Até tú Barão?

Tubarão é o senhor. Eu sou o Barão de Itararé!
Aparí­cio Torelly para Getúlio Vargas em 1945

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Quando a violência da ditadura torna-se intolerável, í s vezes uma das poucas armas de resistência popular é o humor. E disso entendia muito bem o jornalista Aparí­cio Torelly, autonomeado com o pseudônimo de Barão de Itararé, vereador eleito e cassado em 1947 pelo Partido Comunista, para enfrentar tanto a polí­cia secreta do Estado Novo, como a democracia pós-45 que colocou seu partido na ilegalidade. Uma das suas máximas é que, cansado de apanhar ao ser preso, inventou a famosa frase “Entre sem bater”, que acabou se tornando um corriqueiro lembrete de cortesia nas portas dos escritórios.

Aparí­cio, gaúcho nascido em 29 de janeiro de 1895, veio para o Rio de Janeiro em 1925, após abandonar a faculdade de Medicina. Aqui, ele se tornou jornalista polí­tico e mestre e “pai” do humor, tanto que podemos considerar seus “filhos e netos” gente como a turma do Pasquim, Sérgio Porto – o saudoso Stanislaw Ponte Preta -, Jô Soares, Luí­s Fernando Verí­ssimo, os redatores do programa de tevê Casseta e Planeta, da revista Bundas.
O apelido Barão de Itararé, inventado por ele, foi criado para gozar a famosa batalha de Itararé, que nunca houve. Nesta cidade, os revoltosos constitucionalistas de São Paulo se concentraram para barrar as forças do Governo Provisório de Getúlio Vargas, as quais apenas passaram ao largo, ignorando completamente os valentes combatentes paulistas.

A história profissional do Barão começou no jornal O Globo, ainda em 1925. Logo a seguir, foi para o jornal A Manhã, de Mário Rodrigues, pai de Nelson Rodrigues, assinando a coluna Amanhã tem mais. Em maio de 1926, fundou seu próprio jornal, A Manha, na qual inovou tanto na forma como no conteúdo. Sua linha editorial desmontava a falsa seriedade dos jornais da época e durou até 1960. Era chamado o “órgão de ataque de risos”, mas foi censurado e fechado várias vezes durante o Estado Novo, só voltando a circular em 1945

Ainda assim, Getúlio Vargas, cujo governo o prendeu e perseguiu, mostrava afeição pelo Barão. Um exemplo do bom-humor de ambos foi seu reencontro no Senado, naquele mesmo ano de 1945, quando Getúlio, eleito senador, reconheceu o repórter polí­tico e diretor de A Manha, Aparí­cio Torelly. Vargas, ao vê-lo entre os jornalistas, disse: “Até tu, Barão?” Resposta imediata: “Tubarão é o senhor, eu sou o Barão de Itararé

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