“firemen… are your friend.. firemen are… big men..strong men… hairy men… ham & eggs…Come and touch… yer granpa’s lunch… ‘cause everyday… is a hollyday, hollandaise, holocaust… ham & eggs..”
Alice Donut – Hang the dog – The Untidy Suicides of your Degenerate Children – 1992 – Alternative Tentacles
Compartilhe suas leituras – Poéticas Visuais – Júlio Plaza
sinopse: Poéticas Visuais é um texto de Júlio Plaza escrito em 1977 sobre os fenômenos samizdat para a troca de idéias e informações por parte de alguns grupos de artistas.
palavras-chave: arte, samizdat, mobilização, circuito, anos 60-70, arte brasileira, crítica de arte, manifestações artísticas, história da arte, escrito de artistas.
Compartilhe suas leituras – Entrevista especial de Silvia Ribeiro
sinopse: O consumo excessivo e injusto é intrínseco í lógica capitalista. Leitura do texto da entrevista especial do Instituto Humanitas Unisinos com Silvia Ribeiro – http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18754
palavras-chave: transgênicos, capitalismo, indústria alimentícia, alimentação, exploração, terra, multinacionais, ativismo, mobilização, denúncia.
DA PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADEÃ?¹
Félix Guattari
O pensamento clássico mantinha a alma afastada da matéria e a essência do sujeito afastada das engrenagens corporais. Os marxistas, por sua vez, opunham as superestruturas subjetivas í s relações de produção infra-estruturais. Como falar da produção de subjetividade, hoje? Uma primeira constatação nos leva a reconhecer que os conteúdos da subjetividade dependem, cada vez mais, de uma infinidade de sistemas maquínicos. Nenhum campo de opinião, de pensamento, de imagem, de afetos, de narratividade pode, daqui para a frente, ter a pretensão de escapar í influência invasiva da “assistência por computador”, dos bancos de dados, da telemática etc… Com isso chegamos até a nos indagar se a própria essência do sujeito – essa famosa essência atrás da qual a filosofia ocidental corre há séculos – não estaria ameaçada por essa nova “máquino-dependência” da subjetividade. Sabemos da curiosa mistura de enriquecimento e empobrecimento que resultou disso tudo até agora: uma aparente democratização do acesso aos dados e aos saberes, associada a um fechamento segregativo de suas instâncias de elaboração; uma multiplicação dos ângulos de abordagem antropológica e uma mestiçagem planetária das culturas, paradoxalmente. contemporâneas de uma ascensão dos particularismos e dos racismos; uma imensa extensão dos campos de investigação técnico-científicos e estéticos evoluindo num contexto moral de insipidez e desencanto. Mas ao invés de se associar í s cruzadas tão em voga contra os malefícios do modernismo, ao invés de pregar a reabilitação dos valores transcendentais em ruína ou de entregar-se como o pós-modernismo í s delícias da desilusão, pode-se tentar recusar o dilema de ter que optar entre uma rejeição crispada ou uma aceitação cínica da situação.
Que as máquinas sejam capazes de articular enunciados e registrar estados de fato ao ritmo do nano-segundoí², e talvez amanhã do pico-segundo, ou de produzir imagens que não remetem a nenhum real representado, isso não faz delas potências diabólicas que estariam ameaçando dominar o homem. Na verdade, não tem sentido o homem querer desviar-se das máquinas já que, afinal das contas, elas não são nada mais do que formas hiperdesenvolvidas e hiperconcentradas de certos aspectos de sua própria subjetividade – e estes aspectos, diga-se de passagem, justamente não são daqueles que o polarizam em relações de dominação e de poder. Teremos lançado uma dupla ponte, do homem em direção í máquina e da máquina em direção ao homem e, com isso, terá se tornado mais possível esperar que novas e confiantes alianças se façam entre eles, quando tivermos estabelecido o seguinte:
1. que as atuais máquinas informacionais e comunicacionais não se contentem em veicular conteúdos representativos, mas que concorram igualmente para a confecção de novos Agenciamentos de enunciação (individuais e/ou coletivos);
2. que todos os sistemas maquínicos, seja qual foro domínio ao qual pertencem – técnico, biológico, semiótico, lógico, abstrato -, são o suporte, por si mesmos, de processos proto-subjetivos que eu qualificaria de subjetividade modular.
Evocarei aqui apenas o primeiro rol dessas questões, reservando-me para abordar o segundo, que gira em torno dos problemas de auto-referência, de autotranscendência etc., em outras circunstâncias.
Antes de prosseguir temos que nos perguntar se essa “entrada em máquina” da subjetividade – como se dizia antigamente “entrar em religião” (ordenar-se) – é realmente uma novidade absoluta. As subjetividades “pré-capitalistas” ou “arcaicas” também não eram engendradas por diversas máquinas iniciáticas, sociais, retóricas, embutidas nas instituições clânicas, religiosas, militares, corporativistas etc., que eu reagruparia aqui sob a denominação geral de “Equipamentos coletivos de subjetivação”? É o caso, por exemplo, das máquinas monacais que trouxeram até nós as memórias da antigüidade, fecundando assim nossa modernidade. O que eram estas máquinas monacais senão softwares, “macroprocessadores” da Idade Média – os neoplatônicos tendo sido, í sua maneira, os primeiros a conceber uma processualidade capaz de atravessar o tempo e as estases? E a Corte de Versalhes, com sua gestão minuciosa dos fluxos de poder, de dinheiro, de prestígio, de competência e suas etiquetas de alta precisão, o que era ela senão uma máquina deliberadamente concebida para secretar uma subjetividade aristocrática de reposição, muito mais submissa í realeza estatal do que a dos senhorios de tradição feudal e esboçando outras relações de sujeição aos valores e aos costumes das burguesias ascendentes?
Eu não poderia, num abrir e fechar de olhos, retraçar aqui o histórico desses Equipamentos coletivos de subjetivação. Aliás, a meu ver, nem a história, nem a sociologia estariam realmente em condições de nos dar as chaves analítico-políticas dos processos em questão. Eu gostaria apenas de destacar algumas vozes/vias [voi(x)(e)] fundamentais – aqui, o francês permite ligar homofônicamente, o caminho e a enunciação – que esses equipamentos produziram e cujo entrelaçamento permanece na base dos processos de subjetivação das sociedades ocidentais contemporâneas.
Distinguirei três séries destas vozes/vias:
1. as vozes de poder: que circunscrevem e cercam, de fora, os conjuntos humanos, seja por coerção direta e dominação panóptica dos corpos, seja pela captura imaginária das almas;
2. as vozes de saber: que se articulam de dentro da subjetividade í s pragmáticas técnico-científicas e econômicas;
3. as vozes de auto-referência: que desenvolvem uma subjetividade processual autofundadora de suas próprias coordenadas, autoconsistencial (que há um tempo atrás eu havia relacionado í categoria de “grupo sujeito”), o que não a impede de instalar-se transversalmente í s estratificações sociais e mentais.
Poderes sobre as territorialidades exteriores, saberes desterritorializados sobre as atividades humanas e as máquinas e, enfim, criatividade própria í s mutações subjetivas: essas três vozes, embora inscritas no coração da diacronia histórica e duramente encarnadas nas clivagens e segregações sociológicas, não param de se entrelaçar em estranhos balés, alternando lutas de morte e a promoção de novas figuras.
Me parece oportuno assinalar, neste momento, que em nossa perspectiva esquizoanalítica de elucidação dos fatos de subjetivação, não faremos senão um uso muito discreto das abordagens dialéticas, estruturalistas, sistêmicas e mesmo genealógicas, no sentido de Michel Foucault. É que, a meu ver, de uma certa maneira todos os sistemas de modelização se valem, todos são aceitáveis, mas somente na medida em que seus princípios de inteligibilidade renunciem a qualquer pretensão universalista e admitam que eles não tem outra missão senão a de concorrer para a cartografia de Territórios existenciais – implicando Universos sensíveis, cognitivos, afetivos, estéticos etc. -, e isto para áreas e períodos de tempo bem delimitados. Esse relativismo, aliás, não tem absolutamente nada de difamatório de um ponto de vista epistemológico; ele se deve ao fato de que as regularidades, as configurações mais ou menos estáveis que as ocorrências subjetivas dão a decifrar, dependem exatamente e antes dê mais nada dos sistemas de auto-modelização acima evocados com a terceira voz de auto-referência. Aqui, os elos discursivos – tanto de expressão, como de conteúdo – não respondem mais senão de tempos a tempos, ou a contra-senso, ou por desfiguração, í s lógicas ordinárias dos conjuntos discursivos. O que quer dizer que neste nível tudo é bom! – todas as ideologias, todos os cultos, até os mais arcaicos, podem bastar, pois trata-se de servir-se deles apenas a título de materiais existenciais. A finalidade primeira de suas cadeias expressivas não é mais a de denotar estados de fato ou de engastar estados de sentido em eixos significacionais; sua finalidade, repito, é a de efetuar cristalizações existenciais instaurando-se, de certo modo, aquém dos princípios de base da razão clássica: princípios de identidade, de terceiro excluído, de causalidade, de razão suficiente, de continuidade… O mais difícil de evidenciar aqui é que esses materiais, a partir dos quais podem se engrenar os processos de auto-referência subjetiva, sejam eles próprios extraídos de elementos radicalmente heterogêneos, para não dizer heteróclitos: ritmos de tempo vividos, ritornelos obsessivos, emblemas identificatórios, objetos transicionais, fetiches de toda espécie … O que se afirma por ocasião dessa travessia das regiões dos ser e dos modos de semiotização são traços de singularização – espécies de carimbos existenciais – que datam , ” acontecimentalizam”, “contingenciam ” os estados de fato, seus correlatos referenciais e os Agenciamentos de enunciação que lhes correspondem . Esta dupla capacidade dos traços intensivos de singularizar e de transversalizar a existência, de lhe conferir , por um lado uma persistência local e, por outro, uma consistência transversalista – uma transistência -, não pode ser plenamente captada pelos modos racionais de conhecimento discursivo . Ela só pode ser dada através de uma apreensão da ordem do afecto, uma captura transferencial global. O mais universal se encontra aqui ligado í facticidade a mais contingente ; a mais solta das amarras ordinárias do sentido se encontra aqui ancorada í finitude do ser-aí. Mas diversas tradições daquilo que podemos chamar de um “fracionalismo tacanho” continuam a manter um desconhecimento sistemático , quase militante, em relação a tudo aquilo que, no seio destas metamodelizações , possa referir – se a Universos virtuais e incorporais, a todos os mundos nebulosos da incerteza, do aleatório, do provável… Este “racionalismo tacanho” perseguiu por muito tempo, no seio da antropologia, os modos de categorização que ele qualificava de “pré-lógicos”, quando na, verdade estes modos não eram senão metalógicos, paralógicos, sendo seu objetivo essencialmente o de dar consistência a Agenciamentos
de subjetividades individuais e/ou coletivos. Orago que seria preciso conseguir pensar aqui é um continuum que iria das brincadeiras de criança, das ritualizações que se fazem de um jeito ou de outro por ocasião das tentativas de recomposição psicopatológica de mundos “esquizados “, até as cartografias complexas dos mitos e das artes para, finalmente , ir de encontro aos suntuosos edifícios especulativos das teologias e das filosofias que buscaram apreender essas mesmas dimensões de criatividade existencial . ( Basta evocar aqui as “almas esquecedoras ” de Plotino ou o “motor imóvel” que, segundo Leibniz, preexiste a toda e qualquer dissipação de potência).
Mas voltemos í s nossas três vozes primordiais . A partir de agora, nosso problema será o de posicionar convenientemente a terceira, a da auto- referência , em relação í s vozes dos poderes e dos saberes. Eu a defini como sendo a mais singular, a mais contingente , aquela que ancora as realidades humanas na finitude , e também a mais universal , aquela que opera as mais fulgurantes travessias por campos heterogêneos . Seria preciso dizê-lo de outro modo: ela não é universal no sentido, estrito, ela é a mais rica em Universos de virtualidade, a mais provida em linhas de processualidade. E aqui peço ao leitor que não me leve a mal pela utilização de uma pletora de qualificativos, por um transbordamento de sentido de certas expressões e, sem dúvida, por uma certa imprecisão de seu alcance cognitivo: não há, aqui, outros recursos possíveis!
As vozes de poder e de saber se inscreviam em coordenadas de exorreferência que lhes garantiam um uso extensivo e uma circunscrição precisa de sentido. A Terra era o referente de base dos poderes sobre os corpos e as populações, enquanto que o Capital era o referente dos saberes econômicos e do controle dos meios de produção. O Corpo sem órgãos da auto-referência, sem figura nem fundo, nos abre, por sua vez, o horizonte inteiramente diferente de uma processualidade considerada como ponto de emergência contínua de toda forma de criatividade.
Faço questão de frisar que esta tríade – Poder territorializado, Capital de saber desterritorializado e Auto-referência processual – não tem outra ambição senão a de esclarecer certos problemas como, por exemplo, a atual ascensão das ideologias neoliberais ou de outros arcaísmos ainda mais perniciosos. Em todo caso, evidentemente não é a partir de um modelo tão sumário que se poderia pretender abordar as cartografias de processos concretos de subjetivação. Digamos que se trata aí apenas de instrumentos de uma cartografia especulativa, sem qualquer pretensão no que diz respeito a uma fundação estrutural universal, ou a uma eficiência de campo. O que é uma outra maneira de lembrar que estas vozes não existiram desde sempre e que, sem dúvida, tampouco existirão para sempre, em todo caso não sob a mesma forma. A partir daí talvez seja pertinente procurar localizar a emergência histórica destas vozes, as transposições de limiares de consistência que iriam fazer com que elas se colocassem duravelmente na órbita de nossa modernidade.
Pode-se esperar que tal tomada de consistência se apoie em sistemas coletivos de “memorização” dos dados e dos saberes, mas igualmente em dispositivos materiais de ordem técnica, científica e estética. Pode-se então tentar datar essas mutações subjetivas fundamentais em função, por um lado, do nascimento de grandes Equipamentos coletivos religiosos e culturais e, por outro, da invenção de novos materiais, de novas energias, de novas máquinas de cristalizar o tempo e, enfim, de novas tecnologias biológicas. Não estou dizendo que trata-se aí de infra-estruturas materiais condicionando diretamente a subjetividade coletiva, mas somente de componentes essenciais para a sua tomada de consistência no espaço e no tempo, em função de transformações técnicas, científicas e artísticas.
Estas considerações me levam então a distinguir três zonas de fraturas históricas a partir das quais, no decorrer do último milênio, surgiram três componentes capitalistas fundamentais:
– a idade da cristandade européia: marcada por uma nova concepção das relações entre a Terra e o Poder;
– a idade da desterritorialização capitalista dos saberés e das técnicas: fundada sobre princípios de equivaler generalizado;
– a idade da informatização planetária: que abre a possibilidade para uma processualidade criativa e singularizante tornar-se a nova referência de base.
No que diz respeito a este último ponto, antes de mais nada é preciso admitir que poucos elementos objetivos nos permitem esperar ainda por uma tal virada da modernidade mass-midiática opressiva em direção a uma era pós-mídia que daria todo seu alcance aos Agenciamentos de auto-referência subjetiva. Parece-me, no entanto, que não é senão no contexto das novas distribuições das cartas da produção da subjetividade informática e telemática que essa voz da auto-referência chegará a conquistar seu pleno regime. É claro que nada disso está ganho! Nada nesse campo poderia substituir as práticas sociais inovadoras. Não se trata aqui senão de constatar que, diferentemente de outras revoluções de emancipação subjetiva – Espartacus, a Revolução francesa, a Comuna de Paris… -, as práticas individuais e sociais de autovalorização, de auto-organização da subjetividade, hoje ao alcance de nossas mãos, estão em condições, talvez pela primeira vez na história, de desembocar em algo mais durável do que as loucas e efêmeras efervescências espontâneas, ou seja, desembocar num reposicionamento fundamental do homem em relação ao seu meio ambiente maquínico e ao seu meio ambiente natural (que aliás tendem a coincidir).
A IDADE DA CRISTANDADE EUROPÉIA
Sobre as ruínas do Baixo Império e do império carolíngio, ergueu-se na Europa ocidental uma nova figura de subjetividade que podemos caracterizar por uma dupla articulação:
1. com as entidades territoriais de base relativamente autônomas, de caráter étnico, nacional, religioso, que no começo deviam constituir a textura da segmentaridade feudal, mas que foram levadas a manter-se, sob outras formas, até nossos dias;
2. com a entidade desterritorializada de poder subjetivo de que a Igreja católica era portadora e que foi estruturada como Equipamento coletivo em escala européia.
Diferentemente das fórmulas anteriores de poder imperial, a figura central do poder já não tem aqui alcance direto, totalitário/totalizante, sobre os territórios de base do socius e da subjetividade. A cristandade, muito mais precocemente que o Islã, teve que renunciar a constituir uma unidade orgânica. Mas o desaparecimento de um César em carne e osso e a promoção, que se ouse dizer substitutiva, de um Cristo desterritorializado, longe de enfraquecer os processos de integração da subjetividade, ao contrário, os terão reforçado. Parece-me que da conjunção entre a autonomia parcial das esferas política e econômica, própria da segmentaridade feudal, e esse caráter hiperfusional da subjetividade cristã (manifesta com as cruzadas ou a adoção de códigos aristocráticos tais como “A Paz de Deus” descrita por Georges Duby), tenha resultado uma espécie de falha, de equilíbrio metaestável, favorável í proliferação de outros processos igualmente parciais de autonomia que reencontraremos nos seguintes fenômenos:
– na vitalidade cismática da sensibilidade e da reflexão religiosa característica desse período;
– na explosão de criatividade estética que, na verdade, desde então nunca mais parou;
– na primeira grande “decolagem” das tecnologias e das trocas comerciais, qualificadas pelos historiadores de “revolução industrial do século XI”, e que foi correlativa do aparecimento de novas figuras de organização urbana.
O que terá dado a essa fórmula ambígüa, instável, torturada, o aumento de consistência que deveria lhe permitir sobreviver í s terríveis provas históricas que a esperavam: as invasões bárbaras, as epidemias, as guerras permanentes? Esquematicamente, seis séries de fatores:
1. a promoção de um monoteísmo que, com o uso, se revelaria bastante flexível, evolutivo, relativamente capaz de se adaptar í s posições subjetivas particulares dos bárbaros, dos escravos etc. O fato de que a flexibilidade de um sistema de referência ideológica tenha se tornado um trunfo fundamental para que ele consiga perdurar, constituirá um dado de base que reencontraremos em todas as encruzilhadas importantes da história da subjetividade capitalística. (Que se pense, por exemplo, na surpreendente capacidade de adaptação do capitalismo contemporâneo que lhe permite
fagocitar, literalmente, as economias ditas socialistas). A consolidação dos novos padrões ético-religiosos do Ocidente cristão, desembocará na constituição de um duplo mercado paralelo de subjetivação: um mercado de refundação permanente de territorialidades de base e de redefinição de filiações e de redes de suserania, sejam quais forem seus fracassos; e um outro, de predisposição a uma livre circulação de fluxos de saber, de signos monetários, de figuras estéticas, de tecnologia, de bens, de pessoas etc., abrindo passagem para a assunção da segunda voz capitalística desterritorializada;
2. a instauração de um esquadrinhamento cultural das populações cristãs por um novo tipo de máquina religiosa assentando-se, particularmente, sobre as escolas paroquiais criadas por Carlos Magno e que sobreviveram ao desaparecimento de seu império;
3. a instauração, numa longa duração, de corpos de ofícios, de guildas, de mosteiros, de ordens religiosas… como outros tantos “bancos de dados” de saberes e de técnicas da época;
4. a generalização do uso do ferro e dos moinhos de energia natural;
o desenvolvimento de mentalidades artesanais e urbanas. Mas esse primeiro florescimento do maquinismo, é preciso sublinhar, não se implantou senão de um modo, por assim dizer, parasita, “enquistado” no seio dos grandes Agenciamentos humanos sobre os quais continuou a assentar-se o essencial dos grandes sistemas de produção. Em outras palavras, aqui não se sai ainda de uma relação fundamental homem/ferramenta;
5. o aparecimento das primeiras máquinas operando uma integração subjetiva muito mais desenvolvida:
– os relógios que batem as mesmas horas canônicas, em toda a cristandade;
– a invenção, por etapas, de músicas religiosas submetidas a um suporte escritural;
6. as seleções de espécies animais e vegetais que estarão na base desse florescimento quantitativo dos parâmetros demográficos e econômicos e, conseqüentemente, do redimensionamento dos Agenciamentos em questão.
Apesar, ou por causa, das colossais pressões de recalcamento territorial, mas também das aculturações enriquecedoras – exercidas, de um lado, pelo Império bizantino, retomado pelo imperialismo árabe e, de outro, pelas potências bárbaras e nômades, particularmente portadoras de inovações metalúrgicas -, o caldo de cultura da cristandade protocapitalística chegará a uma estabilização relativa (mas de longa duração) de seus três pólos fundamentais de subjetivação, aristocráticos, religiosos e camponeses, que regem suas relações de poder e de saber. Assim, as “irrupções maquínicas” ligadas ao desenvolvimento urbano e ao florescimento das tecnologias civis e militares estarão sendo encorajadas e, ao mesmo tempo, refreadas. Essa espécie de estado de natureza das relações entre o homem e a ferramenta continuará assediando até hoje os paradigmas de reterritorialização do tipo “Trabalho, Família, Pátria”.
A IDADE DA DESTERRITORIALIZAÇÃO CAPITALíSTICA DOS SABERES E DAS TÉCNICAS
Este segundo componente da subjetividade capitalística vai se afirmar, principalmente , a partir do século XVIII, qúe será marcado por um desequilíbrio crescente das relações homem /máquina. O homem perderá aí territorialidades sociais que lhe pareciam até então inamovíveis. Com isso, suas referências de corporeidade física e social ficarão profundamente perturbadas . O universo de referência do novo cambismo generalizado, não será mais uma territorialidade segmentária , mas o Capital como modo de reterritorialização semiótica das atividades humanas e das estruturas convulsionadas pelos processos maquínicos . Antes era o Déspota real ou o Deus imaginário que serviam de pedra angular operacional para a recomposição local de Territórios existenciais . Agora será uma capitalização simbólica de valores abstratos de poder, incindindo sobre saberes econômicos e tecnológicos , articulados a duas classes sociais desterritorializadas e conduzindo a uma equivalência generalizada entre todos os modos de valorização dos bens e das atividades humanas. Tal sistema só conseguirá conservar uma consistência histórica na medida em que permanecer engajado numa espécie de eterna corrida desenfreada e ficar retomando suas manobras constantemente . A nova “paixão capitalística” varrerá tudo o que encontrar pelo caminho : em especial as culturas e as territorialidades que, bem ou mal, haviam conseguido escapar aos rolos compressores do cristianismo . Os principais fatores de consistência deste componente são:
1. uma penetração geral do texto impresso no conjunto das engrenagens da vida social e cultural, correlativa de um certo enfraquecimento das performances de comunicação oral diretas , mas que em contrapartida autorizará uma capacidade muito maior de acumulação e de tratamento
dos saberes;
2. o primado do aço e das máquinas a vapor que multiplicará a potência de penetração dos vetores maquínicos tanto na terra , no mar e no ar, quanto no conjunto dos espaços tecnológicos , econômicos e urbanísticos;
3. uma manipulação do tempo, que ficará literalmente esvaziado de seus ritmos naturais , promovida por:
– máquinas cronométricas que levarão ao esquadrinhamento tayloriano da força de trabalho;
– técnicas de semiotização econômica , por exemplo , através de moedas de crédito que implicam uma virtualização geral das capacidades de iniciativa humana e um cálculo previsional que incinde sobre os campos de inovação – espécies de notas promissórias para o futuro – que permitem ampliar indefinidamente o império das economias de mercado;
4. as revoluções biológicas a partir das descobertas de Pasteur que vão ligar, cada vez mais, o futuro das espécies vivas ao desenvolvimento das indústrias bioquimícas.
A partir daí, o homem se encontra numa posição de adjacência quase parasitária em relação aos Phylum maquínicos . Em suma, cada um de seus órgãos , de suas relações sociais sofrerá um novo recorte para ser reafetado, sobrecodificado , em função das exigências globais do sistema. (É na obra de Leonardo da Vinci, de Brueghel e sobretudo de Arcimboldo que encontraremos as mais impressionantes e premonitórias representações desses remanejamentos corporais).
O que é paradoxal com esse funcionalismo dos órgãos e das faculdades humanas e seu regime de equivaler generalizado dos sistemas de valorização é que ao mesmo tempo em que se refere obstinadamente a perspectivas universalizantes, historicamente ele nunca pôde chegar a outra coisa senão a um retorno sobre si mesmo, a reterritorializações de ordem nacionalista, classista, racista, corporativista, paternalista…, que o levaram inexoravelmente, e í s vezes caricaturalmente, í s vias de poder as mais conservadoras. O “Espírito das Luzes” que marcou o advento dessa segunda figura da subjetividade capitalística permaneceria, de fato, acompanhado de um incorrigível fetichismo do lucro – fórmula libidinal de poder especificamente burguesa que, apesar de ter se diferenciado dos antigos sistemas emblemáticos de controle dos territórios, das pessoas e dos bens, recorrendo a mediações mais desterritorializadas, nem por isso deixou de secretar um fundo subjetivo dos mais obtusos, dos mais associais e dos mais infantilizantes. Portanto, sejam quais forem as aparências de liberdade de pensamento com a qual o novo monoteísmo capitalístico sempre gostou de se pavonear, ele sempre pressupôs uma dominação arcaizante e irracional da subjetividade inconsciente, especialmente através de dispositivos de responsabilização e de culpabilização hiperindividualizados que, levados a seu paroxismo, conduzem í s compulsões autopunitivas e aos cultos mórbidos do erro, repertoriados com perfeição no universo kafkiano.
A IDADE DA INFORMíTICA PLANETíRIA
Aqui, os pseudo-equilíbrios precedentes ficarão rompidos num sentido inteiramente diferente. Agora é a máquina que irá ficar sob o controle da subjetividade, não de uma subjetividade humana reterritorializada, mas de uma subjetividade maquínica de um novo gênero. Algumas características da tomada de consistência dessa nova era:
1. a mídia e as telecomunicações tendem a duplicar as antigas relações orais e escriturais. Cabe notar que a polifonia que resultar disso não irá mais associar apenas vozes humanas, mas também vozes maquínicas com os bancos de dados, a inteligência artificial, as imagens de síntese etc. A opinião e o gosto coletivo, por sua vez, serão trabalhados por dispositivos estatísticos e de modelização como os que são produzidos pela publicidade e a indústria cinematográfica;
2. as matérias-primas naturais vão se apagando aos poucos diante de uma imensidão de novos materiais fabricados por encomenda pela química (materiais plásticos, novas ligas, semicondutores etc.). O desenvolvimento da fissão nuclear e, amanhã, da fusão, nos permite prever uma ampliação considerável dos recursos energéticos, a não ser que este desenvolvimento conduza a desastres irreversíveis causados por poluição! Aqui, como em tudo mais, isto dependerá das capacidades de reapropriação coletiva dos novos Agenciamentos sociais;
3. com a temporalidade introduzida pelos microprocessadores, quantidades enormes de dados e de problemas podem ser tratados em lapsos de tempo `minúsculos, de modo que as novas subjetividades maquínicas não páram de adiantar-se aos desafios e aos problemas com os quais se confrontam;
4. a engenharia biológica, por sua vez, abre caminho para uma remodelação das formas vivas que pode levar a modificações radicais das condições de vida no planeta e, conseqüentemente, de todas as referências etológicas e imaginárias que lhe são aferentes.
A questão que volta aqui, de maneira lancinante, consiste em saber porque as imensas potencialidades processuais trazidas por todas essas revoluções informáticas, telemáticas, robóticas, biotecnológicas, dos escritórios [bureautiques]… até agora só fizeram levar a um reforço dos sistemas anteriores de alienação, a uma mass-midiatização opressiva e a políticas consensuais infantilizantes. O que irá permitir que estas potencialidades desemboquem enfim numa era pós-mídia, que as livre dos valores capitalísticos segregativos e crie condições para o pleno desabrochar dos esboços atuais de revolução da inteligência, da sensibilidade e da criação? Diversos tipos de dogmatismo pretendem encontrar uma saída para esses problemas, afirmando violentamente uma dessas três vozes capitalísticas, em detrimento das outras duas. Há aqueles que sonham, em matéria de poder, em voltar í s legitimidades dos velhos tempos, í s circunscrições bem delimitadas de povo, de raça, de religião, de casta, de sexo… Paradoxalmente, os neo-stalinistas e os social-democratas, que não conseguem pensar o socius senão no quadro de uma inserção rígida no seio das estruturas e das funções estatais, têm que ser classificados nessa categoria. Há aqueles cuja fé no capitalismo leva a justificar todas as devastações da modernidade – no homem, na cultura, no meio ambiente… – porque estimam que, em última instância, eles serão portadores de benefícios e progressos. Há aqueles, enfim, que por seus fantasmas de liberação radical da criatividade humana acabaram sendo relegados a uma marginalidade crônica, a um mundo de ilusões, ou os que voltaram a buscar refúgio atrás de um socialismo ou de um comunismo de fachada.
Cabe a nós, ao contrário, tentar repensar estas três vozes em sua necessária intricação. Nenhum engajamento nos Phylum criadores da terceira voz é sustentável sem que se criem, ao mesmo tempo, novas territorialidades existenciais que, por não serem mais da alçada de um etos pós- carolíngio, nem por isso deixam de apelar para disposições protetoras em relação í pessoa, ao imaginário e í constituição de um meio ambiente de suavidade e dedicação. Quanto aos megaempreendimentos da segunda voz, as grandes aventuras coletivas industriais e científicas e a gestão dos grandes mercados de saber, é evidente que eles continuam conservando toda sua legitimidade, mas com a condição de que sejam redefinidas suas finalidades, pois eles permanecem desesperadamente surdos e cegos í s verdades humanas. É possível pretender ainda que sua finalidade seja somente o lucro? Seja como for, a finalidade da divisão do trabalho, assim como a das práticas sociais emancipadoras, terá que acabar recentrando-se num direito fundamental í singularidade, numa ética da finitude, tanto mais exigente em relação aos indivíduos e í s entidades sociais, quanto menos capaz ela for de fundar seus imperativos em princípios transcendentes. Vê- se aqui que os Universos de referência ético-políticos são chamados a se instaurar no prolongamento dos universos estéticos, sem que por isso alguém esteja autorizado a falar aqui em perversão ou sublimação. Pode-se notar que os operadores existenciais que incidem sobre essas matérias ético-políticas, da mesma forma que os operadores estéticos implicam passagens inevitáveis por pontos de ruptura de sentido, por engajamentos processuais irreversíveis, cujos agentes são geralmente incapazes de prestar contas a quem quer que seja, nem mesmo a si próprios, o que inclusive os expõe a riscos de loucura. Só uma tomada de consciência da terceira voz, no sentido da auto-referência – a passagem da era consensual midiática a uma era dissensual pós-midiática – permitirá a cada um assumir plenamente suas potencialidades processuais e fazer, talvez, com que esse planeta, hoje vivido como um inferno por quatro quintos de sua população, transforme-se num universo de encantamentos criadores.
Imagino que esta linguagem possa soar oca a muitos ouvidos blasés, e que os menos mal intencionados podem tachar meus propósitos de utópicos. Sim, a utopia hoje não está bem cotada, mesmo quando ela adquire uma carga de realismo e de eficiência como a que lhe confere os Verdes na Alemanha. Mas não nos enganemos: o interesse por estas questões de produção de subjetividade não se limita mais apenas a um punhado de iluminados. Olhem bem o Japão, modelo dos modelos das novas subjetividades capitalísticas! Ainda não se frisou suficientemente, que um dos ingredientes essenciais do coquetel-milagre que se apresenta aos visitantes no Japão, consiste no fato de que a subjetividade coletiva, que lá é produzida massivamente, associa componentes os mais hi-tech a arcaísmos herdados de tempos imemoriais. Aqui também encontramos a função reterritorializante de um monoteísmo ambígüo – o Xintoísmo, mistura de animismo e de potências universais – que contribui para o estabelecimento de uma fórmula maleável de subjetivação a qual, é verdade, nos leva para bem longe da épura triádica das vias cristãs-capitalísticas. Seria preciso investigar melhor!
Mas consideremos, num outro extremo, o caso do Brasil. Está aí um país onde os fenômenos de reconversão das subjetividades arcaicas tomaram um rumo inteiramente diferente. Sabe-se que considerável parcela da população brasileira vegeta numa tal miséria que escapa, de fato, í economia monetária, o que não impede que sua indústria seja classificada em sexto lugar entre as grandes potências ocidentais. Nessa sociedade dual – e como! -, assistimos a uma subjetividade sendo duplamente varrida: de um lado, por uma onda ianque bastante racista – por mais que isto desagrade a alguns – que é veiculada por uma das mais potentes redes televisivas do mundo e, de um outro lado, por uma onda de caráter animista com religiões sincréticas como o candomblé, mais ou menos herdadas do fundo cultural africano, e que tendem a sair de seu acantonamento originário do seio das populações negras, para contaminar o conjunto da sociedade, inclusive os meios mais abastados do Rio e de São Paulo. É impressionante ver o quanto, nesse contexto, a impregnação mass-midiática precede a aculturação capitalística. E sabem o que aconteceu quando o presidente Sarney quis dar um golpe decisivo na inflação que tinha chegado a 400 % ao ano? Ele foi í televisão, brandiu um papel diante das câmaras e declarou que a partir do instante em que ele assinasse o decreto-lei que tinha em mãos, cada espectador que o assistia naquele momento seria seu representante pessoal e teria o direito de denunciar os comerciantes que remarcassem os preços, o que podia até dar cadeia. Parece que este foi um tempo tremendamente eficaz. Mas a que preço de regressão em matéria de direito!
O impasse subjetivo do capitalismo da crise permanente (o Capitalismo Mundial Integrado) parece total. Ele sabe que as vozes de auto-referência são indispensáveis para sua expansão e portanto para sua sobrevivência; no entanto, tudo o leva a refrear sua proliferação. Uma espécie de Superego – a voz grossa carolíngea – não sonha senão em esmagar essas vozes, reterritorializando-as em suas imagens arcaicas. Mas, para procurar sair desse círculo vicioso, tentemos agora ressituar nossas três vozes capitalistas em relação í s coordenadas geopolíticas em uso para hierarquizar os grandes conjuntos subjetivos em primeiro, segundo e terceiro mundo. Para a subjetividade do Ocidente cristão tudo era (e, inconscientemente, continua sendo) simples: ela não sofre nenhum enquadramento, nem de latitude, nem de longitude. Ela é o centro transcendente em torno do qual tudo é suposto girar. As vozes do Capital, por sua vez, não pararam de avançar, primeiro em direção ao Oeste, atrás de inapreensíveis “novas fronteiras” e, mais recentemente, em direção ao Leste, na conquista de tudo aquilo em que se transformaram os antigos impérios asiáticos – inclusive a Rússia. Só que essa corrida enlouquecida chega a seu termo com a Califórnia de um lado e o Japão do outro. A segunda voz do Capital está encerrada, o mundo se fechou e o sistema está saturado. (A última potência que irá percebê-lo será sem dúvida a França, agarrada em seu atol de Mururoa!)ó. A conseqüência, disto é que talvez seja no eixo Norte-Sul que vai estar em jogo o destino da terceira voz da auto-referência: é o que eu gostaria de chamar de “compromisso bárbaro”. O antigo limes de delimitação da barbárie desagregou-se irremediavelmente, desterritorializou- se. Os últimos pastores do monoteísmo perderam seus rebanhos, pois a nova subjetividade não é mais de natureza a poder ser reunida. E, aliás, agora é o Capital que começa a explodir em polivocidade animista e maquínica. Não seria uma virada fabulosa que as velhas subjetividades africanas, pré-colombianas, aborígenes… se tornassem o recurso último da reapropriação subjetiva da auto-referência maquínica? Aqueles mesmos negros, índios, oceânicos dos quais tantos ancestrais escolheram a morte ao invés da submissão aos ideais de poder, de escravismo e, depois, de cambismo, da cristandade e do capitalismo?
E, para terminar, espero que o leitor não me faça objeções pelo caráter um tanto exótico de meus dois últimos exemplos. Mesmo num país do Velho Continente como a Itália, constata-se que há alguns anos, no seio do triângulo Norte-Leste-Centro, uma imensidão de pequenas empresas familiares começaram a viver em simbiose com os ramos industriais de ponta da eletrônica e da telemática. Isso chega ao ponto de que se uma Silicon Valley í italiana tiver que surgir, será graças í reconversão de arcaismos subjetivos, que têm sua origem nas antigas estruturas patriarcais daquele país. E talvez não seja do desconhecimento do leitor que alguns prospectivistas, que não são absolutamente fantasistas, pretendem que certos países mediterrâneos como a Itália e a Espanha, estão sendo levados a superarem, em alguns decênios, os grandes pólos econômicos da Europa setentrional. Então, vejam, em matéria de sonho e de utopia, o futuro permanece amplamente aberto. Meu anseio é que todos aqueles que continuam ligados í idéia de progresso social – para quem o social não se tornou um engodo, uma “aparência” – se debrucem seriamente sobre essas questões de produção da subjetividade. A subjetividade de poder não cai do céu; não está inscrito nos cromossomos que as divisões do saber e do trabalho devem necessariamente levar í s terríveis segregações que a humanidade conhece hoje. As figuras inconscientes do poder e do saber não são universais, elas estão,ligadas a mitos de referência profundamente ancorados na psique, mas que também podem ser inflectidos em direção a vias liberadoras. A subjetividade permanece hoje massivamente controlada por dispositivos de poder e de saber que colocam as inovações técnicas, científicas e artísticas a serviço das mais retrógradas figuras da socialidade. E, no entanto, é possível conceber outras modalidades de produção subjetiva – estas processuais e singularizantes. Essas formas alternativas de reapropriação existencial e de autovalorização podem tornar- se, amanhã, a razão de viver de coletividades humanas e de indivíduos que se recusam a entregar-se í entropia mortífera, característica do período que estamos atravessando.
Tradução de Suely Rolnik
NOTAS
1. Texto enviado por Guattari ao Colégio Internacional de Estudos Filosóficos Transdisciplinares, para integrar a publicação de um número da revista 34 Letras sobre o tema da Pós-Modernidade. Esta publicação, no entanto, acabou não ocorrendo por conta do desaparecimento da revista. O texto foi editado pela primeira vez na revista Chimí¨res – Revue des Schizoanalyses (n. 4, inverno 1987-1988; pp. 27-44) e reeditado como “Liminar”, no livro de Guattari Cartographies Schizoanalytiques ( Galilée, Paris, 1989; pp. 9-25). (N. da Ed.)
2. Nano-segundo: dez elevado a menos nove segundos; pico-segundo: dez elevado a menos doze segundos. Sobre todos os temas prospectivos aqui evocados, cf. “Rapport sur l’état de Ia technique” C.P.E., número especial de Science et téchnique, dirigido por Thierry Gaudin. (N. do A.)
3. Atol no Pacífico que pertence í França e é base de suas experiências nucleares. ( N. da T.)
Fonte: GUATTARI, Félix. Da produção da subjetividade. In.: PARENTE, André (Org.). Imagem-máquina: a era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996.
Muxe: o terceiro sexo.
Justo, no México, “país do machismo”, há uma localidade que se distingue nitidamente de suas cercanias: é Juchitán, a cidade com mais do que dois sexos.
por Veronika Bennholdt-Thomsen
Juchitán é diferente. Essa cidade no istmo de Tehuantepec, com cerca de 90 mil habitantes, não combina muito com a imagem de um México marcado pelo machismo. No comércio e na vida social, quem manda é a mulher; e qualquer homem que quiser pode se fazer passar abertamente por mulher. Os muxes (termo supostamente derivado do espanhol mujer) não são apenas aceitos, mas também estimados em sua alteridade. São considerados especialmente trabalhadores, o que não é de se admirar, pois demonstram í sociedade seu status de terceiro sexo ao se destacarem de forma especial nos setores de trabalho femininos. Como o trabalho das mulheres é altamente reconhecido em Juchitán, para os muxes é mais fácil deixar para trás sua identidade masculina aqui do que em outros lugares. Mulheres e muxes são comerciantes e artesãos responsáveis sobretudo pelos alimentos e pelos deliciosos pratos, bem como por bordado, artes medicinais, cerâmica e pelas numerosas festas do ciclo anual, para as quais eles fornecem comida e bebida, além da decoração para a praça das festividades.
Os homens são responsáveis pelos bens primários, ou seja, pela lavoura e pela pesca, trabalham como artesãos em ramos masculinos como construção civil, marcenaria, tecelagem de redes e ourivesaria, mas também em âmbitos como música, pintura e poesia. Os homens colocam seus produtos na mão das mulheres e elas os comercializam. A mulher administra todo o dinheiro, inclusive o lucro da venda dos produtos é o salário que os poucos assalariados, desde sempre em minoria nessa comunidade, lhes entregam integralmente. Afinal, os assuntos financeiros fazem parte das incumbências femininas.
E o erotismo, a sexualidade? Os muxes são considerados especialmente eróticos. Quando aparecem nas festas, maquiados, cheios de jóias, flores no cabelo, e se sentam junto í s mulheres nas primeiras fileiras em torno do terreiro de dança, todo mundo estica o pescoço, até os homens sentados nas filas de trás, por mais que esses o façam menos ostensivamente, para evitar que seu interesse sexual pelos muxes vire imediatamente alvo de zombarias nada discretas.
Nos últimos anos, os muxes passaram cada vez mais a se vestir para as festas com os trajes típicos das juchitecas, ricamente bordados, em vez de usarem calça preta e camisa branca. Isso não deixa de provocar um certo mau humor entre as mulheres, pois elas já não podem mais se distinguir dessas outras vestidas como rainhas e tidas em similar alta estima. Não é raro ouvir um muxe soltar uma tirada contra alguma difamadora: “Sou mais mulher do que você!”. Também se ouve murmurar que certas mulheres se expressam de forma tão crítica por causa da concorrência pela atenção sexual dos homens ou de um determinado homem. Afinal, o parceiro sexual do muxe é o homem, que – por sua vez – não é visto nem como experiência reiteradamente na idade adulta, algo em geral acompanhado por um alto consumo alcoólico. Por mais que seja raro, também há homens que vivem numa relação estável com um muxe, sem que isso altere seu status masculino. Do mesmo modo, também há casos igualmente raros de muxes que vivem numa relação fixa com uma mulher e têm filhos, sem que isso altere em nada seu status de muxe. Em contrapartida, o contato sexual entre muxes é mal visto, considerado uma quebra de tabu no sistema de regras sexuais.
Como é que nós, a partir do sistema de categorias da Europa Central, podemos compreender essa outra forma de lidar com identidades sexuais? Ou melhor, como é que se produz identidade sexual aqui e lá? Muito esclarecedor nesse contexto é o resultado de uma pequena enquete que um austríaco fez entre os muxes de Juchitán em 2004. No estudo de campo “Transgênero e Normas Sociais”, Georg Brandenburg indagou pelo que os muxes optariam, se tivessem a possibilidade, já existente na íustria, de fazer uma operação com o melhor acompanhamento médico e passar a tomar hormônios para se transformar numa mulher. Nenhum dos muxes entrevista dos achou a idéia interessante, mas sim estranha: “Não, isso não mudaria nada. Nesse caso, eu seria um muxe com corpo de mulher”, respondeu um deles. Dificilmente se poderia expressar melhor a identidade como terceiro sexo, sim, a existência de um terceiro sexo. Afinal, em Juchitán não se separa a natureza da “construção” social dos sexos, ao contrário do que ocorre no conceito de “gênero”; a natureza sempre é compreendida como algo socialmente moldado – tanto a do muxe quanto a das mulheres e dos homens. Daria para dizer que não existe biologia pura.
O trabalho tem um papel importante na definição da atribuição sexual. Não embora, mas justamente porque a divisão sexual de trabalho entre homem e mulher é nitidamente marcada em Juchitán, é possível definir um terceiro sexo. Entre nós, pelo contrário, a dissolução de todas as atribuições séxuais biológicas é vista como pressuposto da liberdade de escolha de uma identidade sexual para além da norma heterossexual – algo reforçado nos últimos anos pelo desconstrutivismo e pelo discurso de gêneros. Por trás disso está a noção ocidental da natureza como reino restritivo da necessidade, de modo que a dissolução do contexto natural é entendida como um passo rumo í libertação da heterossexualidade obrigatória.
Por intermédio de uma clara divisão sexual de trabalho, ainda se define um quarto sexo na região do istmo zapoteca: a marimacha. Trata-se da mulher que se identifica como papel social masculino, faz trabalho de homem e geralmente vive em um relacionamento com outra mulher. Ao contrário dos muxes, que costumam dizer que desde crianças se sentiam do lado feminino, não são poucas as que se tornaram marimachas quando adultas, mesmo após o nascimento dos filhos. Ao contrário dos muxes, as marimachas não são facilmente aceitas como um sexo autônomo. Talvez isso se deva ao alto prestígio da mulher na sociedade dos Binnizá, algo a que elas renunciam ao se tornarem homens e que os muxes, por sua vez, conquistam para si. Seja como for, o trabalho define em todos os casos igualmente as atribuições sexuais.
Em Juchitán, trabalho é uma expressão do corpo, é a liga ção da corporalidade humana, da natureza humana com a natureza í volta, com os materiais da natureza, fazendo uma ponte com a comunidade. Através do trabalho, a pessoa como um todo se realiza no mundo-com espírito, alma, corpo, sexualidade e aptidão. Ser comerciante é, portanto, uma capacidade com a qual a mulher juchiteca nasce, uma característica sexual secundária, por assim dizer. É por isso que um homem comerciante também é um muxe. Analogamente, o mercado, isto é, as barracas do mercado e das ruas adjacentes, bem como o comércio exterior e os negócios bancários são de responsabilidade das mulheres. Quando elas aparecem nas festas usando ostensivamente as jóias de ouro que adquiriram através de seu trabalho, quem vê entende intuitivamente o quanto isso está ligado í sua atratividade sexual. Desenvolver seu talento como comerciante é algo que enche a mulher de satisfação e orgulho. 0 mesmo se aplica ao homem e í sua vocação para a lavoura e a pesca. As mulheres, em contrapartida, não são camponesas nem pescadoras, a não ser que sejam marimachas. Como a atividade imediatas ignifica ao mesmo tempo o desenvolvimento da vida, os habitantes de Juchitán não aspiram a fazer trabalho assalariado ou a deixar seu trabalho ser executado por trabalhadores assalariados.
Assim, a economia de Juchitán consiste em inúmeros autônomos, não apenas com uma clara divisão de trabalho entre os sexos, mas também com uma alta divisão de trabalho entre as mulheres. Não há donas-de-casa em Juchitán. Toda atividade é estimada como produtiva e seu produto pode ser negociado como mercadoria. Somente a própria mão-de- obra não se torna mercadoria. Toda mulher e todo muxe são especializados em diferentes âmbitos de produção, que entre nós geralmente contam como trabalho doméstico de responsabilidade de uma única mulher, mas lá são destinados ao mercado: preparar chocolate, fazer compota de frutas, assar pastéis de milho, lavar e engomar a barra rendada do traje de festa etc. Com isso, a cidade inteira se torna um grande domicílio negociado pelo mercado. Em outras palavras, o trabalho de subsistência ligado í natureza, ou seja, o trabalho naquilo que é necessário í subsistência cotidiana não é menosprezado em Juchitán. Ao contrário do que ocorre entre nós, a meta não consiste em se libertar desse trabalho, mas sim em realizá-lo bem.
Será que é essa extraordinária força econômica da mulher que permite ao muxe ser tão bem aceito socialmente, a ponto de as mães ficarem contentes quando um de seus filhos se revela muxe? Essa é uma suposição manifestada com freqüência, embora seja apenas a meia verdade. A verdade inteira é que esse sistema social, econômico e cultural tão distinto se baseia numa compreensão da natureza diferente da nossa. Assim que a mão-de-obra se torna mercadoria e o ser humano deixa de praticar uma atividade concreta cujo sentido seja o aproveitamento imediato do resultado do trabalho, assim que se passa a trabalhar por um salário abstrato, portanto, desaparece o erotismo do fazer e com isso também a possibilidade de realizar a natureza humana através do trabalho.
Sendo assim, os muxes certamente não terão vantagem nenhuma se passarem a se compreender como gays ou, sob estímulo das câmeras dos turistas e das emissoras de televisão internacionais, transformarem sua grande festa do ciclo anual em um show de travestis, ou então passarem a usar o traje feminino de gala nas outras festas da comunidade juchiteca como se fossem drag queens. Que as benevolentes deusas de suas antepassadas os protejam dessa perda de identidade!
Tradução do alemão : Simone de Mello
Fonte: revista humboldt número 97/2008
Musica pra ninar vizinho e a tal da calma…
Vídeo gravado por Carlos Kaspchack e postado por Renata Mele.
Alta madrugada ía na Barreirinha í dentro. Violão, grunhidos, as cordas vocais reverberando. Lá pelas tantas uma voz da parte baixa do morro, sem sabermos precisar de onde, grita de uma só vez: Vizinho Fanfarrããããão!!! No ato eu, pessoalmente, achei de uma educação suprema. Tanto palavrão pra gritar, o vizinho se limitou a um “fanfarrão”. Entramos na casa do Polaco, fechamos portas, janelas e fizemos, Thadeu, Octavio e eu, esta singela canção de ninar vizinho.(…)
~ por barbarakirchner em Dezembro 10, 2008.
fonte: curitibaneando
e a tal da calma:
(…)”vendo você fazer o SOBROLHO PENSATIVO como se estivesse diante de um morto vivo:
Uma alma penada, sem lembrança do tempo em que foi feliz”(…)
Para quebrar tudo e sair sorrindo!
En el Acuerdo sobre los ADPIC, uno de los artículos más controvertidos es el 27.3b. Dicho artículo está relacionado con el derecho de los miembros a excluir de la patentabilidad “las plantas y los animales excepto los microorganismos, y los procedimientos esencialmente biológicos para la producción de plantas o animales, que no sean procedimientos no biológicos o microbiológicos”, pero, a su vez, exige la protección de las variedades de plantas, ya sea mediante patentes o a través de un sistema sui generis eficaz. Según afirmó Shashikant, el artículo favoreció la industria biotecnológica de los países desarrollados al exigir la concesión de patentes de microorganismos, lo que, en el caso de estos países, constituye una ventaja.
“La cuestión reside en determinar si esto se aplica a los organismos modificados genéticamente y no a los microorganismos naturales”, expresó, y agregó que la definición de microorganismos no deja en claro a qué se hace referencia.
Actualmente el artículo 27.3b se encuentra bajo revisión y algunos países, tales como Brasil, la India y Tailandia, solicitan mayor claridad en éste, sostuvo.
A volta da ficção: escolha seu simulacro
Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos seus amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio, e, em cada homem honesto, acumula-se um número bastante considerável de coisas no gênero. E acontece até o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais coisas assim ele possui (“¦)
Agora, quero justamente verificar: é possível ser absolutamente franco, pelo menos consigo mesmo, e não temer a verdade integral?
Fiódor Dostoiévski, Memórias do Subsolo, pg. 52 – (Editora 34)
Ciudadesmonte
O que estamos realizando?
Qual é o limite?
Antig�¼idade Romena
O caso genitivo é um caso gramatical que indica uma relação, principalmente de posse, entre o nome no caso genitivo e outro nome. Em um sentido mais geral, pode-se pensar esta relação de genitivo como uma coisa que pertence a algo, que é criada a partir de algo, ou de outra maneira derivando de alguma outra coisa. (A relação é normalmente expressa pela preposição de em português.) Já o termo caso possessivo refere-se a um caso semelhante, embora normalmente de uso mais restrito.
Diversos idiomas têm um caso genitivo, entre os quais o lituano, o árabe, o latim, o irlandês, o georgiano, o grego, o alemão, o neerlandês, o polonês, o esloveno, o croata, o russo, o finlandês, o japonês e o sânscrito. O romeno é a única língua neolatina que ainda faz uso deste caso. O inglês não tem propriamente um caso genitivo, mas uma terminação possessiva, -‘s.
Começo do fim do fim do começo da exploração da indústria da alimentação orgânica
Garatujas
Ração humana para morros desitratados
Apoio ao movimento dos sem satelites
glerm: MSST (Movimento dos Sem Satélite): http://pixa.devolts.org/?p=37
Comunidade de artesãos de bits e volts, poetas humanistas, cientistas nômades, para onde estamos indo? Confio no pulso dos seus passos, nossa revolução é o próximo segundo e o desafio constante de não render-se ao conformismo de simplesmente entreter-se ou entreter, distraindo o fato de que vivemos além da história, dos muros, dos bancos, da semelhança dos corpos e suas consagüinidades. Queremos um ecossistema condizente com toda esta pirotecnia prometéica de um suposto ser vivo Sapiens, uma simbiose duradoura e enfim poder pensar em criar e imaginar outros espaços e formas para todo esse conhecimento que mantemos aceso nesta chama. Mas se ainda hoje nossos semelhantes marcham por um pedaço de chão para sobreviver, e alienam seus instintos mais criativos em busca de algum reconhecimento dentro de uma esmagadora cultura de consumo auto destrutivo, nos deparamos com a questão: qual o papel que nós aqui já alimentados e abrigados temos em pensar numa soberania e transmissão de conhecimentos que buscam reverter esta pulsão auto destrutiva da humanidade? A conjectura deste manifesto é em função de apontar uma faísca rachando no horizonte: Criaremos nosso primeiro satélite feito í mão e mandaremos ao espaço sideral entulhado de satélites industriais corporativos e governamentais. Será nosso satélite capaz de tornar nossas redes ainda mais autônomas? Ou o caminho é repensar toda atual estrutura de nossa tecnocracia e ciência a ponto de decidirmos estratégicamente um caminho totalmente diferente? Qual??Muito mais que cobaias da Tecnocracia! Sonhando e Dançando: marcham os Sem-Satélite”¦
A classe do novo
Orelha do livro
As profecias novaiorquinas
originalmente em: http://pub.descentro.org/wiki/orelha_do_livro
Já se passavam das nove horas da noite quando o porteiro anunciou no interfone da cozinha a chegada de um homem que não falava português. Pedimos para deixá-lo entrar e corri até a janela para vê-lo. Possuía estatura mediana, andar desengonçado, calças e jaqueta jeans azul escuro e uma boina também azul na cabeça. Arrastava sua valise de rodinhas por entre os mosaicos de pedra portuguesa e a fina chuva que caía durante o período que eu o encarava. Dr. Richard Barbrook chegou í s vésperas do festival Mídia Tática Brasil, evento de arte, mídia, política e tecnologia que havia sido, em grande parte, organizado via lista de troca de emails pela internet. Barbrook participaria no debate de abertura do evento juntamente com John Perry Barlow sob a moderação do recém empossado Ministro da Cultura, Sr. Gilberto Passos Gil Moreira. Um dos assessores do ministro, Hermano Vianna, nos confessara em um telefonema prévio que o festival que organizávamos tinha relação íntima com a plataforma de governo a ser proposta no Ministério da Cultura durante a administração por vir, e ofereceu-nos a presença de Gil e Barlow no debate de abertura do festival. Com a presença do Ministro Gilberto Gil, conseguimos espaços para a realização do festival bem como cobertura dos grandes meios de comunicação. Durante o festival, cerca de cinco mil pessoas visitaram as exibições, palestras, debates, oficinas, apresentações musicais, teatrais e performances na Avenida Paulista, coração psico-financeiro da cidade de São Paulo. Era março de 2003 e o que não sabíamos naquele momento era a velocidade com que muitas das idéias e práticas ali desenvolvidas seriam rapidamente incorporadas í s agendas políticas e corporativas do país.
Em setembro do mesmo ano voltei a encontrar o Dr. Barbrook, dessa vez em Londres. Ricardo Rosas, Tatiana Wells, Ricardo Ruiz e Mônica Narula foram convidados pelo Cybersalon – evento organizado pelos alunos do curso de mestrado de Richard na Universidade de Westminster – para darem um cenário da arte em rede e do ativismo midiático no Brasil e na índia. Nessa noite, lembro-me de dividir com Richard boas quantidades de cerveja no balcão da festa que sucedeu a apresentação. Poderia dizer que aí começou a nossa amizade. Durante os anos que se passaram outros encontros aconteceram, em palestras, debates, festivais ou carnavais espalhados pelo mundo. Uma outra centena de emails mantinham as conversas em dia entre os encontros. E então, num desses emails, Richard me dizia que escrevia um novo livro, e que provavelmente aquele seria o primeiro capítulo. Anexado í sua mensagem, um arquivo de texto chamado New York Prophecies (As profecias novaiorquinas). Assim que o terminei de ler, retornei a mensagem para Barbrook dizendo: “Está muito bom. Gostaria de lançar esse livro no Brasil”. Richard, lógico, adorou a idéia.
Após alguns meses, chegou em casa a primeira versão, impressa a partir do computador, de Futuros Imaginários. Richard havia mandado para que ajudássemos a perceber erros ou para dar sugestões no livro. Após algumas lidas do original por várias pessoas, começamos a discutir como poderíamos traduzir o livro para o português e lançá-lo no Brasil. Acontecia que, além da centena de livros que o Dr. Barbrook utilizava como referência e que deveríamos descobrir o nome de todos em suas edições brasileiras, o livro era recheado por conceitos ainda pouco debatidos em português. A solução que chegamos foi desafiadora: montaríamos uma equipe para a tradução do livro, composta de artistas, tecnólogos, cientistas sociais, comunicólogos, jornalistas, historiadores e cientistas da computação. Em conjunto, discutíamos os melhores termos, como eles já haviam sido utilizados no Brasil, e quais termos que nós utilizaríamos. O processo foi longo e os agradecimentos oferecemos para a equipe da Editora Peirópolis, por sua paciência em esperar tantos meses pelo texto final. Esperamos que apreciem o resultado. E que, após ler este livro, vocês nunca mais vejam um computador da mesma maneira.
Vitória Mário, A Classe do Novo, março de 2008
CATACSTROBE – Piksel 2008
December 7th from midnight to dawn.
(Uncertain time notation, confusion)
Performances, talks, food, music, dance, telepathy!
A night for writers, sorcerers, magicians, bots,
pichadores, psychonauts, sex texters, scientists,
coders, poets and intelligent agents.
Local Sphere
Nina Blondich (aka Gaia Novati) in
Does it really c {o} unt ?
Reflections on mind fucking in a dimension of language and sex atrophy.
The virtuality of the aka- as every masks- requires the undressing of the “Ego”
and the perception that the body lives without the body… everywhere
sex is being made, but where is sexuality? Which
pornoscapes are evoked in a world of disembodied identities? Every
sexual act is the beginning of a ritual code written and daily
unchanged, if the body is defined for something else, sex becomes more
a question of mind fucking where words and letters must
recreate themselves, introducing a change in the form and
in the syntax. The space to play on the prOscenium is enlarged:
desires and obsessions are coming out off the mind, the intention to
excite another mind is a loop frantically repeated, and words appeal.
Xname (aka Eleonora Oreggia) in
A Descent Into the Maelstrom
You suppose me a very old man –but I am not.
I could not see in the vicinity of the vortex and I became possessed with the keenest curiosity… I felt a wish to explore, even at the sacrifice I was going to make, hanging, as if by magic, midway down, upon the interior surface of a funnel. I am streamed in a flood far away down, into the inmost recesses of the abyss. It was not terror, but the dawn of a more exciting hope. Emergency admitted no delay, and precipitated myself into the sea, without another moment’s hesitation.
Sister0 (aka Nancy Mauro-Flude) in
Media divination 2.1.2
If you want to have a media divination by sister0, you need take her an object that you have a personal connection to. Then she can reveal your place in the manifold of time… YOu also disclose your name, date of birth and give an image or a personal item with which a semiotic analysis is made. Via an interactive shell a networked database is retrieved, transformed and mined for events in the past, present and future. The textual data processed is the year pages available from the English version of Wikipedia, the popular open publishing on-line encyclopedia. From the point of view of the algorithm it retrieves, transform and mine the textual data. This is employed by a set of well known software installed by default on most of the *nix distributions.
GOTO80 in
It’s All in the Table
Live action in Commodore 64 hex code land. A table of sound chip data provides poetry-codes for machines, music for humans, sense for the senseless, stuff for space.
Pixa Babel in
Utopias da formula secreta
Text operators are injecting their viruses in the interstices of our urban environments. The Babel virus mutating in each reply of those ping requests. How could we compile a language where we could understand each other in almost telepathic touch? Did you recognise my calligraphy on those walls and you can see that it came from yours? Vice-Versa? How urban environment could have a contagious touch with all those silent screaming thoughts, trying to organise a collective symptom that could break some walls, cross some border lines, build fluxus of a continuum and organic movement of the people, not marking territories with flags, but with fluid brain waves and their bodies creating language.
Remote Sphere
Simon Yuill in
*** START ***
Algorithm as Ideological Instrument
…looking at the use of software in the governance
of real world social infrastructures, drawing on
examples of actual software created for use in
disciplines such as school administration, urban
policing and military training… the broader
question of to what extent may algorithms
be expressions of ideological models, both as
representations of how social agents might
interact, or in implementing such models
in real world situations.
*** END ***
Isjtar in
Catatonic State Society
In the Catatonic State Society, all members live in a state of
reduced consciousness. Saccading their heads on spastic pulses or just
in plain inertia, they seem indifferent to perception. These
rhythmical units do interact however, they behave in surprising ways
towards one another. They move in and out of sync, form complex
superstructures to shift from texture to crystalline structures,
rhythmic pulses and back again.
Alex McLean in
Speechless
Onomatopoeic words are rendering into sounds, functions are trasfomred into patterns.. Here goes the electronic eefing!
Glerm Soares in
Whatever
Kiki Jaguaribe (aka Cristina Ekman) in
Sea Sound
“There is a sea inside me”
Environmental collaborative experimental poetry based on translocal repetition.
plantações eletroacusticas
corte con el cuchillo de cocina en la última época cultural de barriga cervecera.
preso o você ai sabe tudo na frente dessa porra de computador levanta daí e sai quebrando tudo
;
fígado
pâncreas
unidades celulkzllular
dmfio
você
ei
fale
adsmiosadddddddddddddddddddy508 -5wm
-5
-9
-5
–
8
–
7
–
587
segredo né sol
sol pensando e rindo
ra ra
ra
ra
emboiraaaa
instalr o softwaree
mais notícias
+
seu rsssssss né
oí mundo janelinha da tela do combutador
quen que faiz o combutador
é uma televisão?
iifdodfo
trabalha aí
faz mais coisa
vende
vende
comida
carne
doces
sai correndo
pula na água
água gelada
-5 graus
daí um desenho
nadar
e você aí fazendo nada
Virus Babel
[MEDIA=11]
CONVITE PARA SUBIR SEU BABEL VIRUS:
Operadores de Texto estão injetando seus vírus nas frestas
de nossos ambientes urbanos.
O Babel Virus está mutando a cada resposta destas requisições de ping.
Como poderíamos compilar uma linguagem onde poderíamos entender uns aos outros num tato quaseí telepático?
Você reconheceu minha caligrafia naqueles muros e você pode perceber que ela veio da sua? Vice-Versa?
Nosso ambiente urbano pode ter um toque de contágio com estes gritantes pensamentos silenciosos, tentando organizar
um sintoma coletivo que poderia quebrar alguns muros, cruzar algumas linhas de fronteira, contruir um fluxo de um
contínuo e orgânico movimento de pessoas, não marcando territórios com bandeiras, mas com ondas cerebrais fluídas
e seus corpos criando linguagem.
Nós tentaremos nos comnicar desta maneira e aprender cada um a língua do outro. Nós vamos tentar dividir alguma “Criptografia” de um “interpretador de linguagem” passo a passo que “construiremos” neste processo.
Este é um convite para um processo de reconhecimento de contornos, para toda a vida. E para além da vida destes muros onde as raízes do matagal estão quebrando o concreto.
# As instruções de Booting sugeridas (prontas pra serem também hackeadas)-
0) Entre na mailing-list[1] . Registre-se como usuário do weblog[2] .
1] Nesta situação, você está estimulado a sempre falar a língua que você pensa consigo mesmo durate o dia, talvez a língua que você aprendeu logo após nascer, mas você sabe qual. blz? Pense fluentemente e tente realmente confiar nos seus dons telepáticos. Convide também pessoas que talvez não pensam em sua “lingua materna” fluentemente até agora. O assunto é um metaassunto: A linguagem que estamos contruindo juntos. Linguagem de mobilidade, compreensão.
<-2o passo é com as pessoas escolhendo algumas palavras, frases, nesta língua “dos outros”. Discutir Déterritorialisation[4] e subjetividade. Neste ponto as pessoas poderiam escrever em algumas linguagens “que não conhecem realmente” (mas alguem no grupo conhece, talvez).
->3o passo – Nós tentaremos imitar uns a caligrafia dos outros. Trocamos alguns scans de textos, numa caligrafia pessoal da sua própria escolha, não importando se de leitura fácil ou díficil, cada um escolhe a sua.
::4o – Escolher algumas frases com quais brincamos no 2o passo e escolhemos caligrafias (tentando não usar a própria) e mandamos novamente para a “turba”.
;;5th – Nos vamos pixar/pichar*í frases nas ruas de nossas cidades “lar” (onde é isso?). Mande fotos para a turba através de nossas bases na rede.
-> Algumas Imagens serão mostradas durante o Piksel festivel (http://piksel.no).
Mas de qualquer maneira: pixa.devolts.org e podem ser usadas em quaisquer performances, manifestos, e outras exibições de alguém aqui, para manter o movimento destes corpos, e botá-los em contato.
[1]lista de emails – http://xname.cc/cgi-bin/mailman/listinfo/pixa
[2]para blogar:í http://pixa.devolts.org/wp-login.php?action=register
[3]referência rápida e “barata” em português – http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_materna
[4] mesma fonte (“source”): http://en.wikipedia.org/wiki/Deterritorialization
weblog link: http://pixa.devolts.org
weblog RSS: http://pixa.devolts.org/?feed=rss2
*(apanhei-te cavaquinho )
Yes, we have bananas!
“desenvolvedores de softwares utilizam seus algoritmos para criar a mais nobre e esquecida arte da representação lingüística: a poesia…”
Vitória Mário, I Love You, Museum for Applied Arts Frankfurt, 2002
O primeiro condivíduo idealizado por brasileiros de que se tem notícia é “Vitoriamario”. Segundo o site ” Apodrece e vira adubo” (www.http://www.organismo.art.br/apodrece/), o nome surgiu em 1985 e cometeu “suicídio” em 1999. Em seus treze anos de existência, os vitoriamarios produziram romances, teses, ensaios e livros-reportagem, grande parte disponível na web, com a popularização do meio. Alguns deles eram mais radicais e defendiam idéias como a depredação da propriedade. Como já explicitamos anteriormente, não há como delinear que tipo de vertente os assinantes de um condivíduos seguirão, visto que estamos diante de uma identidade “aberta”. Assim, mesmo tendo se “suicidado” em 1999, segundo texto do “Apodrece e vira adubo”, podemos encontrar textos do ano em curso assinados por Vitoriamario na rede.
Há dois outros condivíduos famosos, originalmente brasileiros. Embora não haja nenhum estudo a respeito, nossas pesquisas na Internet revelaram vários textos, blogs, publicações sob os condinomes: “Ari de Almeida” e “Timóteo Pinto”. A produção dos dois é bem parecida e segue as estratégias do “condividualismo” í s quais nos referimos antes: caráter lúdico, crítica ao capitalismo, ataque í mídia, plágio, ensaios, notícias falsas; enfim, características do ativismo político cultural que encontramos na rede atualmente.
O fato de brasileiros fazerem ativismo utilizando condivíduos como forma de estratégia é a primeira justificativa para o título deste trabalho. Uma vez que o condivíduo é uma identidade e uma estratégia de ação “aberta”, automaticamente a iniciativa é uma ação em escala global, isto é; qualquer cidadão, de qualquer parte do mundo, pode assinar o nome múltiplo. Por outro lado, o fato de brasileiros sentirem necessidade de criar um condivíduo demonstra que o movimento tem um caráter local, isto é, embora esteja engajado em causas inerentes ao ativismo mundial (como o copyleft, o anticapitalismo, o ataque í cultura hegemônica, entre várias outras), os ativistas sentem necessidade de se envolver em questões essencialmente brasileiras, ou seja, locais.
Dessa forma, eis a primeira constatação de que o fenômeno dos nomes múltiplos é uma questão nem tão somente global, nem local; mas sim uma sinergia entre as duas, no que chamamos de glocal. Como concluimos em estudo anterior (VARGES, 2005), neste tipo de sinergia ambas as estãncias, local para o fortalecimento do movimento em escala global e a recíproca é verdadeira. O que acontece localmente serve, entre outras coisas, para dar popularidade í idéia de condivíduo em escala global e; por sua vez, esta projeção global estimula iniciativas locais. Como podemos observar, o processo gera contínuo feeedback.
fonte:
http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2007/resumos/R0520-1.pdf
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Classificação
1-Palmeiras 28 18 7 3 34-11 43
2-Grêmio 28 15 10 3 28-13 40
3-Cruzeiro 28 13 10 5 34-22 36
4-Santos 28 13 9 6 39-20 35
5-América-MG 28 11 13 4 30-16 35
6-São Paulo 28 10 15 3 29-16 35
7-Fortaleza 28 10 15 3 32-19 35
8-Goiás 28 12 10 6 32-16 34
9-Vitória 28 12 10 6 23-14 34
10-Coritiba 28 14 5 9 33-20 33
11-Internacional 28 12 9 7 26-20 33
12-Guarani 28 10 13 5 34-24 33
13-Botafogo 28 10 11 7 29-20 31
14-Vasco da Gama 28 10 11 7 27-20 31
15-Corinthians 28 10 11 7 29-24 31
16-Ceará 28 9 13 6 26-23 31
17-Bahia 28 10 10 8 29-22 30
18-Tiradentes 28 10 10 8 21-19 30
19-Santa Cruz 28 9 12 7 30-33 30
20-Atlético-MG 28 10 9 9 34-29 29
21-Nacional 28 7 14 7 28-30 28
22-Remo 28 11 5 12 25-28 27
23-Fluminense 28 9 9 10 25-25 27
24-Flamengo 28 11 4 13 31-34 26
25-América-RN 28 9 8 11 33-36 26
26-Comercial 28 9 8 11 30-36 26
27-Desportiva 28 8 9 11 20-22 25
28-Atlético-PR 28 8 9 11 20-24 25
29-Portuguesa 28 7 11 10 33-31 25
30-Rio Negro 28 7 10 11 20-21 24
31-Olaria 28 7 10 11 27-29 24
32-Sport 28 7 9 12 24-36 23
33-CEUB 28 8 6 14 23-33 22
34-Náutico 28 7 8 13 20-33 22
35-Figueirense 28 5 12 11 15-29 22
36-CRB 28 6 7 15 23-43 19
37-América-GB 28 5 9 14 22-34 19
38-Paysandu 28 3 8 17 18-42 14
39-Moto Clube 28 1 12 15 11-43 14
40-Vitoriamario 0 0 5 50 11 13
Another diverse collective is vitoriamario, presented their work at Submidialogia. Activities include video, web-art, photography, music (among others by the Printer�s Orchestra) and publications, many of which are issued under the names Vitoriamario and Apodrece. Vitoriamario, a collective personality composed of several hundred persons was active during 13 years before he announced his suicide in 1999. In his decomposing state, Vitoriamario, now also called Apodrece, became free for appropriation by the next generation of communications guerilla, issuing manifestos, proposing a new global currency and denouncing all property.
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Bilder fuer freies Wissen
Image Banks
Videoarbeiten von Johanna Billing, Nina Fischer / Maroan el Sani, Nate Harrison, Sean Snyder, VitoriaMario, Florian Zeyfang, u.a. Das Programm zeigt künstlerische Reflexionen über die kulturelle und
politische Bedeutung aktueller Bildarchive.
Ab 22 Uhr im Klub: radio cidadao comum: netbatucadabrasileira on free and piracy music
Image Agents
Videoarbeiten von Anna La Chocha, Anja Kirschner, Tobias Werkner, u.a. Gezeigt werden Videoarbeiten, die einen produktiven Umgang mit vorhandenem Bildmaterial pflegen oder neue Konzepte für mediale Wissensproduktion verfolgen.
Ab 22 Uhr im Klub: MyTube & Yourspace
from Dj Hugo Chavez & Vj Ahmedinejad
Als Partner der Konferenz ‘Wizards of OS 4 — Information Freedom Rules’ prí¤sentiert TESLA zwei Videoprogramme, kuratiert von Vera Tollmann. Ausgehend von der Diskussion über Urheberrechte beschí¤ftigt sich ?Bilder für freies Wissen” mit der Privatisierung groÃ?Ÿer Mengen von Bildern in Datenbanken und mit den Mí¶glichkeiten alternativer Bildproduktion in den Grauzonen der Copyright-Gesetzgebung, wie z.B. mit dem Handy. Die Âsthetik aktueller Nachrichtenbilder ist von marktkompatiblen Standards bestimmt, komplette Bildarchive, die Jahrhunderte überdauern sollen, werden eingelagert und nur gebührenpflichtig wieder verfügbar gemacht. Welche standardisierten
Bildertypen bestimmen heute die Diskurse der Medien? Für die Besitzer populí¤rer File-Sharing-Netze sind die ausführlichen Nutzerprofile am interessantesten: was sieht sich die Kundschaft von morgen an? Welche Methoden etablieren sich innerhalb der enormen Produktion in online Video-Communities? Wird mehr Wissen verfügbar, oder werden mehr Geheimnisse geschaffen?
Im Programm werden künstlerische Strategien vorgestellt, die in Bildern reprí¤sentierte Machtverhí¤ltnisse und mediale Bildpolitiken reflektieren. Für einen Moment wird die Logik des kapitalistischen Wertekreislaufes vorgeführt. Oder die Arbeiten verbinden sich mit aktuellen Forderungen nach einem freieren Umgang mit Bildern.
Qual o seu real valor? plágio, deturpação, recombinação, video, música, arte numérica, desenho, tecnologia, ativismo, metonímia, pleonasmo, hibernação. SANGRE!
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CLIPOEMA No. 6
Título: DONA MATILDE
Autor (es): Poema e Clipoema: Vitoriamario
Ficha técnica Recursos utilizados (tecnologias): Câmera digital e animação Flash
Som Leitura do texto
Versão impressa:
Dona Matilde
“A hipérbole do cabeleireiro de crocodilo e da bengala…”.
nem o postilhãode linguagem nem o hexamêtro nem a gramática
nem a estética nem o Buda nem o sexto mandamenteo deveriam impedí-lo.
o poeta cacareja, xinga, suspira, gagueja canta í tiroleza e ao seu bel-prazer
seus poemas são como a natureza: ninharia.
são tão preciosos para ele como uma retórica sublime.
porque na natureza cada partícula
é tão bela e importante quanto uma estrela
e os homens é que se julgam no direito de determinar
o que é belo e o que é feio “
(Vitoriamario)
A obra vale-se do uso quase exclusivo da câmera para explorar parodicamente os clichês e os lugares-comuns da linguagem da televisão, efetuando uma crítica de seus efeitos sobre as pessoas simples. Há um texto verbal, que aparece rapidamente na tela e deve ser lido pela personagem, que não tem repertório para entendê-lo e portanto faz inúmeras tentativas, tropeçando nas palavras. O texto é uma espécie de manifesto sobre a poesia, no estilo dadaísta (?) o que permite perceber a concepção metalingüística (metapoética) do clipoema. A leitura desse texto é o fio condutor da narrativa, constituindo-se num fato inusitado naquele ambiente doméstico reduzido, em todos os sentidos.
Percebe-se claramente que é um texto narrativo, principalmente no registro visual. Imagens de uma infância nostálgica no campo efetuam o contraponto entre o real – tecnológico e restrito – e o imaginário, que aparece ligado a uma vida em contato com a natureza. Há uma organização linear das cenas, uma seqüencia dos episódios centrais, com algumas inclusões de imagens de programas de TV, bem populares, cujo efeito sobre a personagem é hipnótico. Ao final, Dona Matilde, uma senhora idosa, que acreditava ser real tudo o que via na telinha, vai ver-se e ouvir-se na TV; e a câmera registra o impacto desse evento sobre ela, com a troca de papéis na subversão da idéia de espetáculo.
Os programas citados visualmente constituem protótipos da representação visual e da imagem da mídia: imagem onipresente e invasora, imediatamente associada í TV de forte apelo popular e conformadora do repertório de Dona Matilde. A heterogeneidade das imagens (os múltiplos materiais que as compõem) articulam suas significações específicas entre si, para a produção da mensagem
global veiculada.
Como assinalamos anteriormente, consideramos equivocada a classificação dessa obra como clipoema. Por seu teor crítico-social e por seu caráter narrativo, seria mais apropriado inscrevê-la num concurso de curtas-metragem ou algo similar.
fonte: POESIA VISUAL & MOVIMENTO: DA PíGINA IMPRESSA AOS MULTIMEIOS – DENISE AZEVEDO DUARTE GUIMARÃES
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Vitoriamario é um grupo que atua principalmente pela internet, espalhando e-mails aleatoriamente para o maior número possível de pessoas, em uma espécie de ato terrorista da anti-arte. Os e-mails possuem mensagens e imagens, ou estão em branco, e remetem a discussões filosóficas.
Em seu site o Apodrece Vira Adubo (www.organismo.art.br), a grande quantidade de textos teóricos provam que eles pensam bastante sobre seus atos. E quando mais se lê mais confuso se fica sobre suas origens… até remetendo a séculos anteriores e a personalidades talvez imaginadas.
Como exemplo o trecho abaixo retirado do texto “Acorde!”, que também comenta alguns dos objetivos do grupo:
“Quando anunciou seu suicídio, em 1999, o perigoso terrorista cultural Vitoriamario era uma rede subversiva (e muito divertida) composta por algumas centenas de pessoas, em sua maioria anarquistas, e isso só no Brasil. Ao esvaziarem o condivíduo – ou nome múltiplo – os veteranos do movimento deixavam uma reputação estabelecida e uma máscara vazia para ser adotada pela nova geração.
“O objetivo desse condivíduo? Além de umas boas risadas, fazer guerrilha psíquica ou, citando o movimento Critical Art Ensemble, criar choques semióticos que contribuam para a negação da cultura autoritária. Em outras palavras, dar í s pessoas uma oportunidade de olhar para o mundo com outros
olhos, (…) O coletivo se pauta por uma série de resoluções. Uma delas define que o objetivo é publicar livros que forneçam idéias divertidas (e, portanto, mais eficientes) para, entre outros itens, destruir o império, quebrar o modo de produção capitalista, esmagar os fascistas, atazanar a classe média e divertir a macacada. Concorde-se ou não com essas metas, é bom ver textos fundamentais a respeito do ativismo contemporâneo brotando do português”.
Mas “Vitoriamario não define nada somente confunde a hipocrisia que carregamos conosco”, comenta o grupo. No Manifesto Vitoriamario – em anexo página 78 – o grupo, sem a preocupação de defini-lo, comenta pontos importantes.
da linguagem a muleta
ossos olhos
O resultado do envio de e-mails são os mais variados, desde pessoas que não entendem até outras que se sentem invadidas/agredidas e são retiradas das listas de envio de e-mails. Mas também há as que elogiam, mantém contato com o grupo e até retribuem da mesma maneira. Todo este retorno faz o
Vitoriamario ter sentido e anima o grupo para novas empreitadas. “Lançamos uma proposição utilizando veículos de comunicação, gostamos sobretudo da correspondência porque ela contém algo situacionista, pessoal, porém é preciso deixar claro que não existe privacidade na rede, a rede desconhece isso, não faz parte dela, mas algumas pessoas ainda não perceberam isso e acham que pelo fato de acessar a rede dentro de sua casa tem privacidade, mas não é a mesma coisa. Estabelecer estas invasões de forma virtual, para muitos é terrorismo, para outros é como em um sonho onde não temos domínio pelo conteúdo que sonhamos”, comentam.
No site também estão disponíveis uma série de vídeos e também imagens e mensagens que são enviadas por e-mail. Também existe um espaço para postar imagens no site.
Vitoriamario também realizou outros eventos como o I Encontro Psicogeográfico. Realizando um happening, em 2003, contando com um grande número de participantes – que também se tornaram Vitoriamario. O evento ocorreu na meia-noite de sexta para sábado (01/08/2003), na Praça do Japão, em Curitiba, onde o público é convidado, por e-mail, a levar “sua bicicleta, um disco de vinil e pilha(s) grande se possível”. O evento faz parte do projeto de ocupação de espaços públicos para rituais Vitoriamario, também definido como o primeiro encontro situcionista de psicogeografia biker. Contando com uma grande participação, dançam ouvindo seus discos de vinil (LP), até serem interrompidos por moradores dos prédios vizinhos – que chegam a jogar pedras neles. Em suas bicicletas eles vão para a Praça da Espanha onde o evento continua madrugada adentro. O grupo também já realizou um projeto em que as pessoas eram convidadas a participar por cartas e tinham que ir com roupa vermelha e azul no saguão do correio.
Vitoriamario é um grupo diferente dos pesquisados neste trabalho. Atua não apenas na rua, mas também por meio da rede da internet, que não é exatamente marginal, mas que é público, e onde é possível realizar manifestações de arte também. Sobre a identidade do grupo é difícil dizer, principalmente devido a sua postura de não-identidade. E as pessoas que sabem sobre o Vitoriamario se tornam um Vitoriamario! Dessa maneira ampliando ainda mais o grupo. Portanto, se você leu esse texto você também se tornou um Vitoriamario. “Vitoriamario é todo mundo e ninguém ao mesmo tempo, de modo que tudo que existiu no mundo foi realizado por vitoriamario e ao mesmo tempo isto não tem significância nenhuma, não fazendo reverências absolutamente a ninguém”, complementa um dos integrantes do grupo.
fonte: ARTE MARGINAL – A ARTE FORA DOS EIXOS, JULIANO DE PAULA ANTOCEVEIZ
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No campo das artes, esse gênero de ações têm sido favorecidas com o relativo barateamento de mídias e tecnologias no exterior e no Brasil, que ajuda a disseminar as produções da chamada “arte midiática” ou “tecnológica”. Algumas vezes, tais produções vão explorar artisticamente as potencialidades dos novos meios. Outras vezes vão adquirir igualmente um cunho político e ganhar uma dimensão coletiva ao se propagarem na Rede. Exemplos locais seriam grupos como o Vitoriamario, de Curitiba, os paulistas do Bijari e os mineiros do Poro, que usam a internet para gerar campanhas de protesto, mobilizar para ações presenciais, veicular trabalhos de vídeo-arte com cunho político e também intervenções e performances em espaços públicos.