Mamãe pulou a cerca / Papai 2 (o outro)

O pai traiçoeiro:
Baco era também o arqui-inimigo do Gama

Eis aqui, quase cume de cabeça
De Europa toda, o reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; elá na ardente
ífrica estar quieto o não consente

Esta é a ditosa pátria minha amada
à qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lira, que de Baco antigo
Filhos foram, parece
, ou companheiros,
E nela antam os í­ncolas primeiros

Lusí­adas: Canto III

A Metamorfose: Ulisses / Gama / Cabral

Oscar Pereira da Silva (O Descobrimento do Brasil)

Ulisses Pona – Porto de Ulisses – Lisboa
ínclita Ulisséia (nos Lusí­adas)
“E já no porto da í­nclita Ulisseia,
Cum alvoroço nobre e cum desejo
(Onde o licor mistura e branca areia
Co salgado Neptuno o doce Tejo)”

Lusí­adas: Canto IV

ULISSES

“O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo–
O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,

E a fecundála decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre”.

Fernando Pessoa – Mensagem

Primeiros computadores

1ê Geração: tecnologia de válvulas (1940 – 1955)
1943 – Mark I

Numa parceria da IBM com a marinha Norte-Americana, o Mark I era totalmente eletromecânico: ele tinha cerca de 17 metros de comprimento por 2 metros e meio de altura e uma massa de cerca de 5 toneladas. O barulho do computador em funcionamento, segundo relatos da época, se assemelhava a varias pessoas tricotando dentro de uma sala. Mark I continha nada menos que 750.000 partes unidas por aproximadamente 80 km de fios. Ele foi o primeiro computador totalmente automático a ser usado para fins bélicos.

Beatniks & Sputniks & Meta reciclagem


enquanto o Octavio lembrou que o Sputnik está ligado ao inicio da Arpa, que deu origem a Internet, lembro aqui que o termo Beatnik vem da corruptê-la de Beat (pagode)+ sputnik, e que este tipo de umbiguismo literário megalomaní­aco é uma das raí­zes do bloguismo. E outro fato despercebido geralmente: Willian Burroughs era herdeiro da IBM. Seu avô é um dos responsáveis pela industrialização da máquina de escrever. Apesar disso deve ter escrito em muito guardanapo e papel de seda na argélia, abastecido pelas colheitas britânico-sufis de papoula nos campos afegãos. Bahamas não é Triangulo das bermudas…

Outra notí­cia. Hoje um Pentium 100 de visceras abertas recém batizado de C-lee-Z deu seu primeiros suspiros de sua bios e matutou em kernel 2.4 graças ao audioslack do Leonardo e algumas memórias Sdimm, inaugurando o esporo Desafiatlux de Metareciclagem.

O fim da Segunda Feira está próximo

como acordei esta segunda feira vomitando, isto é, não morri… Acredito que a pajelança tem funcionado, a onça espreita mas mantém a respeita e preciso logo tirar este monstro da minha pança. Portanto, Alguémukarãngmãiepari convida hoje as 19 e TRINTA E TRÃ?Å S:

PARA mais um final de

2a

, afinal estamos TRABALHANDO:

vomitei hoje

Afastado da terra, o morto deve ir secando gradativamente, perdendo o que ainda lhe restava de substâncias vitais para o conjunto de seres metafí­sicos que passam a rondar os cadáveres, alimentando-se daquilo que antes dava vitalidade ao defunto. A funerária Ukarãngmã é, assim, uma espécie de devolução das substâncias vitais que os humanos extraem do mundo; uma troca ou reciprocidade escatológica para com os demais seres do mundo.

Segunda Feira
–>
25/07/2005

ECOGRAFIAS DE ORGANISMO

Filmagens para uso na concepção de Organismo – Levem + cameras ( temos 2)

Logí­stica para a festa de Crisma-Mitzvah-Ramadã-Iepari-PERDA DO CABAÇO de ORGANISMO NA SEQUENCIA…

Local:
ESTUDIO MATEMA
Rua Marechal de ODORo ao lado da c and A – Prédio da Galeria Ritz

2o andar – 207

19:33
dúvidas: 99889285 (glerm)


e na sequencia:
CELEBRAÇÃO DO FIM DE MOONDAY – O DIA DA LUA

LOCAL:
NOSSO POSTO ABANDONADO

23:59hs
R. Solimões esquina
 com Rua Tapajós

Os Ukarãngmã não possuem um termo especí­fico para “aldeia”, reunião de casas em um espaço comum. A indistinção entre casa e aldeia aponta também para o fato de que, como no passado, e não muito remoto, uma única casa pode ser toda a extensão da moradia de um grupo local; sem o reconhecimento de uma “aldeia” propriamente dita, espaço de reunião de diferentes moradias, os Ukarãngmã vêem como co-extensivas, a casa e a aldeia.

Sirius B: inária

Talvez a mudança misteriosa da cor de Sirius tenha algo a ver com a estrela companheira de Sirius, já que ela é uma estrela binária. No iní­cio de 1844 o astrônomo alemão Friederich Bessel notou que Sirius não se movia no céu de uma forma reta, como as outras estrelas fixas, mas sim seguia um caminho serpenteado. Bessel concluiu que Sirius teria uma companheira invisí­vel cujos efeitos gravitacionais provocavam este comportamento. Foi somente em 1862 que esta companheira, chamada de Sirius B, foi realmente descoberta através de um telescópio e apareceu como um pequeno ponto de luz perto da luminosa Sirius A.

Eye for an I

Sirius Funesta

insculpiu nele os céus e o mar e a terra;
Nele as constelações, do pólo engastes,
Orion valente, as Hiadas, as Pleias,
A Ursa que o vulgo denomina Plaustro,
A só que não se lava no Oceano

iliada xviii O.M.

Edna Leigh argumenta que os 45 regimentos detalhados no catalogo das naus, no canto II da Ilí­ada, representam as 45 constelações conhecidas na antiguidade clássica na Grécia. Parte desta evidência deriva de um poema entitulado “phaenomena” escrito por Aratus no ano 270 a.c e dedicado ao grande matemático Eudoxus, do século IV a.c, colaborador de Platão. Este poema nomina estas 45 constelações, porém as situa nas posições correspondentes ao céu de 3000 – 1800 a.c. Não somente as constelações combinam em número com os regimentos da ilí­ada, este poema de Aratus é também mais uma evidência do alcance da poesia no conhecimento astronômico da época. A isto segue-se uma comparação entre os regimentos e as constelações. As estrelas individualmente são representadas por heróis, sendo que as mais brilhantes em cada constelação representam os principais chefes. Aquiles é Sirius na constelação de Cão Maior. Odysseus, Arcturus. Menelau, a estrela vermelha gigante Antares em Escorpião. Agamemnom, Regulus em Leão. O enredo da ilí­ada também corresponde ao movimento destas constelações no céu noturno ao longo de milênios. Porém o argumento mais contundente proposto por Edna é a identificação na Ilí­ada das mudanças no céu decorrentes da precessão do eixo da terra, um ciclo de aproximadamente 26.000 anos, mais conhecido como “precessão dos equinócios.
As primeiras mudanças observáveis causadas pela precessão dos equinócios são primeiramente: o giro das constelações heliacais (constelações que surgem com o sol durante o equinócio ou solstí­cio). Segundo, o surgimento ou desaparecimento de um grupo especifico de estrelas, dependendo da sua latitude, e terceiro, o movimento da estrela polar.
De acordo com Leigh, Homero descreve o movimento das constelações heliacais através da morte ou vitoria dos seus heróis. Assim, por exemplo, Menelaus de Escorpião é atacado por Pândaro de Sagitário. Menelau vence e Pândaro morre, espelhando a mudança de sagitário para escorpião nas constelações heliacais no equinócio de outono ocorrida por volta de 4400 a.c. O giro das constelações heliacais vernais também é registrado da mesma maneira assim como as mudanças que ocorreram no seguinte giro equinocial por volta do ano 2200 a.c
A morte de Osí­ris possivelmente representa o desaparecimento de Orion das constelações heliacais por volta do ano 6700 a.c.
Ã?Ë? o retorno de Aquiles ao campo de batalha que nos remete no calendário astronômico até 8700 ac. Sirius, a estrela mais brilhante do hemisfério norte desapareceu dos céus da grécia por volta de 15 000 anos antes de cristo em função da precessão dos equinócios. O seu ressurgimento certamente foi dramático, se é que esta memória permaneceu na mente dos antigos. A autora argamenta convincentemente, que a importância dada ao retorno deste herói na ilí­ada representa este mega evento astronômico
Uma das mais elaboradas descrições deste evento na ilí­ada esta no canto XVIII, na descrição do novo escudo de Aquiles confeccionado por Vulcano
É aqui que Homero nos apresenta uma imagem astronômica direta: “Ele esculpiu os céus, a terra, e o mar. A lua cheia e o Sol incansável, com todos os signos que glorificam o rosto do céu. As plêiades, as Hiades, o imenso Orion, a Ursa, que sempre se volta ao mesmo ponto em direção a Orion, e é a única que jamais repousa no Oceano.” Estas estrelas em particular marcam a região dos céus noturnos na qual Sirius e sua constelação, Cão Maior, ressurgiram

Mythologias: Eric Raymond

What Is a Hacker?
http://www.catb.org/~esr/faqs/hacker-howto.html

The Jargon File contains a bunch of definitions of the term ââ?¬Ë?hackerââ?¬â?¢, most having to do with technical adeptness and a delight in solving problems and overcoming limits. If you want to know how to become a hacker, though, only two are really relevant.

There is a community, a shared culture, of expert programmers and networking wizards that traces its history back through decades to the first time-sharing minicomputers and the earliest ARPAnet experiments. The members of this culture originated the term ââ?¬Ë?hackerââ?¬â?¢. Hackers built the Internet. Hackers made the Unix operating system what it is today. Hackers run Usenet. Hackers make the World Wide Web work. If you are part of this culture, if you have contributed to it and other people in it know who you are and call you a hacker, you’re a hacker.

The hacker mind-set is not confined to this software-hacker culture. There are people who apply the hacker attitude to other things, like electronics or music ââ?¬â? actually, you can find it at the highest levels of any science or art. Software hackers recognize these kindred spirits elsewhere and may call them ââ?¬Ë?hackersââ?¬â?¢ too ââ?¬â? and some claim that the hacker nature is really independent of the particular medium the hacker works in. But in the rest of this document we will focus on the skills and attitudes of software hackers, and the traditions of the shared culture that originated the term ââ?¬Ë?hackerââ?¬â?¢.

There is another group of people who loudly call themselves hackers, but aren’t. These are people (mainly adolescent males) who get a kick out of breaking into computers and phreaking the phone system. Real hackers call these people ââ?¬Ë?crackersââ?¬â?¢ and want nothing to do with them. Real hackers mostly think crackers are lazy, irresponsible, and not very bright, and object that being able to break security doesn’t make you a hacker any more than being able to hotwire cars makes you an automotive engineer. Unfortunately, many journalists and writers have been fooled into using the word ââ?¬Ë?hackerââ?¬â?¢ to describe crackers; this irritates real hackers no end.

The basic difference is this: hackers build things, crackers break them.

If you want to be a hacker, keep reading. If you want to be a cracker, go read the alt.2600 newsgroup and get ready to do five to ten in the slammer after finding out you aren’t as smart as you think you are. And that’s all I’m going to say about crackers.

Porque vindo de você?

Porque eu mantenho os documentos How
To Become A Hacker
, A Brief
History of Hackerdom
, o Jargon File,
e sou mais ou menos o historiador resident dos hackers. É o meu trabalho
pensar nessas coisas.

Eric Raymond

——
lembrando a todos que levi strauss ainda vive: http://pt.wikipedia.org/wiki/Claude_L%C3%A9vi-Strauss

Ã?ndios do Brasil – onça mandou contar

EM FOCO: uma importante cerimônia dos í­ndios araras, centrada num poste, erigido no pátio, em cujo topo, até tempos recentes, se punha o crânio de um inimigo, hoje substituí­do por uma bola de lama. Só isso já desperta a atenção do leitor, pois, vivendo os araras sobre o divisor que separa as águas que correm para o Iriri, afluente do Xingu, das que descem diretamente para o Amazonas (mas destas últimas retirados após lograrem o contato amistoso com os brancos), eles têm como vizinhos vários outros grupos tribais que também faziam a caça de cabeças, por uma extensa área, desde o Xingu até o Madeira. Entretanto, tais grupos pertenciam ao tronco tupi, enquanto os araras, da famí­lia caribe, constituí­ssem talvez a única exceção.

Mas o Autor opta por não comparar, permanecendo no universo dos araras, entre os quais realizou pesquisa de campo de cerca de quatorze meses em várias etapas, distribuí­das pelos anos 1987, 1988, 1992 e 1994.

Começa por uma apresentação geral da cerimônia e das condições em que é realizada. Mostra-nos como cada tipo de festa arara inclui uma festa menor e pode ser englobada por outra maior, desde aquelas festas de beber, passando para as de beber e comer, para as em que também se tocam instrumentos musicais, se canta e se dança, até chegar í  mais inclusiva e complexa, que é a do Ieipari, o poste encimado pelo crânio do inimigo. Descreve a elaboração da bebida fermentada de tubérculos, frutas ou milho, a maneira de oferecê-la, sua relação com substâncias como leite e esperma. Examina as técnicas de caça, o contato que um xamã (todos os homens araras são mais ou menos familiarizados com as atividades xamânicas) estabelece com um ser, dono de uma espécie animal, pedindo-lhe que os dê para criá-los, abrindo a oportunidade assim para que os outros homens possam abatê-los. Descreve os instrumentos de sopro, a ordem em que tocam, os seres a que estão associadas suas músicas. Mostra como os caçadores, aguardados com a bebida fermentada, que devem retribuir com carne, entram na aldeia a fingir um ataque, uma encenação agressiva omitida na forma mais abrangente do rito, quando há o Ieipari. Expõe o tratamento do inimigo, o que lhe dizem no cântico entoado antes de matá-lo e esquartejá-lo. Além do crânio, que integra um instrumento musical antes de vir a coroar o poste ritual, outras partes do corpo lhe são retiradas, mas seu destino, talvez por lacuna na memória dos araras atuais, é apenas esboçado: os ossos das mãos e dos pés, a pele do rosto, o escalpo, as ví­sceras. Descreve a ereção do poste, como os homens o descascam com pancadas e palavras agressivas, e como as mulheres o abraçam fortemente e nele esfregam sensualmente suas vulvas. A carne trazida pelos caçadores disposta em torno do poste, assim como uma panela com bebida fermentada colocada ao pé do mesmo, são como ofertas do Ieipari. E as mulheres, ao tomarem desta bebida, dizem reveladoramente que estão bebendo um filho.

Essa apresentação inicial, que constitui o primeiro capí­tulo, é em si mesma autônoma, não depende do que segue para ser compreendida. Dir-se-ia que o livro se compõe de partes que acrescentam mais sentido í  apresentação inicial, mas elas próprias também autônomas.

O capí­tulo referente í  cosmogonia e í  cosmologia aponta a origem de certos elementos integrantes do rito ou aspectos da condição humana que levam a sua realização: o instrumento de sopro que a divindade principal tocava para manter a calma e boa ordem no céu, onde a humanidade vivia de modo paradisí­aco, e que hoje faz a música de fundo das festas; a eclosão de um conflito que redundou na quebra da casca do céu, obrigando a humanidade a viver sobre os seus fragmentos, misturada aos seres maléficos até então mantidos do lado de fora; o ensino da festa, destinada a trazer novos filhos, pelo bicho-preguiça, que também deu aos humanos as flautas, a tecelagem em algodão e palha e povoou a mata de animais de caça; a recusa das mulheres em continuar a aplicar as técnicas destinadas a trazer de volta í  vida aqueles que morriam, como faziam antes da catástrofe, de modo que a morte se instalou definitivamente entre os humanos e serviu para que a divindade, agora transformada na vingativa onça preta, transformasse as partes em que divide os corpos dos defuntos numa série de seres danosos; a viabilização da caça por intermédio das relações de reciprocidade entre os xamãs e os espí­ritos donos de animais, em que estes dão í queles bichos para criar e por sua vez criam um certo tipo daqueles seres danosos oriundos dos mortos. Se o primeiro capí­tulo sublinha a ausência da vingança nas palavras que os araras dirigem ao inimigo, o segundo não trabalha o teor da vingança que atribui ao ser supremo.

A vingança ou sua ausência no conflito com o inimigo poderia ter sido um dos temas de discussão no terceiro capí­tulo, que se limita ao contato entre os araras e os brancos. Não tenta reconstituir as relações dos araras com outras etnias indí­genas, a não ser com os caiapós, mas estes apenas enquanto participantes das frentes de atração. Chama a atenção para o fato de os brancos não se contarem entre as ví­timas cujas cabeças serviam de centro ao rito arara, até o momento em que a construção da Transamazônica pressionou fortemente pelo estabelecimento do contacto. Que etnias indí­genas teriam sido alvo das incursões araras, que motivos os moviam contra elas, ou, ao contrário, que razões os faziam limitar-se í  defensiva são perguntas que talvez o Autor não tenha feito ou, se as fez, das respostas não tirou proveito.

No quarto capí­tulo examina a coexistência de uma classificação horizontal dos termos de parentesco, aplicada aos membros da própria unidade residencial, com uma oblí­qua, referente í s relações com outras unidades. Mostra como oferecimento ritual da bebida fermentada, que se faz entre a irmã (ou o marido dela) e o irmão, moradores de casas diferentes, é coerente com a classificação oblí­qua. Observa também que um homem, ao dar sua irmã em casamento, pode reivindicar em troca a filha daquele que a recebeu, que não precisa necessariamente ser filha dessa ou de outra irmã. E ainda, quando uma mulher, dentre aquelas com quem, pelo jogo das trocas, pode aspirar a ter como esposa, se casa com outro homem, este último passa a lhe dever uma irmã ou filha. Em outras palavras, uma esposa reivindicada que se torna cônjuge de outro gera dí­vida como se fosse uma irmã a este cedida. Sem dúvida tudo isso é muito convincente e feito com maestria, apesar de as trocas de mulheres examinadas nos casos concretos mais parecerem deduções das genealogias do que descritas em depoimentos dos araras. Mas tendo em vista o rito que constitui o tema do livro, este capí­tulo talvez fosse o lugar de examinar também certas relações como a dos amigos de guerra, que, ao sacrificarem juntos um inimigo, trocavam entre si temporariamente as esposas. Se, tal como a dos amigos de caça (recrutados entre os afins reais do mesmo grupo residencial), essa parceria tinha como protótipo genealógico a relação MB/ZS, mas escolhidos em outros grupos residenciais, no passado grupos locais distintos, ela poderia ter sido mais um motivo para o Autor examinar a guerra como um fator de articulação entre os vários grupos locais. Quem guardava o crânio do inimigo e o usava como instrumento musical? Quem guardava os ossos dos membros, a pele da face, o escalpo? Como se fazia a circulação desses troféus? Que importância teriam estes nos ritos de passagem relativos í  idade? São questões que poderiam ter sido exploradas neste capí­tulo.

O quinto capí­tulo na verdade abrange dois. Sua parte inicial (pp. 305-343) trata da relação entre os modos de dar, as coisas dadas e as relações sociais envolvidas, de um lado, e os valores morais, de outro. A classificação das formas de dar bens e prestar serviços mostra-se sobremodo complexa, a ponto de mal poder ser ilustrada pela clássica esfera que combina os diferentes tipos de troca com a distância social, desde o núcleo da reciprocidade generalizada caracterí­stica dos parentes próximos até a capa mais externa da reciprocidade negativa associada aos inimigos. Além disso, no caso dos araras, esse gradiente é distorcido pelos ideais de generosidade, gentileza, solidariedade, de maneira que a representação gráfica escolhida pelo Autor lembra os esquemas demonstrativos da influência do Sol e da Lua nas marés oceânicas (p. 337).

Na segunda metade do capí­tulo (pp. 343-385), o Autor retoma o grande rito anteriormente descrito e o analisa segundo três seqüências, paralelas: a sucessão de festas, a das músicas, que já apresentara anteriormente, e a ordem das fases (marcadas por tarefas ou deslocamentos dos participantes). Uma incursão na teoria da linguagem de Hjelmslev não nos parece ter trazido novas luzes para a compreensão do rito. Por outro lado, neste capí­tulo e na conclusão, que o segue, a idéia de “sacrifí­cio”, presente no tí­tulo do livro, é tratada de modo demasiado sumário; Hubert e Mauss não são convocados, e nem mesmo aquele que os seguiu no exame do mais discutido dos ritos de tratamento dos inimigos em nosso continente, Florestan Fernandes.

Tal como a classificação da bebidas de acordo com a altura das partes dos vegetais das quais são produzidas (figura da p. 62) ou tal como o poste Ieipari, centro do grande rito, poderí­amos dizer que a interpretação desenvolvida no livro passa do mais substancioso para o mais etéreo í  medida que se desloca da base para o topo. Muito de mistério ainda paira sobre a cabeça do inimigo. Mas certamente o Autor continuará a busca de mais sentido com a elaboração de outros trabalhos.

mamelucovírus

Quem sou eu se este tamanduá existe?

músico, poeta, dançarino?
>LEMINSKI LINK LINK LINK POETA RICOCHETE

“…Queria saber quem havia inventado tão maravilhosas cousas proporcionadoras de alegria.

E veiu a saber. Um caiurucrê (da etnia caingangue) encontrou no mato um tamanduá-mirim (cakrekin) e o atacou com um cacete, quando o tamanduá se poz de pé a bailar os passos e a cantar os versos aprendidos pela tribu.

Emi no ti, vê, ê, ê, ê,

Ando chô caê voá, a

Há, há, há…

Emi no tin, vê, ê, ê, ê,

Emi no tin, vê, ê, ê

Dói cama vorô é

Que agnan kanan bang

Goyogda emi no tin.

Eââ?¬â?¢ qui matin…

Eââ?¬â?¢ qui matin…

Estava desvendado o mistério.

Fora o tamanduá o creador da música, da poesia e da dança. Os tamanduás são desde então considerados pelos caingangues os pais da humanidade. Sua antiguidade faz com que eles saibam muitas cousas que os homens atuais não sabem.”(1)

(e Cartesius nem se quer imaginava…)

(1) MARTINS, Romário. Paiquerê. Mitos e Lendas – Visões e Aspectos. Curitiba: Aqui!, 1940. P.24 e 25.