Ataque ao sete de setembro

“Desgraçado e miserável rapaz.” “Rapazinho.” Nas cortes de Lisboa, era assim que o chamavam. Corria o ano de 1822, e os dois Portugal, o de cima e o de baixo, o Portugal europeu e o outro, também chamado Brasil, eram sacudidos por idéias de reforma, agitação, impulsos contraditórios de libertarismo e autoritarismo, descentralização e centralismo. (…) Rapazinho, no sentido próprio, ele era mesmo – um menino de 23 anos, criado meio ao abandono, entre os escravos e as pessoas do povo do Rio de Janeiro.
No dia sete de setembro ele voltava de Santos para São Paulo, alvoroçado por dois motivos. Um era uma disenteria que lhe carcomia as entranhas. Outro era a pressa de encontrar dois emissários que sabia estarem chegando [sic] do Rio de Janeiro com más notí­cias. [Traziam papéis que] davam conta de resoluções das cortes que avançavam no propósito de fazer o Brasil regressar í  condição de colônia.
O que se seguiu, (…) segundo Canto e Melo; o prí­ncipe, depois de um “momento de reflexão”, afirmou: “É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal!” Segundo Belchior, dom Pedro, terminada a leitura dos documentos, perguntou: “E agora, padre Belchior?” O padre respondeu que, se dom Pedro não se fizesse logo rei do Brasil, “seria prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas.” Dom Pedro caminhou alguns passos silenciosamente, prossegue Belchior, (…). De repente parou e disse: “Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de ââ?¬Ë?Rapazinhoââ?¬â?¢ e ââ?¬Ë?Brasileiroââ?¬â?¢. Pois verão agora quanto vale o Rapazinho. De hoje em diante nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal.”
Roberto Pompeu de Toledo (Ataque ao sete de setembro, Veja, 13/09/95)


Na í­ntegra: http://www.doutrina.linear.nom.br/artigos/artigos.htm#ant

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