio deve ser agradável ao cãozinho, importante estar em ordem com a vacina, particularmente aconselho reservar o filhote até completar a carteira de vacinas e só depois apresentar o passeio na rua, pois o fato de cheirar as fezes de animais adultos e/ou doentes pode conter encubadas viroses e até desenvolver no animalzinho com saúde ainda vulnerável.

Que tipo de exercí­cios devo fazer com meu pit bull?
Todos! Corrida e natação são muito interessantes. Outra coisa que eles adoram é o bungle jump, um objeto qualquer no qual eles possam se pendurar pela boca. Isto nada tem a ver com treinamento para rinhas ou aumento da agressividade do cão. Ao contrário. O pit bull é um cão de alto prey drive e o bungle jump é uma boa válvula de descarga.

Mental Curves

What Is the Soul?
Bertrand Russell, 1928.
One of the most painful circumstances of recent advances in science is that each one makes us know less than we thought we did. When I was young we all knew, or thought we knew, that a man consists of a soul and a body; that the body is in time and space, but the soul is in time only. Whether the soul survives death was a matter as to which opinions might differ, but that there is a soul was thought to be indubitable. As for the body, the plain man of course considered its existence self-evident, and so did the man of science, but the philosopher was apt to analyse it away after one fashion or another, reducing it usually to ideas in the mind of the man who had the body and anybody else who happened to notice him. The philosopher, however, was not taken seriously, and science remained comfortably materialistic, even in the hands of quite orthodox scientists.
Nowadays these fine old simplicities are lost: physicists assure us that there is no such thing as matter, and psychologists assure us that there is no such thing as mind. This is an unprecedented occurrence. Who ever heard of a cobbler saying that there was no such thing as boots, or a tailor maintaining that all men are really naked? Yet that would have been no odder than what physicists and certain psychologists have been doing. To begin with the latter, some of them attempt to reduce everything that seems to be mental activity to an activity of the body. There are, however, various difficulties in the way of reducing mental activity to physical activity. I do not think we can yet say with any assurance whether these difficulties are or are not insuperable. What we can say, on the basis of physics itself, is that what we have hitherto called our body is really an elaborate scientific construction not corresponding to any physical reality. The modern would-be materialist thus finds himself in a curious position, for, while he may with a certain degree of success reduce the activities of the mind to those of the body, he cannot explain away the fact that the body itself is merely a convenient concept invented by the mind. We find ourselves thus going round and round in a circle: mind is an emanation of body, and body is an invention of mind. Evidently this cannot be quite right, and we have to look for something that is neither mind nor body, out which both can spring.
Let us begin with the body. The plain man thinks that material objects must certainly exist, since they are evident to the senses. Whatever else may be doubted, it is certain that anything you can bump into must be real; this is the plain man’s metaphysic. This is all very well, but the physicist comes along and shows that you never bump into anything: even when you run your hand along a stone wall, you do not really touch it. When you think you touch a thing, there are certain electrons and protons, forming part of your body, which are attracted and repelled by certain electrons and protons in the thing you think you are touching, but there is no actual contact. The electrons and protons in your body, becoming agitated by nearness to the other electrons and protons are disturbed, and transmit a disturbance along your nerves to the brain; the effect in the brain is what is necessary to your sensation of contact, and by suitable experiments this sensation can be made quite deceptive. The electrons and protons themselves, however, are only crude first approximations, a way of collecting into a bundle either trains of waves or the statistical probabilities of various different kinds of events. Thus matter has become altogether too ghostly to be used as an adequate stick with which to beat the mind. Matter in motion, which used to seem so unquestionable, turns out to be a concept quite inadequate for the needs of physics.
Nevertheless modern science gives no indication whatever of the existence of the soul or mind as an entity; indeed the reasons for disbelieving in it are very much of the same kind as the reasons for disbelieving in matter. Mind and matter were something like the lion and the unicorn fighting for the crown; the end of the battle is not the victory of one or the other, but the discovery that both are only heraldic inventions. The world consists of events, not of things that endure for a long time and have changing properties. Events can be collected into groups by their causal relations. If the causal relations are of one sort, the resulting group of events may be called a physical object, and if the causal relations are of another sort, the resulting group may be called a mind. Any event that occurs inside a man’s head will belong to groups of both kinds;
Well, maybe not any event; to take drastic example, being shot in the head.
considered as belonging to a group of one kind, it is a constituent of his brain, and considered as belonging to a group of the other kind, it is a constituent of his mind.
Thus both mind and matter are merely convenient ways of organizing events. There can be no reason for supposing that either a piece of mind or a piece of matter is immortal. The sun is supposed to be losing matter at the rate of millions of tons a minute. The most essential characteristic of mind is memory, and there is no reason whatever to suppose that the memory associated with a given person survives that person’s death. Indeed there is every reason to think the opposite, for memory is clearly connected with a certain kind of brain structure, and since this structure decays at death, there is every reason to suppose that memory also must cease. Although metaphysical materialism cannot be considered true, yet emotionally the world is pretty much the same as it would be if the materialists were in the right. I think the opponents of materialism have always been actuated by two main desires: the first to prove that the mind is immortal, and the second to prove that the ultimate power in the universe is mental rather than physical. In both these respects, I think the materialists were in the right. Our desires, it is true, have considerable power on the earth’s surface; the greater part of the land on this planet has a quite different aspect from that which it would have if men had not utilized it to extract food and wealth. But our power is very strictly limited. We cannot at present do anything whatever to the sun or moon or even to the interior of the earth, and there is not the faintest reason to suppose that what happens in regions to which our power does not extend has any mental causes. That is to say, to put the matter in a nutshell, there is no reason to think that except on the earth’s surface anything happens because somebody wishes it to happen. And since our power on the earth’s surface is entirely dependent upon the sun, we could hardly realize any of our wishes if the sun grew could. It is of course rash to dogmatize as to what science may achieve in the future. We may learn to prolong human existence longer than now seems possible, but if there is any truth in modern physics, more particularly in the second law of thermodynamics, we cannot hope that the human race will continue for ever. Some people may find this conclusion gloomy, but if we are honest with ourselves, we shall have to admit that what is going to happen many millions of years hence has no very great emotional interest for us here and now. And science, while it diminishes our cosmic pretensions, enormously increases our terrestrial comfort. That is why, in spite of the horror of the theologians, science has on the whole been tolerated.

Phases of History

The universe is a labyrinth made of labyrinths. Each leads to another.
And wherever we cannot go ourselves, we reach with mathematics.
Stanislaw Lem, Fiasco

The Tree of Life

“Ce que cââ?¬â?¢est que penser.
Par le mot de penser, jââ?¬â?¢entends tout ce qui se fait en nous de telle sorte que nous lââ?¬â?¢apercevons immédiatement par nous-mêmes ; cââ?¬â?¢est pourquoi non seulement entendre, vouloir, imaginer, mais aussi sentir est la même chose ici que penser.” Article 9 des Principes de la philosophie.

” Par le nom de pensée, je comprends tout ce qui est tellement en nous que nous en sommes immédiatement connaissants “ Réponses aux secondes objections.

” Il nââ?¬â?¢y a aucune pensée de laquelle, dans le moment quââ?¬â?¢elle est en nous, nous nââ?¬â?¢ayons une actuelle connaissance. “ Réponses aux sixií¨mes objections.
René Descartes

Wheel of the Law

“Trente rayons convergent au moyeu
Mais c’est le vide médian qui fait marcher le char”
Lao Tsé – Tao to king

Solar Man Polar Contrasts Unistate The TransitionPictorial

I want to block some common misunderstandings about “understanding”: In many of these discussions one finds a lot of fancy footwork about the word “understanding.
(…)
I will argue that in the literal sense the programmed computer understands what the car and the adding machine understand, namely, exactly nothing.
(…)
In many cases it is a matter for decision and not a simple matter of fact whether x understands y; and so on.
(…)
My car and my adding machine understand nothing: they are not in that line of business.
(…)
Newell and Simon (1963) write that the kind of cognition they claim for computers is exactly the same as for human beings. I like the straightforwardness of this claim, and it is the sort of claim I will be considering.
(…)
Our tools are extensions of our purposes, and so we find it natural to make metaphorical attributions of intentionality to them; but I take it no philosophical ice is cut by such examples.
(…)
The sense in which an automatic door “understands instructions” from its photoelectric cell is not at all the sense in which I understand English.
(…)
There are clear cases in which “understanding” literally applies and clear cases in which it does not apply; and these two sorts of cases are all I need for this argument.
(…)
To all of these points I want to say: of course, of course. But they have nothing to do with the points at issue.
(…)
We often attribute “understanding” and other cognitive predicates by metaphor and analogy to cars, adding machines, and other artifacts, but nothing is proved by such attributions.
John Searle

The Book of Life

I am the Walrus
(Lennon/McCartney)

I am he as you are he as you are me
and we are all together
See how they run like pigs from a gun
see how they fly
I’m crying
Sitting on a cornflake
Waiting for the van to come
Corporation T-shirt, stupid bloody Tuesday
Man you’ve been a naughty boy
you let your face grow long

I am the eggman
they are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g’ joob

Mr. city policeman sitting
pretty little policemen in a row
See how they fly like Lucy in the sky
See how they run
I’m crying
I’m crying, I’m crying
Yellow matter custard
Dripping from a dead dog’s eye
Crabalocker fishwife
Pornographic priestess
Boy, you’ve been a naughty girl
you let your knickers down

I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g’ joob

Sitting in an English garden
waiting for the sun
If the sun don’t come you get a tan
from standing in the English rain

I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g’ joob

Expert, texpert choking smokers
don’t you think the joker laughs at you
See how they smile like pigs in a sty
See how they snide
I’m crying
Semolina pilchard
climbing up the Eiffel tower
Elementary penguin singing Hare Krishna
Man, you should have seen them kicking
Edgar Allan Poe

I am the eggman
They are the eggmen
I am the walrus
Goo goo g’ joob
Goo goo g’ joob
Goo goo g’ goo
goo goo g’ joob goo
juba juba juba
juba juba juba
juba juba juba juba
juba juba

The Cross Section

Education is what survives when what has been learned has been forgotten.
(…)
I did not direct my life. I didn’t design it. I never made decisions. Things always came up and made them for me. That’s what life is.
(…)
Society attacks early, when the individual is helpless.
(…)
The real problem is not whether machines think but whether men do.
(…)
We shouldn’t teach great books; we should teach a love of reading.

B. F. Skinner

Plan of the Brain

George Orwell, 1984, Chapter 6
(…)
A shrill trumpet-call had pierced the air. It was the bulletin! Victory! It always meant victory when a trumpet-call preceded the news. A sort of electric drill ran through the cafe. Even the waiters had started and pricked up their ears.

The trumpet-call had let loose an enormous volume of noise. Already an excited voice was gabbling from the telescreen, but even as it started it was almost drowned by a roar of cheering from outside. The news had run round the streets like magic. He could hear just enough of what was issuing from the telescreen to realize that it had all happened, as he had foreseen; a vast seaborne armada had secretly assembled a sudden blow in the enemy’s rear, the white arrow tearing across the tail of the black. Fragments of triumphant phrases pushed themselves through the din: ‘Vast strategic manoeuvre — perfect co-ordination — utter rout — half a million prisoners — complete demoralization — control of the whole of Africa — bring the war within measurable distance of its end victory — greatest victory in human history — victory, victory, victory!’

Under the table Winston’s feet made convulsive movements. He had not stirred from his seat, but in his mind he was running, swiftly running, he was with the crowds outside, cheering himself deaf. He looked up again at the portrait of Big Brother. The colossus that bestrode the world! The rock against which the hordes of Asia dashed themselves in vain! He thought how ten minutes ago — yes, only ten minutes — there had still been equivocation in his heart as he wondered whether the news from the front would be of victory or defeat. Ah, it was more than a Eurasian army that had perished! Much had changed in him since that first day in the Ministry of Love, but the final, indispensable, healing change had never happened, until this moment.

The voice from the telescreen was still pouring forth its tale of prisoners and booty and slaughter, but the shouting outside had died down a little. The waiters were turning back to their work. One of them approached with the gin bottle. Winston, sitting in a blissful dream, paid no attention as his glass was filled up. He was not running or cheering any longer. He was back in the Ministry of Love, with everything forgiven, his soul white as snow. He was in the public dock, confessing everything, implicating everybody. He was walking down the white-tiled corridor, with the feeling of walking in sunlight, and an armed guard at his back. The longhoped-for bullet was entering his brain.

He gazed up at the enormous face. Forty years it had taken him to learn what kind of smile was hidden beneath the dark moustache. O cruel, needless misunderstanding! O stubborn, self-willed exile from the loving breast! Two gin-scented tears trickled down the sides of his nose.

But it was all right, everything was all right, the struggle was finished.

He had won the victory over himself.

He loved Big Brother.

(All images above by Dr. Alesha Sivartha, The Book of Life)

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O ultimo capí­tulo da novela está para sair assim que se resolva o dilema instaurado na cabeça do poeta Thadeu Wojciechowski. Este pede ajuda á moscas volantes, para-brisas incandescentes e radio voadores sem pilha na solução do enigma proposto pela pitonisa

Quem souber que diga…

O DIA QUE MATEI O WILSON MARTINS

Capí­tulo 9

O Mulher na vida do Wilson.

– O cara diz que é poeta, Dr. Oliveira,
Mas nem parece homem com aqueles cabelos.
– Me traz esse meliante que lhe arranco os pêlos,
Depois vai ser noivinha até virar caveira.
Nesta delegacia, mando eu e mais ninguém!
Disseram que ele leva a alcunha de O Mulher.
– Certí­ssimo, doutor! Quando o senhor quiser
Começar o interrogatório, tem também
Material apreendido que pode ajudá-lo.
– Então, me traga tudo aqui já, ô, cavalo!

O agente sai e volta derrubando livros
E desabando sobre a mesa onde está o chefe.
– Puta que pariu! Merda! Tira mequetrefe!
Suma, antes que te ponha entre os inativos!
– Desculpe-me, doutor! Sou um desajeitado.
Mas aqui estão as provas apreendidas ontem.
– Livros!? Eu quero a arma. Vão lá e desmontem
A casa do filho da puta efeminado!
– Mas, doutor Oliveira, os livros são as provas
Que temos no momento. Não existem novas.

– Não diga, pangaré! Então, qual é a jogada?
– Os livros pertenciam ao mestre assassinado
E estavam em poder do rapaz acusado,
Quando fui atender no Largo uma chamada.
O caso era uma briga entre duas gostosonas,
E põe gostosa nisso! Quase pulo em cima!
Mas não interferi, porque não havia clima.
Pedi um martini doce e algumas azeitonas.
Comecei a papá-las e, bebericando,
Assisti í  melhor cena que já vi neste ano.

– Vai dar uma de Dalton Trevisan agora?
Poupe-me, mini-pônei. Direto ao assunto!
– Quando as duas se acalmaram, eu me acalmei junto.
Foi então que o acusado fez um bota-fora
De livros muito bons. Um deles caiu-me aos pés.
Ao abri-lo, que surpresa! Trazia em seu bojo,
Do mestre, a assinatura que, em letras de estofo,
Reclama a propriedade. Meu olhar, de viés,
Insuspeito, mirou o alvo e, num salto esperto,
Dominei-o, em segundos, pelo flanco aberto.

A ruiva que há pouco gania que nem cadela,
Voa no meu pescocinho e leva um pescoção.
Algemo o tal Mulher e chamo o camburão,
Enquanto defenestro o namorado dela.
Pensei que ia ser linchado, mas chegou a tropa
E foi enfileirando os bebuns, no cacete.
Um senhor, bem vestido, rouba o capacete
De um guarda e, ao tentar sair de fino, topa
Com o Marreta, aquele negrão do terceiro
DPM, que lhe dá um pontapé no traseiro.

– Ui!, esse deve ter doí­do para caralho.
– O chute pegou saco, cu. Foi bem no meio
Das pernas. Levantou o cara do chão. Sei o
Quanto isso dói. Pro cara sentar, deu trabalho.
Mas prendemos a turma toda no quartel
E colocamos, um a um, sob investigação.
Vão ver o sol quadrado lá na detenção.
Nem a diarista gorda, que fez um escarcéu
Daqueles, escapou das garras do Marreta,
Que atordoou a velha com uma chapoleta.

Foi pipoqueiro, guardador-de-carro, não
Sobrou um pra contar a história lá no Largo.
– Belo trabalho, meu alazão! Café amargo
E uns dias na cela dão juí­zo e correção.
Agora, meu jumento preferido, diga
O que eu quero ouvir. Provas novas não há, certo?
O que temos de oásis em meio ao deserto
De idéias que esse departamento cultiva?
Desembucha, meu baio, não tenho o dia todo.
Solta a galope o rol de culpas desse povo.

– Encontramos, na bolsa da ruiva, maconha,
Um revólver com três cápsulas deflagradas,
E chaves. Como as portas não estão arrombadas,
Podem ter sido usadas pela sem-vergonha
Ou pelo assassino. Testes de baliza já
Estão em andamento, bem como os das chaves.
Burocracia e incompetência são entraves
Enormes. Agora só nos resta esperar.
Na casa do senhor de aspecto grave e sério,
Foi que demos de cara cââ?¬â?¢um grande mistério.

– Ah, foi lá que vocês encontraram a grana?
– Só verdinhas de cem. O pastor tem bom gosto.
– O quê, o cara é pastor? Na Universal tem posto?
– É um peixão pelo jeito. Mora em rua bacana,
Puta mansão, carrões, coleções de boa bebidas:
Vinhos, uí­sques, tequilas, runs, vodkas, absintos
E cachaças das boas, já bem envelhecidas
Nos barris de carvalho, em vários recintos.
A caixa de Blue Label está guardadinha
Para o senhor beber, na próxima festinha!

– Meu purí­ssimo-sangue da Arábia merece
Promoção! Que tal ser o meu braço direito?
– O esquerdo é que lhe falta. Não fosse o defeito,
O doutor já teria chegado í  Marrakesch
A nado. Superintendente da polí­cia é pouco,
Pra quem tem um Q.I. elevado como o seu.
– Ainda bem que tem quem reconheça que meu
Enorme potencial aqui é tratado a soco,
Pontapé e safanão. Relinche, que eu faço gosto,
De ouvir estas verdades assim: rosto a rosto.

– Ah! Chefinho, o senhor já entregou a bufunfa
à corregedoria? Cem mil dólares, Deus!,
O que eu não daria pra tê-los entre os dedos meus.
– Isso não lhe compete, comigo só triunfa
Quem não se mete í  besta e fica bem calado.
E pra você saber, as notas eram xerox,
Só cópias vagabundas. Tirei-as dos potes
E enviei ao Secretário, Dr. Paulo Furtado.
– Falsas? Aquelas notas? Eu não acredito!
– Pois pode acreditar. Se quiser, eu repito.

Mas chega desse assunto. O que mais conseguiu?
– Bem…tem algumas coisas, mas muito intrigantes.
Muito mesmo. A diarista já trabalhou antes
Com o Wilson e foi demitida em abril.
E foi bem problemática a demissão
Por justa causa. Temos que investigar fundo.
Parece que tem culpa no cartório, pois, junto
Com ela estava uma corrente de ouro, tão
Valiosa, que há queixa de roubo. E quem fez?
– O Wilson Martins, certo, meu bom bolonhês? (1)

– Muito bem, perspicácia é arma da polí­cia.
Mais comprometedor é que ela tinha cópias
De chaves em sua bolsa que parecem próprias
De uma mansão e não de um mocó de caliça.
Aí­ tem, viu, doutor!? A velha tem varizes
Até nos braços, pode um troço desses? Putz!
As rugas são tão fundas que não sei se há cútis
Sobre aquelas pelancas em forma de raí­zes.
O pipoqueiro é trinta e cinco anos mais moço,
Mas da fruta da velha chupa até o caroço!

– O que quer insinuar? Que esses dois são amantes?
– Não só são bons amantes, como também andam
Vendendo otras cositas que não são pipocas.
– Não vai querer dizer que os dois são traficantes?
– Sim. E de cocaí­na pura. O carrinho
De pipoca era só fachada para o tráfico.
Tudo muito bem feito. Tipo jogo rápido.
O pó era mocado dentro de um pacotinho
De sal. Os clientes tinham senha pra comprar
E pediam um salzinho extra pra levar.

– Mas como descobriu a ligação dos dois?
– A bela garçonete entregou a jogada.
O dono do bar era sócio da parada.
Disse que o pó corria solto logo depois
Que baixavam as portas e que só dá uns pegas,
não é viciada. Vou te contar, viu, doutor!?
O troço está de um jeito que eu não vejo por
Onde começar. Mas pode deixar cââ?¬â?¢o degas
Aqui, que vai dar tudo certo no final.
Se a gostosa cagar pra trás, vai levar pau.

Já transcrevi seu depoimento, se ela assina
Ou não é outro negócio. Tenho minhas dúvidas,
Pois choveu advogado a cântaros e as únicas
Testemunhas foram instruí­das na surdina.
Ã?â? raça fia da mãe! Parecem urubus
Vindo atrás de carniça, porra! Nunca vi
Coisa igual, me dá nojo. Tomem nos seu cus,
Filhos da puta! Pusilâmines! Daqui
Não sai ninguém até que me contem tudinho.
Tim-tim por tim-tim, muito bem explicadinho!

– Certí­ssimo, meu Apaloosa. Teu tropel (2)
Escreverá em ouro meu nome na história.
Até já posso ver as manchetes, a glória
Da capa na Tribuna, meu limite é o céu! (3)
Entrevistas, sessões de foto, imagine só:
Delegado Oliveira, o nosso Sherlok Holmes!,
Tomando toda a capa, sem ter outros nomes
Para ofuscar meu brilho. Cocoricocó!
Do espalhafato da galinha nasce a fama
Do ovo, e uma medalha meu peito reclama!

– Amado chefe, já o vejo lá nas alturas
E todos a seus pés, implorando atenção,
A chuva de convites, comemoração,
O carro aberto escoltado por cem viaturas!
Mas pra que isso se torne real, vamos í  luta.
O guardador de carros era o segurança
Do point, está sacando? Então a coisa avança.
Onde estão os bacanas? Quem será o batuta
Que comanda esses pés-de-chinelo da porra?
Café de primeira não se faz com a borra!

Sabe, doutor, de toda essa canalha aí­,
Se salva pouca coisa, mas vamos em frente.
– Chame O Mulher agora mesmo, tenho em mente
Que esse é o nosso homem. Vai, suma daqui!
Enquanto eu interrogo; você, meu Bretão, (4 )
Cavalgue em direção í s provas que preciso.
Esprema todos eles. Leve-os lá pro piso
Inferior. Faça suco de ossos e um sopão
Com os miúdos. A imprensa quer sempre notí­cia
Fresca, então, prepare a bomba mais propí­cia.

O que se segue todos sabem: o pau come
Solto pelo porão, corredores e salas
Da delegacia, onde arquivos, papéis, malas
E homens tentam chegar finalmente a um nome.
Depoimentos são lidos, relidos, refeitos,
Analisados, comparados, comentados,
Interpretados, investigados, jogados
Pra lá e pra cá, ficando ainda sujeitos
A novas aventuras nesse labirinto
De idéias e teses, que enlouquecem o recinto.

O governador quer resultados pra já;
O superitendente da polí­cia, pra ontem.
A imprensa? Bem, fabrica histórias de monte.
Maracujá ou comer cu de marajá
Tanto faz, quanto mais fictí­cio o estropí­cio
Melhor. Quem afinal quer saber da verdade?
A ficção é que vale, não a realidade.
Quem se importa se colocam no hospí­cio
O Mulher, aleijado por uma seção
De tortura total num pau-de-arara, ou não?

Quem se importa se fazem de mulher um homem
E lhe quebram as pernas para que confesse
O que fez e o que não? Quem rezaria uma prece
A quem chora de dor porque dez o comem?
Quem se incomodaria de sair de seu lar
E cobrar real justiça a um louco cabeludo,
Que atende pela alcunha de O Mulher, no mundo?
Quem cobraria a conta? Quem? Quem pagaria,
Conveniência e correção na mesma via?

Quem releria o capí­tulo sete de novo
Pra sentir o que é um Manicômio Judiciário?
Quem sentenciaria tudo que julgou inválido
E começaria de novo a contar com o ovo
No cu da galinha agora? Qual de nós, poetas,
Enforcaria seu canto pra dar dar vez e voz
A um zumbi entorpecido, vigiado por nós
Na camisa de força e mil gritos de alerta?
Quem, vendo-o babar, de olhos vazios no horizonte,
O chamaria de irmão com prazer de Anacreonte? (5 )

Mas deixemos, leitores, de lado o capí­tulo
Com suas cento e quarenta linhas mal rimadas,
Mil seiscentos e oitenta sí­labas contadas,
E um Wilson reluzindo bem no meio do tí­tulo.
Digamos que foi apenas mero desabafo
De alguém que foi lançado aos porões de um inferno
Em vida e quer fugir desse castigo eterno,
Com a poesia que tem debaixo do seu braço.
Afinal, um O Mulher a mais, um O Mulher
A menos, só faz diferença pra quem quer.

Você quer? Não? Então deixe cââ?¬â?¢o beque aqui.
Que eu vou fundo na história e, doa a quem doer,
Resolvo esse mistério, libertando, de uma vez
Por todas, inocentes e réus em poder
Dessa justiça cega, surda, muda e podre.
Estou bêbado? Louco? Claro. É bem óbvio.
Mas não assinei meu atestado de óbito
E quando ouço a palavra cultura, ao coldre,
Não levo a mão e, sim, ao coração, meu músculo
Maior, motor do espí­rito, juiz sempre justo!

(1, 2, 4) – Raças de cavalo
(3) – Jornal mais popular de Curitiba, focado em crimes e futebol.
(5) – Poeta, máximo representante da lí­rica jônica. Cantou os prazeres do conví­vio, do vinho e do amor.

sistema arreverso

matema

“(…) Conjuga um sistema arreverso, cultiva tudo que lhe tanja, convida tudo que fôr angênico, miasma, escória, diferença, rebotalho, carência insubsistente, os gnomos de Prestesjoão a cair sôbre os pigmeus, petranhas edificantes. O revérbero toma a forma que o torna um dilema equilátero. O revérbero: sí­stole do ser, diástole já produta de si própria pelo outro. Manter as últimas consequências dentro dos justos limites | Imparódias em falsete: o limite aonde tende o hiato deixado pelas elipses cuja razão de ser sua função já cumpriu a contentamento. Atrás da orelha: o pulgatório entresai. Salto mortal em curva de segundo grau, extremo onde se resolve voltar a ser normal, rentremos. Cabeça etérea, tronco fluido e membro sólido, da pedra ao vapor, o upa não passa por nenhum oásis, e também acho: que soslaiavanço representeia um encontrovelo, vim perguntando a um por nome, a cada outro através de diversos recursos. Trato-os de um jeito, de um jeito de molde a que se diga levantando meu ní­vel: fui primeiro a descobrir a propulsão dos projéteis a vazio contí­nuo, moléstia que pôs fora de foco muitos dos melhores; a indeterminação de certos limites e com licença da exatidão a santidade de solos até então classificados como meros flatos de voz. A margem de chances de ocorrência a uma certeza, sem ponto de referendum com as áreas precedentes, de cem a uma cai nula. Quem vive a favor da realidade?

Se eu, bazar provendo quermesse, não os tivesse tirado do esquecimento a que os votavam lendas e lendas, seu centro estava ausente, seu janeiro além do contrôle, a salvo de incêndios, de todo destino isento. Quis al. Num raio de dois olhares, nenhum lençol de fantasma para serenar meu gôsto por êsse tipo de espetáculo.

Onde tudo é bruma, o navio perdeu a ursa, aonde rumo? Aquendiospártia | Um encontrito dissipa oblí­qua queda, a luz na fresta em baixo da porta, ruí­nas maquinam malefí­cios, abismam planí­cies, trocam o dia dos palermas por uma noite de alarmes | Falta fé nas trajetórias, febo nas camélias, fogo na canjica, mão de macaco na velha cumbuca | Nova cai a luva uma ova na boa cova guardalupa – a bola obra, empecilho ante o espêlho, bácuo para a vastidão, o óbice cai como um óbolo no glóbulo das clemências suábias, não minimiza, não subestima, antepenáltima | Profeta anacrônico, sicofanta do devir, diga agora o que vai ser, o descortino dos noví­ssimos não te predispôs a adulterar utopí­adas? O velho poço, Tales filosofa e catrapum | (…)”

occam 1975

MOSCAS VOLANTES

Eye floaters or consciousness light?

O que são MOSCAS VOLANTES?

Quando elas são notadas inicialmente, a reação natural é de tentar olhar diretamente para elas. Entretanto, as tentativas de olhar diretamente para elas são frustantes pois as moscas volantes acompanham o movimento do olho e continuam fora da direção do olhar. Moscas volantes são, de fato, visí­veis somente porque eles não ficam perfeitamente fixados dentro do olho.

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Diabetic Retinopathy 
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Age-related Macular Degeneration 
null
Cataract 
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Glaucoma and Retinitis Pigmentosa
 
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Ring or Donut Scotoma 
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Left Field Homonymous Hemianopia 
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Left Field Homonymous Hemianopia with Macular Sparing
 
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Vision in the Elderly 
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Migraine Fortification Phenomenon 
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Scotomas Caused by Pituitary Tumors (Lesions)
 
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Floaters – Moscas Volantes 
ponto cego 


Ponto cego

O ser humano tem um pequeno ponto cego no olho. Fica localizado no fundo da retina. Está situado ao lado da fóvea e é o ponto que liga a retina ao nervo óptico. Estranhamente é desprovido de visão.

|Paroxetin|

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(3S,4R)-4-(4-Fluorphenyl)-3-{[3,4-methylendioxy)phenoxy]methyl}piperidin, C19H208FNO3, MG 329,37 g/mol
Handelsmarken: Seroxatí®, Tagonisí®, Paroxetin Stadaí®

“They may feel very dizzy and unsteady on their feet. Often people experience electric shock sensations.
They may also have a fever and feel generally unwell, and they also may experience mood changes or very vivid nightmares, for example.”

Balneário Atami – projeto JAponês

Una fuente termal gigante en una encrucijada
Balneario de Atami, Prefectura de Shizuoka

atami
Los hoteles se alinean en la costa de Atami, uno de los balnearios más cercanos a Tokio.
Aquí­ son famosos los fuegos artificiales del verano.

Hace algunos aí±os, si usted nombraba la palabra fuente termal, cualquiera hubiera pensado en primer lugar en Atami. Las parejas iban en masa durante su luna de miel, y posteriormente, durante la expansión económica en los sesenta, se hicieron populares los viajes de empresa y grupos turí­sticos. Muchí­simos visitantes pasaban allí­ la noche, tomaban sus baí±os y hací­an fiestas en los hoteles, que se amontonaban unos al lado de otros ofreciendo de 100 a 200 habitaciones y grandes salones para banquetes.
En la actualidad, la mayorí­a de los japoneses prefiere la libertad de viajar por su cuenta. Esto ha hecho que Atami tuviera que tomar sus decisiones.
Con la esperanza de hacer volver los buenos tiempos, Atami está experimentando con nuevos paquetes turí­sticos – tratamientos terapéuticos, ofrecidos por médicos locales, más el aí±adido de los baí±os y el alojamiento.

mais informações sobre o eiPD

duas entrevistas que se complementam

stewart home

STEWART HOME: A PERSPECTIVA RADICAL
Rodrigo Nunes

“A arte não pode ser reformada, ela só pode ser abolida”, diz o escritor e agitador inglês
……………………………………

Começou, como não poderia deixar de ser, no punk rock. Uma sequência de bandas medí­ocres e a sua própria mediocridade como guitarrista fizeram Stewart Home abandonar a música. Um dia, olhando uma obra numa exposição, teve um “insight”: “Eu também poderia fazer isso”. “Isso”, no caso, não era a obra em si. A questão que o interessava era: o que é necessário para conseguir pendurar uma peça na parede de uma galeria?

Desde então, Stewart Home tem construí­do uma trajetória bastante única como “artista” e “antiartista”: exposições, livros de ficção na tradição da “pulp fiction” (“Red London”, “Defiant Pose”), não-ficção sobre o situacionismo, as vanguardas e a antiarte (“Assalto a Cultura”, publicado no Brasil, “Mind Invaders: A Reader In Psychic Warfare”, “Cultural Sabotage And Semiotic Terrorism”), plágios em geral e, principalmente, ações inusitadas e carregadas de crí­ticas contra a arte, suas instituições e a relação de ambas com o capitalismo.

Home virá ao Brasil em maio para o 8ú Cultura Inglesa Festival, onde a artista plástica Graziela Kunsch apresenta o projeto “Um Espaço para a Contracultura Inglesa”, inspirado na obra do escritor inglês.

“A arte não pode ser reformada, ela só pode ser abolida. Assim, a estratégia cultural progressista nesse perí­odo de transição deve ser tornar autônomo o negativo dentro da prática artí­stica”, afirma Home na entrevista a seguir.

O termo “vanguarda” tem origem polí­tica. à luz de certos acontecimentos dos últimos anos (com as manifestações dos altermundialistas em Seattle, Praga, Gênova, o movimento contra a invasão do Iraque) e o estado atual do mundo artí­stico, quais podem ser as relações entre arte e polí­tica hoje?

Stewart Home: Sempre achei que “vanguarda” tinha uma origem militar antes de uma origem polí­tica e artí­stica. Mas o sentido das palavras muda ao longo do tempo e, mesmo se há muito o que discordar de Adorno, seus avisos sobre o risco de se preocupar excessivamente com a etimologia são válidos.

Falando de arte como ideologia, e não em termos de objetos, ela parece estar ligada ao sensual -enquanto a polí­tica e a chamada “ciência polí­tica” servem ao capitalismo como representação do racional. Essa divisão arte/polí­tica ou sensual/racional é claramente desumanizadora e alienada. Um dos objetivos da ação revolucionária é conciliar o sensual e o racional. Em muito do discurso sobre arte, os artistas aparecem como uma representação abstrata daquilo com que os seres humanos deveriam ser. Não apenas os artistas, mas todos nós deverí­amos estar realizando os diferentes aspectos -emocionais, fí­sicos, intelectuais- da nossa espécie.

Exatamente como o capitalismo, do qual é uma parte e um microcosmo, a arte não vai desaparecer por livre e espontânea vontade. Aliás, o fim da arte parece se arrastar indefinidamente na forma de neo- e retro-vanguardas. A vanguarda emerge parcialmente de tradições de iconoclastia religiosa, e como consequência parece não ser nem capaz de viver o fim da arte em silêncio. Pelo contrário, as vanguardas parecem ficar mais estúpidas a cada dia, com todas as suas produções “neocrí­ticas”. O bebê é jogado fora junto com a água do banho, já que no seu esforço para parecer crí­tica, a vanguarda e sua prole abandonam o sensual sem nem chegar ao racional.

Larry Shiner, no seu recente “The Invention of Art”, argumenta que a arte é uma invenção da sociedade européia do século 18. Quando li isso, lembrei-me imediatamente de “Art, an Enemy of the People”, de Roger Taylor, livro que me deixou bastante contente nos anos 80. Taylor foi o primeiro autor que encontrei cujos argumentos sobre arte não exalavam o cheiro de ovo podre da idéia de Deus. A retórica da Escola de Frankfurt sobre a função crí­tica e negativa da arte era obviamente idealismo burguês coberto de trapos marxistas. Se o capitalismo cria as condições materiais para o aparecimento da “arte”, é o idealismo alemão que lhe fornece a legitimação ideológica.

Partindo das mesmas fontes filosóficas, Marx concluiu que a atividade humana constitui a realidade por meio da sua práxis. A verdade é processo, o processo de auto-desenvolvimento ou, como Marx colocou, o indiví­duo completo do comunismo maduro é um caçador de manhã, um pescador í  tarde e um crí­tico í  noite -sem ser nenhum dos três.

Como está acorrentada pela comodificação, a prática artí­stica é uma deformação do desenrolar sensual do eu que será possí­vel quando tivermos chegado í  comunidade humana real. O objetivo do comunismo é superar a reificação da atividade humana em áreas desconectadas, como trabalho e lazer, o estético e o polí­tico. O comunismo deve salvar a estética do gueto da arte e colocá-la no centro da vida.

Uma das questões mais importantes da polí­tica radical hoje parece ser o espaço: a erosão do espaço público, a criação de espaços autônomos, a ocupação de terras, “squatting”. Grupos como o Reclaim the Streets! e os Space Hijackers vêm í  mente. Como você relacionaria essas questões í  preocupação dos situacionistas com o espaço?

Home: Exceto num ní­vel estritamente espetacular, não vejo muita relação entre os situacionistas e o Reclaim the Streets! Um dos problemas de crí­ticas recentes da vanguarda dentro das quais os situacionistas foram parcialmente subsumidos é a maneira como a “antiarte” é concebida como privilegiando o espaço ao tempo. A consequência disso é que não há muito interesse em examinar a vanguarda teleologicamente. Considero errado concentrar-se no espaço em detrimento do tempo, e vice-versa; mas já que há tanta ênfase na relação espaço-vanguarda, talvez seja útil corrigir esse desequilí­brio dando mais importância ao tempo.

O papel do artista e seu duplo, o “antiartista”, alterou-se sensivelmente ao longo do último século, devido tanto í  transição do paradigma moderno ao pós-moderno quanto ao que poderí­amos chamar de “efervescência” da tecnologia. Enquanto não seria errado dizer que o século 20 viu a introdução de novas tecnologias de comunicação, não podemos esquecer que o mesmo pode ser dito do século 19 -que pariu a estrada-de-ferro e o telégrafo.

Fala-se muito ultimamente sobre a expansão global de indústrias culturais, e nunca é demais enfatizar que esse fenômeno só pode ser entendido dentro da lógica do capitalismo. Também gostaria de sugerir que o stalinismo e o maoí­smo impuseram o capitalismo ao que até então haviam sido sociedades camponesas, e assim a principal caracterí­stica do século 20 foi a passagem de uma dominação formal í  real dominação do capital em escala global.

Como resultado, a produção industrial se moveu para as zonas periféricas do capitalismo, e algumas das indústrias mais avançadas podem ser encontradas hoje em paí­ses antes tidos como “atrasados”, da mesma maneira como regiões antes pesadamente industrializadas -como o Meio-oeste norte-americano ou as Midlands na Inglaterra- tornaram-se cinturões de ferrugem. Tudo isso tem um impacto imenso na produção da arte.

Algumas das nações industriais em declí­nio transformaram a produção cultural e os negócios imobiliários em importantí­ssimos geradores de riqueza. Assim como é global, a indústria cultural também é altamente localizada -centralizada em lugares como Londres e Nova York. Além disso, a produção cultural é diretamente relacionada ao aburguesamento daquelas que costumavam ser áreas pobres nessas cidades, e o aumento meteórico do preço dos imóveis nessas áreas tem destruí­do muito da sua personalidade, justamente o que na origem as tornava atrativas í s vanguardas (entre os burgueses que se mudavam para lá).

Acho que esse é o contexto histórico daquilo que tanto os situacionistas quanto o Reclaim the Streets! tentaram fazer com o espaço público urbano. Por outro lado, os primeiros eram obcecados com uma constante reconstrução da ponte entre compreensões teóricas desse tipo e a prática (fosse da psicogeografia ou dos tumultos de rua), enquanto o Reclaim the Streets! fracassou em realizar seu potencial tático e estratégico porque era excessivamente obcecado com a idéia de ação direta.

Qual é o legado dos situacionistas? Eles ainda são relevantes taticamente (escândalo, reversão etc.)? Eles ainda estão vivos teoricamente ou o seu pensamento foi recuperado?

Home: Na melhor das hipóteses, o que os situacionistas fizeram foi reformular posições clássicas do comunismo de esquerda como poesia. Por exemplo, em “Sobre a Miséria da Vida Estudantil” (manifesto situacionista): “Quanto aos vários grupelhos anarquistas, eles não possuem nada, exceto uma patética e ideológica fé neste rótulo. Eles justificam todo tipo de auto-contradição em termos liberais: liberdade de expressão, de pensamento, e tralhas deste tipo. Como eles toleram uns aos outros, tolerariam qualquer coisa”. Essas frases estão apenas na tradução inglesa de Chris Gray, e não no documento original.

O problema dos situacionistas é que eles são continuamente recuperados pelos anarquistas, que nunca encontraram o comunismo de esquerda em toda a sua originalidade, nem nunca entenderam a natureza de seu rompimento com a Terceira Internacional. Os situacionistas servem de entrada em debates que são de relevância permanente, mas o movimento comunista é bem mais amplo do que isso. Acho que há muita razão para se fazer uma leitura atenta dos trabalhos de Asger Jorn e Chris Gray, mas isso não pode ser feito í s custas de negligenciar Marx ou o trabalho prático.

í« Bricolage í», í« détournement í», í« copyleft í», software livre”¦ Estes são elementos de uma discussão que começou na arte e hoje se espalha por outros campos?

Home: O “détournement” dá um toque polí­tico polêmico í  noção de “bricolage”. O texto pré-situacionista clássico nessa área é o ensaio “Métodos de ‘Détournement'”, de Debord e Wolman, de 1956. Um filme como “What”s Up, Tiger Lily?” mostra desrespeito completo por um artefato cultural existente e o usa para fazer um trabalho novo: Woody Allen toma um filme de espionagem japonês e o transforma numa história sobre o roubo de uma receita secreta de salada de ovo.

Isso é feito principalmente por meio da dublagem, se bem que algumas cenas com Allen e o Lovin’ Spoonful (grupo pop americano) foram incluí­das para fazer o produto mais vendável para jovens americanos dos anos 60. “What’s Up, Tiger Lily?” está mais próximo da noção de “détournement” bem-sucedido de Debord e Wolman que os experimentos cinematográficos de um ex-situacionista como René Vienet.

No seu “Pode a Dialética Quebrar Tijolos?”, um filme de kung fu de Hong Kong dos anos 70 foi redublado para dar um ângulo revolucionário í  história. No entanto, Debord e Wolman teorizaram que as formas mais efetivas de “détournement” seriam aquelas que demonstrassem desprezo por todas os modos existentes de racionalidade e cultura, ao passo que aquelas que simplesmente invertiam sentidos preexistentes -como no caso de Vienet, que pega uma trama clássica do cinema de Hong Kong da época (o conflito étnico entre Manchus e Mings) e a substitui por um conflito de classe entre proletários e burocratas- são consideradas fracas. Com base na teoria de Debord e Wolman, “What’s Up, Tiger Lily?” deveria ser melhor que “Pode a Dialética Quebrar Tijolos”. Na pratica, eu prefiro o filme de Vienet.

A respeito disso, há um argumento bastante unilateral que eu encontro com frequência -que a prática da vanguarda do iní­cio do século 20 teria sido normalizada no interior da arte contemporânea. É verdade, mas apenas até certo ponto, porque, enquanto a técnica da “bricolage” e o tratamento da história da arte inteira como fonte de material para a produção de novos trabalhos foram normalizados, a crí­tica í  instituição da arte que a acompanhava foi jogada pela janela.

Aqui eu me refiro, claro, ao trabalho de Peter Burger, assim como ao envolvimento dos dadaí­stas de Berlim e da Internacional Situacionista com a esquerda comunista. A vanguarda pretendia integrar arte e vida, e o projeto falhou exatamente porque nem os dadaí­stas, nem os surrealistas, entenderam direito que a arte ganha sua aparência de autonomia ideológica por meio da sua comodificação.

Uma vez que a prática da apropriação tornou-se disseminada no campo artí­stico, o que significa levar o campo de práticas culturais a ser regulado pela instituição da arte, esta automaticamente alcançou o seu limite histórico. Essas contradições não podem ser resolvidas dentro do discurso da arte. Dentro desse campo discursivo, é impossí­vel ir além da solução oferecida por Hegel, segundo a qual “o plágio teria de ser uma questão de honra e coibido pela honra” (“Filosofia do Direito”, tese 69). Em outras palavras, enquanto as leis de propriedade intelectual vigorarem, a apropriação como uma prática “artí­stica” seguirá sendo tratada pelo sistema legal caso a caso.

Mas isso não é algo restrito í  instituição da arte, mas uma das contradições básicas da cultura capitalista. Como a citação de Hegel demonstra, o debate nessa área é historicamente anterior í  sua introdução no discurso da vanguarda e emerge não apenas do interior da instituição de arte, como também de campos como a filosofia.

Tendo dito isto, “copyleft” e software livre são tentativas de resolver essas contradições sob as relações “sociais” capitalistas entre aqueles que não gostam das noções contemporâneas de direito de propriedade, enquanto o “détournement” pretende ser um ataque revolucionário í  nossa existência alienada. Claramente, o que é formulado e o que se espera que resulte dessas formulações é bem diferente. Da mesma forma, aqueles que usam a “bricolage” como técnica podem ou não estar conscientes das implicações dessa pratica -é possí­vel praticar a “bricolage” sem aderir a nem mesmo uma crí­tica reformista das relações sociais capitalistas, muito menos a uma crí­tica revolucionária.

O dadaí­smo queria suprimir a arte sem realizá-la; o surrealismo queria realizar sem suprimir; o situacionismo queria realizar e suprimir. O que sobrou hoje para realizar e/ou suprimir?

Home: Guy Debord diz na tese 191 de “Sociedade do Espetáculo”: “Dadaí­smo e surrealismo são duas correntes que marcam o fim da arte moderna. São contemporâneas, ainda que de maneira apenas relativamente consciente, do último grande ataque do movimento proletário; e a derrota desse movimento, que os deixou prisioneiros do mesmo campo artí­stico cuja decrepitude haviam anunciado, é a razão básica para sua imobilização. Dadaí­smo e surrealismo são ao mesmo tempo historicamente relacionados e opostos um ao outro. Essa oposição, que cada um deles considerava sua mais importante e radical contribuição, revela a inadequação interna de sua crí­tica, que cada um desenvolveu unilateralmente. O dadaí­smo queria suprimir a arte sem realizá-la; o surrealismo queria realizar a arte sem suprimi-la. A posição crí­tica mais tarde elaborada pelos situacionistas mostrou que a supressão e a realização da arte são aspectos inseparáveis de uma única superação da arte”.

Debord, cuja anticarreira começou com um longa-metragem, “Uivos em Favor de Sade”, que continha apenas uma imagem permanentemente preta interrompida por irrupções de luz, era incapaz de extrair-se do esquema de referência proporcionado pela instituição da arte, e ao invés disso recuou teoricamente rumo a uma compreensão unilateral de Hegel. Está perfeitamente claro, tanto na “Propedêutica Filosófica” (“A Ciência do Conceito”, Terceira Seção, “A Pura Demonstração do Espí­rito”, teses 203-207) como na “Filosofia do Espí­rito: O Ser”, terceira parte da “Enciclopédia das Ciências Filosóficas” (Seção três, “O Espí­rito Absoluto”, teses 553-571), que no sistema hegeliano a superação da arte é encontrada de fato na religião revelada.

Como entre os setores mais avançados da burguesia a “arte” havia, no tempo de Debord, substituí­do a religião revelada, os situacionistas foram forçados a pular essa inversão hegeliana em particular e, em vez disso, passar direto í  filosofia, que representa a mais alta realização do Espí­rito Absoluto no sistema de Hegel.

Seguindo Marx, Debord via o proletariado como o sujeito que realizaria a filosofia. A concepção situacionista de superação da arte também é filtrada pelas idéias de August von Cieszkowski, cujo “Prolegômenos a Historiosofia”, de 1838, era dedicado í  noção de que “o ato e a atividade social irão agora superar a filosofia”. Foi essa fonte que forneceu aos situacionistas o material para completar sua falsa “superação”, o que os permitiu chegar de volta í  última categoria da arte romântica dentro do sistema hegeliano, a poesia.

Raoul Vanegeim afirma em “A Arte de Viver para as Novas Gerações”: “A poesia é… o ‘fazer’, mas o ‘fazer’ devolvido í  pureza de seu momento de gênese -visto, em outras palavras, do ponto de vista da totalidade”. Nos anos 60, Debord e Vanegeim pretenderam haver “superado” a vanguarda e estar assim “fazendo” uma situação “revolucionária” que fora além do ponto de onde poderia retornar. No entanto, tudo que os situacionistas conseguiram foi repetir os fracassos do dadaí­smo e do surrealismo na terminologia hegeliana, com a consequência inevitável de que sua crí­tica era, em vários sentidos, menos “avançada” que a de seus “precursores”.

Debord, que era um teórico superior a seu “camarada” Vanegeim, parece ter se dado conta desse deslize, embora não soubesse como “recuperá-lo”. O fragmento de Cieszkowski citado na versão em celulóide de “Sociedade do Espetáculo” é mais do que revelador: “Portanto, após a prática direta da arte haver deixado de ser a coisa mais importante, e esse predicado haver sido devolvido í  teoria, ela como tal se desliga desta última, na medida em que uma prática sintética pós-teórica é criada, cujo principal fim é ser o fundamento e a verdade da arte enquanto filosofia”.

Os museus tornaram-se marcas corporativas lucrativas, os crí­ticos tornaram-se criadores de tendências profissionais. Como você vê a relação entre a arte e as instituições? Que soluções podem existir para os impasses atuais do mundo e os do mercado da arte?

Home: Tendo adotado uma perspectiva estritamente materialista e antiessencialista, é preciso insistir que a única coisa que as obras de arte têm em comum é o fato de serem tratadas como obras de arte. Em outras palavras, obras de arte são qualquer coisa que aqueles em posição de poder cultural digam que elas são. Ou, dito de outra forma, as instituições de arte e os crí­ticos que são mantidos por e trabalham junto a elas definem o que é tratado como arte em qualquer momento histórico dado.

Se aceitamos que a vanguarda “clássica” -futurismo, dadaí­smo, surrealismo- não criou nenhum novo estilo próprio, mas apenas novos trabalhos por meio de uma “bricolage” de todos os estilos até então existentes, então não pode surpreender que a arte no último momento do século 20 não tenha sido marcada por uma simples consolidação dessa prática, mas, ao contrário, tenha testemunhado uma crise da representação artí­stica e uma tendência cada vez maior í  iconoclastia.

Fortes inclinações iconoclásticas já são evidentes no futurismo e no dadaí­smo, e uma vez que a “bricolage” enquanto principio é incapaz de regenerar a cultura a longo prazo, como surpreenderia que, após o perí­odo mais construtivo que foi o surrealismo, houve um movimento de retorno í  iconoclastia, manifesto em tendências como Fluxus e a arte auto-destrutiva?

Contudo, é um erro julgar os desenvolvimentos nas artes unicamente da perspectiva do crescimento interno. Com a adoção tanto da colagem quanto da “bricolage”, a vanguarda achou-se desenvolvendo linhas ditadas pela expansão da esfera econômica em processo, o que por sua vez pôs forças culturais progressistas em conflito com o capitalismo. A arena mais imediata para o conflito foi a da propriedade intelectual. Em vários sentidos, o desenvolvimento da legislação nessa área mostrou que a modernização capitalista era uma força ainda mais inconoclástica dentro da cultura do que a vanguarda.

Por meio da introdução de direitos de propriedade sobre criações artí­sticas, o capitalismo a um só tempo comodificou e democratizou a cultura. Ao fazer toda a cultura igual perante a lei, a burguesia descartou as velhas distinções aristocráticas que privilegiavam algumas formas culturais em detrimento de outras.

Assim, o que sociólogos como Pierre Bourdieu chamam de capital cultural pode ser melhor descrito -com um aceno para Jacques Camatte- como capital cultural virtual. A lei, buscando controlar a cultura, ao mesmo tempo tornou-a autônoma. No passado, a classe dominante usou a alta cultura como uma cola ideológica capaz de unir seus membros, simultaneamente excluindo outras classes de seus privilégios. Hoje, uma cultura pós-moderna banal oprime uma classe humana universal (“universal” ao menos nos termos da lei).

Para os românticos, o artista era o depositário oficial da criatividade humana e da consciência. Em face dos compromissos e confusões da então nascente sociedade industrial, apenas o artista possuí­a as paixões que a necessidade espiritual finalmente, um dia, forçaria a sociedade como um todo a adotar. A necessidade espiritual falhou na sua tarefa histórica, porém. Ao fim, surgiu o movimento modernista e afirmou que apenas uma vanguarda historicamente bem informada, o artista como agitador, era capaz da total transformação da civilização industrial. Para os modernistas, o sentimento -que está na raiz da tentativa romântica de educação da humanidade- foi transformado em ofensa. Com o tempo, a vanguarda pareceu por demais rí­gida e restritiva. Assim, a pós-modernidade quis apenas “liberar geral”, sem a necessidade onerosa de buscar qualquer coerência teórica.

É justamente graças a suas posições antiteóricas que não se pode esperar “originalidade” da cultura pós-moderna e de seus filhos. Tomemos Jean Baudrillard, cujo nome é quase sinônimo de pós-modernismo -ele demorou terrivelmente até incorporar esse termo em seu próprio trabalho. Seus textos -sua fotografia é igualmente trivial, mas como não tem o humor de seus textos, é tediosa demais para que a discutamos- não são nem teoria nem sociologia, mas somente uma patafí­sica de baixa qualidade numa embalagem nova. Se a arte pós-moderna, seja pintura, foto, ví­deo, performance ou instalação, claramente não é uma teoria, e pode no máximo pretender ser teoricamente bem informada ou coerente, ela sofre de falhas semelhantes í s bobagens de Baudrillard.

Mesmo assim, os trabalhos produzidos sob a égide do “pós-modernismo” nos anos 80 ainda são teoricamente rigorosos comparados ao que veio depois. Não se trata que artistas contemporâneos de sucesso como Tracey Emin tenham ficado estúpidos, eles tornaram-se celebridades culturais com base em sua evidente estupidez. Emin repete os gestos da vanguarda -exibindo uma cama, por exemplo-, mas com uma crença ingênua e romântica na autenticidade de seu projeto.

Ela interpreta, não representa, seus traumas, molhando a famosa cama. Provavelmente ela inclusive pensa que, fazendo isso, está indo um passo além de exibir um “ready made”, como um mictório. Não obstante, ela é uma celebridade, e a vida que ela leva com uma sinceridade tão sem arte é portanto ironizada -não por ela, que é pessoalmente imune a ironia e ao kitsch, mas pela fria digitalidade da mí­dia.

Essa mí­dia, em permanente expansão, é voraz no seu apetite por novidades, fofocas, personalidades e opiniões. Mas o espectro do que é efetivamente processado é muito estreito. A maioria das revistas e jornais publica resenhas de cem palavras de livros, e poucos dos responsáveis por apregoar essas mercadorias do momento fazem mais que ler um release ou a orelha. A “opinião de especialistas” consiste em meia dúzia de frases.

Dos testas-de-ferro da indústria cultural, sejam novelistas ou “pop stars”, espera-se que atuem no circo. Hoje os “criadores” de produtos culturais “de sucesso” inevitavelmente acabam na TV, e assim não é mais necessário questionar classificações como “gênio”. No faz-de-conta dos “mass media”, há uma parada interminável de celebridades intercambiáveis, por definição imbecis. Embora nunca tenha sido mais que um fantasma, a noção de gênio já foi uma arma de verdade no arsenal da alta cultura. Hoje é um conceito que só pode ser invocado ironicamente.

Tradicionalmente, e mesmo hoje, o artista ocupa uma posição anacrônica na economia capitalista. Ao invés de assalariados, artistas são nominalmente autônomos, mas na prática tendem a ser dependentes de uma ou algumas pessoas (agente, marchand…) para manter sua renda. Essa situação virtualmente feudal suportada pelos artistas, somada a um “star system” que garante que uma pequena minoria seja imensamente remunerada, enquanto a maioria recebe muito pouco (embora esse trabalho pouco remunerado seja evidentemente necessário do ponto de vista econômico, já que serve para valorizar e justificar os preços pagos í s estrelas), significou até recentemente que aqueles que produzem arte profissionalmente eram particularmente susceptí­veis a ideologias reacionárias, como o anarquismo e o fascismo.

Mas hoje a polí­tica (e em especial aquelas formas ancoradas no rancor pequeno burguês) é um peso morto para os aspirantes í  celebridade cultural. Não é mais necessário defender banalidades reacionárias, já que a própria cultura em que estão inseridos é totalitária. O que temos visto é a iconoclastia transformada em um mecanismo cego e automático que necessariamente acompanha a digitalização da propriedade intelectual e a comodificação da “personalidade” na forma incorpórea das celebridades inumanas.
O capitalismo não é apenas o motor por trás da iconoclastia. Na sua indiferença para com o que oblitera (a comunidade humana, a inteligência humana, os corpos humanos), a economia de mercadorias é a força monumentalmente destrutiva que ergue a destruição de í­dolos a ní­veis inéditos de banalidade.

A grande tendência da arte brasileira hoje é a formação de coletivos de artistas que, ao menos em tese, trabalham na fronteira entre arte e polí­tica. Quais podem ser os perigos e as vantagens disso? Existe o risco de a arte danificar a polí­tica e vice-versa? Isso é perigo ou uma vantagem?

Home: Como sob o capitalismo todos reproduzem as condições de sua própria alienação, enquanto a arte como nós a conhecemos continua a existir, seria ridí­culo esperar que aqueles que desejam sua abolição como uma esfera separada do fazer humano não se envolvam com ela. Entretanto, artistas progressistas devem ter em mente que o seu papel como especialistas não-especializados deve ser negado. A arte não pode ser reformada, ela só pode ser abolida. Assim, a estratégia cultural progressista nesse perí­odo de transição deve ser tornar autônomo o negativo dentro da prática artí­stica.

Eu quero que a polí­tica danifique a arte, e a arte danifique a polí­tica, visto que ambas são produtos da reificação. Precisamos viver a morte da vanguarda não só na teoria, mas na prática. Não aprendemos nada com a arte morta de gente viva. Aprendemos tudo com a arte viva de gente morta. Vida longa aos mortos! A principal preocupação de coletivos de artistas “saudáveis” será e deve ser o sexo.

Rodrigo Nunes é doutorando em filosofia pela Universidade de Essex, Inglaterra, como bolsista da Capes. Faz intervençõe em diferentes midias e participa de coletivos ativistas, como Grumo – Artivismo Nômade, London School of Falcatrua.

Fonte: Trópico (http://p.php.uol.com.br/tropico/html/index.shl).

rirkrit

Contra a nostalgia – Por Lisette Lagnado

O artista Rirkrit Tiravanija, convidado da 27ê Bienal de São Paulo, defende uma outra experiência do tempo e da arte

Rirkrit Tiravanija é um dos convidados da 27ê Bienal de São Paulo, intitulada “Como viver junto” (inspirada nos seminários de Roland Barthes). Este artista de origem tailandesa, nascido em Buenos Aires, em 1961, tem acompanhado os escritos de Nicolas Bourriaud acerca da “estética relacional”. Entretanto, na Bienal, que abre ao público no próximo dia 7 de outubro, Rirkrit está no bloco em homenagem a Marcel Broodthaers, a convite do curador Jochen Volz.

A entrevista abaixo começou a ser elaborada em março de 2005, por ocasião da polêmica mostra chamada “Retrospective – Tomorrow is Another Day”, que o artista apresentou em Paris. Não havia nada para ser visto, a não ser os tí­tulos de suas intervenções artí­sticas desde 1989. Um conferencista e alguns atores foram tentando dar vida a uma obra que não pode ser “reconstruí­da”, por meio de um texto de Philippe Parreno. As palavras tomaram conta do vazio, e a figura do narrador de Walter Benjamin esteve mais do que nunca evocada para estimular a imaginação do público e, sobretudo, para denunciar a falta de experiência na vida contemporânea.

Discuti com Rirkrit o Programa Ambiental de Hélio Oiticica (1937-1980), que propunha a participação do não-artista e a transformação do artista em “propositor”. Em que medida Rirkrit estaria se diferenciando de uma visada experimental enunciada nos anos 60 e 70, quando Oiticica inventa o Parangolé? Será que o conceito de “trocas”, tão difundido entre os artistas, pode ser um dispositivo de inclusão social?

*

Rirkrit Tiravanija: Oi, Lisette, acho que tive um sonho no qual já respondi a essas perguntas! Mas Glori me disse que não… Ou então ainda estou dormindo. Em todo caso, espero que sejam as mesmas respostas que dei no meu sonho…

Toda sua prática “contra trabalhos acabados” me lembra muito do artista brasileiro Hélio Oiticica, cuja tentativa nos anos 70 era mudar o comportamento do visitante no espaço. A música e a dança talvez fossem o que o cozinhar representa em suas ações. Ele nunca dirigia suas propostas, apenas deixava algumas instruções resumidas. Quando vivia em seu loft em Nova York, ele o transformou em uma de suas “propostas” (um grande Ninho). Ele morreu depois de ter conceitualizado uma nova idéia de lazer (Creleasure e Playground), mas antes de suas propostas serem compreendidas pelo público (não apenas o público de arte). Não sei se você já ouviu falar de seu Programa Experimental, mas minha pergunta é: como você consegue traçar essa distinção indistinta entre arte e não-arte e ainda ser considerado artista?

Rirkrit: Bem, acho que a condição na qual eu estava trabalhando cria o primeiro contexto do próprio trabalho. O trabalho em si sempre possui o contexto de arte; ele foi feito e exposto nesses espaços, embora o trabalho fosse criar uma resistência em relação í  estrutura (galerias, museus, cubos brancos). Mas acho que, em geral, venho trabalhando dentro do contexto da arte. Eu imagino que teria sido diferente criar os mesmos trabalhos na Tailândia, e, nessa relação, teria sido mais Oiticica.

Agora estou enfrentando essa condição, na qual não há contexto para a arte. Não gosto de traçar definições, isso é ocidental demais para mim, então o evito e me recuso a lhe dar um nome. Até certo ponto, hesito em me chamar de “artista”; procuro manter o termo de lado. Apesar disso, há perguntas que indagam se o que eu já fiz é arte ou não arte. Parece não haver muita dúvida em relação a saber se sou artista ou não. Eu diria, talvez, que sou considerado artista em função da atitude que conservo em minhas abordagens, tanto em relação ao trabalho quanto ao não-trabalho.

A quantas anda o projeto “The Land”, iniciado in 1998?

Rirkrit: Bom, a Terra é sua própria entidade. Eu e muitos amigos meus nos vemos apenas como zeladores ou jardineiros etc. Não existe expectativa ou antecipação; fazemos coisas í  medida que elas surgem e desaparecem. É um laboratório quando há pessoas trabalhando nela/sobre ela, e torna-se paisagem quando não há ninguém nela. Existe interesse considerável por esse projeto, talvez devido í s personalidades que são as zeladoras (ou colaboradoras) do lugar, e talvez também em função de sua distância do centro (Nova York, Londres, Paris, Berlim), mas esse é também o espaço ou a distância necessários para a curiosidade.

É um sintoma da globalização que é igualado apenas pela noção de colonialismo, mas agora trata-se da informação, de quem tem acesso í  informação e da dispersão dessa informação no fluxo cultural; é o efeito Google. Assim, conservamos a Terra no ní­vel que é sustentável, sem muita manutenção ou input, embora esperemos um output máximo em termos do que ela é capaz de gerar como idéia ou modelo.

Construir lugares comuns (chamados “comunidades” nos anos 60 e 70) é especialmente importante em paí­ses como o Brasil, onde as disparidades sociais são gigantescas. Como você definiria a linha do tempo entre o processo de troca (de valores, leituras, memórias, percepções, sensibilidades…) e uma espécie de “assistência social”? Você não enxerga um risco em assumir uma tarefa que deveria ficar a cargo do Estado?

Rirkrit: Bem, acho que “The Land”, como mencionei a idéia do output máximo, certamente tem a ver com essa preocupação. Para nós, ela deve funcionar em todas as direções, desde o mundo urbanizado, globalizado e interconectado até as comunidades rurais, localizadas, orgânicas e fora da grade. Mas é fato que a informação é usada para a sustentabilidade e não para o consumo, que a conectividade sustenta identidades locais. E que o local pode ser tanto periferia quanto centro.

Você conserva uma espécie de “tensão” ou atrito entre arte e vida para marcar uma diferença (uma resistência) entre elas, ou você defende uma fusão completa?

Rirkrit: Tendo a conservar um fluxo, talvez mais no sentido de fusão. Mas um fluxo pode, no caos, mover-se em todas as direções ao mesmo tempo, e talvez na tensão tanto a resistência quanto a abertura. Não faço arte e não faço vida, apenas respiro.

Qual é a importância da Tailândia na construção de um projeto como o seu? Quando temos que enfrentar uma ausência crônica de instituições, como estar politicamente presente no cenário? O que fazer diante da ausência de coleções, quando os professores precisam falar de arte?

Rirkrit: Começar do zero. Todos os sistemas (e as instituições) já foram esgotados, e temos tudo isso como referência. Conhecemos os êxitos e os fracassos, conhecemos seus desejos e devemos saber como resistir í s idéias que não são úteis e roubar o que for utilizável. A falta de instituições pode ser útil, já que o vazio pode ser preenchido com idéias, que estavam ausentes nas “instituições”, talvez alternativas (o que também é uma instituição), mas pensando em paralelo. A arte e os artistas devem voltar í  sua capacidade de sustentar idéias sem a necessidade da economia.

Você poderia diferenciar entre os termos “mundo” e “mundano”? Você não tem essa sensação quando vemos as imagens das performances de Yves Klein?

Rirkrit: É uma imagem, e uma imagem é tudo o que você menciona.

Quando vemos as imagens das performances de Yves Klein, hoje, temos a sensação de que elas foram destinadas a um grupo restrito de pessoas, era uma performance bastante elitista. Como você é afetado por sua platéia? As pessoas acreditam que são parte de um trabalho de arte? Ou você percebe uma distância entre o que está propondo e uma espécie de estranhamento vindo da platéia?

Rirkrit: Eu me esforço muito para não privilegiar as imagens posteriores, para não fazer documentação, nem ter consciência do efeito do trabalho, que toma muitos rumos. E para não usar a imagem como representação do evento (convertendo-a no próprio trabalho). Prefiro abrir mão da imagem. Com relação í  platéia e a quão amplo ou restrito pode ser o alcance de um trabalho desse tipo, venho tentando mudar a noção de duração ou de aproximação de duração. Mas acho que o que me interessa não é fixar o tempo; não é uma experiência que possa ser captada em uma única imagem ou um único instantâneo.

Quem sabe, mais do que uma relação com a fotografia, tenha a ver com o cinemático, e talvez o estranhamento se deva ao fato de que nem sempre podemos nos enxergar nele. Tem muito a ver com movimento e movimentações, com caminhos e rastros, mas nada é ou precisa ser fixado. Por outro lado, nunca posso realmente sentir minha platéia e não tenho esse privilégio; sou parte da platéia e me movo na mesma proximidade. Fica claro na performance de Yves Klein (ou na idéia de performance) que há aquele que faz a performance e a platéia, há a visão e aquele que a vê. Eu não gostaria de montar as coisas com essas idéias. Prefiro que a situação tenha escorregões e erupções.

“Utopia Station” foi apresentado neste ano em Porto Alegre. Qual é, a grosso modo, a idéia das “negociações perpétuas de culturas e linguagens”? Como isso funciona? Ainda está em progresso?

Rirkrit: Eu estive lá e, sim, ainda não está tanto em progresso quanto em processo. Ainda estou pensando sobre o que fazemos para sermos mais relevantes em negociações. Mas existe um abismo entre a imagem e a realização. Talvez não se trate tanto de negociação quanto de absorção -como o respirar, deve ser natural.

A modernidade é nossa Antigüidade?

Rirkrit: Certa vez um jornalista ocidental perguntou ao rei de Sião o que ele pensava das vitórias dos colonialismos ocidentais no mundo (a Tailândia, ou o Sião, como era conhecida na época, era um dos poucos Estados a não ter sido colonizado). Sua Majestade respondeu que, no Ocidente, os soldados marcham no mesmo ritmo, mas que na Tailândia, por exemplo, os soldados tailandeses encontram seu fluxo próprio e seguem em seu próprio ritmo. No ano seguinte, Sua Majestade contratou uma banda militar italiana para liderar o exército tailandês.

A ascensão do motor de combustão interna pode ser vista como condição paralela ao idealismo da modernidade. Se todos concordássemos com o fato de que o petróleo cru vai se esgotar em pouco tempo e com o recente aumento do valor desse produto natural, uma afirmação como a de que “a modernidade é nossa Antigüidade” poderia ser feita com clareza.

Mas a questão em pauta é “a modernidade é nossa Antigüidade?”. Talvez seja questão de um tempo e um lugar onde possamos encontrar ou identificar uma resposta a essa pergunta. Primeiramente porque a idéia de progresso requer tempo, com a velha idéia de que o tempo é sequencial; precisamos indagar no tempo de quem estamos. Em segundo lugar porque a idéia de lugar, local ou proximidade, onde o progresso aparece como não sincronizado, nos obriga a perguntar onde estamos. “Nossa”, nessa pergunta, parece implicar uma universalidade que é uma condição problemática da modernidade e sua premissa de universalidade.

Um “nossa” é diferente do “nossa” de outros, e acho que, nisso, podemos dissecar a relação entre tempo e lugar. A idéia de que o progresso -ou uma série de progressões- se tornou antiquado só é necessária se gostarí­amos de proceder de maneira seqüencial na vida. Porém, a diferença de culturas pode solapar essa serialidade das condições diárias, e, assim, muitos podem se descobrir fora da modernidade.

A modernidade ou Antigüidade é um lugar e uma condição da sociedade que olha para ela mesma de dentro para fora; suas referências são internas, e por isso lhe falta a experiência fora de seu próprio local. O “nossa”, dentro dessa condição, se localiza claramente dentro de uma esfera ou um domí­nio, em que o tempo e o lugar são sequenciais e seriais. Portanto, dentro de tal condição, a resposta seria “sim”. Sim ao fato de que a modernidade hoje está localizada na Antigüidade, na nostalgia do “passado”.

O tempo da modernidade chegou e se foi, e sua localização pode ser situada numa distância, com algumas referências de perspectiva. Felizmente, há os outros “nossas”, que vivem ou residem fora de tal serialidade e seqüencialidade. A modernidade é incapaz de lidar com este outro “nossa”; a condição de tempo e local é deslocada dos conceitos de progressão.

Dessa maneira, a progressividade não pode ser distribuí­da de maneira linear, nem visí­vel, como um bloco erguido sobre outro, mas é uma experiência, como um fluxo. Sua forma é espalhada, o tempo é feito de camadas e o lugar não tem limites; este outro “nossa” pode ser localizado através da experiência, ou das camadas de experiência. Aqui não precisamos formular perguntas sobre modernidade ou Antigüidade, nem localizar um no outro ou em cima do outro _é aqui e é isso.

Tradução de Clara Allain

Submidialogia em Olinda-PE

data: 12, 13, 14 e 15 de Outubro de 2006.
locais:
– Mercado da Ribeira – Centro Luiz Freire – Casa do Turista / Olinda – Pernambuco

http://submidialogia.descentro.org/submidialogia.html

a idéia

mimoSa

+trazer diferentes experiências – teóricas e práticas – para contatarem-se;
+jogar, de um novo ponto de vista, articulações entre teoria e prática nos meios tecnológicos;
+incentivar teoria sobre as prááticas para que estas não anulem-se tornando-se utilitarismo;
+incentivar práticas sobre teoria, aplicando experiências em prol de uma (sub) concepção do aparato tecnológico midiático;
+criar um espaço tempo de subversão das prááticas e teorias sobre tecnologia.

Els Hommes passen con El Vent: eu e o meu gosto musical

domingo, 20 de agosto de 2006
o olho direito não focaliza
mas trepidaste
duque e mina os cachorros entediados
viraram o barco a esquina o lixo
visto deste eixo parece menos cálido
reitoria
tratado da

tripudiaste
me

assinado a azul

a vocês os mosquitinhos
odeio
o playmobil
de abajour
a andróide carcerária
com cara de pato
que entende tudo errado
tudo errado
e te rotula
– – – – – – – – –
de forma provisória
– – – – – – – – –
escrevo procuração
ah odiada
ah odiosa
manhã do vegetariano
acordar ganhando
uma espada de voz de pelúcia
lembro de ter me retirado
e ela havia se retirado mas foi
trapaça sobre a malha de hesitação que caracteriza-descaracteriza
sua minhoca de colégio
sua minhoca do senhor
três mangos pelo seu co-lapso
ou quem sabe eu
a gente vai precisar especular a percepção
constantemente informando os miolos através dos quais
o meu escopo a minha jurisdição o meu miosótis não comporta qualquer desvio misericórdia

eu tripudiavas

segue a lista
santa faltando
pé na nuvem
mila e o dinamismo
sem fim
japeri
araguaia
variável auditiva
duque&mina

loucos, funcionários e bobos –
riam amazonas

fazenda de tartarugas proibidas
libido e bí­lis e juntas
pedras preciosas
nervos macios e moí­dos
muito
fluidos
tecidos e miolos

enviado por lucida – lucida sans í s 23:02:14.

Iliada na Casa do Saber / Cantos III e XXII / Lori Santos e Patricia Reis Braga / 06 de outubro de 2006 � s 20h00

Texto reproduzido da página da Casa do Saber
http://www.casadosaber.com.br

A Casa do Saber anuncia mais um sarau homérico. Depois de encenar os cantos 1 e 16 da Ilí­ada, obra fundadora da mentalidade e da sensibilidade ocidental, a Companhia Iliadahomero de Teatro apresenta os Cantos 3 e 22 de modo integral.
No canto 3, Páris, prí­ncipe de Tróia, desafia Menelau para um duelo, na tentativa de decidir o destino da guerra entre gregos e troianos. Menelau vence, mas Páris sobrevive, salvo por Afrodite. No canto 22 , Aquiles duela com o troiano Heitor para vingar a morte de seu amigo Pátroclo. Aquiles o mata e desonra seu cadáver, arrastando-o ao acampamento grego.
Nas apresentações dessas pequenas rapsódias dos dois cantos, o espectador entra em contato com toda a riqueza da Ilí­ada, de Homero, na tradução de Odorico Mendes (1799-1864). Os atores narram dramaticamente a história e representam os heróis. Após o espetáculo, haverá bate-papo com o diretor Octavio Camargo.

Atores: Lori Santos e Patrí­cia Reis Braga
Direção: Octavio Camargo

A Casa do Saber fica na Rua Dr. Mário Ferraz, 414. no Jardim Paulistano – SP

A imagem acima é de Menelau, em detalhe de uma cópia da pintura de Thimantes, pintor grego do século IV a.c., reproduzida num mural de pompéia. No Canto III da Ilí­ada, Menelau se dispõe a resolver a disputa em um duelo singular contra Páris. Este, porém, é salvo por Vênus no último momento.

Fragmento da fala de Agamenon no Canto III (trad. Odorico Mendes)

“Do Ida augusto senhor, máximo padre,
Sol que vês e ouves tudo, rios, Terra,
Vós que no inferno castigais perjuros,
Desta aliança fiadores sede.
Se Páris vence a Menelau, conserve
Toda a riqueza e a dama, e nós voguemos;
Se o vence o louro Atrida, aqui nos rendam
Helena e o seu tesouro, e por memória
Multa condigna paguem: morto Páris,
Se Prí­amo e seus filhos ma refusam,
Té que os force ao dever, não largo as armas.”

Neste quadro de David, Andromaca e Astianax são representados ao lado do corpo de Heitor. A morte de Heitor é narrada no canto XXII da Iliada. o corpo do herói só é recuperado após as súplicas de Priamo (Pai de Heitor) í  Aquiles, no Canto XIV.

Fragmento da fala de Andrômaca no Canto XXII (trad. Odorico Mendes)

“Heitor, ai! Triste,
Com fado igual nascemos, tu nos paços
Do rei Prí­amo em Tróia, eu na Tebana
Hipóplaco selvosa, onde criou-me
De menina Eetion para infortúnios,
E antes me não gerasse! Ora ao subtérreo
Orco desces profundo, e em luto e nojo
No viúvo aposento me abandonas;
Nem do nosso filhinho és mais o arrimo,
Nem ele o teu será. Da crua guerra
A escapar, não se escapa í  desventura;
Mudado o marco, o esbulharão do prédio.
O pupilo no dia da orfandade
Perde os jovens amigos: baixo o rosto,
ígua nos olhos, se o do pai segura,
Um pela túnica, outro pela capa,
Indigente é repulso; o mais piedoso
Bebida num copinho lhe escanceia,
Que os beiços banha e o paladar não molha.
O que possui os genitores ambos,
Fero da mesa o expulsa, espanca e enxota:
-Sai, conosco teu pai já não convive. –
Tal há-de vir choroso í  mãe viúva
O infante meu, que aos paternais joelhos
Com tutanos de ovelha se nutria,
E lasso de brincar, entregue ao sono,
Da nutriz afagado ao brando colo,
Contente em mole berço adormecia.
Ârfão, misérias sofrerá meu filho,
Que Astianax os nossos denominam,
Porque eras, nobre Heitor, único apoio
Destas muralhas. Ante as naus rostradas,
Longe dos pais, hão-de roer-te vermes,
Depois que nu te comam cães raivosos,
A ti, que hás finas e elegantes vestes,
Por tuas servas e por mim tecidas.
Já que para a mortalha nem te servem,
Em honra tua ao fogo vou queimá-las,
Dos Teucros em presença e das Troianas.”

olho de corvo

Em qualquer tempoépoca o seu contemporanêo se desespera.
A desesperança gera artimanhas e as artimanhas o fazem desesperar novamente.

mesmo lá do outro lado da noite,
onde parece que não mais amanhecerá,
posta-se firme um sujeitinho
chamado amanhã.