CATACSTROBE – Piksel 2008

December 7th from midnight to dawn.
(Uncertain time notation, confusion)
Performances, talks, food, music, dance, telepathy!

A night for writers, sorcerers, magicians, bots,
pichadores, psychonauts, sex texters, scientists,
coders, poets and intelligent agents.

Local Sphere

Nina Blondich (aka Gaia Novati) in

Does it really c {o} unt ?
Reflections on mind fucking in a dimension of language and sex atrophy.

The virtuality of the aka- as every masks- requires the undressing of the “Ego”
and the perception that the body lives without the body… everywhere
sex is being made, but where is sexuality? Which
pornoscapes are evoked in a world of disembodied identities? Every
sexual act is the beginning of a ritual code written and daily
unchanged, if the body is defined for something else, sex becomes more
a question of mind fucking where words and letters must
recreate themselves, introducing a change in the form and
in the syntax. The space to play on the prOscenium is enlarged:
desires and obsessions are coming out off the mind, the intention to
excite another mind is a loop frantically repeated, and words appeal.

Xname (aka Eleonora Oreggia) in

A Descent Into the Maelstrom

You suppose me a very old man –but I am not.
I could not see in the vicinity of the vortex and I became possessed with the keenest curiosity… I felt a wish to explore, even at the sacrifice I was going to make, hanging, as if by magic, midway down, upon the interior surface of a funnel. I am streamed in a flood far away down, into the inmost recesses of the abyss. It was not terror, but the dawn of a more exciting hope. Emergency admitted no delay, and precipitated myself into the sea, without another moment’s hesitation.

Sister0 (aka Nancy Mauro-Flude) in

Media divination 2.1.2

If you want to have a media divination by sister0, you need take her an object that you have a personal connection to. Then she can reveal your place in the manifold of time… YOu also disclose your name, date of birth and give an image or a personal item with which a semiotic analysis is made. Via an interactive shell a networked database is retrieved, transformed and mined for events in the past, present and future. The textual data processed is the year pages available from the English version of Wikipedia, the popular open publishing on-line encyclopedia. From the point of view of the algorithm it retrieves, transform and mine the textual data. This is employed by a set of well known software installed by default on most of the *nix distributions.

GOTO80 in

It’s All in the Table

Live action in Commodore 64 hex code land. A table of sound chip data provides poetry-codes for machines, music for humans, sense for the senseless, stuff for space.

Pixa Babel in

Utopias da formula secreta

Text operators are injecting their viruses in the interstices of our urban environments. The Babel virus mutating in each reply of those ping requests. How could we compile a language where we could understand each other in almost telepathic touch? Did you recognise my calligraphy on those walls and you can see that it came from yours? Vice-Versa? How urban environment could have a contagious touch with all those silent screaming thoughts, trying to organise a collective symptom that could break some walls, cross some border lines, build fluxus of a continuum and organic movement of the people, not marking territories with flags, but with fluid brain waves and their bodies creating language.
Remote Sphere

Simon Yuill in

*** START ***

Algorithm as Ideological Instrument

…looking at the use of software in the governance
of real world social infrastructures, drawing on
examples of actual software created for use in
disciplines such as school administration, urban
policing and military training… the broader
question of to what extent may algorithms
be expressions of ideological models, both as
representations of how social agents might
interact, or in implementing such models
in real world situations.

*** END ***

Isjtar in

Catatonic State Society

In the Catatonic State Society, all members live in a state of
reduced consciousness. Saccading their heads on spastic pulses or just
in plain inertia, they seem indifferent to perception. These
rhythmical units do interact however, they behave in surprising ways
towards one another. They move in and out of sync, form complex
superstructures to shift from texture to crystalline structures,
rhythmic pulses and back again.

Alex McLean in

Speechless

Onomatopoeic words are rendering into sounds, functions are trasfomred into patterns.. Here goes the electronic eefing!

Glerm Soares in

Whatever

Kiki Jaguaribe (aka Cristina Ekman) in

Sea Sound

“There is a sea inside me”

EXISTE
UM MAR
DENTRO
DE MIM

Environmental collaborative experimental poetry based on translocal repetition.

A confusão das línguas não deixa margem para o rio das dúvidas banhar a ouro e verde as esperanças de todos nós






 
 

a justa razão aqui delira
leminski – fragmento do catatau
pg 34 ed. sulina

leitura eletrônica em inglês – catataulido.ogg

1.jpg

“Preserva-se do real numa turris ebúrnea; o real
vem aí, o real está para

> chegar, eis o advento! Vrijburg defende-se,

se defendam vrijburgueses

> o cerco aperta, alerta, alarde, alarme, atalaia!
Todo o tiro é susto

, Todo > fumo – espanto, todo
cuidado – 



pouco caso

.
Vem nos negros dos quilombos,
> nas
> naus dos carcamanos,
na cara destes bichos:
basiliscos brasilicos queimam a
> cana, entre as chamas passando pendôes.

Cairás, torre de
Vrijburg

, de
> grande
> ruína.
Passeio entre cobras e es-
corpiões meu calcanhar de Aquino,
caminhar > de

Aq

uiles.

E essa torre da Babel do orgulho de Marcgravf e Spix,

pedra
> sobre pedra não ficará,
o mato virá sobre a pedra
e a pedra a espera da
> treva fica podre e vira hera a
pedra que era…

A confusão das línguas não
> deixa
margem
para o rio das dúvidas banhar a ouro e verde as
esperanças dos
> planos de todos nós:
as tábuas de eclipses de
Marcgravf não entram em
> acordo > com as de
Grauswinkel;
Japikse pensa que é macaco o aí que
Rovlox diz fruto
> dos coitos danados de
toupinamboults e tamanduás
;
Grauswinkel, perito nas
> manhas dos corpos celestes, nas manchas do sol e
outras raridades urânicas
>

é um lunático

;
Spix, cabeça de selva, onde uma

aiurupara
e

stá
pousada em cada
> embuayembo, uma aiurucuruca, um aiurucurau, uma
aiurucatinga, um tuim, uma
> tuipara, uma tuitirica, uma arara, uma
araracá, uma araracã, um araracanga,
> uma araraúna, em cada galho do
catálogo de caapomonga, caetimay, taioia,
> ibabiraba, ibiraobi! Viveiro? Isso está
tudo morto!

Por eles, as árvores
> nasciam com o nome em latim na casca, os animais
com o nome na testa dentro
> da moda que a besta do apocalipse lançou
com uma dízima periódica por
> diadema,
cada homem já nascia escrito em peito

o epitáfio,

os
frutos
brotariam
com o receituário
de suas propriedades,
virtudes e contraindicações.
> Esse é emético, esse
é diurético, esse é
antisséptico,
> laxante, dispéptico, adstringente

, isso é letal.”


Eu, tu & x

Onde o eu estava entre o ano II e/ou III do milênio? fio de ariadne e/ou ventre do minotauro…

” Por ti – quem mais?
Vai ver: quem faz.
Sentir? a paz.
/* Ninguém – Jamais */
Ja viu quem é mordaz?
Amém.
Quem diz ser pura fé,
NÃO TEM COMO APRENDER!

O anil do céu,
esconde o cinza e tinge o fel…
Teus olhos VÃO DIZER!

– Ninguém me viu… Ninguém ouviu…

Eu sei de cor onde é que dói:
a crença avança e nos destrói.

Teus olhos VÃO DIZER!

– Cheguei ao fim. Voltei só pra te ver…

E não diga que vai sem dar “Adeus”…

…confessa…

” Quem sou?
De onde venho?
Eu sou o x
E basta dizê-lo,
Como sei dizê-lo,
Imediatamente
Vereis o meu corpo atuar
Voar em estilhaços
E em dois mil aspectos notórios
Refazer
Um novo corpo
Onde nunca mais
Podereis
Esquecer-me(…)

Eis então o que seria necessário fazer: instalar-se sobre um estrato, experimentar as oportunidades que ele nos oferece, buscar aí­ um lugar favorável, eventuais movimentos de desterritorialização, linhas de fuga possí­veis, vivenciá-las, assegurar aqui e ali conjunções de fluxos, experimentar segmento por segmento dos contí­nuos de intensidades, ter sempre um pequeno pedaço de uma nova terra.
(…)

Estamos numa formação social; ver primeiramente como ela é estratificada para nós, em nós, no lugar onde estamos; ir dos estratos ao agenciamento mais profundo em que estamos envolvidos; fazer com que o agenciamento oscile delicadamente, fazê-lo passar do lado do plano de consistência. É somente aí­ que o Corpo sem órgãos se revela pelo que ele é, conexão de desejos, conjunção de fluxos, continuum de intensidades.
(…)

Dados Cru(do)s a Coze(i)r :::::: TUMBALALÃ? ::::::: (ou a aldeia que nunca foi aldeia e que é muito mais que aldeia) ::::::: DESAFIATLux TUMBALALÃ?

O reconhecimento oficial ocorreu após uma mobilização iniciada em meados de 1998 e direcionada para a adoção de projetos de articulação coletiva que gravitavam em torno de uma história, destino e origem comuns para as pessoas que formam hoje uma comunidade com fronteiras sociais em processo e ainda sem território demarcado. Habitando o sertão de Pambú, uma área na margem baiana do sub-médio São Francisco ocupada no passado por várias missões indí­genas e alvo de criação extensiva de gado bovino durante os séculos XVII, XVIII e XIX, os Tumbalalá estão historicamente ligados a uma extensa rede indí­gena de comunicação interétnica, sendo, assim, parte e produto de relações regionais de trocas rituais e polí­ticas que sustentam sua etnogênese no plano das identidades indí­genas emergentes e os colocam no domí­nio etnográfico dos í­ndios do Nordeste brasileiro.
AAAAHAAHHHHALALí

NO RIO O IRON

Os Tumbalalá ocupam uma antiga área de missões indí­genas e colonização portuguesa ao norte do estado da Bahia, entre os municí­pios de Curaçá e Abaré, na divisa com Pernambuco e í s margens do rio São Francisco. Tem-se por referência o pequeno e antigo povoado de Pambú

(S 08o 33� W 039o 21�)

, a ilha da Assunção (TI Truká) e a cidade de Cabrobó (PE).

MISSAO

A história da colonização do sertão de Pambú remete ao século XVII e foi incrementada pela criação extensiva de gado bovino e pela formação de missões indí­genas nas ilhas do sub-médio São Francisco. Essas duas agências coloniais, somadas a outros fatores tanto polí­ticos quanto naturais, responderam por fluxos de deslocamentos e convergência de pessoas e famí­lias que fizeram desta parte do sertão uma referência regional no século XVIII.

Formando um importante núcleo de atração e povoamento interior, o sertão de Pambú foi ocupado até este perí­odo por ajuntamentos portugueses, vilas e aldeias de í­ndios cariri, fazendas de gado, grupos de í­ndios nômades não reduzidos, mas contatados, e outros ainda sem comunicação com os colonizadores. Dessa babilônia étnica que colocou lado a lado, em um complexo e tenso campo intersocial, pessoas e instituições com interesses e estilos culturais mais diversos derivam os Tumbalalá e as demais comunidades indí­genas do sertão do sub-médio São Francisco.

velho velho velho chico

LUCY IN THE SKY; DIAMONDS DIAMONDS DIAMONDS!

querem TRANSPOR?

TRANSPOSIÇ+ÃO
TRANSPOS
TRANSPOSIÇÃO
TRANS

POSIÇÃO

T R

A N
S P O

S

I

Ç

Ã

O

pode tirar seu burro da chuva

e entre você

ruindow$

A estimativa do número de famí­lias que hoje compõem o grupo tumbalalá é bastante imprecisa
, haja vista que o processo de auto-identificação está em curso e os critérios de pertença estão sendo internamente formulados. Durante o processo de identificação étnica realizado em 2001 foram confirmadas cerca de 180 famí­lias, mas, baseado em dados propostos por lideranças, o limite máximo potencial da população tumbalalá chega perto de 400 famí­lias, só devendo haver maior clareza quanto esse número após o término do processo de regularização fundiária do território.

patopatopato!

olhos
ohos

olhos
aviao
mulheres

“Alô, base, respondam! Toda poesia vive no rádio, na pepita de urânio
qu�ica
RíDIO
RíDIO
RíDIO
RíDIO
RíDIO
RíDIO
RíDIO
RíDIO

microfone
chefia
manoel

toré
diminuição de áreas antes freqüentadas e habitadas por animais silvestres de porte maior, como veado e tamanduá, fez da caça uma atividade restrita a animais de pequeno porte que habitam a caatinga ou a vegetação que nasce ao longo do curso intermitente dos riachos. São codorna, preá, cutia, camaleão e, mais raramente, tatu.

novena
9?
ou 90?

evido í s várias intervenções ao longo do curso do rio São Francisco que acabaram por diminuir o seu potencial piscoso e navegabilidade, a pesca já não participa significativamente da economia doméstica local, apesar de o rio ainda oferecer uma boa variedade de peixes aproveitados na alimentação, além de ser habitat de jacarés, capivaras e tartarugas pouco consumidos em função da escassez e dificuldade de serem pegos.

mulheres
mulheres
celular na rádio!

etnogênese tumbalalá – assim como dos outros grupos da região do sub-médio São Francisco – é, portanto, um processo descontí­nuo e de longa duração. Em sua fase contemporânea o principal registro é a criação do terreiro de toré na fazenda São Miguel, propriedade da famí­lia Fatum, após a revelação feita a um membro desta famí­lia pelo encanto (sobre encanto, ver o item “ritual e cosmologia”) Manoel Ramos sobre a existência da aldeia Tumbalalá e seus limites. Isso na década de 50, quando algumas famí­lias locais trocavam regularmente experiências rituais e polí­ticas com famí­lias da ilha da Assunção e de outras localidades, outrora missões indí­genas. O ingrediente polí­tico que faltava para que os Tumbalalá seguissem o exemplo de seus vizinhos que obtiveram do Governo Federal a tutela, como os Tuxá, Atikum e Truká, veio após o encontro com a ANAI (Associação Nacional de Ação Indigenista) e o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) no ano de 1998, configurando-se a seguir o iní­cio de um movimento organizado visando o diálogo com a Funai.

mulheres
gooool!
(no final, é tudo futebol)

jesuismodejesuita
FALA!
amem
amem
amem

O sistema ritual dos Tumbalalá está baseado no culto aos encantos e no uso de um tipo de jurema (Pithecolobium diversifolium;

Mimosa/

artemisiana) do qual se faz o “vinho” ingerido durante o toré. Esta planta, um arbusto de porte médio a grande tí­pico do sertão do Nordeste, é central para a religiosidade indí­gena regional e apresenta algumas variedades que fazem parte do universo religioso de cultos afro-brasileiros, notadamente o catimbó ou candomblé de caboclo.
s encantos, ou encantados – e ainda, mestres ou guias – tumbalalá são entidades sobrenaturais originadas do processo voluntário de “encantamento” de alguns í­ndios ritual ou politicamente importantes, ao deixarem a existência humana, distinguindo-se dos espí­ritos produzidos pela inexorabilidade da morte. Neste caso eles são seres ontologicamente hí­bridos que transitam bem entre os homens e o sobrenatural porque não morreram – o que quer dizer que não assumiram completamente uma não-humanidade – e gozam de predicados inacessí­veis a um humano.

toré
public


SOU SÂ O EU + A MATÉRIA

MATEMA
SOU SÂ O EU + A MATEMA
null

pesca

liambraLiambra

parentes
parentes
parentes
parentes
riquezas sao diferentes
riquezas sao diferentes

.

Oi pessoas…
quem quiser ver um pouquinho do que rolou em tumbalalá, pode conferir nas
fotos e nos áudios das oficinas.

http://galeria.idbrasil.org.br/tumbalala
http://estudiolivre.org/el-user.php?view_user=avessa
http://www.flickr.com/photos/avesso/

textos e mais info: enciclopedia indigena:

root@�¼�¬�¸�·�¼�±:~#./raizes

üí¬í¸í·üí±

Square root

 
Roooooooooots
square roots …

00000001010101010101010100100101011001001010100101010101010

eu sou o número
que multiplicado por mim mesmo me compõe
00000001010101010101010100100101011001001010100101010101010
 
enquanto na matriz um novo mapa de primos se elege
       
    .
o vértice   
    .
aqui

        .eu
   
           
       
.você

 
operando

 operando operando
 
operando operando
 operando operando
  operando
 operando
   operando
  
operando
  operando

 

mimoSa Iberica

Mimosa en el Hackirulo
Posted in Barcelona on November 17th, 2006

hackmeeting'06A la Mimosa que creó la gente de Estudio Livre que el pasado verano vino al Hangar le pusimos de nombre Gazpacho. Como es una preciosidad la invitamos a venir unos dí­as con nosotr*s en el Hackiruloââ?¬â?¢06, el hackmeeting de la Peninsula Ibérica que se realizo simultáneamente en Mataró (Catalunya), Santiago de Chile y Chicago durante los dí­as 13-15 de octubre. La gente disfrutó mucho con ella y la estuvimos utilizando esos dias. Ahora está descansando én mi casa hasta su próxima salida. Aquí­ os pongo algunas fotos para que veáis lo bien que se lo pasó. Son fotos hechas por tod*s y que se han subido a la red. Yo recogi aquí­ las suyas para mostraros. 
 
 

por aquí­ andabamos en el csoa La fibraEsta es la zona donde estuvo, la de cacharreo. Aquí­ se hicieron diferentes talleres, algunos en la programación, otros que surgí­an espontáneamente. Hubo uno de hacer ordenadores desde reciclaje, como Gazpacho pero sin ruedas :)
 

recien llegadaPara venir la tuvimos que desmontar porque no cabí­a en el coche. La pobre andaba sin cabeza, tarjetas y memoria.
Pero pronto la recompusimos para disfrutar junt*s :)
recien llegada

gazpachogazpachogazpachogazpachogazpachogazpachoUnas cuantas fotos de ella sola. Como véis, no paraban de hacerle fotos O.O
 
 
 
 
 

>gazpachogazpachoY dió bastantes vueltas, aunque yo no se que pensaréis de alguna de sus compaí±í­as.

Instrumento Musical szero: a ONssça mandou contar

onssssa.jpg

EM FOCO: uma importante cerimônia dos í­ndios araras, centrada num poste, erigido no pátio, em cujo topo, até tempos recentes, se punha o crânio de um inimigo, hoje substituí­do por uma bola de lama. Só isso já desperta a atenção do leitor, pois, vivendo os araras sobre o divisor que separa as águas que correm para o Iriri, afluente do Xingu, das que descem diretamente para o Amazonas (mas destas últimas retirados após lograrem o contato amistoso com os brancos), eles têm como vizinhos vários outros grupos tribais que também faziam a caça de cabeças, por uma extensa área, desde o Xingu até o Madeira. Entretanto, tais grupos pertenciam ao tronco tupi, enquanto os araras, da famí­lia caribe, constituí­ssem talvez a única exceção.

Mas o Autor opta por não comparar, permanecendo no universo dos araras, entre os quais realizou pesquisa de campo de cerca de quatorze meses em várias etapas, distribuí­das pelos anos 1987, 1988, 1992 e 1994.

Começa por uma apresentação geral da cerimônia e das condições em que é realizada. Mostra-nos como cada tipo de festa arara inclui uma festa menor e pode ser englobada por outra maior, desde aquelas festas de beber, passando para as de beber e comer, para as em que também se tocam instrumentos musicais, se canta e se dança, até chegar í  mais inclusiva e complexa, que é a do Ieipari, o poste encimado pelo crânio do inimigo.

museu_do_poste

Descreve a elaboração da bebida fermentada de tubérculos, frutas ou milho, a maneira de oferecê-la, sua relação com substâncias como leite e esperma. Examina as técnicas de caça, o contato que um xamã (todos os homens araras são mais ou menos familiarizados com as atividades xamânicas) estabelece com um ser, dono de uma espécie animal, pedindo-lhe que os dê para criá-los, abrindo a oportunidade assim para que os outros homens possam abatê-los. Descreve os instrumentos de sopro, a ordem em que tocam, os seres a que estão associadas suas músicas. Mostra como os caçadores, aguardados com a bebida fermentada, que devem retribuir com carne, entram na aldeia a fingir um ataque, uma encenação agressiva omitida na forma mais abrangente do rito, quando há o Ieipari. Expõe o tratamento do inimigo, o que lhe dizem no cântico entoado antes de matá-lo e esquartejá-lo.

Além do crânio, que integra um instrumento musical antes de vir a coroar o poste ritual, outras partes do corpo lhe são retiradas, mas seu destino, talvez por lacuna na memória dos araras atuais, é apenas esboçado: os ossos das mãos e dos pés, a pele do rosto, o escalpo, as ví­sceras.

Descreve a ereção do poste, como os homens o descascam com pancadas e palavras agressivas, e como as mulheres o abraçam fortemente e nele esfregam sensualmente suas vulvas. A carne trazida pelos caçadores disposta em torno do poste, assim como uma panela com bebida fermentada colocada ao pé do mesmo, são como ofertas do Ieipari. E as mulheres, ao tomarem desta bebida, dizem reveladoramente que estão bebendo um filho.

arara.jpg

Essa apresentação inicial, que constitui o primeiro capí­tulo, é em si mesma autônoma, não depende do que segue para ser compreendida. Dir-se-ia que o livro se compõe de partes que acrescentam mais sentido í  apresentação inicial, mas elas próprias também autônomas.

O capí­tulo referente í  cosmogonia e í  cosmologia aponta a origem de certos elementos integrantes do rito ou aspectos da condição humana que levam a sua realização: o instrumento de sopro que a divindade principal tocava para manter a calma e boa ordem no céu, onde a humanidade vivia de modo paradisí­aco, e que hoje faz a música de fundo das festas; a eclosão de um conflito que redundou na quebra da casca do céu, obrigando a humanidade a viver sobre os seus fragmentos, misturada aos seres maléficos até então mantidos do lado de fora; o ensino da festa, destinada a trazer novos filhos, pelo bicho-preguiça, que também deu aos humanos as flautas, a tecelagem em algodão e palha e povoou a mata de animais de caça; a recusa das mulheres em continuar a aplicar as técnicas destinadas a trazer de volta í  vida aqueles que morriam, como faziam antes da catástrofe, de modo que a morte se instalou definitivamente entre os humanos e serviu para que a divindade, agora transformada na vingativa onça preta, transformasse as partes em que divide os corpos dos defuntos numa série de seres danosos; a viabilização da caça por intermédio das relações de reciprocidade entre os xamãs e os espí­ritos donos de animais, em que estes dão í queles bichos para criar e por sua vez criam um certo tipo daqueles seres danosos oriundos dos mortos. Se o primeiro capí­tulo sublinha a ausência da vingança nas palavras que os araras dirigem ao inimigo, o segundo não trabalha o teor da vingança que atribui ao ser supremo.

A vingança ou sua ausência no conflito com o inimigo poderia ter sido um dos temas de discussão no terceiro capí­tulo, que se limita ao contato entre os araras e os brancos. Não tenta reconstituir as relações dos araras com outras etnias indí­genas, a não ser com os caiapós, mas estes apenas enquanto participantes das frentes de atração. Chama a atenção para o fato de os brancos não se contarem entre as ví­timas cujas cabeças serviam de centro ao rito arara, até o momento em que a construção da Transamazônica pressionou fortemente pelo estabelecimento do contacto. Que etnias indí­genas teriam sido alvo das incursões araras, que motivos os moviam contra elas, ou, ao contrário, que razões os faziam limitar-se í  defensiva são perguntas que talvez o Autor não tenha feito ou, se as fez, das respostas não tirou proveito.

No quarto capí­tulo examina a coexistência de uma classificação horizontal dos termos de parentesco, aplicada aos membros da própria unidade residencial, com uma oblí­qua, referente í s relações com outras unidades. Mostra como oferecimento ritual da bebida fermentada, que se faz entre a irmã (ou o marido dela) e o irmão, moradores de casas diferentes, é coerente com a classificação oblí­qua. Observa também que um homem, ao dar sua irmã em casamento, pode reivindicar em troca a filha daquele que a recebeu, que não precisa necessariamente ser filha dessa ou de outra irmã. E ainda, quando uma mulher, dentre aquelas com quem, pelo jogo das trocas, pode aspirar a ter como esposa, se casa com outro homem, este último passa a lhe dever uma irmã ou filha. Em outras palavras, uma esposa reivindicada que se torna cônjuge de outro gera dí­vida como se fosse uma irmã a este cedida. Sem dúvida tudo isso é muito convincente e feito com maestria, apesar de as trocas de mulheres examinadas nos casos concretos mais parecerem deduções das genealogias do que descritas em depoimentos dos araras. Mas tendo em vista o rito que constitui o tema do livro, este capí­tulo talvez fosse o lugar de examinar também certas relações como a dos amigos de guerra, que, ao sacrificarem juntos um inimigo, trocavam entre si temporariamente as esposas. Se, tal como a dos amigos de caça (recrutados entre os afins reais do mesmo grupo residencial), essa parceria tinha como protótipo genealógico a relação MB/ZS, mas escolhidos em outros grupos residenciais, no passado grupos locais distintos, ela poderia ter sido mais um motivo para o Autor examinar a guerra como um fator de articulação entre os vários grupos locais.

Quem guardava o crânio do inimigo e o usava como instrumento musical? Quem guardava os ossos dos membros, a pele da face, o escalpo? Como se fazia a circulação desses troféus? Que importância teriam estes nos ritos de passagem relativos í  idade?

São questões que poderiam ter sido exploradas neste capí­tulo.

O quinto capí­tulo na verdade abrange dois. Sua parte inicial (pp. 305-343) trata da relação entre os modos de dar, as coisas dadas e as relações sociais envolvidas, de um lado, e os valores morais, de outro. A classificação das formas de dar bens e prestar serviços mostra-se sobremodo complexa, a ponto de mal poder ser ilustrada pela clássica esfera que combina os diferentes tipos de troca com a distância social, desde o núcleo da reciprocidade generalizada caracterí­stica dos parentes próximos até a capa mais externa da reciprocidade negativa associada aos inimigos. Além disso, no caso dos araras, esse gradiente é distorcido pelos ideais de generosidade, gentileza, solidariedade, de maneira que a representação gráfica escolhida pelo Autor lembra os esquemas demonstrativos da influência do Sol e da Lua nas marés oceânicas (p. 337).

Na segunda metade do capí­tulo (pp. 343-385), o Autor retoma o grande rito anteriormente descrito e o analisa segundo três seqüências, paralelas: a sucessão de festas, a das músicas, que já apresentara anteriormente, e a ordem das fases (marcadas por tarefas ou deslocamentos dos participantes). Uma incursão na teoria da linguagem de Hjelmslev não nos parece ter trazido novas luzes para a compreensão do rito. Por outro lado, neste capí­tulo e na conclusão, que o segue, a idéia de “sacrifí­cio”, presente no tí­tulo do livro, é tratada de modo demasiado sumário; Hubert e Mauss não são convocados, e nem mesmo aquele que os seguiu no exame do mais discutido dos ritos de tratamento dos inimigos em nosso continente, Florestan Fernandes.

Tal como a classificação da bebidas de acordo com a altura das partes dos vegetais das quais são produzidas (figura da p. 62) ou tal como o poste Ieipari, centro do grande rito, poderí­amos dizer que a interpretação desenvolvida no livro passa do mais substancioso para o mais etéreo í  medida que se desloca da base para o topo. Muito de mistério ainda paira sobre a cabeça do inimigo. Mas certamente o Autor continuará a busca de mais sentido com a elaboração de outros trabalhos.

abacaxi

Ã?ndios do Brasil – onça mandou contar

EM FOCO: uma importante cerimônia dos í­ndios araras, centrada num poste, erigido no pátio, em cujo topo, até tempos recentes, se punha o crânio de um inimigo, hoje substituí­do por uma bola de lama. Só isso já desperta a atenção do leitor, pois, vivendo os araras sobre o divisor que separa as águas que correm para o Iriri, afluente do Xingu, das que descem diretamente para o Amazonas (mas destas últimas retirados após lograrem o contato amistoso com os brancos), eles têm como vizinhos vários outros grupos tribais que também faziam a caça de cabeças, por uma extensa área, desde o Xingu até o Madeira. Entretanto, tais grupos pertenciam ao tronco tupi, enquanto os araras, da famí­lia caribe, constituí­ssem talvez a única exceção.

Mas o Autor opta por não comparar, permanecendo no universo dos araras, entre os quais realizou pesquisa de campo de cerca de quatorze meses em várias etapas, distribuí­das pelos anos 1987, 1988, 1992 e 1994.

Começa por uma apresentação geral da cerimônia e das condições em que é realizada. Mostra-nos como cada tipo de festa arara inclui uma festa menor e pode ser englobada por outra maior, desde aquelas festas de beber, passando para as de beber e comer, para as em que também se tocam instrumentos musicais, se canta e se dança, até chegar í  mais inclusiva e complexa, que é a do Ieipari, o poste encimado pelo crânio do inimigo. Descreve a elaboração da bebida fermentada de tubérculos, frutas ou milho, a maneira de oferecê-la, sua relação com substâncias como leite e esperma. Examina as técnicas de caça, o contato que um xamã (todos os homens araras são mais ou menos familiarizados com as atividades xamânicas) estabelece com um ser, dono de uma espécie animal, pedindo-lhe que os dê para criá-los, abrindo a oportunidade assim para que os outros homens possam abatê-los. Descreve os instrumentos de sopro, a ordem em que tocam, os seres a que estão associadas suas músicas. Mostra como os caçadores, aguardados com a bebida fermentada, que devem retribuir com carne, entram na aldeia a fingir um ataque, uma encenação agressiva omitida na forma mais abrangente do rito, quando há o Ieipari. Expõe o tratamento do inimigo, o que lhe dizem no cântico entoado antes de matá-lo e esquartejá-lo. Além do crânio, que integra um instrumento musical antes de vir a coroar o poste ritual, outras partes do corpo lhe são retiradas, mas seu destino, talvez por lacuna na memória dos araras atuais, é apenas esboçado: os ossos das mãos e dos pés, a pele do rosto, o escalpo, as ví­sceras. Descreve a ereção do poste, como os homens o descascam com pancadas e palavras agressivas, e como as mulheres o abraçam fortemente e nele esfregam sensualmente suas vulvas. A carne trazida pelos caçadores disposta em torno do poste, assim como uma panela com bebida fermentada colocada ao pé do mesmo, são como ofertas do Ieipari. E as mulheres, ao tomarem desta bebida, dizem reveladoramente que estão bebendo um filho.

Essa apresentação inicial, que constitui o primeiro capí­tulo, é em si mesma autônoma, não depende do que segue para ser compreendida. Dir-se-ia que o livro se compõe de partes que acrescentam mais sentido í  apresentação inicial, mas elas próprias também autônomas.

O capí­tulo referente í  cosmogonia e í  cosmologia aponta a origem de certos elementos integrantes do rito ou aspectos da condição humana que levam a sua realização: o instrumento de sopro que a divindade principal tocava para manter a calma e boa ordem no céu, onde a humanidade vivia de modo paradisí­aco, e que hoje faz a música de fundo das festas; a eclosão de um conflito que redundou na quebra da casca do céu, obrigando a humanidade a viver sobre os seus fragmentos, misturada aos seres maléficos até então mantidos do lado de fora; o ensino da festa, destinada a trazer novos filhos, pelo bicho-preguiça, que também deu aos humanos as flautas, a tecelagem em algodão e palha e povoou a mata de animais de caça; a recusa das mulheres em continuar a aplicar as técnicas destinadas a trazer de volta í  vida aqueles que morriam, como faziam antes da catástrofe, de modo que a morte se instalou definitivamente entre os humanos e serviu para que a divindade, agora transformada na vingativa onça preta, transformasse as partes em que divide os corpos dos defuntos numa série de seres danosos; a viabilização da caça por intermédio das relações de reciprocidade entre os xamãs e os espí­ritos donos de animais, em que estes dão í queles bichos para criar e por sua vez criam um certo tipo daqueles seres danosos oriundos dos mortos. Se o primeiro capí­tulo sublinha a ausência da vingança nas palavras que os araras dirigem ao inimigo, o segundo não trabalha o teor da vingança que atribui ao ser supremo.

A vingança ou sua ausência no conflito com o inimigo poderia ter sido um dos temas de discussão no terceiro capí­tulo, que se limita ao contato entre os araras e os brancos. Não tenta reconstituir as relações dos araras com outras etnias indí­genas, a não ser com os caiapós, mas estes apenas enquanto participantes das frentes de atração. Chama a atenção para o fato de os brancos não se contarem entre as ví­timas cujas cabeças serviam de centro ao rito arara, até o momento em que a construção da Transamazônica pressionou fortemente pelo estabelecimento do contacto. Que etnias indí­genas teriam sido alvo das incursões araras, que motivos os moviam contra elas, ou, ao contrário, que razões os faziam limitar-se í  defensiva são perguntas que talvez o Autor não tenha feito ou, se as fez, das respostas não tirou proveito.

No quarto capí­tulo examina a coexistência de uma classificação horizontal dos termos de parentesco, aplicada aos membros da própria unidade residencial, com uma oblí­qua, referente í s relações com outras unidades. Mostra como oferecimento ritual da bebida fermentada, que se faz entre a irmã (ou o marido dela) e o irmão, moradores de casas diferentes, é coerente com a classificação oblí­qua. Observa também que um homem, ao dar sua irmã em casamento, pode reivindicar em troca a filha daquele que a recebeu, que não precisa necessariamente ser filha dessa ou de outra irmã. E ainda, quando uma mulher, dentre aquelas com quem, pelo jogo das trocas, pode aspirar a ter como esposa, se casa com outro homem, este último passa a lhe dever uma irmã ou filha. Em outras palavras, uma esposa reivindicada que se torna cônjuge de outro gera dí­vida como se fosse uma irmã a este cedida. Sem dúvida tudo isso é muito convincente e feito com maestria, apesar de as trocas de mulheres examinadas nos casos concretos mais parecerem deduções das genealogias do que descritas em depoimentos dos araras. Mas tendo em vista o rito que constitui o tema do livro, este capí­tulo talvez fosse o lugar de examinar também certas relações como a dos amigos de guerra, que, ao sacrificarem juntos um inimigo, trocavam entre si temporariamente as esposas. Se, tal como a dos amigos de caça (recrutados entre os afins reais do mesmo grupo residencial), essa parceria tinha como protótipo genealógico a relação MB/ZS, mas escolhidos em outros grupos residenciais, no passado grupos locais distintos, ela poderia ter sido mais um motivo para o Autor examinar a guerra como um fator de articulação entre os vários grupos locais. Quem guardava o crânio do inimigo e o usava como instrumento musical? Quem guardava os ossos dos membros, a pele da face, o escalpo? Como se fazia a circulação desses troféus? Que importância teriam estes nos ritos de passagem relativos í  idade? São questões que poderiam ter sido exploradas neste capí­tulo.

O quinto capí­tulo na verdade abrange dois. Sua parte inicial (pp. 305-343) trata da relação entre os modos de dar, as coisas dadas e as relações sociais envolvidas, de um lado, e os valores morais, de outro. A classificação das formas de dar bens e prestar serviços mostra-se sobremodo complexa, a ponto de mal poder ser ilustrada pela clássica esfera que combina os diferentes tipos de troca com a distância social, desde o núcleo da reciprocidade generalizada caracterí­stica dos parentes próximos até a capa mais externa da reciprocidade negativa associada aos inimigos. Além disso, no caso dos araras, esse gradiente é distorcido pelos ideais de generosidade, gentileza, solidariedade, de maneira que a representação gráfica escolhida pelo Autor lembra os esquemas demonstrativos da influência do Sol e da Lua nas marés oceânicas (p. 337).

Na segunda metade do capí­tulo (pp. 343-385), o Autor retoma o grande rito anteriormente descrito e o analisa segundo três seqüências, paralelas: a sucessão de festas, a das músicas, que já apresentara anteriormente, e a ordem das fases (marcadas por tarefas ou deslocamentos dos participantes). Uma incursão na teoria da linguagem de Hjelmslev não nos parece ter trazido novas luzes para a compreensão do rito. Por outro lado, neste capí­tulo e na conclusão, que o segue, a idéia de “sacrifí­cio”, presente no tí­tulo do livro, é tratada de modo demasiado sumário; Hubert e Mauss não são convocados, e nem mesmo aquele que os seguiu no exame do mais discutido dos ritos de tratamento dos inimigos em nosso continente, Florestan Fernandes.

Tal como a classificação da bebidas de acordo com a altura das partes dos vegetais das quais são produzidas (figura da p. 62) ou tal como o poste Ieipari, centro do grande rito, poderí­amos dizer que a interpretação desenvolvida no livro passa do mais substancioso para o mais etéreo í  medida que se desloca da base para o topo. Muito de mistério ainda paira sobre a cabeça do inimigo. Mas certamente o Autor continuará a busca de mais sentido com a elaboração de outros trabalhos.