Refazendo limites da arte e da cidade
05/12/2005 Gisella HicheO EIA, Experiencia Imersiva Ambiental, realizou pelo segundo ano consecutivo, de 12 a 20 de novembro, 75 trabalhos nos espaços públicos de São Paulo. As intervenções eram de artistas de São Paulo, Rondônia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. As ações tinham em comum a proposta de questionar a dinâmica da cidade, os abusos de poder que restringem a potencialização do espaço público, destituindo-o de sua função de agregar as pessoas.
Apesar da rua ser o denominador comum, houve uma variedade muito grande de linguagens: lambe-lambe, performances, instalações e panfletagens, o quê ampliou as possibilidades de interação com pedestres, carros e ônibus. Criou-se, dessa forma, mecanismos de legitimação para o sentido das obras e para o uso das vias públicas como espaço para livre manifestação de idéias e campo de troca.
Através da ação artística, o proibido e o permitido perdem sua inflexibilidade e passam a ser questionados de forma lúdica e cooperativa. Camille Kachani, no seu trabalho “re/SINAL/iz/AÇÃO”, pendurou ao lado de placas de trânsito da Avenida Paulista novas placas, proibindo café e banana, permitindo revólver, granada, Mickey Mouse e Coca-Cola. Para completar sua iconografia, um mapa do Brasil de cabeça para baixo foi afixado no cruzamento da Bela-Cintra com a Paulista.
Nenhum projeto tem como finalidade resolver problemas macroestruturais, mas sim plantar sementes por meio de pequenos deslocamentos de percepções. “Nós não estamos aqui para lhe salvar”, afirma o lambe-lambe do artista Lucas HQ.
Muitas obras têm como objetivo central a denúncia criativa.O grupo Alerta!, de São Paulo, pendurou na frente das câmeras de vídeo que monitoram a Avenida Paulista balões de hélio amarelos com a smile face e a frase “Deus TV”. Os balões não buscavam tapar a visão das câmeras, mas evidenciar a presença dos sistemas de vigilância nas calçadas por parte de empresas privadas. O grupo Esqueleto Coletivo, colou lambe-lambe com os dizeres “vida X propriedade” em prédios vazios do centro para denunciar o problema do déficit habitacional e o excesso de prédios inutilizados.
Nenhum trabalho do EIA tem licença para ser realizado. O fator surpresa e a proposta de realmente questionar os limites faz com que o único apoio do grupo seja o direito de livre expressão, tendo sempre como referência o outro. Muitas vezes seguranças saem de sua loja até a rua para dizer que “não pode”, mas devido ao caráter das obras, ficam confusos. A conversa com os artistas gera justamente a reflexão sobre as proibições, expondo sua arbitrariedade e muitas vezes inutilidade. O artista que sai í s ruas para elaborar seu trabalho precisa necessariamente usar a dinâmica da cidade como sua matéria prima. Não importa se o trabalho é mais diretamente político ou se atua em campos mais sensoriais. Seu processo de produção já é na origem um exercício ético que dosa a liberdade do artista com o campo onde se dará a recepção. O estranhamento pode atuar em diversas dimensões.
Um dos trabalhos mais fortes do EIA foi o de Luciana Costa, Bela Vista, no qual ela caminhou do Hospital Beneficência Portuguesa até o Cemitério da Consolação, vestida com uma roupa de hospital e levando nas costas dois reservatórios com tinta vermelha que ia escorrendo e formando uma linha na rua.
Ao reunir artistas com propostas tão variadas, o EIA precisa já no processo de organização desenvolver formas de lidar com a diversidade. Mas como o nome já diz, trata-se de uma experiência. As conseqüências são difíceis de serem avaliadas, mas duas delas são bastante estimulantes: o convívio de artistas de vários estados durante uma semana e a difusão da arte em lugares inesperados.
Fotos das ações podem ser encontradas no site www.eia05.zip.net
Glerm Soares, excelente ser, raridade nos dias de hoje!
Haroldo, tem atÃ?© foto do Guilherme, neste sÃ?Âtio mais conhecido como “patrÃ?£o”:
http://organismo.art.br/blog/?p=1178