Conversa com Adilson no �gua Verde

Eram por volta das sete da noite, colocávamos os sacos de lixo í  disposição da coleta diária da prefeitura quando ouvimos uma voz atravessando a rua em nossa direção. Era um rapaz por volta de seus 20 a 30 anos. Ao mesmo tempo em que solicitava algum tipo de ajuda contava sua situação e retirava da carteira uma série de papéis afim de comprovar a história. Partia do pressuposto de que nós não acreditávamos em suas palavras, suponho que pelo fato de ser caracterí­stica dos centros urbanos o distanciamento. Os papéis eram vários, o primeiro emitido pela assistência social dizia ser seu “atestado de pobreza”, o que lhe permitiria tirar documentos sem custo algum, em seguida desdobrou um bilhete cujo conteúdo era a anotação de um número de telefone para contato, anotado em grafia um tanto trêmula. Demonstrava ser importante guardá-lo, pois lhe servia como comprovante de residência no municí­pio. Completando a série vieram os rubricados pela polí­cia civil, entre outras instituições do gênero. Todos, além de bastante surrados, quase desmanchando em suas mãos aparentavam ter sido molhados pela chuva. Havia saí­do da penitenciária de Piraquara a poucos dias, onde ficou retido por seis meses por tentativa de homicí­dio e por 155.
Havia furtado uma espécie de ventilador de inflar barracas que segundo suas palavras custava em torno de “um barão” (mil reais), mas que havia repassado por sete reais e esse montante logo revertido em cachaça. Pelo fato da pessoa que havia registrado a queixa não ter comparecido em três das audiências voltadas ao caso, ele agora havia reconquistado sua “liberdade”, sob condição de permanecer em Curitiba e, de tempos em tempos, ter obrigatoriamente que se apresentar no CCC, o que viria a acontecer dentro de dois dias. Sabia que se complicaria se não o fizesse, portanto estava decidido em cumprir com a tarefa. Sobre a tentativa de homicí­dio, mencionou ter sido briga de bar, apontou para sua cabeça dizendo ter levado uma paulada e que não fez nada além de se defender do agressor. Ao todo somava em seu currí­culo oitenta e cinco passagens pela polí­cia, mas somente duas após a maioridade.
Sua forma de falar era um tanto confusa, mencionando nas mesmas frases familiares, conhecidos e um conjunto de lugares: Almirante Tamandaré, Vila Capanema, Trindade, Rio Branco, Matinhos. Uma vez que sua circulação abarcava as principais favelas de Curitiba e região metropolitana, embora não ter mencionado seu destino, deduzi que estava de passagem rumo ao Parolim, não muito distante de onde nos encontrávamos. Disse ter uma filha de treze anos que morava com a mãe mais o padrasto e em seus encontros a menina clamava para que ele vivesse ao seu lado, com ar de descontentamento respondia a ela que era melhor do jeito que estava, pois o padastro proporcionava seu sustento e educação, o que no momento não poderia fazê-lo. Revelou estar complicado entrar na Vila Capanema devido a um desentendimento com outro sujeito, fato que havia culminado em uns “pipocos” por lá, o que vinculei a tentativa de homicí­dio mencionada anteriormente. Mesmo assim, dizia que visitava a filha com certa frequência. Em outro momento da conversa comentou também sobre um outro filho mais novo, por volta dos sete anos, mas sobre o garoto não entrou em maiores detalhes.
Após Adilson ter aceitado como contribuição uma sacola de roupas que haví­amos separado para doação, percebi que vestia uma camiseta do pré-vestibular “Aprovação” e no fluxo da conversa, não sei bem o porque, acabei mencionando algo sobre caminhos os quais escolhemos seguir, ao ouvir isso imediatamente associou minha fala como sendo de cunho religioso e disse que tempos atrás era adepto assí­duo da igreja pentecostal, mas após seus pais e irmão terem “partido” tudo aquilo tinha perdido o sentido – “daí­ eu virei de vez”. A conversa toda durou cerca de quinze minutos, embora eu tenha ficado tempos depois com ela na cabeça. Na região em que moramos não são raras pessoas em situações similares a de Adilson.

l’essence – um espaço para viver

06dez2008
diálogo com rita (ida) em semáforo

(semáforo vermelho, chega uma pessoa nos oferecendo um panfleto de propaganda)

– posso tirar uma foto sua?
– sim.
– qual é o seu nome?
– Rita.
– Ida?
– é.
– Você trabalha sempre nesse lugar?
– Não, a gente troca de lugar.
– Em volta do centro?
– é.
(pega a propaganda de venda de plantas baixas).
– Prazer em conhecê-la. Tchau.
– Tchau.

Anotações no coletivo

Anotações no coletivo
Submitted by felipefonseca on Sun, 16/11/2003 – 11:09.
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* brasil
* camelô
* cultura hacker

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Autor (a):
Felipe Fonseca

Anotações no Coletivo

Artigo escrito em novembro de 2003, na seqüência de uma palestra que dei junto com Hernani Dimantas no Cybercultura 2.0, no Senac, a convite de Lucia Leão.

Aí­ uma costura das anotações tomadas na linha Lapa – Santo Amaro, quinta-feira passada, a caminho do Cybercultura 2.0, com algumas coisas que realmente cheguei a comentar na mesa redonda com o Hernani, e mais algumas elucubrações posteriores. Meu nome é Felipe Fonseca. Dizem que fui co-fundador do Projeto MetaFora junto com o Hernani. Mas outros dizem que o Projeto MetaFora nunca existiu, foi uma espécie de alucinação coletiva.

A cultura brasileira como uma cultura hacker (ou poderí­amos definir: a ética hacker nas culturas populares brasileiras*).

Em primeiro lugar, quero me desculpar porque vou avançar em alguns assuntos sobre os quais não sou especialista. Não me preocupar muito com isso é uma das coisas que aprendi com os hackers com quem trabalho. Bom, vamos adiante.

A era das grandes verdades

Até há pouco tempo, a comunicação concentrava-se em torno das fontes “oficiais” de informação e conhecimento: a igreja, o estado, a escola e a academia, e no último século a mí­dia de massa. As estruturas de comunicação eram facilmente identificadas. Um mapeamento dos fluxos de comunicação revelariam três grandes vertentes:

* as “fontes oficiais” propriamente ditas;

* as derivações das fontes (aquele tiozinho que repete no boteco o argumento do padre ou do âncora do telejornal), paráfrases das grandes verdades;

* as vozes contrárias, antí­teses das grandes verdades.

Essas últimas eram responsáveis por uma espécie de equilí­brio e um movimento de renovação. Podem ser identificadas aqui as vanguardas do século XX e a contracultura do pós-guerra, que, de alguma forma, acabavam impedindo uma total tirania na comunicação.

A era das múltiplas verdades

Nas últimas décadas, entretanto, as fontes “oficiais” começaram a se multiplicar e pulverizar. Acredito que alguns fatores influenciaram bastante nesse movimento:

* os questionamentos sobre a ciência no século XX;

* os questionamentos sobre a arte e seu papel;

* o intenso desenvolvimento e a facilitação do acesso í s Tecnologias de Informação e Comunicação;

* o acirramento da competitividade nos mundos corporativo e acadêmico, e entre as empresas de mí­dia de massa.

Um hipotético mapa da comunicação nos dias de hoje revelaria um cenário complexo, tendendo ao caos. Apesar de o ambiente da comunicação continuar dominado pelas mesmas estruturas (hoje, sobremaneira, as megacorporações), não é tarefa simples identificar onde se encerra esse poder. Em tal cenário, o papel de uma suposta contracultura precisa necessariamente se reinventar. Há 30 anos, era fácil identificar “o inimigo”: a ditadura no Brasil, a guerra do Vietnã e as estruturas militares nos EEUU, etc. Hoje, para onde devem apontar as armas da contracultura?

Aliás, ainda existe uma contracultura?

Eu acredito que não haja uma resposta objetiva.

Mas a comunicação tem papel fundamental na aceitação e manutenção dessa realidade. Em O Sistema dos Objetos, Jean Baudrillard identifica que a dominação através da manipulação publicitária não se dá no âmbito de cada peça de comunicação influenciando uma decisão do “consumidor”, mas no contexto do conjunto das peças publicitárias seguindo fórmulas assemelhadas e ratificando um modo de vida ocidental, branco e consumista. Uma situação claramente emergente, em que a ação de cada parte é menos importante do que a ação do conjunto.

A mí­dia tática surge nesse cenário, também como uma força emergente, potencializada com o novo ativismo que surge ao fim da década passada, nos protestos em Seattle, Gênova, Davos, Washington e tantos outros. Grupos de ativistas midiáticos e artistas de todo o mundo passam a utilizar ferramentas í s quais anteriormente só as elites tinham acesso para questionar a credibilidade da comunicação. Usam, camuflados ou não, as próprias armas do inimigo para conscientizar as pessoas sobre o que se passa no mundo. A mí­dia tática pode ser vista como a retomada do “social” na comunicação. Sua estrutura como sistema descentralizado e emergente encontra justificativa em Steven Johnson, no Emergência:

(…) se você está tentando lutar contra uma rede distribuí­da como o capitalismo global, é melhor mesmo se tornar uma rede distribuí­da.

A ética hacker

No mundo do desenvolvimento tecnológico, uma contracultura atuante desde os anos 70 construiu colaborativamente a Ética Hacker. Não vou entrar em detalhes, mas alguns dos princí­pios postulados pelos hackers encontram eco e respaldo na mí­dia tática:

* a descentralização coordenada;

* ênfase na reputação pessoal, baseada no histórico de ações, ao invés de hierarquia baseada em tí­tulos ou honras;

* colaboração e conhecimento livre e aberto;

* questionamento profundo sobre a validade da propriedade intelectual;

* Release Early, Release Often – é mais importante realizar do que ter um plano perfeito;

* informalidade.

Hackerismo brazuca

Estive em setembro no Next5Minutes, festival internacional de mí­dia tática realizado em Amsterdam. Alguns dias antes de embarcar, comecei a debater com o pessoal no MetaFora sobre o que falar por lá. As primeiras idéias circularam em torno da ética hacker e uma apresentação do grupo MetaFora. Na manhã da partida (ou a manhã anterior, não estou certo), acordei com a opinião de que tal linha de argumentação tinha duas falhas. Em primeiro lugar, eu não havia sido chamado para representar o MetaFora, e sim o Mí­dia Tática Brasil, festival realizado em março de 2003 do qual participamos. Além disso, não faria sentido simplesmente fazer côro a diversas outras vozes que já apregoam os princí­pios da descentralização e da colaboração. Já há algum tempo, tí­nhamos percebido que, em termos de colaboração, nós, elite cultural revoltadinha brasileira, temos mais a aprender do que a ensinar com as culturas populares* no Brasil.

O hackerismo tecnológico tem grande aceitação no Brasil, como pode detalhar o Hernani. O governo está adotando Software Livre, o paí­s é um dos maiores em volume de ataques de crackers. Sexta-feira, Maratimba comentou comigo que ouviu da boca de Miguel de Icaza que o Brasil tem o maior parque instalado do ambiente gráfico Gnome. No N5M, alguns programadores de Taiwan que estavam na mesa redonda New Landscapes for Tactical Media, da qual eu e Ricardo Rosas também participamos, vieram a mim perguntar, maravilhados, se tudo o que se falava sobre Software Livre no Brasil era verdade. Assenti, orgulhoso. Eu vejo algumas raí­zes culturais hackers no Brasil desde muito antes da criação do primeiro computador.

Os mitos afro-brasileiros**

Durante alguns séculos, pessoas de várias regiões da ífrica foram violentamente seqüestradas e trazidas ao Brasil, comerciados como escravos e encarcerados a uma vida de trabalho duro, restos de comida e praticamente nenhum direito. Não bastassem as agressões fí­sicas e a humilhação contí­nua, eles eram proibidos de exercer suas crenças, originalmente aní­micas. Alguns convertiam-se í  “verdadeira fé” católica, mas muitos desenvolveram uma alternativa, análoga í  engenharia social hacker: o tal sincretismo religioso. Camuflando seus orixás com vestes católicas, puderam continuar praticando seus rituais e venerando seus deuses da guerra, do trovão e do vento. Embora tenham aparecido diversas lideranças na Umbanda, não havia uma centralização de poder ou dogma. Assim, as linguagens espirituais afrobrasileiras foram se desenvolvendo de maneira colaborativa. Têm uma base comum (o kernel hacker) e diversas adaptações locais (a customização descentralizada hacker), chegando a abarcar elementos do kardecismo, de culturas indí­genas, de tradições ciganas, do budismo e outras crenças orientais.

A cultura burguesa brasileira

Não é novidade que, no iní­cio do século XX, a incipiente intelectualidade brasileira, composta em sua maioria pelos jovens filhos das elites que estudavam na Europa e voltavam ao paí­s, passava por uma crise de identidade, como ocorreu com todas as ex-colônias européias emancipadas entre os séculos XVII e XX ao redor do mundo. Duas perspectivas levavam a um impasse: de um lado, a cultura européia, moderna, vibrante, mas associada í  ex-metrópole colonial. De outro, uma cultura bruta, neonaturalista e sertaneja, quase crua. Os modernistas resolveram o paradoxo com a antropofagia, basicamente hacker: não renegaram nenhum dos dois mundos para criar novas formas de expressão. Pelo contrário, ao invés de tentar começar uma nova cultura do zero, misturaram elementos da cultura européia com a cultura brasileira. Vestiram a cultura popular de raiz com a experimentação formal do primeiro mundo.

Fenômeno semelhante ocorreu no final dos anos 70 com a Tropicália. Uniram o samba ao roquenrou, adaptando a linguagem comum da contracultura mundial com o sotaque local.

A economia pirata

Premida por uma situação econômica em condições cada vez piores, pressionada pela dificuldade de encontrar colocação e subsistência na economia formal, grande parte da população no Brasil migrou nas últimas duas décadas para a economia informal. Caracterizada por um dinamismo e por uma espécie de empreendedorismo na gambiarra, esse mundo alternativo de trabalho, que possui seu próprio cí­rculo de produção e distribuição, envolve hoje praticamente metade da população considerada “economicamente ativa” no Brasil, e mais uma grande quantidade de jovens e idosos. Possui suas formas de uma mí­dia mambembe que, se não se assemelha í  mí­dia tática do primeiro mundo, também chega, de maneira emergente, a questionar os domí­nios da propriedade intelectual e do poder da mí­dia de massa, em especial o branding corporativo. Outros elementos da ética hacker presentes na economia pirata:

* colaboração;

* descentralização;

* ênfase na reputação;

* informalidade.

O mutirão

Maratimba descreveu uma analogia do puxadinho feito em mutirão com o princí­pio do Release Early, Release Often, que corre um certo risco de ser uma visão estereotipada, mas que funciona como sí­mbolo:

Começo | Barraco – “Vamo botar essa porra em pé!”

Sabe como é? Menos é mais. Minimalismo funcionalista.

Expansão | Puxadinho – “Chame os amigos e ponha água no feijão”

Contemplar o máximo de necessidades. Refinamento e oferta de adicionais.

Refundação | Alvenaria – “Tá na hora de botar ordem na casa”

Revisão de erros e melhoria da qualidade geral. Consistência de dados e de interface E agora? Subi um barraco? Puxei um quarto pras crianças e um banheiro do lado de fora? Troquei os aglomerados e madeirites por tijolo e telha? Basta seguir a vida e esperar. Se precisar de mais teto, você pode construir a famosa casa nos fundos ou o mais popular segundo andar.

Comunidades periféricas interconectadas

As autoridades, a academia e a sociedade civil já acordaram para as possibilidades de transformação que as tecnologias de informação e comunicação trazem para a melhoria de vida das populações periféricas. As duas primeiras fases da “inclusão digital” tinham lá suas falhas, mas podem ser encaradas como um bom começo. Há um paralelo com um movimento que Mario de Andrade fez no século passado, de planejar expedições ao Brasil rural em busca de uma suposta cultura brasileira. Hoje, sabendo que cerca de 70% da população brasileira vive na periferia das grandes cidades, esses projetos têm o potencial de mapear e consolidar as caracterí­sticas de cada comunidade e integrá-las í s conversações mundializadas. É questão de adaptar as tecnologias í s necessidades das pessoas, e não o contrário. Vamos nos esforçando.

* Observações da moderadora Rita de Oliveira. Obrigado, Rita.

** Lucia Leão comentou que o site preferido de Roy Ascott é um site sobre Umbanda. Não tenho o link aqui, vou pedir í  Lucia.

Comentários

Lucia Leão

O site indicado pelo Roy é: http://www.umbandaracional.com.br/

visite o rio

se essa rua se essa rua fosse nossa…

Em meio ao bairro ígua Verde (ígua Podre), considerado por muitos dos moradores como um bairro ‘nobre’ de Curitiba, no cruzamento das ruas Santo Amaro com a Dom Pedro I, existe o que restou do entroncamento de dois córregos – cujos nomes são desconhecidos.

encontroderios

seessaruafosseminha

Alguma semelhança com o grito do Ipiranga? Mas porque Curitiba homenagearia o imperador com tamanha moléstia, nem sequer com uma rua pavimentada?

placaproibido

Onde já não é permitido o lazer, nasce um novo ecossistema… onde cadáveres boiam nas margens deste malcheiroso ambiente.

somenteratazana

E não poderia ser diferente: Ratos e ratazanas são os verdadeiros donos desta cidade.

talvez algumas sementes de girassóis, um punhado delas espalhadas ao longo destas margens – a voltar-se para o sol e incansavelmente respirar…

Somos 190 milhões

Somos agora no Brasil: 189.739.433 habitantes.
Somos agora no Mundo: 6.621.930.169 habitantes.

Fonte: IBGE (acesso í s 18:23 18/09/2007)

gauchotrajefazendeiro.jpg

O Brasil conta hoje com rede de proteção social que beneficia cerca de 60 milhões de brasileiros, da qual faz parte o “Bolsa Famí­lia”, com 11 milhões de famí­lias inscritas.

Trecho de entrevista do Ministro do Desenvolvimento Social e Combate í  Fome, Patrus Ananias

http://www.brasil.gov.br/noticias/em_questao/.questao/ent043/

ui don nid nou edukeixion vitoriamario ooioo

a meu deux do xéu vai falar serio assim lá no inferno

Não levo ninguém a sério o bastante para odiá-lo.
Paulo Francis
outra:
Marx escrevendo sobre dinheiro é como padre falando sobre sexo.
post idem
achei num site de frases prontas do paulo freire

Estado de Exceção

PESSOAL,

O DESPEJO DA PLíNIO RAMOS
FOI SEM DÚVIDA O MAIS VIOLENTO
QUE PARTICIPEI.

A VIOLÃ?Å NCIA COM QUE FOMOS TRATADOS
DENTRO E FORA DA OCUPAÇÃO
FOI ATERRADOR,

FORA, NOSSOS AMIGOS CORRENDO PARA TODOS
OS LADOS COM GAZ DE PIMENTA, EFEITO MORAL,
GAZ LACRIMOGÃ?Å NIO E TIROS DE BORRACHA NOS OLHOS, NA CARA
NAS COSTAS.

DENTRO, BOMBAS E TIROS DE BORRACHA
QUE ACERTARAM ADULTOS E CRIANÇAS.

GENTE CHORANDO, GRITANDO…
CRIANÇAS APAVORADAS…
PÂNICO.

QUANDO RESOLVEU-SE SAIR PACIFICAMENTE
DE DENTRO DO PRÉDIO,
OS CÃES DE GUARDA ESCOLHERAM
20 PESSOAS PARA PERMANECER NO PRÉDIO.

AGAMBEN CHAMA ESTADO DE EXCEÇÃO
ESSES MOMENTOS QUANDO A VIDA
É RESUMIDA AO FATO BIOLÂGICO
FICANDO A MERCÃ?Å  DE UM PODER ABSOLUTO SOBRE ELA.

VIDA NUA.

MEU ALUNO RAFAEL NASCIMENTO
MORADOR DA PRESTES MAIA
FOI ELEITO COMO BODE EXPIATÂRIO
PELOS PORCOS
E ENQUANTO 19 DE NÂS ESTíVAMOS ENCOSTADOS
NA PAREDE, ELE APANHAVA DE CACETETE
NO FUNDO DO GALPÃO.

SEUS URROS AINDA ESTÃO ECOANDO
NOS OUVIDOS DE QUEM ESTAVA Lí.

NÂS NÃO PODíAMOS FAZER NADA!!!!
NEM OLHAR,
AO MENOR GESTO DE RESISTENCIA,
POLíCIAIS VINHAM COM CACETETES NOS
CHAMANDO DE FILHOS DA PUTA E NOS FORÇANDO
OUVIR EM SILÃ?Å NCIO A TORTURA DO OUTRO-NOSSO.

TORTURA CORPORAL E PSICOLÂGICA.

RAFAEL NASCIMENTO FOI VíTIMA DE RACISMO POLICIAL
E ACUSADO DE AGREDIR DOIS POLICIAIS.
ISSO PORQUE OS ADVOGADOS DO FRENTE DE LUTA
MUDARAM A ACUSAÇÃO QUE A POLíCIA TINHA FEITO
CONTRA ELE QUE ERA DE TENTATIVA DE HOMICíDIO.

A HISTÂRIA COMEÇOU A MUDAR
QUANDO SETE DE NÂS COMEÇOU A FALAR
QUE FAZIA DOUTORADO E TRABALHAVA PARA
O MINISTÉRIO, GOVERNO, UNIVERSIDADES, ETC,
Aí O PODER SE MOSTROU COM SUAS NUANCES
PRECONCEITUOSAS… ALGO ALIVIOU… SÂ UM POUCO.

NUNCA ME SENTI TÃO IMPOTENTE NA VIDA,
A CONDIÇÃO DE VIDA NESSE CASO
REDUZ-SE A DIZER SIM PARA TODAS
AS ATROCIDADES QUE ESSES HOMENS
DE FARDA E SEM NENHUM TIPO DE IDENTIFICAÇÃO
FAZEM,.

EU E ANTONIO BRASILIANO TIVEMOS NOSSAS
IMAGENS ROUBADAS PELA POLíCIA
QUE PROVAVELMENTE SERVIRÃO COMO PROVAS
CONTRA AS LIDERANÇAS DO MOVIMENTO.

ESSAS IMAGENS… O QUE ACONTECERí?
O QUE ESTí GRAVADO NAS FITAS?
O QUE DELAS SERí APAGADO?
O QUE SERVIRí COMO INCRIMINAÇÃO?

SE NA PLíNIO O DESPEJO FOI DESSA VIOLÃ?Å NCIA
O QUE ACONTECERí NA PRESTES MAIA?
Hí MOMENTOS QUE TUDO FOGE DE CONTROLE;

CONCORDO COM MELINA QUE TEMOS QUE
AJUNTAR TODO O MATERIAL QUE TEMOS
E FAZER UMA DENUNCIA NA OUVIDORIA E NO MINISTÉRIO
PÚBLICO CONTRA A AÇÃO POLíCIAL E PRINCIPALMENTE
CONTRA A ORDEM JURíDICA QUE A ACIONOU.

NÂS OUTROS 19 ESCOLHIDOS PARA O PAREDÃO
FOMOS PARA A DELEGACIA
ACUSADOS DE RESISTENCIA;
ASSINAMOS UM PAPEL QUE DIZ
QUE PORTíVAMOS TESOURAS,
FACAS, ESTILETES E TUDO O MAIS
QUE OS PORCOS CONSEGUIRAM ACHAR
DENTRO DO PRÉDIO.

TEREMOS QUE RESPONDER INQUÉRITO
E SEGUNDO INFORMAÇÃ?â?¢ES DOS ADVOGADOS,
NÃO PODEMOS SER PEGOS NA MESMA SITUAÇÃO
NO PRAZO DE DOIS ANOS; A NÃO SER QUE REVERTAMOS
A ACUSAÇÃO FEITA CONTRA NÂS.

É TANTA PALAVRA CORDATA:
SIM PARA A POLíCIA,
SIM PARA OS ADVOGADOS;

CORPO-QUE-DIZ-SIM-QUERENDO-DIZER-NÃO!!!

QUERO DIZER SIM E DIGO
PARA OS SíBADOS DA PRESTES MAIA;
ACREDITO NA ARTE;
DESPRESO O CONFRONTO
QUANDO SÂ UM LADO TEM ARMAS.

FABIANE BORGES.

veja as imagens:
http://integracaosemposse.zip.net/

Judas Iscariótis e Papai

Camôes deu um jeito
de Colocar Judas Iscariótis
no Escudo de Portugal

“Contando duas vezes o do meio...”

Já fica vencedor o Lusitano,
Recolhendo os troféus e presa rica;
Desbaratado e roto o Mauro Hispano,
Três dias o grão Rei no campo fica.
Aqui pinta no branco escudo ufano,
Que agora esta vitória certifica,
Cinco escudos azuis esclarecidos,
Em sinal destes cinco Reis vencidos.

E nestes cinco escudos pinta os trinta
Dinheiros por que Deus fora vendido
,
Escrevendo a memória, em vária tinta,
Daquele de Quem foi favorecido.
Em cada um dos cinco, cinco pinta,
Porque assi fica o número cumprido,
Contando duas vezes o do meio,
Dos cinco azuis que em cruz pintando veio.

Lusiadas: Canto III

Mamãe pulou a cerca / Papai 2 (o outro)

O pai traiçoeiro:
Baco era também o arqui-inimigo do Gama

Eis aqui, quase cume de cabeça
De Europa toda, o reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; elá na ardente
ífrica estar quieto o não consente

Esta é a ditosa pátria minha amada
à qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lira, que de Baco antigo
Filhos foram, parece
, ou companheiros,
E nela antam os í­ncolas primeiros

Lusí­adas: Canto III

A Metamorfose: Ulisses / Gama / Cabral

Oscar Pereira da Silva (O Descobrimento do Brasil)

Ulisses Pona – Porto de Ulisses – Lisboa
ínclita Ulisséia (nos Lusí­adas)
“E já no porto da í­nclita Ulisseia,
Cum alvoroço nobre e cum desejo
(Onde o licor mistura e branca areia
Co salgado Neptuno o doce Tejo)”

Lusí­adas: Canto IV

ULISSES

“O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo–
O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,

E a fecundála decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre”.

Fernando Pessoa – Mensagem

portunhol e criolo


Ciudad del Este es la tí­pica ciudad de frontera… Entre Paraguay y Brasil, es un poco hí­brida, pero al mismo tiempo, tiene su propio toque… El aroma de actividades ilegales y contrabando de todo tipo llena el aire… El calor, las calles abarrotadas, los miles y miles de objetos en venta…

portu�±ol / portunhol

enviada pelo alexandre, mais farinha pro angú:

portuí±ol / portunhol

O que é o portunhol? Uma lí­ngua? Uma sí­ntese entre o português e o
espanhol? Um diálogo espontâneo entre idiomas parecidos? Uma
necessidade recí­proca de comunicação? Uma invenção de fronteiras? Uma
linguagem de viagem?

Partindo do uso do portunhol como cruzamento, como fusão, esta
convocatória o convida a pensar encontros, misturas, pontes,
sobreposições, confusões, erros, mal-entendidos, confluências,
interseções entre Brasil e Argentina.

Todos aqueles que desejarem participar da mostra portuí±ol / portunhol
poderão enviar:

objetos, palavras, fotos, desenhos, canções, ví­deos, poemas, mails,
contos, pinturas, instrumentos, diários, performances, tortas, filmes,
barulhos, passos de dança, cartas, páginas web, slides, drinques,
roupa, esculturas, revistas, crônicas, instalações, movimentos,
gravações, sons, esportes, artefatos, ensaios, blogs, danças, etc.,
etc”¦.

Enviar anexo: nome, endereço, e-mail, dados da obra e informação que
julgue necessária.

O material recebido será exposto no próximo mês de agosto na Fundación
Centro de Estudos Brasileiros.

Data de inscrição: de 15 de junho ao 22 de julho de 2005

Coordenação: Karina Granieri / Ivana M. Vollaro

Fundación Centro de Estudos Brasileiros

Esmeralda 969 / Buenos Aires, Argentina

Tel. 011 4313-6715 (de 15 a 19 hs.)

e-mail : galeria@funceb.org.ar

www.funceb.org.ar