a farsa da cruz – exposição de joão osorio brzezinski no beto batata em 2001

Um dos aspectos que se vêem projetados pela cruz violeta é o de como í  sombra dos conceitos mais nobres que a humanidade concebeu se encontram fingidas atitudes contrárias ao seu conteúdo. Em nome da ciência e dos esclarecimentos desenvolveram-se a civilização industrial, a bomba atômica e recentemente a clonagem de animais e seres humanos. Em nome da democracia o capital internacional promove ainda uma série de regimes autoritários e ditatoriais no terceiro mundo, em nome da difusão da informação e da notí­cia surgiram mecanismos de massificação do pensamento e aculturamento da população. Em nome da simplificação do ensino baniu-se o estudo de filosofia e lí­nguas clássicas das escolas formando jovens imersos somente na contigência de suas necessidades imediatas sem referência histórica e condições de opinar criticamente sobre a sua própria existência. Em nome de Deus ou de Deuses travaram-se cruzadas e populações foram dizimadas sob o pretexto autoritário de uma relação previligiada com o além. Quando a humanidade se sente ameaçada, o mundo tende a se polarizar, as posições tornam-se radicais, os discursos rí­gidos, e as palavras são entendidas ao pé da letra. As consequências mais diretas da tirania do significado que se instaura nestes tempos são a intolerância, o preconceito, a massificação de idéias, a supressão da opinião individual e o silêncio permissivo. Os que oportunisticamente se multiplicam nestes perí­odos esquecem que o significado das palavras não está na sua referência objetiva mas no uso que delas se faz. A mesma faca que o dicionário define como arma pode servir para preparar o jantar de uma famí­lia, e a pomba, sí­mbolo universal da paz pode portar a mais terrí­vel das mensagens. A mesma igreja que excluiu de seus domí­nios a contestação herética dos dogmas da fé pela via árdua das chamas da inquisição, amparou a expressão artí­stica durante a idade média e preservou os tesouros da literatura clássica. No século XX o nazismo obteve o silêncio de Roma de Pio XII frente aos crimes cometidos contra o povo Judeu durante a Segunda guerra mundial. Israel desfruta agora de um silêncio parecido na ação contra a minoria palestina nos territórios ocupados. A imprensa mundial parece também se apegar aos princí­pios de realidade única que crescem no seio do maniqueí­smo. A excessiva importância í  vida da corte capitalista cega os olhos da opinião pública í  realidade do que acontece na esquina. Se a crueldade da soberania econômica sobre o oriente é manifesta, não o é menos a que acontece a nossa volta . As baixas ocorrem nos semáforos, nas ruas, nas casas, sem nenhuma questão de credo, territórios ou ideologia, mas pela irracionalidade da banalização da vida. Que o outro seja a medida da verdade. Não há saber . Todo o conhecimento é interpretação.

Octávio Camargo.

2 comments

  1. N�£o acreditar na cruz mudou o projeto de alcan�§ar o
    paraiso, pelo de melhorar a vida humana na terra.
    A esperen�§a na realiza�§�£o dos ideais do ilimunismo subtitui o anseio de ver a face de deus. A vida social passou a girar tem torno de movimentos, ainda que pequenos, por mudan�§as sociais, em vez de ora�§�µes ou rituais.

    Rchard Rorty defende que o ocidente abriu mÃ?£o de seus ideais para “pensar pequeno”.

    Distarte:

    Desejamos a autopuniÃ?§Ã?£o por causa da culpa decorrente da capacidade de fazer pouco e da incapacidade de nos imaginar fazendo mais …

  2. O texto do primeiro coment�¡rio, o autor �© o filos�³fo: Richard Rorty, e �© baseado na an�¡lise do
    romance “SÃ?¡bado”, de Ian McEwan.
    ps: tradu�§�£o de Luiz Roberto M. Gon�§alves da Folha de S�£o Paulo.

    Ps 2: trocar a cruz por:
    “quando nÃ?£o puderam mais acreditar na imortalidade da alma … “

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