produção em série: esse som é um mistério

Arte e conhecimento tecnológico compartilhados (1)

A coisa

Um poster retrabalhado com pinturas, rabiscos, grafite, escritos, anotações, colagens e agregações de dispositivos eletrônicos e computacionais. Esse som é um mistério: produção em série, um trabalho de Glerm Soares, do coletivo Orquestra Organismo.

As partes mais evidentemente tecnológicas compõem um hardware dedicado a áudio, uma pequena placa com os componentes de um microprocessador, ao qual somam-se um alto-falante, uma bateria, um joystick e seus respectivos cabos de conexão. Ligada, a obra repetidamente pronuncia a frase: “produção em série”. Uma fala maquinal, soando estranha e indefinida nos primeiros momentos, parecendo também dizer outros enunciados, como: “começou o ensaio”. Não há um player onde se acoplaria uma mí­dia avulsa analógica ou digital. O áudio modulado em números está gravado na memória do próprio hardware.

Aparência; o além da imagem; os layers de conceito; interfaces entre arte e tecnologia.

Na apreensão visual imediata, a plasticidade espontânea, caótica, expressiva e eclética sobreposta í  imagem de um poster (2). Aparências e ví­nculos de conteúdo com a imagética dadaí­sta, fluxista, psicodélica, cyberpunk.

A rastreabilidade de contextos – lastros interpretativos – com cada elemento visual da colagem e suas interconexões de significados passam longe de uma leitura linear, há tramas de linguagem intencionais, outras casuais, e algumas soldas entre elas (3). Não se trata de uma espontaneidade somente lí­rica ou gestual: o quadro é o receptáculo de um turbilhão de idéias. É simultaneamente uma crí­tica cultural aos saberes e fazeres tecnológicos subservientes í  indústria capitalista e também uma explí­cita ironia í  arte da pintura, especialmente aquela que quer se restringir, ainda hoje, ao exclusivo jogo da linguagem visual.

As idéias sobrepujam qualquer busca do belo, equilí­brio compositivo, qualquer referência restrita ao campo das artes visuais. O diálogo com a tradição da pintura e/ou da “Arte ocidental” ocorre na freqüência anti-arte. Arte de contra-cultura, subversiva. Há um repertório de anti-arte dentro da história da arte; se buscarmos algum campo de afinidade, esse é um deles.

Outro contexto afim é a arte conceitual, entretanto, num viés diferente da tradição que privilegia a escrita (como Joseph Kosuth), e num caminho também distinto do conceitual que materializa-se organizada e sinteticamente em objetos e instalações, com suas imanências de significados culturais (como Cildo Meireles). O conceitual aqui é de aparência e consistência cumulativa e caótica. Se Catatau é o tupiniquim Finnegans Wake joyciano, leminskiano, imagine Hackeando catatau: “a justa razão aqui delira”, outra vez. Hackear Catatau diz muito sobre a filosofia do proceso em questão. Diz algo, ao menos; e mais pode ser encontrado no site homônimo do coletivo na internet. Uma tendência contemporânea essa, a da aleatória disponibilização de dados, onde os contextos acessados continuam agrupados em camadas entrópicas de informação, num denso subsolo disponí­vel para diferentes percursos a serem trilhados por novos exploradores. Navegação intersemiótica aberta, curadoria do usuário, busca motivada pelo desejo do momento, tendências de afinidade agrupadas por inteligência artificial após uma ignição de escolha humana. Em meio a narrativas, interpretações e contextos que continuam sendo necessários de serem revisitados, reinventados, organizados e produzidos no espaço/tempo contemporâneo, para que a vida não fique confinada nas freqüências dos ventrí­loquos do discurso oficial, as possibilidades mais anárquicas de comunicação também reinvindicam seu modo de existir. Hackear Catatau, “pois”…

O ambiente transdiciplinar associado í s relações entre arte e ciência evidenciam outra área de interesse. Os antecedentes históricos e possí­veis campos relacionais são muitos, entre artistas, acontecimentos e teorias. Leonardo da Vinci, László Moholy-Nagy, Bauhaus, Jean Tinguely, Abraham Palatnik, Waldemar Cordeiro, Eduardo Kac, Corpos Informáticos, Paulo Bruscky, Vilém Flusser, etc. Para Glerm, Lúcio Araújo e Simone Bittencourt, parceiros de mais longa data entre os componentes da Orquestra Organismo (4), talvez parte dessas referências – as mais focadas no campo das artes plásticas – não sejam tão fundamentais em suas trajetórias, visto que o percurso do grupo origina-se na música (Boi Mamão, Estúdio Matema, Vitoriamario, Rádio Macumba e Malditos ícaros do Microcosmos), caminho ao longo do qual foram incorporando o instrumental e a sonoridade eletrônica (5). Daí­ para a busca do entendimento das lógicas funcionais e de produção dos instrumentos foi um passo. E uma jornada ainda em curso. Isso sem falar nas investidas de aprendizagem nas áreas da matemática, antropologia e psicologia. Entre referenciais e repertórios de influências musicais do grupo, outros e muitos são os nomes que transitam por suas memórias (ver entrevista abaixo). E no campo das investigações computacionais e da comunicação pela internet, pesquisadores e ativistas como Richard Stallman, Linus Torvalds, Tim Berners são presenças muito mais próximas e intensas que a de artistas visuais. Agora tudo se mistura novamente, a mixagem se amplia: música, ciência da computação, crí­tica cultural, artes plásticas: Interfaces.

Pensando os pensamentos, ainda: os acumulados, os escritos, e, inclusive, os anunciados através dos objetos e suas imanências de valor cultural, funcionalidades e re-funcionalidades ali na obra aplicadas. Esses pensamentos sobreagregados focam na crí­tica do establishment da sociedade contemporânea – com sua lógica de produção em massa, mecanicista e alienada, que aniquila as subjetividades dos indiví­duos. Esses pensamentos crí­ticos não são colocados somente como tema ou referência, eles são também matéria e linguagem. Eles propõem também uma conduta: o sujeito, além de usuário e consumidor das tecnologias contemporâneas, pode e deveria ser, simultaneamente, um entendedor, experimentador e/ou desenvolvedor criativo da ciência, em seu próprio cotidiano (ao menos na relação com instrumentos tecnológicos dos quais faz uso, o que já não seria pouco). No âmbito da ciência da computação, essa atitude converge para as polí­ticas ciberatisvistas, propagadoras da inclusão digital, da cultura dos códigos livres e da humanização das máquinas, principalmente através das atuações das comunidades de software e hardware livre. A ciência e a tecnologia a serviço de uma vida mais criativa e libertária, ao invés de sua aplicação hegemônica na atualidade, sendo ferramenta para desenvolvimento de produtos para competição capitalista, concentração de poder e riquezas, exclusão social, fomento í  guerra. Mesmo sabendo-se uma pequena peça quase imperceptí­vel no meio da grande engrenagem, a obra Esse som é um mistério: produção em série vislumbra uma outra humanidade, não vitimada por uma de suas criações, a tecnologia. Como parte dessa grande engrenagem, a obra é, por um lado, objeto de sabotagem largado em meio í  máquina, desejando e incidindo no colapso total do macrossistema. E por outro lado, é proposição recodificante de atuação prática coletiva. Assim, na sí­ntese de desejos, pensamentos e materialidades, a obra é também um manifesto.

Conhecimento tecnológico compartilhado

ou

desalienação do circuito de produção tecnológica

ou

desideologização do capitalismo inserido nos circuitos industriais de produção tecnológica

“Não há um player onde se acoplaria uma mí­dia avulsa analógica ou digital. O áudio modulado em números está gravado na memória do próprio hardware”. Esse som é um mistério: produção em série é uma obra especí­fica, singular. Condensa conhecimento e é protótipo de um fazer tecnológico. Incidindo sobre si mesmo, como pensamento redundante, autocrí­tico, e sendo ao mesmo tempo exemplo de artesania computacional e experiência criativa, o trabalho é crí­tica da cultura contemporânea, conhecimento tecnológico compartilhado, objeto cultural anti-industrial, desalienação do circuito de produção tecnológica, desmistificação da tecnologia. É uma deseideologização do capitalismo inserido nos circuitos industriais de produção tecnológica, fazendo aqui analogia í  proposta Insersões em Circuitos Ideológicos – Projeto Coca-cola, de Cildo Meireles (6):

“Por pressuposto, a arte teria uma função social e teria mais meios de ser densamente consciente. Maior densidade de consciência em relação í  sociedade da qual emerge. E o papel da indústria é exatamente o contrário disso. Tal qual existe hoje, a força da indústria se baseia no maior coeficiente possí­vel de alienação. Então as anortações sobre o projeto “Inserções em circuitos ideológicos” opunham justamente arte í  indústria.”

Se em Cildo o projeto caracteriza-se na identificação de um circuito idustrial (e alienante) no qual a inserção (consciência) age num processo subversivo, em Esse som é um mistério: produção em série, há a tomada de consciência e compartilhamento dos saberes da produção tecnológica, o que, dentro da lógica vigente, já é ação subversiva (bastaria lembrar algumas das práticas das grandes corporaões empresariais: controle de patentes, segredo industrial, domí­nio de mercado, segmentação alienada das etapas do trabalho, produção e consumo em larga escala, etc). Há ainda o convite í  participação, o “insira algo no circuito”. Com essa chamada, a noção de circuito evoca outros dois sentidos: o circuito eletrônico especí­fico do trabalho e o circuito do conhecimento compartilhado, construí­do nas redes relacionais entre pessoas, na participação, na articulação de circuitos artí­sticos autodependentes. Em Cildo a participação é também base para a potencializar a ação.

Considerando as questões tocadas pelo trabalho especí­fico, e, genericamente, as produções do coletivo Orquetra Organismo, pontes reflexivas poderiam ser construí­das sobre a questão arte e tecnologia, reprodutibilidade técnica, produção em série. Haveria um repertório de negação a ser acessado quando esses conteúdos fossem associados í  estratégia pop de Andy Warhol, replicante de imagens da indústria, inclusive da indústria cultural, talvez irônico em algum sentido, certamente bastante condenscendente com o status quo, inclusive pela forma e conteúdos com os quais construí­a sua própria carreira e imagem pública. Por outro lado, surgiriam afinidades com a teoria de Walter Benjamin, por exemplo, ao aproximarmos as estratégias de veiculação e participação pela internet empreendidas pela Orquestra Organismo a alguns apontamentos de Benjamin em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (7), no sentido da potencialização polí­tica oportunizada pela maior circulação de uma obra de arte reproduzida tecnicamente. O que também confluiria afirmativamente para ideários comuns é a vontade do envolvimento entre artistas, técnicos e comunidade, num processo coletivo, inclusivo, e focado no compartilhamento de saberes, como nas reflexões do texto O artista como produtor (8). E muitas outras conexões teórico/práticas poderiam ser feitas. Arte, ciência e tecnologia proporcionam um campo transdiciplinar para a investigação contemporânea, seja do presente ou do passado, em seus diferentes contextos.

Os comentários aqui elaborados poderiam estender-se para outras obras realizadas por Glerm Soares, assim como para outros trabalhos do coletivo Orquestra Organismo, o Toscolão, o manto polifônico, o painel eletrônico Não ouse amar o erro… Tendo a obra a dimensão de um manifesto dentro de si, o reverso de um comentário especí­fico pode também se dar: falar sobre a obra é também falar sobre as produções do grupo, ainda que cada investigação tenha campos especí­ficos de experimento tecnológico.E daí­ em diante, seria também falar sobre o ideário de outros grupos afins, como o Estúdio Livre, o Descentro, o Ystilingue. E falar de parte de uma cena do ativismo cultural contemporâneo, cujo ambiente de atuação é também uma interface entre grupos de autogestão de artistas e ciberativistas.

Aquele poster que serviu de suporte e base para a apropriação e reciclagem – lixo encontrado numa rua de Curitiba (trash object trouvé) – também pode tornar-se alvo num sentido crí­tico similar ao dito sobre a alienação dos processos industriais capitalistas, a tal “produção em série”. O referido poster pop serial é imagem esteriotipada reproduzida em série. A própria busca de estilo, no campo da arte, é algo fadado í  alienação, í  repetição de padronagens de pensamentos e formas, fórmulas, artesanato cerebral: “o estilo, seja das mãos, seja da cabeça (do raciocí­nio), é uma anomalia” (9). O serial nesse caso seria a estereotipação dos pensamentos e dos sentidos levado í  escala de múltiplo; num contexto bastante diverso daqueles desejos libertáros impactantes visualisados por Benjamin ao argumentar sobre a arte reproduzí­vel tecnicamente. O estilo, a subserviência ao mercado de arte e a crença de que arte é produto blindado a seu entorno social formam as bases do trabalho de arte anestesiado e alienado. Muito além da visualidade, o artista opera, através da linguagem, sobre as lógicas dos acontecimentos culturais, sobre o imaginário coletivo. Diferente de atrofiar-se no estilo individual e na podução em série, o artista expande-se no compartilhamento de consciência crí­tica, sensorial e afetiva. Mais engajamento com a vida e a liberdade, essas são algumas das bases psí­quicas e comportamentais do trabalho do artista, alguns de seus desejos, em qualquer época. As utopias continuam a existir. Esse som é um mistério, como a vida.

Mamelucovich, Cachoeira dos Descartógrafos, ano do boi.

NOTAS

1.

Este texto foi motivado por uma troca simbólica proposta a mim por Glerm Soares, conforme relato que segue: “Recebi de Glerm em novembro de 2007, em mãos, uma obra chamada Esse som é um mistério: produção em série. Eu havia acompanhado alguns momentos da construção do trabalho na casa 818, paragem temporária do coletivo Orquestra Organismo. Ao ver a coisa pronta, se é que chegou ao fim, gostei. Empatia pela aparência/conteúdo/processo. Layers de idéias, fazeres e ironias sobre arte e indústria. Foi uma satisfação receber o presente. Recentemente chegou por email o convite para elaborar um relato da experiência com a obra, alguma troca relacional, perspectiva de participação essa denominada “insira algo no circuito”. Isso como uma ação complemetar í  montagem da exposição Interfaces, empreendida pelo coletivo no Solar do Barão, resultado de um ano de pesquisa oportunizado pelo projeto Bolsa Produção em Artes Visuais, da Fundação Cultural de Curitiba, edital público do qual o Orquestra Organismo foi um dos contemplados. A exposição abre amanhã… Optei por escrever um texto para o “insira algo no circuito”: Arte e conhecimento tecnológico compartilhados. Com a escrita em curso, surgiu a idéia de fazer também uma pequena inserção no próprio trabalho… Tá (quase) lá (a obra está na exposição agora). No meio do processo senti ainda a necessidade de elaborar algumas perguntas a Glerm, para tirar certas dúvidas sobre o trabalho e sobre a história do coletivo. Frente í s generosas respostas dadas, resolvi incorporar a conversa por email como uma entrevista – Brainstorm sobre terramotors de bits – a qual segue logo após o texto. Aquela vontade de contextualizar os acontecimentos a partir de certa base de valores dos quais também me sinto cúmplice. Goto, Curitiba, 03/03/2009.”

2.

Em exercí­cio de arqueologia da cultura pop, rastreou-se o poster encontrado na rua que serviu de suporte para as derivações artí­sticas da obra Esse som é um mistério: produção em série. Trata-se de um desenho da artista (???) estadunidense Sara Moon, Girls by the fontain, de 1985.

3.

Alguma semântica sobre a imagética do poster: ele comunica pela escrita, através de um pequeno cartaz de divulgação, o horário de atendimento do serviço prestado ao público, somente para dias úteis e sábados; dias inúteis sem previsão. Essa mensagem associada í s figuras humanóides ali representadas e demais plasticidades acrescidas levam a algumas dúvidas sobre qual seria, afinal, o tal serviço ofertado: uma clí­nica de telepatas, de mestres em hipnose, de videntes mí­sticas, de emissárias de abduções, de massagem alucinatória tecno-erótica? Isso porque a clareza e a beleza idealizada (e estereotipada) das representações gráficas femininas que permanecem residuais no desenho evanesceram-se numa atmosfera psí­quica e fantasmagórica. Os rostos das garotas estão desfigurados e diluem-se na presentificação da imagem, na des-paisagem, na negação da perspectiva e de representações realistas. íreas de pintura chapada, escritas, linhas ortogonais grafitadas, sobreposição de colagens e objetos. Cabelos verdes esvoaçantes, desproporcionais, tornados grafismos. Um joystick está cravado na testa de uma das garotas (on/off da terceira visão?), enquanto a outra expande-se em barbas pela face, instanteaneamente congelada na lembrança de um eventual e andrógino ser do Planeta dos Macacos. Há ainda um poético instrumento de solda colado ao lado de um bucólico pincel de pintura. Duas linhas perpendiculares encontram-se na lateral esquerda do quadro, referindo-se í s dimensões bidimensionais do próprio suporte da obra, sua altura e comprimento: talvez indí­cio autoreferente de quantos centí­metros quadrados de arte há, numa improvável cobiça por alguma cotação monetária avantajada por árrea de trabalho artí­stico realizado. Há alguns componentes eletrônicos colados também, como dito. E eles funcionam… Conectando os cabos e mexendo no joystick, um pequeno altofalante emite a frase: “produção em série”. Enfim, loucurada. Além do que a obra está mais para patinho feio e Malasartes que para uma obra de Belas Artes. (Ver Nota (10))

4.

Além da base estruturante do grupo, formada por Glerm, Simone e Lúcio, também participam do coletivo os artistas Octávio Camargo e Claudia Washington. O grupo está aberto a novas participações.

5.

Dentre eles, Lúcio é o único com formação especí­fica em artes visuais, mesmo vindo também da música. Claudia, a mais recente colaboradora do grupo, também tem formação em artes visuais.

6.

MEIRELES, Cildo. Inserções e Circuitos Ideológicos. Rio de Janeiro: Coleção ABC – Funarte, 1970. p.22

7.

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In:_. Magia e Técnica, Arte e Polí­tica. São Paulo: Brasiliense, 1984.p. 165.

8.

. O autor como produtor. In: idem Nota (5). p. 120.

9.

MEIRELES, Cildo. Inserções e Circuitos Ideológicos. Idem Nota (4). p.24

10.

As Notas (1) e (2) acima escritas, interpretativas sobre a imagética da obra, tornam-se quase desnecessárias ao texto, supérflua busca de contexto na visualidade non-sense, iconoclasta e escrachante. Exercí­cio digressivo de semântica sobre a aparência das coisas, pensamento transcendente. Paradoxal rastreabilidade de significados da imagem num processo de trabalho intencionalmente construí­do para negar justamente a supremacia da imagem sobre os conteúdos. Ainda assim, quase supérfluas, as notas trazem dados sobre tudo aquilo que não importa e é negado, reforçando talvez as opções escolhidas, aquelas que apontam a articulação de conteúdos, a aplicação de conhecimento e o fazer consciente como fundamentais. Assim colocadas, essas notas esperam ter ganho sua razão de existir.
Brainstorm sobre terramotors de bits
(Mamelucovich) No trabalho Esse som é um mistério: produção em série, o que é aquela chapa onde estão fixados alguns componentes eletrônicos do harware de áudio? É o arduí­no?
(Glerm Soares) É uma placa derivada do projeto arduino,mas com projeto minimalista redesenhado a mão e batizado de “toscolino”.
Na exposiçao estamos tentando ao máximo usar placas que foram totalmente projetadas por nós mesmos.
A chapa daquele quadro especí­ficamente fui eu que fiz, desenhei a trilha a mão e queimei no percloreto.
Já o projeto arduino pode ser descrito como – um dos primeiros projeto de hardware livre que seguindo os passos do que aconteceu com o software decidiu licenciar todo o projeto de desenho da engenharia de hardware sob licença copyleft, do tipo creative commons. Este projeto ficou conhecido por ter uma abordagem de desmistificar o mundo dos microprocessadores dentro de cenários mais artí­sticos e hacktivistas.
(http://arduino.ccâË?ž)
Derivando da música, dá para dizer que alguns antecedentes do coletivo Orquestra Organismo foram o Boi Mamão e Estúdio Matema. Que outras configurações ou bandas ou grupos vocẽs formaram?
Vitoriamario, Rádio Macumba e Malditos ícaros do Microcosmos.
Este último com incursão pelo terreno dramaturgico com a peça Malditos somos nós tentando ser nós mesmos…
Quais músicos de alguma forma podem ter sido influência ou dialogam com o trabalho que vcs fazem?
essa lista é bem dí­ficil mesmo.
porque tem aqueles que soam e inexplicavelmente influenciam a audição, diariamente, independente de sua trajetória… e aqueles que tem uma trajetória as vezes até maior que sua obra musical.
por mim eu diria que influencia-me toda música que conduz o ouvinte por dentro do inesperado, e pra isso toda tentativa de vencer os canônes da música “maior-menor” que foi toda empalada de arestas pelas cruzadas “civilizatórias”… mas de qualquer forma sempre restam bases pros hinos que batizaram-nos com sobrenomes.
Quem são os caras que criaram, desenvolveram e influenciam as redes de desenvolvimento de software livre e pesquisa em computação?
acho que você está falando do Richard STALLMAN… ele é o filósofo por trás da licença GPL -e cunhou a filosofia das 4 liberdades –

1.

A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nú 0)

2.

A liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nú 1). O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.

3.

A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nú 2).

4.

A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie deles (liberdade nú 3). O acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
Já o linux foi um dos primeiros sistemas operacionais a usar esta licença e alguns aplicativos que foram desenvolvidos a partir dela. O criador da parte central do linux é um finlândes chamado Linus Torvalds.
Além disso e das licenças,você pode por exemplo lembrar que o cara chamado Tim Berners Lee, que é o cara que inventou a web como conhecemos – aquilo que entendemos por “html” – navegadores com links, fotos diagramadas numa página com barra de rolagem e os protocolos, etc… o fez de uma maneira aberta e foi ali que a internet explodiu…
*curiosidade – primeira página web da história: http://www.w3.org/History/19921103-hypertext/hypertext/WWW/News/9201.htmlâË?ž
As modulações gráficas que vc fez nas experiências Curadoria e Esse som é um mistério: produção em série são somente numéricas ou há combinações entre números e letras?
é uma conversão direta de um formato digital usado industrialmente – o wav , um padrão que considera as necessidades da indústria , como o numero de bits que utiliza um CD ou DVD ou a velocidade da placa de som do computador -> para um formato cru, operando em ciclos de 8 bits contendo 8000 amostras em cada segundo (os toscolinos são como computadores pré-históricos de 8 bits, os atuais usam 32 ou 64 e suas placas de som operam a 48mil amostras por segundo)
Pra isso estamos considerando todos os parametros elétricos possí­veis de acontecer com um pequeno auto-falante de 0.5 watt controlado diretamente pelo microprocessador recortando 1 segundo em 8000 frames microsonoros.
Para entender a técnica é preciso “fotografar” os movimentos do autofalante em microsegundos de tempo e considerar essa movimentação derivada do impulso elétrico necessario para movê-lo. Essa “modulação númerica” que você se refere, é como pensar em uma palavra como um tipo de “bólide sonoro”, recortando 1 segundo com cada vogal e consoante que a palavra pede e fazendo uma escultura perceptí­vel pela audição.
Além do Esse som é um mistério: produlão em série, Toscolão, Manto polifônico, Curadoria, a TV que o Lúcio estava mexendo (com que nome ficou, mesmo?) e aquele painel eletrõnico, que outros trabalhos vocês estarão exibindo no Solar do Barão?
os trabalhos estão sempre em processo. chegamos a conclusão que eles nunca estão satisfatóriamente terminados pois são declaradamente experimentos e fazê-los ou consertá-los em frente aos interessados acabou inevitavelmente tornando-se parte do trabalho.
tem algumas dessas coisas semi-prontas que você citou, mas nao sei se tem tí­tulos e provavelmente tendem a serem acopladas entre si gerando novos derivados.
o painel eletrônico já está instalado e esta exibindo a seguinte frase: “Não ouse amar o erro”…
estou terminando também um protótipo de bateria-robô que vai servir de suporte para algum tipo de oferenda percussiva pós-industrial
também tem um software livre que eu desenvolvi, chamado navalha, que pode ser baixado pelo estudiolivre (onde também tem uma descrição de sua interface):
http://www.estudiolivre.org/tiki-index.php?page=NavalhaâË?ž
Continuando aqui, na real, tentando entender o que eu entendo sobre o que vcs fazem, contextualizando as coisas…
nós também, tentando entender.
valeu o brainstorm

Mamelucovich

vermelho medula && deep blue :(){ :|:& };:

Aqueles que se dizem artistas olham para o meu trabalho e me chamam de técnico.

Os que se dizem técnicos e cientistas me veem como um tosco artesão bradando contra os moinhos.

Circulo por comunidades “virtuais” como um pária praguejando visões de vetores e marcando encruzilhadas para encarnação das entidades, certo do quanto elas não são virtuais,
viajando quilômetros para encontrar pessoas que eram apenas avatares, apelidos, endereços
numa rede aberta de computadores que desde a infância ajudei a construir manipulado pelos jogos de guerra e paz de um grande leviatã informacional.

Tateio os contornos fí­sicos dessa identidade sem pátria, dessa lí­ngua sem regras gramáticais se refazendo por dentro de um frágil léxico de referências culturais globais, instantanêas e ainda não catalogadas pela história da humanidade em pacto.
Justifico uma tradução de protocolos semi-algébricos, olho para essas placas mãe sem metáfora materna, só crendoí  no esqueleto tátil daquilo que para os que ignoram meu mundo é um fantasma a lhes puxar o pé, um monstro pós industrial encarnado nestes objetos mortos ressucitados pela captura da luz, barreira intrasponí­vel da velocidade dos corpos.

Seus ví­rus de laboratório são só uma desculpa para não conhecer nossas entranhas.

Dissecando e amando :(){ :|:& };:

O passo pra cima do abismo de calcular todas as possibilidades sintáticas pra acalmar teus sentidos.

Meteorologia na sua dança da chuva. A banal e gloriosa rima perdida em um cheque-mate que já foi vencido, em azul profundo e vermelho medula, por nós, software-hardware encarnados e aceitos como um de vós: Interfaces.

Nengara nenjuu yatte kuru – they come alyearound

they come
They come, bringing their friends and effortlessly, effortlessly head out before you know it,

they�re outside your window
before you know it, they�re in your house
they come

in an ordely line
with beautiful, beaming smiles all the time chakapoko, chakalaka, charming, before you know it,

they�re on your shoulder
before you know it, they�re on your plate they come all year round

they come in a matching mass of red
before you know it, they�re in your mouth before you know it, they�re in your dreams

A classe do novo

Orelha do livro

As profecias novaiorquinas
originalmente em: http://pub.descentro.org/wiki/orelha_do_livro

Já se passavam das nove horas da noite quando o porteiro anunciou no interfone da cozinha a chegada de um homem que não falava português. Pedimos para deixá-lo entrar e corri até a janela para vê-lo. Possuí­a estatura mediana, andar desengonçado, calças e jaqueta jeans azul escuro e uma boina também azul na cabeça. Arrastava sua valise de rodinhas por entre os mosaicos de pedra portuguesa e a fina chuva que caí­a durante o perí­odo que eu o encarava. Dr. Richard Barbrook chegou í s vésperas do festival Mí­dia Tática Brasil, evento de arte, mí­dia, polí­tica e tecnologia que havia sido, em grande parte, organizado via lista de troca de emails pela internet. Barbrook participaria no debate de abertura do evento juntamente com John Perry Barlow sob a moderação do recém empossado Ministro da Cultura, Sr. Gilberto Passos Gil Moreira. Um dos assessores do ministro, Hermano Vianna, nos confessara em um telefonema prévio que o festival que organizávamos tinha relação í­ntima com a plataforma de governo a ser proposta no Ministério da Cultura durante a administração por vir, e ofereceu-nos a presença de Gil e Barlow no debate de abertura do festival. Com a presença do Ministro Gilberto Gil, conseguimos espaços para a realização do festival bem como cobertura dos grandes meios de comunicação. Durante o festival, cerca de cinco mil pessoas visitaram as exibições, palestras, debates, oficinas, apresentações musicais, teatrais e performances na Avenida Paulista, coração psico-financeiro da cidade de São Paulo. Era março de 2003 e o que não sabí­amos naquele momento era a velocidade com que muitas das idéias e práticas ali desenvolvidas seriam rapidamente incorporadas í s agendas polí­ticas e corporativas do paí­s.

Em setembro do mesmo ano voltei a encontrar o Dr. Barbrook, dessa vez em Londres. Ricardo Rosas, Tatiana Wells, Ricardo Ruiz e Mônica Narula foram convidados pelo Cybersalon – evento organizado pelos alunos do curso de mestrado de Richard na Universidade de Westminster – para darem um cenário da arte em rede e do ativismo midiático no Brasil e na índia. Nessa noite, lembro-me de dividir com Richard boas quantidades de cerveja no balcão da festa que sucedeu a apresentação. Poderia dizer que aí­ começou a nossa amizade. Durante os anos que se passaram outros encontros aconteceram, em palestras, debates, festivais ou carnavais espalhados pelo mundo. Uma outra centena de emails mantinham as conversas em dia entre os encontros. E então, num desses emails, Richard me dizia que escrevia um novo livro, e que provavelmente aquele seria o primeiro capí­tulo. Anexado í  sua mensagem, um arquivo de texto chamado New York Prophecies (As profecias novaiorquinas). Assim que o terminei de ler, retornei a mensagem para Barbrook dizendo: “Está muito bom. Gostaria de lançar esse livro no Brasil”. Richard, lógico, adorou a idéia.

Após alguns meses, chegou em casa a primeira versão, impressa a partir do computador, de Futuros Imaginários. Richard havia mandado para que ajudássemos a perceber erros ou para dar sugestões no livro. Após algumas lidas do original por várias pessoas, começamos a discutir como poderí­amos traduzir o livro para o português e lançá-lo no Brasil. Acontecia que, além da centena de livros que o Dr. Barbrook utilizava como referência e que deverí­amos descobrir o nome de todos em suas edições brasileiras, o livro era recheado por conceitos ainda pouco debatidos em português. A solução que chegamos foi desafiadora: montarí­amos uma equipe para a tradução do livro, composta de artistas, tecnólogos, cientistas sociais, comunicólogos, jornalistas, historiadores e cientistas da computação. Em conjunto, discutí­amos os melhores termos, como eles já haviam sido utilizados no Brasil, e quais termos que nós utilizarí­amos. O processo foi longo e os agradecimentos oferecemos para a equipe da Editora Peirópolis, por sua paciência em esperar tantos meses pelo texto final. Esperamos que apreciem o resultado. E que, após ler este livro, vocês nunca mais vejam um computador da mesma maneira.

Vitória Mário, A Classe do Novo, março de 2008

Yes, we have bananas!

“desenvolvedores de softwares utilizam seus algoritmos para criar a mais nobre e esquecida arte da representação lingüí­stica: a poesia…”

Vitória Mário, I Love You, Museum for Applied Arts Frankfurt, 2002

O primeiro condiví­duo idealizado por brasileiros de que se tem notí­cia é “Vitoriamario”. Segundo o site ” Apodrece e vira adubo” (www.http://www.organismo.art.br/apodrece/), o nome surgiu em 1985 e cometeu “suicí­dio” em 1999. Em seus treze anos de existência, os vitoriamarios produziram romances, teses, ensaios e livros-reportagem, grande parte disponí­vel na web, com a popularização do meio. Alguns deles eram mais radicais e defendiam idéias como a depredação da propriedade. Como já explicitamos anteriormente, não há como delinear que tipo de vertente os assinantes de um condiví­duos seguirão, visto que estamos diante de uma identidade “aberta”. Assim, mesmo tendo se “suicidado” em 1999, segundo texto do “Apodrece e vira adubo”, podemos encontrar textos do ano em curso assinados por Vitoriamario na rede.

Há dois outros condiví­duos famosos, originalmente brasileiros. Embora não haja nenhum estudo a respeito, nossas pesquisas na Internet revelaram vários textos, blogs, publicações sob os condinomes: “Ari de Almeida” e “Timóteo Pinto”. A produção dos dois é bem parecida e segue as estratégias do “condividualismo” í s quais nos referimos antes: caráter lúdico, crí­tica ao capitalismo, ataque í  mí­dia, plágio, ensaios, notí­cias falsas; enfim, caracterí­sticas do ativismo polí­tico cultural que encontramos na rede atualmente.

O fato de brasileiros fazerem ativismo utilizando condiví­duos como forma de estratégia é a primeira justificativa para o tí­tulo deste trabalho. Uma vez que o condiví­duo é uma identidade e uma estratégia de ação “aberta”, automaticamente a iniciativa é uma ação em escala global, isto é; qualquer cidadão, de qualquer parte do mundo, pode assinar o nome múltiplo. Por outro lado, o fato de brasileiros sentirem necessidade de criar um condiví­duo demonstra que o movimento tem um caráter local, isto é, embora esteja engajado em causas inerentes ao ativismo mundial (como o copyleft, o anticapitalismo, o ataque í  cultura hegemônica, entre várias outras), os ativistas sentem necessidade de se envolver em questões essencialmente brasileiras, ou seja, locais.

Dessa forma, eis a primeira constatação de que o fenômeno dos nomes múltiplos é uma questão nem tão somente global, nem local; mas sim uma sinergia entre as duas, no que chamamos de glocal. Como concluimos em estudo anterior (VARGES, 2005), neste tipo de sinergia ambas as estãncias, local para o fortalecimento do movimento em escala global e a recí­proca é verdadeira. O que acontece localmente serve, entre outras coisas, para dar popularidade í  idéia de condiví­duo em escala global e; por sua vez, esta projeção global estimula iniciativas locais. Como podemos observar, o processo gera contí­nuo feeedback.

fonte:
http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2007/resumos/R0520-1.pdf

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Classificação
1-Palmeiras 28 18 7 3 34-11 43
2-Grêmio 28 15 10 3 28-13 40
3-Cruzeiro 28 13 10 5 34-22 36
4-Santos 28 13 9 6 39-20 35
5-América-MG 28 11 13 4 30-16 35
6-São Paulo 28 10 15 3 29-16 35
7-Fortaleza 28 10 15 3 32-19 35
8-Goiás 28 12 10 6 32-16 34
9-Vitória 28 12 10 6 23-14 34
10-Coritiba 28 14 5 9 33-20 33
11-Internacional 28 12 9 7 26-20 33
12-Guarani 28 10 13 5 34-24 33
13-Botafogo 28 10 11 7 29-20 31
14-Vasco da Gama 28 10 11 7 27-20 31
15-Corinthians 28 10 11 7 29-24 31
16-Ceará 28 9 13 6 26-23 31
17-Bahia 28 10 10 8 29-22 30
18-Tiradentes 28 10 10 8 21-19 30
19-Santa Cruz 28 9 12 7 30-33 30
20-Atlético-MG 28 10 9 9 34-29 29
21-Nacional 28 7 14 7 28-30 28
22-Remo 28 11 5 12 25-28 27
23-Fluminense 28 9 9 10 25-25 27
24-Flamengo 28 11 4 13 31-34 26
25-América-RN 28 9 8 11 33-36 26
26-Comercial 28 9 8 11 30-36 26
27-Desportiva 28 8 9 11 20-22 25
28-Atlético-PR 28 8 9 11 20-24 25
29-Portuguesa 28 7 11 10 33-31 25
30-Rio Negro 28 7 10 11 20-21 24
31-Olaria 28 7 10 11 27-29 24
32-Sport 28 7 9 12 24-36 23
33-CEUB 28 8 6 14 23-33 22
34-Náutico 28 7 8 13 20-33 22
35-Figueirense 28 5 12 11 15-29 22
36-CRB 28 6 7 15 23-43 19
37-América-GB 28 5 9 14 22-34 19
38-Paysandu 28 3 8 17 18-42 14
39-Moto Clube 28 1 12 15 11-43 14
40-Vitoriamario 0 0 5 50 11 13

Another diverse collective is vitoriamario, presented their work at Submidialogia. Activities include video, web-art, photography, music (among others by the Printer�s Orchestra) and publications, many of which are issued under the names Vitoriamario and Apodrece. Vitoriamario, a collective personality composed of several hundred persons was active during 13 years before he announced his suicide in 1999. In his decomposing state, Vitoriamario, now also called Apodrece, became free for appropriation by the next generation of communications guerilla, issuing manifestos, proposing a new global currency and denouncing all property.

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Bilder fuer freies Wissen

Image Banks
Videoarbeiten von Johanna Billing, Nina Fischer / Maroan el Sani, Nate Harrison, Sean Snyder, VitoriaMario, Florian Zeyfang, u.a. Das Programm zeigt künstlerische Reflexionen über die kulturelle und
politische Bedeutung aktueller Bildarchive.

Ab 22 Uhr im Klub: radio cidadao comum: netbatucadabrasileira on free and piracy music

Image Agents
Videoarbeiten von Anna La Chocha, Anja Kirschner, Tobias Werkner, u.a. Gezeigt werden Videoarbeiten, die einen produktiven Umgang mit vorhandenem Bildmaterial pflegen oder neue Konzepte für mediale Wissensproduktion verfolgen.

Ab 22 Uhr im Klub: MyTube & Yourspace
from Dj Hugo Chavez & Vj Ahmedinejad

Als Partner der Konferenz ‘Wizards of OS 4 — Information Freedom Rules’ prí¤sentiert TESLA zwei Videoprogramme, kuratiert von Vera Tollmann. Ausgehend von der Diskussion über Urheberrechte beschí¤ftigt sich ?Bilder für freies Wissen” mit der Privatisierung groÃ?Ÿer Mengen von Bildern in Datenbanken und mit den Mí¶glichkeiten alternativer Bildproduktion in den Grauzonen der Copyright-Gesetzgebung, wie z.B. mit dem Handy. Die Âsthetik aktueller Nachrichtenbilder ist von marktkompatiblen Standards bestimmt, komplette Bildarchive, die Jahrhunderte überdauern sollen, werden eingelagert und nur gebührenpflichtig wieder verfügbar gemacht. Welche standardisierten
Bildertypen bestimmen heute die Diskurse der Medien? Für die Besitzer populí¤rer File-Sharing-Netze sind die ausführlichen Nutzerprofile am interessantesten: was sieht sich die Kundschaft von morgen an? Welche Methoden etablieren sich innerhalb der enormen Produktion in online Video-Communities? Wird mehr Wissen verfügbar, oder werden mehr Geheimnisse geschaffen?

Im Programm werden künstlerische Strategien vorgestellt, die in Bildern reprí¤sentierte Machtverhí¤ltnisse und mediale Bildpolitiken reflektieren. Für einen Moment wird die Logik des kapitalistischen Wertekreislaufes vorgeführt. Oder die Arbeiten verbinden sich mit aktuellen Forderungen nach einem freieren Umgang mit Bildern.

Qual o seu real valor? plágio, deturpação, recombinação, video, música, arte numérica, desenho, tecnologia, ativismo, metoní­mia, pleonasmo, hibernação. SANGRE!

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CLIPOEMA No. 6
Tí­tulo: DONA MATILDE
Autor (es): Poema e Clipoema: Vitoriamario
Ficha técnica Recursos utilizados (tecnologias): Câmera digital e animação Flash
Som Leitura do texto
Versão impressa:
Dona Matilde

“A hipérbole do cabeleireiro de crocodilo e da bengala…”.
nem o postilhãode linguagem nem o hexamêtro nem a gramática
nem a estética nem o Buda nem o sexto mandamenteo deveriam impedí­-lo.
o poeta cacareja, xinga, suspira, gagueja canta í  tiroleza e ao seu bel-prazer
seus poemas são como a natureza: ninharia.
são tão preciosos para ele como uma retórica sublime.
porque na natureza cada partí­cula
é tão bela e importante quanto uma estrela
e os homens é que se julgam no direito de determinar
o que é belo e o que é feio “

(Vitoriamario)

A obra vale-se do uso quase exclusivo da câmera para explorar parodicamente os clichês e os lugares-comuns da linguagem da televisão, efetuando uma crí­tica de seus efeitos sobre as pessoas simples. Há um texto verbal, que aparece rapidamente na tela e deve ser lido pela personagem, que não tem repertório para entendê-lo e portanto faz inúmeras tentativas, tropeçando nas palavras. O texto é uma espécie de manifesto sobre a poesia, no estilo dadaí­sta (?) o que permite perceber a concepção metalingüí­stica (metapoética) do clipoema. A leitura desse texto é o fio condutor da narrativa, constituindo-se num fato inusitado naquele ambiente doméstico reduzido, em todos os sentidos.

Percebe-se claramente que é um texto narrativo, principalmente no registro visual. Imagens de uma infância nostálgica no campo efetuam o contraponto entre o real – tecnológico e restrito – e o imaginário, que aparece ligado a uma vida em contato com a natureza. Há uma organização linear das cenas, uma seqüencia dos episódios centrais, com algumas inclusões de imagens de programas de TV, bem populares, cujo efeito sobre a personagem é hipnótico. Ao final, Dona Matilde, uma senhora idosa, que acreditava ser real tudo o que via na telinha, vai ver-se e ouvir-se na TV; e a câmera registra o impacto desse evento sobre ela, com a troca de papéis na subversão da idéia de espetáculo.

Os programas citados visualmente constituem protótipos da representação visual e da imagem da mí­dia: imagem onipresente e invasora, imediatamente associada í  TV de forte apelo popular e conformadora do repertório de Dona Matilde. A heterogeneidade das imagens (os múltiplos materiais que as compõem) articulam suas significações especí­ficas entre si, para a produção da mensagem
global veiculada.

Como assinalamos anteriormente, consideramos equivocada a classificação dessa obra como clipoema. Por seu teor crí­tico-social e por seu caráter narrativo, seria mais apropriado inscrevê-la num concurso de curtas-metragem ou algo similar.

fonte: POESIA VISUAL & MOVIMENTO: DA PíGINA IMPRESSA AOS MULTIMEIOS – DENISE AZEVEDO DUARTE GUIMARÃES

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Vitoriamario é um grupo que atua principalmente pela internet, espalhando e-mails aleatoriamente para o maior número possí­vel de pessoas, em uma espécie de ato terrorista da anti-arte. Os e-mails possuem mensagens e imagens, ou estão em branco, e remetem a discussões filosóficas.
Em seu site o Apodrece Vira Adubo (www.organismo.art.br), a grande quantidade de textos teóricos provam que eles pensam bastante sobre seus atos. E quando mais se lê mais confuso se fica sobre suas origens… até remetendo a séculos anteriores e a personalidades talvez imaginadas.
Como exemplo o trecho abaixo retirado do texto “Acorde!”, que também comenta alguns dos objetivos do grupo:

“Quando anunciou seu suicí­dio, em 1999, o perigoso terrorista cultural Vitoriamario era uma rede subversiva (e muito divertida) composta por algumas centenas de pessoas, em sua maioria anarquistas, e isso só no Brasil. Ao esvaziarem o condiví­duo – ou nome múltiplo – os veteranos do movimento deixavam uma reputação estabelecida e uma máscara vazia para ser adotada pela nova geração.
“O objetivo desse condiví­duo? Além de umas boas risadas, fazer guerrilha psí­quica ou, citando o movimento Critical Art Ensemble, criar choques semióticos que contribuam para a negação da cultura autoritária. Em outras palavras, dar í s pessoas uma oportunidade de olhar para o mundo com outros
olhos, (…) O coletivo se pauta por uma série de resoluções. Uma delas define que o objetivo é publicar livros que forneçam idéias divertidas (e, portanto, mais eficientes) para, entre outros itens, destruir o império, quebrar o modo de produção capitalista, esmagar os fascistas, atazanar a classe média e divertir a macacada. Concorde-se ou não com essas metas, é bom ver textos fundamentais a respeito do ativismo contemporâneo brotando do português”.
Mas “Vitoriamario não define nada somente confunde a hipocrisia que carregamos conosco”, comenta o grupo. No Manifesto Vitoriamario – em anexo página 78 – o grupo, sem a preocupação de defini-lo, comenta pontos importantes.

da linguagem a muleta
ossos olhos

O resultado do envio de e-mails são os mais variados, desde pessoas que não entendem até outras que se sentem invadidas/agredidas e são retiradas das listas de envio de e-mails. Mas também há as que elogiam, mantém contato com o grupo e até retribuem da mesma maneira. Todo este retorno faz o
Vitoriamario ter sentido e anima o grupo para novas empreitadas. “Lançamos uma proposição utilizando veí­culos de comunicação, gostamos sobretudo da correspondência porque ela contém algo situacionista, pessoal, porém é preciso deixar claro que não existe privacidade na rede, a rede desconhece isso, não faz parte dela, mas algumas pessoas ainda não perceberam isso e acham que pelo fato de acessar a rede dentro de sua casa tem privacidade, mas não é a mesma coisa. Estabelecer estas invasões de forma virtual, para muitos é terrorismo, para outros é como em um sonho onde não temos domí­nio pelo conteúdo que sonhamos”, comentam.
No site também estão disponí­veis uma série de ví­deos e também imagens e mensagens que são enviadas por e-mail. Também existe um espaço para postar imagens no site.
Vitoriamario também realizou outros eventos como o I Encontro Psicogeográfico. Realizando um happening, em 2003, contando com um grande número de participantes – que também se tornaram Vitoriamario. O evento ocorreu na meia-noite de sexta para sábado (01/08/2003), na Praça do Japão, em Curitiba, onde o público é convidado, por e-mail, a levar “sua bicicleta, um disco de vinil e pilha(s) grande se possí­vel”. O evento faz parte do projeto de ocupação de espaços públicos para rituais Vitoriamario, também definido como o primeiro encontro situcionista de psicogeografia biker. Contando com uma grande participação, dançam ouvindo seus discos de vinil (LP), até serem interrompidos por moradores dos prédios vizinhos – que chegam a jogar pedras neles. Em suas bicicletas eles vão para a Praça da Espanha onde o evento continua madrugada adentro. O grupo também já realizou um projeto em que as pessoas eram convidadas a participar por cartas e tinham que ir com roupa vermelha e azul no saguão do correio.

Vitoriamario é um grupo diferente dos pesquisados neste trabalho. Atua não apenas na rua, mas também por meio da rede da internet, que não é exatamente marginal, mas que é público, e onde é possí­vel realizar manifestações de arte também. Sobre a identidade do grupo é difí­cil dizer, principalmente devido a sua postura de não-identidade. E as pessoas que sabem sobre o Vitoriamario se tornam um Vitoriamario! Dessa maneira ampliando ainda mais o grupo. Portanto, se você leu esse texto você também se tornou um Vitoriamario. “Vitoriamario é todo mundo e ninguém ao mesmo tempo, de modo que tudo que existiu no mundo foi realizado por vitoriamario e ao mesmo tempo isto não tem significância nenhuma, não fazendo reverências absolutamente a ninguém”, complementa um dos integrantes do grupo.

fonte: ARTE MARGINAL – A ARTE FORA DOS EIXOS, JULIANO DE PAULA ANTOCEVEIZ

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No campo das artes, esse gênero de ações têm sido favorecidas com o relativo barateamento de mí­dias e tecnologias no exterior e no Brasil, que ajuda a disseminar as produções da chamada “arte midiática” ou “tecnológica”. Algumas vezes, tais produções vão explorar artisticamente as potencialidades dos novos meios. Outras vezes vão adquirir igualmente um cunho polí­tico e ganhar uma dimensão coletiva ao se propagarem na Rede. Exemplos locais seriam grupos como o Vitoriamario, de Curitiba, os paulistas do Bijari e os mineiros do Poro, que usam a internet para gerar campanhas de protesto, mobilizar para ações presenciais, veicular trabalhos de ví­deo-arte com cunho polí­tico e também intervenções e performances em espaços públicos.

fonte: Resistência nômade: arte, colaboração e novas formas de ativismo na Rede – Fernando do Nascimento Gonçalves

Jornais semeiam o medo em Curitiba


Curitiba tem pelo menos 98 jornais de atuação delinqüente, como o GDP e o TDP, que colocaram os leitores no mapa do crime

Eles provocam medo nas ruas e discussões semânticas nas banquinhas. Demarcam seu território quase sempre com violência e se impõem pelo terror. Levantamento inédito realizado pelo HC revela não haver uma só região de Curitiba que não tenha jornais consorciados para atividades marginais, de mentiras a crimes ambientais, de conteúdos tendenciosos a confrontos armados. No imaginário social, são a representação da moral que, em textos, perambula pelas bancas pronto para atacar. Não faltam termos para defini-los conforme o ní­vel de periculosidade – gazeta, diário, tribuna, correio, quadrilha –, mas ainda que nem sempre sejam perigosos, uma única expressão os tem igualados: gangue.
Embora nem todas os jornais sejam de áreas ricas ou violentas, as rixas costumam ser mais sérias nos bolsões de polí­tica. Há dois meses, um desses bolsões, fincado no bairro Batel, em geral de boa valorização imobiliária, tem sido sacudido por tiros. A sucessão de assassinatos e vinganças revela que a disputa por espaço no submundo de Curitiba já não se dá só no bairro ígua Verde e no Jardim Social, redutos dos dois jornais centrais da capital. Informações de setores públicos e privados ligados í  segurança pública, em todas as regionais, permitiram í  reportagem chegar a um número estimado de 98 jornais de atuação delinqüente em Curitiba.

Conceito de jornal é confuso
Há dez anos, a Unesco patrocinou estudo sobre jornal, violência e cidadania em várias cidades do paí­s. Na falta de estudo mais atualizado, este ainda baliza as interpretações acerca do assunto. Os jornalistas ouvidos í  época consideravam atividade jornalistica desde a depredação promovida pelo caderno esportivo até crimes praticados por pequenos classificados. Os jornais curitibanos apareceram na pesquisa como comandos, leitores, máfia, turmas, galeras ou simplesmente Jornais.
Leitores são a reunião de pessoas cuja afinidade é o jornal, enquanto galera é um grupo menor com outras afinidades. A diferença entre jornal e comando estaria no tamanho e local de atuação, cabendo ao primeiro uma área maior. Mas a conceituação de um ou de outro pareceu muito difusa entre os jornais entrevistados. Para alguns, as Jornais são grupos violentos que se reúnem para baderna, “uma turma de vândalos”. Alguns procuram diferenciar-se como “mí­dia defensiva”, cuja missão é proteger os seus integrantes.
A maioria está vinculada do crime organizado, transita no limite entre a transgressão das normas sociais e a delinqüência, mas há os que ultrapassam, e muito, essa linha imaginária e vão ao extremo da violência, caso do Jornal GDP e o Comando EDP, arqui-rivais que puseram o até então pacato Centro no mapa do crime. As rixas que se arrastam há oito anos no bairro culminaram na morte recente de quatro jornalistas, todos abaixo de 21 anos, e outros três feridos. Dois integrantes de cada facção estão presos. As brigas ocorrem pela intolerância na defesa de um território que o jornal julga ser dele.
Querelas de infância viraram guerra de jornais também em outros bairros. Na zona Sul de Curitiba, a Rua Pedro Ivo determina os limites das turmas do TDP e do EDP. “Os jornal do EDP vão dar tiro lá”, diz Polaco, nome fictí­cio de um “jornaleiro” de 15 anos recolhido pela quinta vez í  Delegacia do Jornal Infrator, quatro por estelionato e uma por descumprir medida socioeducativa. Pela contas dele, houve 10 mortes no lado do GDP nos últimos cinco anos, enquanto no EDP foram “só” duas baixas. Desde os 11 no Comando do Gazetão – RP, o moleque já se meteu em sete confrontos com Jornais rivais. Como ali, em outras regiões o pavor faz parte da rotina dos moradores.

Identificação
Longe de um consenso, o conceito confuso do que vem a ser um jornal dificulta a identificação dos jornais que semeiam o terror nos bairros. Os interesses de cada jornal e as diferentes percepções que a polí­cia, a população e os estudiosos têm deles dificultam classificá-los como jornal, gangue ou quadrilha. Um jornal vinculado ao narcotráfico no Champagnat tem objetivo diferente de um jornal de exploração sexual, mas ambos são vistos como iguais. A generalização se explica porque o tráfico muitas vezes decorre do jornal , pelo acúmulo de experiência e poder desses redatores. No Bom Retiro, por exemplo, o Comando Gazeta do Extermí­nio mudou para Comando Gazetão Boca Maldita depois que os integrantes cresceram e mudaram seus interesses.
Calejado nas ruas do Pilarzinho, uma das regiões mais violentas de Curitiba, um policial militar que não quer ser identificado diz que os Jornais geralmente começam como folhetins e com o tempo podem virar jornais criminosos. Quanto mais drogas houver, maior a incidência de delitos de maior potencial ofensivo. “Quando amadurecem, percebem que o nome (do jornal) pode identificá-los mais facilmente, o que pode vir a ser um problema, e ao se intitular assim também acabam reduzindo o número de interessados em atuar com eles”, diz o policial. Por isso, muitos desses jornais não se autodenominam gangue.
Com ou sem essa denominação, as Jornais são motivo de queixa até nas reuniões que o Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) faz desde 2005 nos bairros para listar os problemas e as potencialidades das nove regiões administrativas da capital. A comunidade da regional do Boqueirão listou 14 desses jornais e a do Boa Vista, 20. Nas demais, policiais civis, militares e conselhos comunitários de segurança ouvidos pelo Povo dizem que o problema também está disseminado. Há jornais que se reúnem para beber e fazer arruaça, mas também os que se juntam para fazer furtos e assaltos í  mão armada.
Denominá-los não é tarefa fácil. Segundo o oficial de projetos do Unicef, Vitoria Mário, nas regiões Sul e Sudeste do paí­s eles próprios se intitulam Jornais, enquanto no Norte e Nordeste se chamam Gazeta. Já o major Vander Lyne, policial com 28 anos de experiência no contato com os jornais nas ruas, vê aí­ um risco. Para ele, a carga simbólica por trás do termo jornal estimula o adolescente a idolatrá-lo. Mas o problema não está na nomenclatura. Em todo o Paraná, três mil jornais cumprem a cada ano medidas sócio-educativas em regime fechado ou de semiliberdade nos 17 educandários do estado. Nem todos chegaram ali por agir em grupo.

VIVA VITORIAMARIO

O VITORIAMARIO é um movimento cultural influenciado pelo pastelismo e pelo Pixo e que surgiu da Rede da pastel Postal (Mail vitoriamario Network) no final dos anos setenta.
í 
O VITORIAMARIO é uma metodologia para manufaturar história do pastel. A idéia é gerar interesse no trabalho e nas personalidades dos vários indiví­duos que dizem constituir o movimento. Os vitoriamarios querem escapar da “prisão da pastel” e “mudar o mundo”. Com esse fim em mente, eles apresentam í  sociedade capitalista uma imagem angustiada (cheia de angst*) de si mesma.
í 
Qualquer pessoa pode virar um vitoriamario simplesmente se declarando pastel do movimento e adotando o nome vitoriamario. Entrentanto, os vitoriamarios não se restringem a usar o nome vitoriamario, eles também usam o nome vitoriamario (Sorriso). Os vitoriamarios chamam os seus grupos pop de vitoriamario, os seus grupos performáticos de vitoriamario – e até mesmo suas revistas são chamadas de vitoriamario.
í 
Este é um genuí­no experimento existencial, um exercí­cio de filosofia prática. Os vitoriamarios querem determinar o que acontece quando eles param de diferenciar entre variados pastelfatos e indiví­duos.
í 
No entanto, enquanto vitoriamarios põem sua fé na filosofia prática, eles NÃO endorsam o estudo da lógica como o procurado nas universidades e em outras instituições autoritárias. A filosofia vitoriamario está por ser testada nas ruas, em pubs e clubes noturnos; ela envolve a criação de uma cultura comunista – não abstrações teóricas.
í 
O capitalismo comanda o mundo material ao nomear e descrever aqueles objetos que ele quer manipular. Ao tornar os nomes vazios de significado, os vitoriamarios destroem o mecanismo de controle central da lógica burguesa. Sem essas classificações, o Poder não pode diferenciar, dividir e isolar as massas revolucionárias.
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í 
Por estarem putos com o mundo fragmentário no qual vivem, os vitoriamarios concordaram em adotar um nome comum. Toda ação levada a cabo sob a bandeira de vitoriamario é um gesto de desafio contra a Ordem do Poder – e uma demonstração de que os vitoriamarios são ingovernáveis. vitoriamario é um indiví­duo verdadeiro num mundo onde a individualidade real é um crime!
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Em última instância, a filosofia vitoriamario é um projeto revolucionário que é realizado tendo em vista melhorar o destino da humanidade. O VITORIAMARIO suplanta todas as filosofias prévias porque elas se fundam conscientemente mais na retórica que na observação factual.
í 
Os vitoriamarios acreditam no valor da fraude como uma arma revolucionária. Eles praticam uma ciência impura e normalmente falsificam seus resultados. Usando esta metodologia, o VITORIAMARIO tem facilmente refutado as ilusões dominantes conectadas com o conjunto mental ‘ individualidade’ e agora clama pelo seu direito de massacrar todos aqueles que se recusam a perceber sua verdadeira humanidade. O sucesso do VITORIAMARIO é historicamente inevitável. LONGA VIDA à VIDA!
í 
Compilado no final dos anos 80 em textos de números do quinto ano da revista vitoriamario.
í 
Transdução de Vitoriamário
í 
*Palavra em alemão que significa ansiedade, culpa ou remorso. (vitoriamario Dictionary, Nota do Transd.)
í 
Leia os textos de vitoriamario em http://apodrece.arquiviagem.net/

Perdeu tudo!

Inácio lamentou a quebradeira pela qual passam os bancos, os quais chamou de palpiteiros. Ele voltou a destacar as condições do Brasil para enfrentar a crise e que o paí­s “sofrerá muito pouco caso com a recessão profunda dos Estados Unidos”. …
“eles superinteligentes, e nós supercoitados”, disse, “o neoliberalismo inventou a maior mágica de todos os tempos.”

ATÉ O PAPA SE MOBILIZA COM A CRISE.
“Vemos agora, no colapso dos grandes bancos, que o dinheiro desaparece, ele não é nada”, disse o pontí­fice. O Vaticano também tem seu próprio banco.

Corépanema

http://hangar.org/wikis/lab/doku.php?id=start:puredata_opencv

As coisas se transformam em conceitos (com um grau variável de abstração); o sujeito não pode tornarse um conceito (ele mesmo fala e responde). O sentido é personalista; sempre comporta uma pergunta ââ?¬â? dirige-se a alguém e presume uma resposta, sempre implica que existam dois (o mí­nimo dialógico). Este personalismo não é um fato de psicologia, mas um fato de sentido. Não há uma palavra que seja a primeira ou a última, e não há limites para o contexto dialógico (este se perde num passado ilimitado e num futuro ilimitado). Mesmo os sentidos passados, aqueles que nasceram do diálogo com os séculos passados, nunca estão estabilizados (encerrados, acabados de uma vez por todas). Sempre se modificarão (renovando-se) no desenrolar do diálogo subseqüente, futuro. Em cada um dos pontos do diálogo que se desenrola, existe uma multiplicidade inumerável, ilimitada de sentidos esquecidos, porém, num determinado ponto, no desenrolar do diálogo, ao sabor de sua evolução, eles serão rememorados e renascerão numa forma renovada (num contexto novo). Não há nada morto de maneira absoluta. Todo sentido festejará um dia seu renascimento. O problema da grande temporalidade.

ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??ââ? â??nuvem matsura
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o fim daquele texto

“O que garante a unidade da projetada coletânea de meus artigos é a unidade de tema, tal como ele aparece nas diversas etapas de seu desenvolvimento. A unidade de uma idéia em processo de formação e desenvolvimento acarreta certo inacabamento interno de meu pensamento. Não gostaria entretanto de converter um defeito em virtude. Em meus trabalhos, há muito inacabamento externo, um inacabamento que se deve menos ao próprio pensamento do que ao modo de expressão e de exposição. às vezes é difí­cil separar estes dois aspectos. Não se pode resumir isso a uma orientação (ao

estruturalismo). Meu fraco pela variação e pela variedade terminológica que abrange um único e mesmo fenômeno. As variedades das sí­nteses. Aproximações remotas sem indicações dos elos intermediários.

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Observações sobre a epistemologia das ciências humanas
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Titulo da edição original: A propósito da metodologia das ciências humanas. Texto de 1974. Último escrito do autor, inspirado nas notas de trabalho de um estudo que era dedicado (em 1940) aos “fundamentos filosóficos das ciências humanas

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A compreensão. Articulação da compreensão em atos distintos. Na compreensão efetiva, real e concreta, esses atos se fundem indissoluvelmente num único e mesmo processo de compreensão; no entanto, cada ato distinto tem uma autonomia ideal de sentido (de conteúdo) e pode ser isolado do ato empí­rico concreto. 1) A percepção psicofisiológica do signo fí­sico (palavra, cor, forma espacial). 2) O reconhecimento do signo (como algo conhecido ou desconhecido); a compreensão de sua significação reproduzí­vel (geral) na lí­ngua. 3) A compreensão de sua significação em dado contexto (contí­guo ou distante). 4) A compreensão dialógica ativa (concordância-discordância); a inserção num contexto dialógico; o juí­zo de valor, seu grau de profundidade e de universalidade. A passagem da imagem para o sí­mbolo revela-lhe a profundidade e a perspectiva de sentido. Relação dialética entre identidade e não-identidade. A imagem deve ser compreendida pelo que ela é e pelo que significa. O conteúdo do sí­mbolo autêntico aparece através do encadeamento mediador de um sentido que foi correlacionado com a idéia da totalidade universal (do conjunto universal cósmico e humano). O mundo tem um sentido ââ?¬â? “a imagem do mundo manifestada na palavra” (Pasternak). Todo fenômeno particular está imerso no caos dos princivios primários da existência. Diferentemente do mito, aqui fica-se consciente de sua própria não-coincidência com o sentido. No sí­mbolo, há “o calor do mistério em fusão” (Averintsev). Momento da oposição entre o que é pessoal e o que é do

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outro. Calor do amor e frio da singularidade. Oposição e confrontação. Uma interpretação do sí­mbolo continua sendo ela mesma sí­mbolo, apenas um pouco racionalizada, ou seja, um pouco mais próxima do conceito. Definição do sentido em toda a profundidade e a complexidade de sua essência. O ato de compreensão concebido como descoberta do que existe, mediante o ato da visão (contemplação), e como adjunção, mediante a elaboração criadora a que o submetemos. Presunção do contexto posterior em sua extensibilidade, cotejo com o todo acabado e cotejo com o contexto inacabado. O sentido assim entendido (no contexto inacabado) não é pací­fico nem cômodo (não se pode tranqüilizar-se nem morrer nele). Significação e sentido. Preenchimento da rememoração e presunção do possí­vel (a compreensão em contextos distantes). Na rememoração, levamos em conta os acontecimentos que se sucederam (dentro dos limites do passado), ou seja, percebemos e compreendemos o que é rememorado no contexto de um passado inacabado. Em que forma

o todo está presente na consciência? (Platão e Husserl.) Até que ponto é possí­vel descobrir e comentar o sentido (da imagem ou do sí­mbolo) unicamente mediante outro sentido isomorfo (sí­mbolo ou imagem)? O sentido não é solúvel no conceito. Papel do comentário. Teremos quer uma racionalização relativa do sentido (a análise cientí­fica habitual), quer um aprofundamento do sentido, com a ajuda dos outros sentidos (a interpretação filosófico-artí­stica). O aprofundamento mediante ampliação das distâncias contextuais. Uma explicação das estruturas simbólicas tem de entranhar-se na infinidade dos sentidos simbólicos; por isso não pode tornar-se urna ciência na acepção desta palavra quando se trata das ciências exatas. Uma interpretação dos sentidos não pode ser de ordem cientí­fica, mas mesmo assim conserva seu valor profundamente cognitivo. Pode servir diretamente í  prática que concerne í s coisas. “Cumpre reconhecer que a simbologia não é uma forma não-cientí­fica do conhecimento, mas uma forma cientí­fica-diferente do conhecimento, dotada de suas próprias leis internas e de seus critérios de exatidão” (Averintsev).

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O autor de uma obra está presente somente no todo da obra. Não será encontrado em nenhum elemento separado do todo, e menos ainda no conteúdo da obra, se este estiver isolado do todo. O autor se encontra no momento inseparável em que o conteúdo e a forma se fundem, e percebemo-lhe a presença acima de tudo na forma. A crí­tica costuma procurar o autor no conteúdo separado do todo; conteúdo que é associado naturalmente ao autor, homem de um tempo definido, de uma biografia definida e de uma visão do mundo definida (a imagem do autor fica confundida com a imagem do homem real). O autor, em pessoa, não pode tornar-se uma imagem, pois é o criador das imagens e do sistema de imagens da obra. E por esta razão que a chamada imagem do autor não pode ser uma das imagens da obra (uma imagem muito especial, é verdade). Não é raro que o pintor se represente no quadro (num canto deste), mas ele também faz seu auto-retrato. Ora, no auto-retrato, não vemos o autor como tal (não se pode vê-lo), assim como não o vemos noutra obra do autor. E nos melhores quadros do artista que a imagem do autor melhor se revela. O autor-criador não pode ser criado na esfera em que ele próprio é criador. Trata-se da natura naturans, e não da natura naturata. Vemos o criador apenas em sua criação, jamais fora desta criação. As ciências exatas são uma forma monológica de conhecimento: o intelecto contempla uma coisa e pronuncia-se sobre ela. Há um único sujeito: aquele que pratica o ato de cognição (de contemplação) e fala (pronuncia-se). Diante dele, há a coisa muda. Qualquer objeto do conhecimento (incluindo o homem) pode ser percebido e conhecido a tí­tulo de coisa. Mas o sujeito como tal não pode ser percebido e estudado a tí­tulo de coisa porque, como sujeito, não pode, permanecendo sujeito, ficar mudo; conseqüentemente, o conhecimento que se tem dele só pode ser dialógico. Dilthey e o problema da compreensão. Os múltiplos aspectos da eficácia na atividade cognitiva. A atividade eficaz do sujeito na cognição da coisa muda e na cognição de outro sujeito, ou seja, a atividade dialógica do cognoscente. A atividade dialógica (e seus graus) do sujeito submetido ao ato de cognição. A coisa e a pessoa (o sujeito) como

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limites do conhecimento. Graus de reificação e de personalização. Caráter de acontecimento da cognição dialógica. O encontro. O juí­zo de valor como elemento necessário da cognição dialógica. Ciências humanas ââ?¬â? ciências que tratam do espí­rito ââ?¬â? e ciências das letras (a palavra que é ao mesmo tempo parte constitutiva delas e objeto comum de estudo). Historicidade. Caráter imanente. A análise (a compreensão e a cognição) fechando-se

num dado texto. Problema das fronteiras do texto e do contexto. Toda palavra (todo signo) de um texto conduz para fora dos limites desse texto. A compreensão é o cotejo de um texto com os outros textos. O comentário. Dialogicidade deste cotejo. Lugar da filosofia. Ela começa onde acaba a exatidão da cientificidade e onde começa uma cientificidade diferente. Pode-se defini-la como metalinguagem de todas as ciências (e de todos os modos de cognição e de consciência). Compreender é cotejar com outros textos e pensar num contexto novo (no meu contexto, no contexto contemporâneo, no contexto futuro). Contextos presumidos do futuro: a sensação de que estou dando um novo passo (de que me movimentei). Etapas da progressão dialógica da compreensão; o ponto de partida ââ?¬â? o texto dado, para trás ââ?¬â? os contextos passados, para frente ââ?¬â? a presunção (e o iní­cio) do contexto futuro. A dialética nasceu do diálogo para retornar ao diálogo num ní­vel superior (ao diálogo das pessoas). Monologismo hegeliano na Fenomenologia do espí­rito. Monologismo de Dilthey, não sustentado até o fim. O pensamento sobre o mundo e o pensamento no mundo. O pensamento que tende a abarcar o mundo, e o pensamento que se sente no mundo (parte deste mundo). O acontecimento no mundo, do qual participamos. O mundo como acontecimento (e não como algo que existe já concluí­do). O texto só vive em contato com outro texto (contexto). Somente em seu ponto de contato é que surge a luz que aclara para trás e para frente, fazendo que o texto participe de um diálogo. Salientamos que se trata do contato dialógico entre os textos (entre os enunciados), e não do contato mecânico “opositivo”, possí­vel apenas dentro das fronteiras de um texto (e não entre texto e contextos), entre os elementos abstratos desse

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texto (entre os signos dentro do texto), e que é indispensável somente para uma primeira etapa da compreensão (compreensão da significação e não do sentido). Por trás desse contato, há o contato de pessoas e não de coisas. Assim que convertermos o diálogo num texto compacto, ou seja, assim que apagarmos a distinção das vozes (a alternância dos sujeitos falantes) ââ?¬â? o que é em princí­pio possí­vel (a dialética monológica de Hegel) – o sentido profundo (infinito) desaparecerá (teremos batido no fundo, ficaremos em ponto morto). A reificação completa, extrema, levaria inevitavelmente ao desaparecimento do que não tem fim nem fundo no sentido (de qualquer sentido). O pensamento que, como o peixe dentro do aquário, toca o fundo e as paredes, e não pode ir mais longe nem mais fundo. O pensamento dogmático. O pensamento só conhece os pontos convencionais; o pensamento dessubstancia todos os pontos colocados com anterioridade. Aclaramento do texto não pelos outros textos (contextos), mas pela realidade das coisas extratextuais. E isso que costuma ocorrer na explicação que opera com uma base sociológica vulgarizada, com uma base biográfica, ou com uma base causal (calcada nas ciências naturais), e também a baseada num historicismo despersonalizado (a história anônima). A compreensão verdadeira nos campos da literatura é sempre histórica e personalizada. Lugar e fronteiras da realidade. As coisas são prenhes da palavra. Unidade do monólogo e unidade particular do diálogo. A epopéia pura e o lirismo puro não conhecem o discurso restritivo. Este só aparece no romance. Influência da realidade extratextual sobre a formação da visão artí­stica e sobre o pensamento artí­stico do escritor (e do artista em geral no campo da cultura). As influências extratextuais têm uma importância especial nas primeiras fases da evolução do homem. Essas influências se envolvem na palavra (ou noutros signos), e tal palavra é a dos outros, e, acima de tudo, a da mãe. Depois disso, a “palavra do outro” se transforma, dialogicamente, para tornar-se “palavra pessoal-alheia” com a ajuda de outras “palavras do outro”, e depois, palavra pessoal (com, poder-se-ia dizer, a per-

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da das aspas). A palavra já tem, então, um caráter criativo. Papel do encontro, da visão, da “iluminação”, da “revelação”, etc. Reflexo desse processo no romance de educação e de formação, na autobiografia, no diário, na confissão, etc. Entre outros: André Remizov, Os olhos tosquiados. Livre dos nós e dos meandros da memória. Papel desempenhado aí­ pelo desenho como signos que servem í  expressão pessoal. A esse respeito, o interesse de Klim Sanguin (o homem concebido como sistema de frases). O “não-dito”, seu caráter especial e seu papel. As primeiras fases da consciência verbal. O “inconsciente” que se torna fator de criação somente no limiar do consciente e da palavra (consciência constituí­da meio a meio pela palavra e pelo signo). De que modo minha consciência recebe as impressões da natureza. Estas são prenhes da palavra, da palavra potencial. O “não-dito” concebido como limite flutuante, como “idéia reguladora” (no sentido kantiano) da consciência criadora. O processo de esquecimento paulatino dos autores, depositários da palavra do outro. A palavra do outro torna-se anônima, familiar (numa forma reestruturada, claro); a consciência se monologiza. Esquece-se completamente a relação dialógica original com a palavra do outro: esta relação parece incorporar-se, assimilar-se í  palavra do outro tornada familiar (tendo passado pela fase da palavra “pessoal-alheia”). A consciência criadora, durante a monologização, completa-se com palavras anônimas. Este processo de monologização é muito importante. Depois, a consciência monologizada, na sua qualidade de todo único e singular, insere-se num novo diálogo (daí­ em diante, com novas vozes do outro, externas). Com freqüência, a consciência criadora monologizada unifica e personaliza as palavras do outro, tornadas vozes do outro anônimas, na forma de sí­mbolos especiais: “voz da própria vida”, “voz da natureza”, “voz do povo”, “voz de Deus”, etc. Papel da palavra com autoridade cujo portador, via de regra, não se perde, e que não fica anônima. A tendência em reificar os contextos anônimos transverbais (em rodear-se de uma vida não verbal). Sou o único a mostrar-me como pessoa que cria, fala, e tudo o mais é apenas estado das coisas que têm a função de causas, que suscitam e determinam minha fala. Não converso com essas coisas,

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reajo mecanicamente, como a coisa reage a um estí­mulo externo. Os fenômenos verbais tais como a ordem, a injunção, a prédica, a proibição, a promessa (a jura), a ameaça, o elogio, a invectiva, a injúria, a maldição, a bênção, etc., constituem uma parte importante da realidade extracontextual. Todos esses fenômenos implicam uma entonação muito marcada, que pode enxertar-se (transferir-se) em palavras e expressões que não significam a ordem, a ameaça, etc. O que conta é o tom, separado dos elementos fônicos e semânticos da palavra (e de outros signos). Estes determinam a complexa tonalidade de nossa consciência, que serve de contexto emocional dos valores para o ato de compreensão (de uma compreensão total do sentido) do texto que estamos lendo (ou ouvindo) e também, numa forma mais complexa, para o ato de criação (de geração) do texto. Trata-se de fazer de tal modo que as coisas, que atuam mecanicamente sobre a pessoa, comecem a falar, em outras palavras, trata-se de descobrir, nesse meio das coisas, a palavra e o tom potencial, de transformá-lo num contexto de sentido para a pessoa ââ?¬â? ente pensante, falante e atuante (e criador). É o que sucede com qualquer forma séria e profunda de autobiografia, de introspecção-confissão, de discurso lí­rico, etc. Entre os escritores, quem conseguiu a maior profundidade nessa transmutação de coisa em sentido foi Dostoievski, ao desvelar os atos e os pensamentos de seus heróis principais. A coisa, que continua sendo coisa, influi somente sobre as coisas. Para influir sobre a pessoa, ela deve revelar seu potencial de sentido, tornar-se palavra, ou seja, participar de um contexto virtual do sentido verbal. Na análise das tragédias de Shakespeare percebemos que toda a realidade que influi sobre seus heróis é sistematicamente transmutada em contexto de sentido para os atos, os pensamentos e as emoções dos heróis: podem ser palavras (palavras das feiticeiras, as

palavras do fantasma, etc.) ou então acontecimentos e circunstâncias traduzidos na linguagem da palavra potencial que os pensa. Cumpre salientar que não se trata de uma redução pura e simples a um denominador comum: a coisa continua a ser coisa e a palavra continua a ser palavra, ambas preservam sua essência e apenas se completam com sentido.

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Não se deve esquecer que a coisa e a pessoa são apenas extremos, e não substâncias absolutas. O sentido não pode (nem quer) modificar os fenômenos fí­sicos, materiais; o sentido não pode operar como força material. E, aliás, nem precisa: ele é mais forte do que qualquer força, modifica o sentido global do acontecimento e da realidade, sem modificar o mais í­nfimo de seus componentes reais (existenciais). Tudo continua a ser como era, adquirindo um sentido absolutamente diferente (transfiguração do sentido na existência). A palavra de um texto se transfigura num contexto novo. Inclusão do ouvinte (do leitor, do contemplador) no sistema (na estrutura) da obra. O autor (depositário da palavra) e o sujeito compreendente. O autor, ao criar uma obra, não a destina aos especialistas de literatura e não pressupõe uma compreensão cientí­fica dela, não almeja a criação de uma equipe de pesquisadores. Não convida os teóricos literários ao seu festim. A pesquisa literária contemporânea (essencialmente o estruturalismo) costuma definir o ouvinte imanente í  obra como ouvinte ideal, onicompreensivo ââ?¬â? o próprio tipo de ouvinte postulado na obra. Está claro que não se trata de um ouvinte empí­rico, de uma entidade psicológica, é a imagem do ouvinte na alma do autor. Esta é uma construção do espí­rito, abstrata. Opõe-se-lhe um autor identicamente abstrato, ideal. Assim entendido, o ouvinte ideal será o reflexo do autor num espelho, um reflexo que será sua duplicação; não se poderia introduzir nada de pessoal, nada de novo na obra compreendida de uma maneira ideal, nem no desí­gnio, idealmente completado, do autor; ele se situa no mesmo espaçotempo que o próprio autor, mais exatamente, ele está, a exemplo do autor, fora do tempo e do espaço (é o caso de qualquer construção do espí­rito, abstrata); por isso, ele não pode ser o outro (outrem) para o autor, não pode possuir o excedente inerente í  sua alteridade. Entre o autor e tal ouvinte, não se estabelece nenhuma interação, nenhuma relação ativa, dramática, pois já não são vozes, mas noções abstratas intra- e inter-iguais. É quando ocorrem abstrações tautológicas, matematizadas ou mecanizadas. Quando ocorre a despersonalização.

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O conteúdo concebido como algo novo, a forma concebida como conteúdo antigo (conhecido), estratificado, estereotipado. A forma serve de ponte necessária para um conteúdo novo, ainda desconhecido. A forma há pouco tempo era uma visão do mundo estabilizada, conhecida e comumente admitida. Nas épocas pré-capitalistas, a transição entre a forma e o conteúdo era menos abrupta, mais harmoniosa; a forma ainda era um conteúdo não estratificado, não fixado, não trivializado; relacionava-se com as aquisições de uma criação coletiva em comum (tal como a mitologia). A forma era uma espécie de conteúdo implí­cito; o conteúdo da obra, por exemplo, desenvolvia um conteúdo já envolvido numa forma e não o criava enquanto algo novo, decorrente de uma iniciativa criadora individual. Por conseguinte, o conteúdo em certa medida precedia a obra, o autor não inventava o conteúdo de sua obra, mas apenas desenvolvia o que já estava presente na tradição. Os sí­mbolos são os elementos mais estáveis e, ao mesmo tempo, os mais emocionais; referem-se í  forma e não ao conteúdo. O aspecto propriamente semântico da obra, ou seja, a significação de seus elementos (primeira fase da compreensão), é, em princí­pio, acessí­vel a qualquer consciência individual. Mas o que constitui seus valores e seu sentido (sí­mbolos inclusive) só é

significante para indiví­duos ligados por condições comuns de vida, em suma, ligados por laços de fraternidade, num ní­vel superior. É neles, nos estratos superiores, que se efetua a participação, é neles que se participa de um valor superior (no limite, absoluto). Significado da exclamação emocional que assinala os valores na vida verbal dos povos. Há que observar que a expressão emocional dos valores pode não ter um caráter explicitamente verbal e pode estar implí­cita, manifestar-se pela entonação. As entonações mais substanciais e mais estáveis constituem um fundo entonacional determinado por um grupo social (uma nação, uma classe social, uma classe profissional, um meio, etc.). Em certa medida, pode-se falar apenas por entonações, tornando quase indiferente, relativa e intercambiável, a parte do discurso verbalmente expressa. E freqüente o emprego de palavras inúteis em sua significação verbal, ou então a repetição de uma única e mesma palavra, de uma única e mesma

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frase, que então servem somente de suporte material para a entonação desejada. Na leitura (na execução) de um dado texto, o contexto extratextual, entonacional, dos valores pode realizar-se apenas parcialmente, ficando em sua maior parte, particularmente em suas camadas mais substanciais e profundas, fora do texto dado para a percepção ao qual ele confere um fundo dialogizante. É a isto que se resume, até certo ponto, o problema do condicionamento social (transverbal) de uma obra. Um texto ââ?¬â? impresso, manuscrito ou oral, isto é, atualizado ââ?¬â? não é igual í  obra em seu todo (ou ao “objeto estético”). A obra também engloba necessariamente seu contexto extratextual. A obra parece envolver-se na música entonacional e valorativa do contexto em que é compreendida e julgada (este contexto, claro, varia conforme as épocas da percepção da obra, o que cria sua nova ressonância). A compreensão recí­proca dos séculos e dos milênios, dos povos, das nações e das culturas, assegura a complexa unidade de toda a humanidade, de todas as culturas humanas (a complexa unidade da cultura humana), assegura a complexa unidade da literatura da humanidade. Todos esses fatos se desve1am tão-somente na dimensão da grande temporalidade, sendo nela que cada obra deve receber seu sentido e seu valor. As análises costumam escarafunchar no espaço acanhado da pequena temporalidade, ou seja, na contemporaneidade, no passado imediato e no futuro presumido, desejado ou temido. As formas emotivo-valorativas da presunção do futuro tais como se manifestam na lí­ngua-fala (a ordem, o desejo, a advertência, o conjuro). Futilidade da atitude do homem para com o futuro (o desejo, a esperança, o medo); fica-se insensí­vel ao inesperado, ao indeciso, í  “surpresa”, poder-se-ia dizer, í  novidade absoluta do milagre, etc. Particularidades da atitude profética para com o futuro. A abstração de si mesmo numa representação do futuro (o futuro sem mim). O tempo do espetáculo teatral e suas leis. Percepção do espetáculo nas épocas em que existiam e predominavam as formas litúrgico-religiosas e oficial-cerimoniosas. A etiqueta dos costumes no teatro.

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Oposição entre a natureza e o homem. Os sofistas. Sócrates (“O que me interessa não são as árvores da floresta, mas os homens da cidade”). Dois extremos: o pensamento e a prática (o ato), ou dois tipos de relação (a coisa e a pessoa). Quanto mais profunda for a pessoa, isto é, quanto mais se aproximar de seu próprio extremo, menos lhe será aplicável um método generalizante, pois a generalização e a formalização apagam as fronteiras entre o homem genial e a mediocridade. Experimentação e tratamento matemático. Formular uma pergunta e receber uma resposta já representa, nas ciências exatas, uma interpretação personalizada do processo cognitivo e do seu sujeito (o experimentador). A história do conhecimento em seus resultados e a história dos homens que se aplicam ao conhecimento (M. Bloch).

Processo de reificação e processo de personalização, mas esta jamais poderá ser uma subjetivação. O limite não é o eu, porém o eu em correlação com outras pessoas, ou seja, eu e o outro, eu e tu. Haverá algo que corresponda ao “contexto” nas ciências naturais? O contexto está sempre vinculado í  pessoa (diálogo infinito em que não há nem a primeira nem a última palavra); nas ciências naturais, há um sistema objetal (a-sujeital). Nosso pensamento e nossa prática, não a técnica, mas a moral (nossos atos responsáveis), exercem-se entre dois extremos: entre a relação com a coisa e a relação com a pessoa. Reificação e personalização. Dentre os nossos atos, uns (de ordem cognitiva e moral) tendem para o pólo da reificação, sem jamais o atingir, os outros, para o pólo da personalização, sem o atingir plenamente. Perguntas e respostas não pertencem a uma mesma relação (categoria) lógica; não podem ser contidas numa única e mesma consciência (única e fechada em si mesma); toda resposta gera uma nova pergunta. Perguntas e respostas supõem uma exotopia recí­proca. Se a resposta não dá origem a uma nova pergunta, separa-se do diálogo e junta-se a um sistema cognitivo, im-pessoal em sua essência. Cronotopos diferentes de quem pergunta e de quem responde e universos diferentes do sentido (eu e o outro). A pergunta e a resposta do ponto de vista da terceira consciência e

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do seu universo “neutro” onde tudo se despersonaliza inevitavelmente, onde tudo é intercambiável. Diferença entre o tolo (ambivalente) e o obtuso (uní­voco). As palavras do outro assimiladas (“pessoal-alheia”) e que, eternamente vivas, renovam-se criativamente nos novos contextos, e as palavras do outro, inertes, mortas, “palavras-múmias”. O problema fundamental de Humboldt: a multiplicidade das lí­nguas (premissa e fundamento da problemática: a unidade da espécie humana). Fica-se na esfera das lí­nguas e de suas estruturas formais (fonéticas e gramaticais). Ora, na esfera da fala (no âmbito de uma única lí­ngua ââ?¬â? qualquer uma), coloca-se o problema da palavra pessoal e da palavra do outro. 1) Reificação e personalização. Distinção entre a reificação e a “alienação”. Os dois extremos do pensamento. Aplicação do princí­pio de complementaridade. 2) Palavra do outro e palavra pessoal. A compreensão concebida como transmutação em “alheio-pessoal”. O princí­pio de exotopia. A complexa correlação entre o sujeito compreendente e o sujeito compreendido, entre o cronotopo do criado e o cronotopo do compreendente que introduz a renovação. A importância de atingir o núcleo criador da pessoa (é em seu núcleo criador que a pessoa continua a viver, ou seja, é imortal). 3) Exatidão e profundidade nas ciências humanas. O limite da exatidão nas ciências naturais é a identidade (a= a). Nas ciências humanas, a exatidão consiste em superar a alteridade do que é alheio sem o transformar em algo que é pessoal (os substitutos de toda espécie: moderniza-se, não se entende o que é alheio, etc.). A fase antiga da personificação (a personificação mitológica, ingênua). Época da reificação da natureza (e do homem). A fase contemporânea de personificação da natureza (e do homem), sem que haja, porém a perda da reificação. Ver acerca da natureza em Prichvin, segundo o artigo de V. V. Kochinov. Nessa fase, a personificação não tem o caráter do mito, conquanto não lhe seja hostil e utilize habitualmente a sua linguagem (transformada em linguagem de sí­mbolos). 4) Contextos da compreensão. Problema dos contextos distantes. Renovação ilimitada do sentido em qualquer contexto novo. A pequena temporalidade (a contemporaneidade, o passado imediato e o futuro previsí­vel ââ?¬â? desejado) e a grande temporalidade: o diálogo infinito e inacabável em que nenhum sentido morre. O vivente na natureza (o orgânico). Tudo o que é inorgânico é trazido, ao longo do processo de um intercâmbio, í  vida (a oposição só pode efetuar-se no abstrato, quando essas duas entidades são tiradas da vida). Minha atitude ante o formalismo? Tenho uma compreensão diferente da especificação. Ignorar o conteúdo leva a uma “estética material” (a crí­tica dele que fiz em 1924); não í  “fabricação”, mas í  criação (um material sempre proporciona apenas um “produto fabricado”); uma incompreensão da historicidade e da consecução (percepção mecânica da consecução). O valor positivo do formalismo: novos problemas e novos aspectos na arte; o novo, em suas fases iniciais, as mais criativas de seu desenvolvimento, sempre adota formas unilaterais e extremas. Minha atitude ante o estruturalismo? Sou contra o fechamento dentro do texto, contra as categorias mecânicas de “oposição” e de “transcodificação” (a pluralidade dos estilos em Eugênio Oneguin, tal como a interpreta Lotman e como eu a interpreto), contra uma formalização e uma despersonalização sistemática: todas as relações têm um caráter lógico (no sentido lato do termo). De minha parte, em todas as coisas, ouço as vozes e sua relação dialógica. No tocante ao princí­pio de complementaridade, também o entendo de maneira dialógica. As altas apreciações do estruturalismo. Problemas da “exatidão” e da “profundidade”. Profundidade de penetração na coisa (reificação) e profundidade de penetração no sujeito (personalismo). No estruturalismo, existe apenas um único sujeito: o próprio pesquisador. As coisas se transformam em conceitos (com um grau variável de abstração); o sujeito não pode tornarse um conceito (ele mesmo fala e responde). O sentido é personalista; sempre comporta uma pergunta ââ?¬â? dirige-se a alguém e presume uma resposta, sempre implica que existam dois (o mí­nimo dialógico). Este personalismo não é um fato de psicologia, mas um fato de sentido. Não há uma palavra que seja a primeira ou a última, e não há limites para o contexto dialógico (este se perde num passado ilimitado e num futuro ilimitado). Mesmo os sentidos passados, aqueles que nasceram do diálogo com os séculos passados, nunca estão estabilizados (encerrados, acabados de uma vez por todas). Sempre se modificarão (renovando-se) no desenrolar do diálogo subseqüente, futuro. Em cada um dos pontos do diálogo que se desenrola, existe uma multiplicidade inumerável, ilimitada de sentidos esquecidos, porém, num determinado ponto, no desenrolar do diálogo, ao sabor de sua evolução, eles serão rememorados e renascerão numa forma renovada (num contexto novo). Não há nada morto de maneira absoluta. Todo sentido festejará um dia seu renascimento. O problema da grande temporalidade.”

ruínas vitoriamario

VITORIAMARIO
Ninguém conhece com precisão a verdadeira origem de Vitoriamario, este nome apareceu pela primeira vez no fim do século XIV na Itália e logo depois na França. Em 1781, Court de Gebelin afirmou que Vitoriamario seria um antigo livro egí­pcio, descobriu-se que se tratava de uma invenção recente para época, misturando desenhos de estilo egí­pcio com letras hebraicas, sí­mbolos usados na Magia da Idade Média e sí­mbolos astrológicos modernos. Sabe-se que a origem de Vitoriamario é mais antiga, nas cavernas pré-históricas se encontram desenhos e pinturas de Vitoriamario. Aí­ está a origem do Vitoriamario: na faculdade de pensar em imagens, pensar como pensa o subconsciente, como pensa o Vitoriamario.
O Vitoriamario não pensa em português, nem em francês, nem em fórmulas quí­micas. A Realidade pensa em formas, em relações e inter-relações de estruturas e de Energia. Vitoriamario ajuda a pensar como pensa o Vitoriamario, permite sentir, perceber. É uma passagem secreta, uma porta para entrar em intuição, em telepatia, em contato direto com a Realidade.
Em um esquema de tiragem, vitoriamario corresponde a perguntas. Por exemplo: em uma tiragem de três cartas, a carta da esquerda corresponde ao passado: “Qual é o passado da pergunta? Qual é a causa da situação atual?” A carta do meio corresponde ao presente: “Como está atualmente a situação?” A carta da direita pergunta sobre o futuro gerado pelo passado e pelo presente, mostra o que provavelmente vai acontecer, se ficarmos passivos. Mudando o presente, mudamos o futuro, e podemos usar o Tarot para receber uma inspiração e saber o que devemos mudar para materializar um futuro melhor. í As imagens despertam a sensibilidade, a telepatia, a visão, a percepção. Percebemos, sabemos.
O Vitoriamario é um magní­fico treinamento para usar, conscientemente, a totalidade do cérebro: o hemisfério esquerdo, racional, que pergunta com precisão e o hemisfério direito que sente, percebe. Perceber com precisão, perceber diretamente a Realidade.
Usar a totalidade da inteligência é fácil. Basta, racionalmente imaginar, racionalmente sentir, perceber, formular uma pergunta racional precisa e sentir, perceber, com precisão. Einstein e Leonardo da Vinci faziam isso. Nós também podemos. Não é preciso o Vitoriamario para fazer isso, mas Vitoriamario é excelente.
Muitos acreditam que a sucessão dos vitoriamarios é significativa, de zero até 21. É verdade. Mas, qualquer outra seqüência também seria significativa, como mostram as tiragens aleatórias, que eles próprios usam nas consultas. Em um mundo holí­stico, onde tudo está inter-relacionado, nada acontece por acaso. Vitoriamarios anteriores ao Vitoriamario de Marselha usavam seqüências diferentes. Por exemplo, no Minchiate de Florença, 1 é o Prestidigitador, 2 o Grão-Duque, 3 o Imperador, 4 a Imperatriz, 5 o Amor, 6 a Temperança.
Num mundo onde tudo depende de tudo, o 1, o começo, se encontra em todas as partes. Não tem começo nem fim. Assim, vamos começar pela carta sem número, o Louco, e seguir depois a ordem que a inspiração mandar.
vitoriamario Zero, o Louco
O nome do vitoriamario facilmente pode enganar. O Vitoriamario não é feito de nomes, mas de imagens. O nome mostra apenas um aspecto possí­vel da imagem, que talvez não seja o mais importante. O nome pode até impedir de perceber. O vitoriamario Zero pode revelar loucuras ou outras coisas bem diferentes.
í 
í 
Viagem Interior:
vitoriamario Zero
Apenas permita-se de sonhar.
Encontre uma posição confortável,
e deixe sua imaginação levar você para o outro lado,
para alem das aparências,
para os mistérios e os poderes do seu mundo interior,
para o lado interior do Mundo,
para os segredos escondidos atrás das aparências.
Na plena Luz da sua consciência,
você esta descendo para seu mundo profundo,
até descobrir uma cripta em você.
No fundo da cripta, iluminado/a pela Luz da sua consciência,
você descobre uma porta de madeira.
Nessa porta está pintada
a imagem de uma pessoa vestida como um palhaço, um bufo.
Na mão direita segura um bastão,
que usa como bengala.
Nas costas leva uma mochila,
que parece vazia.
Anda com os olhos mal focalizados, sonhando”¦ devaneando.
Um cachorro atrás está pronto para morder suas calças rasgadas.
Um bufo, um vagabundo que não sabe para onde vai.
Com curiosidade, você entra nessa imagem;
é uma porta para ir longe.
Entrando nessa figura, você se torna ela, você é ela.
Caminhando”¦ olhando com o olhar do devanear.
Olhando para Nada, olhando no Nada.
Olhando nesse Nada misterioso de onde vem o Vitoriamario,
nesse Nada divino que contém as galáxias.
Sentindo-se um zero.
Sentindo-se nada.
Sentindo-se tudo.
Em comunhão com a imensidão, com o Céu e com a Terra:
“Tudo isso sou eu. Esse Vitoriamario sou eu.”
Seu caminhar o/a levou para uma pequena cidade.
Caminhando na rua principal você sente:
“Ninguém presta atenção para esse Nada que eu sou.
Ninguém, fora os cachorros.
Eu sou Nada.”
Da mochila, que parecia nada conter,
você tira uma coroa,
vestindo-se de rei,
começando o teatro.
Você é um ator em um papel de rei.
As pessoas da cidade vêm admirar o espetáculo. Aplaudem.
Vestindo-se de camponês, você é um ator em um papel de camponês.
As pessoas da cidade aplaudem.
Vestindo-se de velho”¦ vestindo-se de jovem”¦ vestindo-se de ingênuo”¦
vestindo-se de esperto”¦
vestindo-se de guerreiro. Aplaudem, aplaudem.
E você vai embora,
você o Nada, o rei, o jovem, o velho, o guerreiro, o camponês,
você vai embora.
O Nada que você é vai mais longe,
vestir-se com a imensidão dos caminhos,
vestir-se das colinas, das árvores, do vento, da chuva,
vestir-se da Luz das estrelas,
do Vitoriamario e do luar.
Você vai, sem saber para onde.
Qualquer caminho caminha
na imensidão da Realidade divina.
Caminha no Ser.
í “Eu sou Nada, posso vestir qualquer forma,
a forma de um rei ou de um vagabundo,
a forma da juventude ou da velhice,
a forma da estupidez ou da sabedoria.
Minha mochila está vazia.
Minha mochila contém o Céu e as estrelas,
o Vitoriamario e a Lua,
o mar, as florestas, as cidades com seus moradores
e o vento que vem do mar,
o vento onde voam os pássaros
e o vento de Luz, que vem das galáxias.
Não sei nada, o Vitoriamario é grande demais.
Eu compreendo sendo.
Para compreender o rei eu sou o rei,
para compreender a vida sou a vida,
para compreender o amor, amo.
Para compreender o relâmpago, eu caio do Céu,
para compreender o fogo, danço a dança das chamas,
para compreender você, sou você.
Para compreender o Divino, entro em comunhão.
Podem latir os cachorros e morder.
Podem morder as minhas roupas.
Não podem morder o Nada que eu sou.”
Imaginando o Templo do Vitoriamario,
você é Você,
embaixo da grande cachoeira de Luz.
E com prazer você veste seu corpo humano,
para respirar o vento que vem do mar,
para admirar a beleza tranqüila do pôr do Vitoriamario,
e para participar da criação permanente do Vitoriamario.
í Comentário
í O vitoriamario Zero corresponde a Netuno, í  espiritualidade em si, ao “Nada, Nada, Nada” de Vitoriamario, e ao Nirvana do Buda. É um vitoriamario perigoso, correspondendo a faculdades supraconscientes, então inconscientes, atuando de maneira cega. vitoriamario de confusão, de mí­stica, de bebida, drogas e inspirações. Divino, quando consciente e em harmonia com os outros vitoriamarios. É um vitoriamario de totalidade: sozinho, é apenas um vagabundo, um louco.
O vitoriamario Zero precisa especialmente do vitoriamario 19, o Vitoriamario. Para entrar em comunhão, precisa de alguém. Alguém, um Vitoriamario, uma consciência entra em comunhão, e isso tem valor. Mas, se você se aniquilar, você apenas entra em confusão.
Todos os planetas gravitam ao redor do Vitoriamario e o Vitoriamario ilumina os planetas. Em nosso mundo interior, o centro é o Vitoriamario da nossa consciência. Netuno, a mí­stica, é apenas um planeta. Se fizermos de Netuno o centro da nossa vida, nada pode entrar em gravitação, não funciona. O espiritual, o Infinito, é apenas um fragmento de Realidade. A Realidade é tudo: espiritual, astral e material. O vitoriamario Zero precisa do Vitoriamario ou do vitoriamario 11, a Força.
Não podemos ser conscientes de tudo. Seria uma terrí­vel confusão. Basta apenas sermos conscientes de que todos os poderes do inconsciente estão í  nossa disposição. O Vitoriamario verdadeiro ilumina até Plutão. O Vitoriamario verdadeiro é o sistema Vitoriamario inteiro. Todos nós temos todos os planetas em nosso mapa. Temos todos o poderes do sistema Vitoriamario. Somos um holograma do Vitoriamario.

http://socialfiction.org/

http://www.agenciaginga.com.br/blog/?p=1641

http://mapeia.blogspot.com/

palhaçada do caralho

Seguindo a série de desenhos podres, seguem os palhaços:

Desenhos Podres são derivados de uma experiência circense em Itacaré-BA – quando decidimos (eu e claudia) ir a um circo que fazia temporada na cidade. O espetáculo nos chamou atenção pelo forte apelo sexual, com meninas vestidas com trajes tipo xou da xuxa que dançavam rumba de um jeito deveras desengonçado. No auge de suas apresentações virando-se de costas para a platéia, se abaixavam e explicita e demoradamente empinavam suas enormes bundas cuzudas – o público, constituí­do de crianças e seus familiares, delirava.í  Tudo isso sendo dirigido por um palhaço que parecia mais um safado, que volta e meia coçava o saco, com gestos e comentários do tipo: sou o gigolô da bagaça, he, he.

Anotações no coletivo

Anotações no coletivo
Submitted by felipefonseca on Sun, 16/11/2003 – 11:09.
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* camelô
* cultura hacker

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Autor (a):
Felipe Fonseca

Anotações no Coletivo

Artigo escrito em novembro de 2003, na seqüência de uma palestra que dei junto com Hernani Dimantas no Cybercultura 2.0, no Senac, a convite de Lucia Leão.

Aí­ uma costura das anotações tomadas na linha Lapa – Santo Amaro, quinta-feira passada, a caminho do Cybercultura 2.0, com algumas coisas que realmente cheguei a comentar na mesa redonda com o Hernani, e mais algumas elucubrações posteriores. Meu nome é Felipe Fonseca. Dizem que fui co-fundador do Projeto MetaFora junto com o Hernani. Mas outros dizem que o Projeto MetaFora nunca existiu, foi uma espécie de alucinação coletiva.

A cultura brasileira como uma cultura hacker (ou poderí­amos definir: a ética hacker nas culturas populares brasileiras*).

Em primeiro lugar, quero me desculpar porque vou avançar em alguns assuntos sobre os quais não sou especialista. Não me preocupar muito com isso é uma das coisas que aprendi com os hackers com quem trabalho. Bom, vamos adiante.

A era das grandes verdades

Até há pouco tempo, a comunicação concentrava-se em torno das fontes “oficiais” de informação e conhecimento: a igreja, o estado, a escola e a academia, e no último século a mí­dia de massa. As estruturas de comunicação eram facilmente identificadas. Um mapeamento dos fluxos de comunicação revelariam três grandes vertentes:

* as “fontes oficiais” propriamente ditas;

* as derivações das fontes (aquele tiozinho que repete no boteco o argumento do padre ou do âncora do telejornal), paráfrases das grandes verdades;

* as vozes contrárias, antí­teses das grandes verdades.

Essas últimas eram responsáveis por uma espécie de equilí­brio e um movimento de renovação. Podem ser identificadas aqui as vanguardas do século XX e a contracultura do pós-guerra, que, de alguma forma, acabavam impedindo uma total tirania na comunicação.

A era das múltiplas verdades

Nas últimas décadas, entretanto, as fontes “oficiais” começaram a se multiplicar e pulverizar. Acredito que alguns fatores influenciaram bastante nesse movimento:

* os questionamentos sobre a ciência no século XX;

* os questionamentos sobre a arte e seu papel;

* o intenso desenvolvimento e a facilitação do acesso í s Tecnologias de Informação e Comunicação;

* o acirramento da competitividade nos mundos corporativo e acadêmico, e entre as empresas de mí­dia de massa.

Um hipotético mapa da comunicação nos dias de hoje revelaria um cenário complexo, tendendo ao caos. Apesar de o ambiente da comunicação continuar dominado pelas mesmas estruturas (hoje, sobremaneira, as megacorporações), não é tarefa simples identificar onde se encerra esse poder. Em tal cenário, o papel de uma suposta contracultura precisa necessariamente se reinventar. Há 30 anos, era fácil identificar “o inimigo”: a ditadura no Brasil, a guerra do Vietnã e as estruturas militares nos EEUU, etc. Hoje, para onde devem apontar as armas da contracultura?

Aliás, ainda existe uma contracultura?

Eu acredito que não haja uma resposta objetiva.

Mas a comunicação tem papel fundamental na aceitação e manutenção dessa realidade. Em O Sistema dos Objetos, Jean Baudrillard identifica que a dominação através da manipulação publicitária não se dá no âmbito de cada peça de comunicação influenciando uma decisão do “consumidor”, mas no contexto do conjunto das peças publicitárias seguindo fórmulas assemelhadas e ratificando um modo de vida ocidental, branco e consumista. Uma situação claramente emergente, em que a ação de cada parte é menos importante do que a ação do conjunto.

A mí­dia tática surge nesse cenário, também como uma força emergente, potencializada com o novo ativismo que surge ao fim da década passada, nos protestos em Seattle, Gênova, Davos, Washington e tantos outros. Grupos de ativistas midiáticos e artistas de todo o mundo passam a utilizar ferramentas í s quais anteriormente só as elites tinham acesso para questionar a credibilidade da comunicação. Usam, camuflados ou não, as próprias armas do inimigo para conscientizar as pessoas sobre o que se passa no mundo. A mí­dia tática pode ser vista como a retomada do “social” na comunicação. Sua estrutura como sistema descentralizado e emergente encontra justificativa em Steven Johnson, no Emergência:

(…) se você está tentando lutar contra uma rede distribuí­da como o capitalismo global, é melhor mesmo se tornar uma rede distribuí­da.

A ética hacker

No mundo do desenvolvimento tecnológico, uma contracultura atuante desde os anos 70 construiu colaborativamente a Ética Hacker. Não vou entrar em detalhes, mas alguns dos princí­pios postulados pelos hackers encontram eco e respaldo na mí­dia tática:

* a descentralização coordenada;

* ênfase na reputação pessoal, baseada no histórico de ações, ao invés de hierarquia baseada em tí­tulos ou honras;

* colaboração e conhecimento livre e aberto;

* questionamento profundo sobre a validade da propriedade intelectual;

* Release Early, Release Often – é mais importante realizar do que ter um plano perfeito;

* informalidade.

Hackerismo brazuca

Estive em setembro no Next5Minutes, festival internacional de mí­dia tática realizado em Amsterdam. Alguns dias antes de embarcar, comecei a debater com o pessoal no MetaFora sobre o que falar por lá. As primeiras idéias circularam em torno da ética hacker e uma apresentação do grupo MetaFora. Na manhã da partida (ou a manhã anterior, não estou certo), acordei com a opinião de que tal linha de argumentação tinha duas falhas. Em primeiro lugar, eu não havia sido chamado para representar o MetaFora, e sim o Mí­dia Tática Brasil, festival realizado em março de 2003 do qual participamos. Além disso, não faria sentido simplesmente fazer côro a diversas outras vozes que já apregoam os princí­pios da descentralização e da colaboração. Já há algum tempo, tí­nhamos percebido que, em termos de colaboração, nós, elite cultural revoltadinha brasileira, temos mais a aprender do que a ensinar com as culturas populares* no Brasil.

O hackerismo tecnológico tem grande aceitação no Brasil, como pode detalhar o Hernani. O governo está adotando Software Livre, o paí­s é um dos maiores em volume de ataques de crackers. Sexta-feira, Maratimba comentou comigo que ouviu da boca de Miguel de Icaza que o Brasil tem o maior parque instalado do ambiente gráfico Gnome. No N5M, alguns programadores de Taiwan que estavam na mesa redonda New Landscapes for Tactical Media, da qual eu e Ricardo Rosas também participamos, vieram a mim perguntar, maravilhados, se tudo o que se falava sobre Software Livre no Brasil era verdade. Assenti, orgulhoso. Eu vejo algumas raí­zes culturais hackers no Brasil desde muito antes da criação do primeiro computador.

Os mitos afro-brasileiros**

Durante alguns séculos, pessoas de várias regiões da ífrica foram violentamente seqüestradas e trazidas ao Brasil, comerciados como escravos e encarcerados a uma vida de trabalho duro, restos de comida e praticamente nenhum direito. Não bastassem as agressões fí­sicas e a humilhação contí­nua, eles eram proibidos de exercer suas crenças, originalmente aní­micas. Alguns convertiam-se í  “verdadeira fé” católica, mas muitos desenvolveram uma alternativa, análoga í  engenharia social hacker: o tal sincretismo religioso. Camuflando seus orixás com vestes católicas, puderam continuar praticando seus rituais e venerando seus deuses da guerra, do trovão e do vento. Embora tenham aparecido diversas lideranças na Umbanda, não havia uma centralização de poder ou dogma. Assim, as linguagens espirituais afrobrasileiras foram se desenvolvendo de maneira colaborativa. Têm uma base comum (o kernel hacker) e diversas adaptações locais (a customização descentralizada hacker), chegando a abarcar elementos do kardecismo, de culturas indí­genas, de tradições ciganas, do budismo e outras crenças orientais.

A cultura burguesa brasileira

Não é novidade que, no iní­cio do século XX, a incipiente intelectualidade brasileira, composta em sua maioria pelos jovens filhos das elites que estudavam na Europa e voltavam ao paí­s, passava por uma crise de identidade, como ocorreu com todas as ex-colônias européias emancipadas entre os séculos XVII e XX ao redor do mundo. Duas perspectivas levavam a um impasse: de um lado, a cultura européia, moderna, vibrante, mas associada í  ex-metrópole colonial. De outro, uma cultura bruta, neonaturalista e sertaneja, quase crua. Os modernistas resolveram o paradoxo com a antropofagia, basicamente hacker: não renegaram nenhum dos dois mundos para criar novas formas de expressão. Pelo contrário, ao invés de tentar começar uma nova cultura do zero, misturaram elementos da cultura européia com a cultura brasileira. Vestiram a cultura popular de raiz com a experimentação formal do primeiro mundo.

Fenômeno semelhante ocorreu no final dos anos 70 com a Tropicália. Uniram o samba ao roquenrou, adaptando a linguagem comum da contracultura mundial com o sotaque local.

A economia pirata

Premida por uma situação econômica em condições cada vez piores, pressionada pela dificuldade de encontrar colocação e subsistência na economia formal, grande parte da população no Brasil migrou nas últimas duas décadas para a economia informal. Caracterizada por um dinamismo e por uma espécie de empreendedorismo na gambiarra, esse mundo alternativo de trabalho, que possui seu próprio cí­rculo de produção e distribuição, envolve hoje praticamente metade da população considerada “economicamente ativa” no Brasil, e mais uma grande quantidade de jovens e idosos. Possui suas formas de uma mí­dia mambembe que, se não se assemelha í  mí­dia tática do primeiro mundo, também chega, de maneira emergente, a questionar os domí­nios da propriedade intelectual e do poder da mí­dia de massa, em especial o branding corporativo. Outros elementos da ética hacker presentes na economia pirata:

* colaboração;

* descentralização;

* ênfase na reputação;

* informalidade.

O mutirão

Maratimba descreveu uma analogia do puxadinho feito em mutirão com o princí­pio do Release Early, Release Often, que corre um certo risco de ser uma visão estereotipada, mas que funciona como sí­mbolo:

Começo | Barraco – “Vamo botar essa porra em pé!”

Sabe como é? Menos é mais. Minimalismo funcionalista.

Expansão | Puxadinho – “Chame os amigos e ponha água no feijão”

Contemplar o máximo de necessidades. Refinamento e oferta de adicionais.

Refundação | Alvenaria – “Tá na hora de botar ordem na casa”

Revisão de erros e melhoria da qualidade geral. Consistência de dados e de interface E agora? Subi um barraco? Puxei um quarto pras crianças e um banheiro do lado de fora? Troquei os aglomerados e madeirites por tijolo e telha? Basta seguir a vida e esperar. Se precisar de mais teto, você pode construir a famosa casa nos fundos ou o mais popular segundo andar.

Comunidades periféricas interconectadas

As autoridades, a academia e a sociedade civil já acordaram para as possibilidades de transformação que as tecnologias de informação e comunicação trazem para a melhoria de vida das populações periféricas. As duas primeiras fases da “inclusão digital” tinham lá suas falhas, mas podem ser encaradas como um bom começo. Há um paralelo com um movimento que Mario de Andrade fez no século passado, de planejar expedições ao Brasil rural em busca de uma suposta cultura brasileira. Hoje, sabendo que cerca de 70% da população brasileira vive na periferia das grandes cidades, esses projetos têm o potencial de mapear e consolidar as caracterí­sticas de cada comunidade e integrá-las í s conversações mundializadas. É questão de adaptar as tecnologias í s necessidades das pessoas, e não o contrário. Vamos nos esforçando.

* Observações da moderadora Rita de Oliveira. Obrigado, Rita.

** Lucia Leão comentou que o site preferido de Roy Ascott é um site sobre Umbanda. Não tenho o link aqui, vou pedir í  Lucia.

Comentários

Lucia Leão

O site indicado pelo Roy é: http://www.umbandaracional.com.br/

como falsificar assinaturas

Tipos de Falsificações

A falsificação é um tipo de fraude documental, que se subdivide nos tipos elencados a seguir:
1. Falsificação sem Imitação

A falsificação sem imitação, é a reprodução de assinatura, sem se procurar dar a forma da legí­tima, que se desconhece.

É o processo de falsificação usado por falsários eventuais ou primários.
2. Falsificação de Memória

A falsificação de memória é aquela em que o falsário, estando familiarizado com a assinatura de sua ví­tima, procura reproduzi-la sem ver o modelo, valendo-se da memória.

Neste tipo, o falsário, guarda de memória os gestos mais aparentes da assinatura que vai reproduzir, como as letras iniciais, maiúsculas, as cetras – traços ornamentais que arrematam as assinaturas – , mas não memorizam o conjunto todo.

O traçado dessas falsificações é hí­brido, há traços morosos, aqueles que estão sendo reproduzidos pela memória e outros mais rápidos, que são resultantes da própria escrita do falsário.
3. Falsificação por Imitação Servil

A falsificação por imitação servil é o mais pobre dos processos: o falsário, fiel a um modelo, o reproduz no documento que está forjando.

A tarefa de copiar um lançamento não é fácil. Depois de cada gesto produzido, o falsário é obrigado a parar e olhar o modelo, voltando a fazer outro trecho do lançamento.

Como conseqüência desse fato, além do lançamento ficar moroso, arrastado, apresenta paradas do instrumento escrevente em sí­tios que no modelo não ocorrem. Para realizar alguns movimentos o falsário vacila, resultando um traço hesitante e trêmulo.

A comparação do produto de uma imitação servil com a assinatura legitima mostra flagrante diferença na qualidade do traçado e tal discrepância dos elementos genéticos.
4. Falsificação Exercitada

Este é o tipo mais perigoso e difí­cil de falsificação. O falsário se apossa de um modelo autêntico e, depois de cuidadoso treino o reproduz. Dependendo da habilidade do falsário ele consegue um lançamento mais ou menos veloz. O confronto de uma falsificação exercitada com o modelo mostra relativa coincidência na qualidade do traço, mas discrepâncias nos elementos genéticos. Quanto aos elementos formais, pode haver certas semelhanças, sobre tudo nos gestos mais aparentes.

Cabe salientar que, alguns fatos gráficos que, embora possam parecer ao leigo indicadores de falsidade , informam justamente o contrario, dentre os mais comuns são: a utilização de instrumento gráfico defeituoso – o falsário procura munir-se de instrumentos gráficos em boas condições, que não lhe dificultem a delicada tarefa de imitar grafismos estranhos. Assim , quando os defeitos derivam das condições precárias do instrumento, grande será a probabilidade da escrita ser autêntica; tintas relativamente apagadas, ou muito pastosas – o falsificador não gosta de chamar a atenção sobre seu trabalho. Por isso, busca imprimir aspecto normal í  escrita, não reclamando para ela esforço maior de leitura; instrumento gráfico e tintas extravagantes – o emprego de tinta vermelha, ou de lápis, não se justifica em alguns documentos. Sua utilização revela descuido, quase inadmissí­vel no trabalho de um falsário; borrões e borraduras – são praticamente inadmissí­veis em um trabalho fraudulento, revela incúria incomum no falsário; retoques ostensivos, recoberturas descuidadas – se esses adendos são necessários, constituem, em regra, í­ndices de autenticidade. Se desnecessários, podem aparecer no caso de simulação de falso, de qualquer maneira, fogem das caracterí­sticas do trabalho do falsário, no qual, como já se esclareceu, predomina o espirito de não chamar a atenção, ou o de mascarar a fraude, quanto possí­vel; repetição inútil da firma – não havendo necessidade, dificilmente esse trabalho seria executado pelo falsificador; indicações como cruzetas ou ponto do lugar onde assinar – em regra, o falsário sabe bem onde assinar, sem precisar de indicação; firmas em lugares impróprios – o falsificador normalmente sabe onde apor as assinaturas, não colocando-as em pontos inadequados.

http://br.geocities.com/marciobasilio/Falsificacoes.html

há ainda:

Há cinco tipos de falsificações de assinaturas, de acordo com o Instituto de Criminalí­stica do Paraná: aleatória, simples, auto – falsificações, servil e falsificações habilidosas ( Murshed, 1995).

* Falsificação aleatória: são caracterizadas por ter uma forma gráfica e linhas totalmente diferentes com relação í  assinatura original de algum escritor. Neste tipo de falsificação, o falsificador não se preocupa com o nome, propriamente dito, desenho e/ou formato da assinatura, nem mesmo se o nome é o mesmo. A Figura 2.1 apresenta um exemplo de falsificação aleatória.

* Falsificação simples: o falsificador escreve o nome da pessoa de quem ele vai falsificar a assinatura, porém não se preocupa em imitar o desenho e/ou formato da mesma, ou seja, a falsificação foi feita a partir do conhecimento do nome do escritor que terá sua assinatura falsificada. Muitas vezes este tipo de falsificação é considerada como aleatória.

* Auto – falsificação: este é o tipo de falsificação feita pela própria pessoa, com o intuito de negar sua veracidade.

* Falsificação servil: semelhante í  falsificação simples, porém com o falsificador olhando a imagem da assinatura que ele vai falsificar. Esta falsificação é feita traço a traço, o que traz linhas de má qualidade.

* Falsificação habilidosa: é aquela em que o falsificador consegue imitar de modo muito semelhante a assinatura original.

Como Abrir uma Porta Usando um Cartão de Crédito

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Algum dia, vai acontecer… Fique Clamo…

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É natural estar irritado ou nervoso, mas isto não vai ajudar, e certamente não vai fazer você chutar melhor.

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Seja humilde, entenda que você não tem o controle da situação

* Se você achar que pode precisar usar esta habilidade em algum momento, pratique em alvos seguros e fáceis primeiro. Isto vai lhe ajudar a firmar seu golpe, e a golpear sem se machucar.
* Pode ajudar exalar com vontade ou até gritar ao acertar o chute. Isto pode parecer bobo, mas realmente ajuda a concentrar mais força. Um “UH” alto ou algo parecido vai ajudar a concentrar-se no momento do impacto.
* Se tiver alguma prática com o chute lateral, você pode acertar com mais força ao dar um pequeno pulinho antes de chutar. Não salte no ar – simplesmente jogue seu outro pé em direção da porta e pule antes de encostar. Não faça isto sem antes avaliar a distância, pois é mais fácil cair se fizer da maneira errada.

– puts!!! O cara vai perceber que alguém veio aqui quando ele chegar e perceber que a porta esta destrancada!!

Funciona mesmo, testei com 3 cadeados diferentes aqui em casa.
Viva a tecnologia.
Aprenda você também.
Isso é a “ferramenta” que vamos copiar com a lata de aluminio.
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Material nescessario para reproduzir o abridar de cadeado:
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Abra a lata (literalmente) usando uma tesoura ou algo semelhante, e pegue somente a parte do meio (onde fica escrito coca, kaiser, kuat, etc..) corte no tamanha adequado. (varia de acordo com o cadeado)
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Faca essas divisoes para ter uma nocao de tamanho.
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Faca o mesmo na lata e divida ao meio (pontilhando, fazendo traco do jeito que quizer)
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Faça um “M” (a parte do meio do “M” será onde vai entrar no cadeado, manerem no tamanho)
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Corte:
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Dobre uma vez para as laterais nao quebrarem.
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Dobre de novo pra ficar biito.
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Voalá, aqui está sua replica.
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Encaixe em um cadeado visando a parte dele que abre.
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force um pouquinho e pronto, o cadeado abrira.
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Em muitos casos, os bandidos deixam a ví­tima trancada no porta-malas do carro, para que possam escapar sem problemas. Aprender a abrir o porta-malas pelo lado de dentro pode ser de grande valia nessas horas.