Poeirinha da Poeira

sisifo
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E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: “Esta vida, assim como tu a vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio.
A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!” –

Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que responderias: “Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!” Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta, diante de tudo e de cada coisa:

“Quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?”

Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

flip-flop.Antevéspera()

uma gota de palavra escorre sem cor,

todos modos de consonância e dissonância só em gestos-

do descompromisso com a culpa por existir refutando a redundancia da existência

dizem da palavra solta “Poesia”, do ruí­do organizado congelamos aquilo em “Música”, do rabisco que equilibrou-se em tuas vertigens – “Beleza”.

um dia atrás do outro organizando frases pra escolher o momento de tirá-las de contexto. ponto e ví­rgula.

as horas passam e fracionamos os nanosegundos já de maneira precisa

a ponto de desdenhar qualquer possibilidade de rima.

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e duma análise funcional uma nova ordem,
de um novo folêgo, um mesmo contorno
pra esse nosso desespero
de fingir que não quer nada e de alienar-se em iludir-nos “não saber o que fazer”.

e fora disso o sono, o luto e num respiro

.O desconfiado sorriso mudo e sem músculos,

fracionando nanosegundos.