Num dado momento da vida, células individuais não mais se separam, depois de terem se dividido. Assim surgiu um super ser que não é mais família de seres, (como algas, primeiras tentativas na direção apontada) mas um novo Eu. Dizem os biólogos que são processos bio-químicos que produzem essa ligação intercelular nova. Mas a nossa imaginação se recusa a imaginar processos “bioquímicos” que resultam, por assim dizer exotermicamente, em novo Eu. Na transição dos protozoários para os metazoários houve, evidentemente, um novo saldo de camada de realidade. As sociedades que assim surgiram estão em estado de equilíbrio ainda muito mais precário que os protozoários. São seres mortais, justamente poque é precário o equilíbrio no qual se encontram. As células que formam o organismo contribuem para o seu funcionamento na base de uma divisão de trabalho. Assumem papéis variados da economia do organismo. É por isto que épocas mais otimistas encararam o organismo como uma espécie de cooperativa. Mas o nosso conhecimento mais exato não admite essa descrição otimista. A divisão de trabalho entre as células no organismo é muito imprecisa, e há, além disso, uma constante luta entre elas. A inexatidão da divisão de trabalho, e a luta entre as células chama-se “doença”. Devemos portanto dizer que, mais que cooperativa, é o organismo um campo de luta. Quando o governo do organismo, a “alma” perde o controle da luta, surge a morte. Os organismos são portanto, pelo seu projeto, não somente seres mortais mas ainda seres doentes.
FLUSSER, Vilém. A história do diabo. São Paulo: Martins, 1965.
Célula-Colaborativa João Debs-Giselle
Para entender as aÃ?§Ã?µes de uma droga, Ã?© necessÃ?¡rio considerar os efeitos produzidos no sistema biolÃ?³gico em vÃ?¡rios nÃ?Âveis de complexidade de organizaÃ?§Ã?£o. Os nÃ?Âveis principais sÃ?£o: molÃ?©culas biolÃ?³gicas, estruturas subcelulares, cÃ?©lulas, cÃ?©lulas organizadas (tecidos e Ã?³rgÃ?£os), organismos intactos e interaÃ?§Ã?£o entre organismos.
NÃ?Âvel molecular: Farmacologia molecular Ã?© o estudo da interaÃ?§Ã?£o de molÃ?©culas de droga e molÃ?©culas do sistema biolÃ?³gico. Os alvos moleculares de aÃ?§Ã?£o de drogas sÃ?£o os receptores, as enzimas, os sistemas de transporte e componentes moleculares do aparato genÃ?©tico.
Estruturas subcelulares: Atuando em mitocÃ?´ndrias, microtÃ?ºbulos e lisossomos, por exemplo. Em vesÃ?Âculas neurais de acetilcolina, de adrenalina, vesÃ?Âculas dos grÃ?¢nulos dos mastÃ?³citos, etc.
C�©lulas: A�§�£o de drogas em m�ºsculo, em nervo, etc.
Tecidos ou Ã?³rgÃ?£os: Apesar das drogas atuarem em um determinado tipo de cÃ?©lula, o nÃ?Âvel de complexidade do sistema pode ser de tal forma que um mecanismo de controle (autorregulaÃ?§Ã?£o, ou feedback) pode ser desencadeado. Assim, a compreensÃ?£o do mecanismos a nÃ?Âvel de tecido ou Ã?³rgÃ?£o deve ser considerado.
Organismo intacto: Drogas atuando em mecanismos homeostÃ?¡ticos (sistema de controle integrado). Por exemplo, quando uma droga que relaxa musculatura lisa atua na parede do vasos sangÃ?¼Ã?Âneos, causa dilataÃ?§Ã?£o, e, consequentemente, vai desencadear uma aceleraÃ?§Ã?£o reflexa da freqÃ?¼Ã?ªncia cardÃ?Âaca.
InteraÃ?§Ã?£o entre organismos: Podem ser divididas em dois tipos: 1) aquelas que afetam a relaÃ?§Ã?£o entre diferentes tipos de organismos, 2) aquelas que afetam relaÃ?§Ã?µes sociais. Exemplo do 1Ã?º tipo, drogas que sÃ?£o utilizadas para controle de pragas. Do 2Ã?º tipo, as drogas “sociais”, como o Ã?¡lcool, por exemplo e as drogas que afetam as atitudes do organismos, como sedativos, antidepressivos, etc.
O efeito de uma droga depende do grau pr�©-existente de atividade no sistema no qual ela atua.
A vida seria um saco se conhec�ªssemos o c�³digo fonte.