25ú25’40″S 49ú16’23″W && MSST bunkers

“Se um homem que tivesse a habilidade de transformar-se em muitas pessoas e imitar todas as coisas chegasse a nossa Cidade e quisesse fazer uma performance dos seus poemas (…) dirí­amos a ele que não existe este tipo de homem em nossa Cidade e nem sequer é permitido que haja. Depois de derramar mirra em sua cabeça e coroá-lo com louros, mandá-lo-í­amos para outra Cidade.”
Sócrates – A República

(Utopia Aplicada – glerm soares)

Entrevista de glerm soares p/ Estrela Leminski, para um Doutorado em etnologia da música curitibana. Algumas canções e coagulações pontuando o diletante tateando.

Onde você nasceu?

Curitiba-PR Brasil. América.

Você é descendente de europeus? Quais? Sabe a sua história?

Também. No lado materno tenho mais afirmada a ascendência européia pois vieram de colônias alemãs, minha mãe foi da primeira geração a casar fora da colônia. Originalmente são da região gaúcha de Ijuí­, Cruz Alta, Santa Rosa, Horizontina, Santiago, Tupanciretã (Oeste do Rio Grande do Sul). Curiosamente a famí­lia do meu pai também é da mesma região, porém na famí­lia dele ja tem um orgulho mestiço anterior, diz-se que são descendentes de Bugres, o que não diz exatamente uma etnia e sim é um tipo de apelido da raí­z í­ndigena por ali (bastante próxima dos Guarani, mas devem haver outras raí­zes perdidas nos povos das missões). Recentemente meu pai me disse que sua avó casada com o avô bugre era italiana, disse até o nome e sobrenome dela, mas acho que hoje já estão distantes estes 8 ou 16 sobrenomes…

(Dinossauro de Proveta – glerm soares)

O que é a música Curitibana?

Realmente não sei. Música feita em Curitiba ou música feita por curitibanos? Música feita por descendentes de curitibanos? Uma música que só exista aqui e tenha a cara daqui? É uma cidade bastante provinciana até hoje (pelo bem e pelo mal), que não vive de um ethos cultural próprio e sim de um suposto cosmopolitismo (um cosmopolitismo afetadamente provinciano), o que implica ser uma cidade de consumidores mais do que produtores. Certamente temos vários avatares para afirmar e louvar, que ainda habitam aqui ou até mesmo constroem um imaginário das ruas e mitos locais, porém acho que tendem a fechar-se nelas mesmas quando ficam nessa pequenez de “cena local”. Qual o raio dessa “cena”? Região metropolitana? Ecos em São Paulo e pontuais festivais de gênero em capitais? Muita gente boa com certeza, mas hoje acho bem problemático um músico daqui não extravazar para outros sintomas metropolitanos. A internet acabou com as fronteiras, vivemos uma época de encontrar mapas mais multidimensionais do que o plano cartesiano geopolí­tico. A pergunta sobre “cena” até fazia algum sentido nos anos 90, o auge daquele delí­rio de gravadoras pseudo-independentes (braços de multinacionais) e os cadernos de cultura dos jornais criando cenários, mas era sofrido, pra que repetir aquilo? Hoje é possí­vel identificar pares em qualquer sí­tio do planeta e encontrar seu circuito. Se música curitibana é só aquilo que sai no caderno G da Gazeta do Povo, eu tou fora. A história que vivo é contemporanêa e sem fronteiras.

(Coroa da pena do pássaro sagrado da eternidade – Matema )

Quem são os principais grupos compositores ou autores de Curitiba?

Octavio Camargo, Felipe Cordeiro, Lúcio Araújo, Nillo Ferreira, Gus Pereira, Renê Bernunça, Thadeu Wojciechowski, Marcos Gusso, Rubens Kulczycki, Chico Mello, Barbara Kirchner, Gustavo X.X.X., Jr. Ferreira, Gengivas Negras, Domingos, Wandula, Ruí­do por milí­metro, Magog, Woyzeck, coligere, Igor Ribeiro, Limbonautas, Pogobol, July et Joe, Pelebrói não sei, Imperious Malevolence, Beijo aa Força, Chucrobilly, Marcos Prado, Orquestra de Sopros de Ctba, Digão Duarte, Manoel Neto, Ademir Plá, Mamelucovich, Observatório Nome de Mulher, L.F. Leprevost, Malditos ícaros do Microcosmos, Tenuipalpus Blanch, Matema, um guri de 12 anos que tava tocando violão numa festa da Bicicletada e aquela banda do Rimon que eu não lembro o nome, um amigo gaúcho (Cristiano Figueiró) que morou aqui 6 meses e fez umas 5 músicas conosco, Pan&tone (portoalegrense) e rbrazileiro (olindense) fazendo barulho com Orquestra Organismo no espaço E/ou… essa lista vai aumentar todo dia e não vai ter lógica temporal ou geográfica. Eu moro aqui e quando não moro volto, tudo que é feito aqui ou por gente que ja passou por aqui é daqui também… Muito difí­cil pra mim pontuar isso, porque pra mim é uma vida diária e cada vez que algo soa e que eu estou junto… Ja toquei com uma banda carioca (Jason) na Eslovênia. Ja berrei trechos do Catatau (Paulo Leminski) fazendo música com amigos valenciano, recifense e siciliano na Noruega ou com bahianos, paulistas, gaúchos e outros ainda sem cidadania curitibana em Recife. Aquilo era música curitibana? Também. Mas do sintoma metropolitano deles também, lembrando ainda que o Catatau fala exatamente disso, deste sentimento de ser um pária na própria lí­ngua materna tentando filosofar por categorias que botam em cheque meu latim.

(Leite em Pó – glerm soares)

Você atua de que maneira na música curitibana?

Sendo curitibano e músico. Atualmente estou com um trabalho com software e hardware livre, fazendo softwares de música e instrumentos digitais artesanais que podem ser customizados por qualquer pessoa ( http://artesanato.devolts.org ). Tou com um projeto com gente de varias partes do planeta, chamado “Movimento dos Sem Satélite” (http://devolts.org/msst) disso sai música também, além de outros experimentos pós-industriais e questionamento da tecnocracia.

Quem faz música em Curitiba?

Quem quiser. Música não tem fronteiras e aqui não vamos pedir passaporte ou tolerar xenófobos.

Qual é o papel da polí­tica cultural em Curitiba?

Abrir os olhos para uma arte menos alienada em mercado, em genêro musical, em formatos midiáticos fechados. Mandei um projeto pra construir instalações sonoras e instrumentos de artesania digital pro edital de música municipal, ele não passou. O mesmo edital passou em artes visuais. Sabe por que? Porque o edital de música entendia que música é gravar CD e fazer show em palco… agora que ta aparecendo uns editais de publicar songbooks… Gravar CD, prensar 1000 CDs pra ficar dando pra editor de caderno de cultura de jornal escrever uma notinha que amanhã todo mundo esqueceu… isso é polí­tica cultural? A polí­tica cultural deve investir na base, Universidades livres e liceus de luthiers e musicólogos, em espaços autônomos, em produção de tecnologia musical e de publicação de conteúdo aliada a criatividade artí­stica. Deverí­amos ter mais rádios livres, estúdios livres, rádios universitárias. Essa polí­tica que finge estar aliada a um pseudo-mercado que nunca existiu por aqui é muito deprimente. O festival de música de Curitiba é um bom eixo, mas poderia ser menos elitista e buscar atender outros fluxos fora os acadêmicos, como arte sonora independente de formação musical proposta por artistas conceituais ou outros poetas e boemias. Aquela divisão “M.P.B” versus “erudita” é muito gagá, eu posso ser um erudito do punk, do noise, da música concreta ou eletrônica, ou posso também estar propondo a criação de paisagens sonoras num ambiente público, nas ruas – e isso seria popular, porque não?

( 0xriFFFFFFFFFFFFFF – glerm soares )

Quais caracterí­sticas você apontaria na música Curitibana?

Cosmopolitismo provinciano, confusão ideológica, português estranho, inglês britânico ou ramonesco, punk finlandês, indie í­ndio, academicismo diluí­do, erudição onanista, cageanos de raí­z, elektronische musik, kraut rock, musique concrí¨te, caipira-curupira-capital, catatau, góticos, pós-punk antes do punk, no-wave cheio de onda, industrial cabeção, psychobilly, macumba pra gringo & mpb pra turista, desespero, ansiedade, perfeccionismo extremo paranóico obsessivo. Falo tudo isso no bom sentido. 🙂

Qual é o lugar de curitiba no mundo?

latitude 25ú25’40″S e longitude 49ú16’23″W

( Gambi Mimese – glerm soares )

Como é a relação da música de curitiba com a indústria cultural?

Depende de qual indústria você se refere. Uma indústria local que autoconsome música composta em Curitiba por seus cidadãos ou habitantes? Uma indústria brasileira ou global da música e sua relação com esta produção local? Seria preciso analisar todos os fatores: industria fonográfica, circuito midiático de rádio e tv, festas e festivais, interrelações com outros circuitos fora deste raio municipal. O problema industrial continua sendo o mesmo: uma grande fatia da produção independente querendo responder a uma suposta demanda dos veí­culos de massa, as rádios e tvs abertas que tem concessão pra operar impondo um padrão de comportamento que supostamente responde a um mercado de celebridades. Mas no fundo isto é uma máquina de iludir pessoas criativas a entrar num filtro cruel de servidão a um status quo cultural.

Acho curioso que Curitiba tenha um Festival de Teatro e de Música que atrai tantos estudantes e diletantes destas artes do Brasil todo (considerando aqui que teatro precisa de música também), mas que não gere uma continuidade profí­cua de produção local consumida naquela mesma escala e voracidade. São dois Festivais diferentes em alguns aspectos, pois o festival de música tem um viés didático e parece ser consumido mais por pessoas interessadas na música como métier, já o festival de teatro é uma espécie de carnaval municipal onde as pessoas são guiadas pelo programa das peças mais caras e oficiais, peças que tem atores da globo no elenco e outras figurinhas carimbadas. O curioso é que isso não seja suficiente pra firmar a cidade como um pólo produtor autosuficiente e confiante de suas intenções.

Vale também analisar o circuito de música urbana descendente direto do rock europeu e norte americano, nos anos 90 era fortí­ssima a diversidade com festivais como o B.I.G. (bandas independents de garagem), o selo Bloody e algumas outras coisas que sucederam. Mas aquela iniciativa sucumbiu a suposta necessidade de incluir-se no eixo Rio-São Paulo entrando naqueles selos pseudo-independentes, braços de multinacionais. Aquela época a internet fez muita falta e a articulação fora desta perspectiva era muito mais lenta. No fim dos noventa veio o estouro do rock feito pra MTV e acho que isso ainda domina até hoje este circuito, neutralizando possibilidades realmente alternativas, que nos melhores casos corre pelas bordas e vai muito bem, fazendo suas conexões em circuitos bem especí­ficos, achando seu lugar por dentro da internet.

Um exemplo interessante e bem especí­fico curitibano ja firmado nessa primeira década dos 2000 foi o PsychoCarnival, que acabou virando uma meca de um genêro bastante peculiar, derivado ali de bandas como Cramps e Meteors, mas com uma raí­z bem especí­ficas em bandas curitibanas como Missionários e Cervejas e toda aquela cena “punk o’ billy” que rolava no fim dos oitenta também em outras praças.

Mas a palavra indústria já é por si só muito cruel. Prefiro pensar a música se reproduzindo e sobrevivendo como um organismo, um ser-vivo com sua própria subjetividade do que essa coisa de esteira de montagem.

De alguma maneira a configuração dos imigrantes europeus refletiu na música de Curitiba?

Da mesma que a resistência nativo-americana, africana, asiática e de outros continentes perdidos, pois o que não reflete, reverbera como falta. Agora, nessas décadas que sucedem ao delí­rio industrial do século dos estados-nação, somos muito mais universais, somos muito mais poliglotas e o limite dos continentes são só estes oceanos a serem transpostos com nossa música em comum. A música pode revelar este elo perdido onde a diversidade de nossas raí­zes entram em curto-circuito e criam cidades psicogeograficas entre os pares.

(Da capo! – ensaio de orquestra – Fellini )

electrio

electrio.jpg
This is the THE THEREMIN ELECTRO-ENSEMBLE later called THE
ELECTRIO circa 1932. The thereminist on the left is Leon Theremin’s assistant, Julius Goldberg, playing his RCA theremin with the customized “lightning bolt” art deco, brass nickel chrome antennas. The musician seated in the center of the photo playing the “theremin cello” is the late Leonid Bolotine with whom I studied in New York City in the mid 1960’s. Pianist Gleb Yellin is on the right playing a theremin keyboard. In 1932, the ensemble could be heard on the radio every Monday afternoon at 2:15 over the Columbia Network, KMBC. The picture was taken in the broadcast studio and is from the collection of thereminist David McCornack.

theremin

Here is the Goldberg theremin as it is today, after restoration. It has a new set of hardwood legs, a mahogany finish and a new, nickel plated brass “lightning bolt” pitch antenna made by a master metal worker to match the original. Julius Goldberg was quite a showman and while the distinctive antennas may look striking on stage, the pitch antenna is not practical for precision playing because the configuration of the electromagnetic field emanating from it is as irregular and jagged as the antenna itself. When I record with the instrument, I replace the “lightning bolt” with the standard RCA rod that came with the theremin. The Julius Goldberg RCA theremin can be heard on two cuts from my theremin recording, MANY VOICES.

A close-up of the front of the theremin shows the brass PITCH and VOLUME escutcheons that were part of the 1929 RCA theremin design.

The open cabinet doors reveal the replacement power transformer (the black box in the lower right section of the cabinet). The original RCA transformer blew up on the day of one of John Snyder’s concerts. John was lucky to find an expert who managed to replace it just in time for the performance. Other than the transformer, and one or two small additions made by Julius Goldberg himself, the theremin is entirely original.

As vintage theremins age, their capacitance degenerates as the plates on the old fashioned “trimming condensers” (the three white cards just below the vacuum tubes) begin to wear. This degeneration causes the theremin to lose its high notes. It can be easily corrected by the addition of a few pico farads of capacitance across the circuit. Exactly how much to add must be determined by trial and error. In the photo above, you can see the “alligator clips” that I have added to the trimming condensers to facilitate experimentation.

This is the back of the Julius Goldberg RCA theremin before restoration, legless, and sitting on a low table. People sometimes ask why so many vintage theremins had their legs cut off. If you want to know the answer to this question, just try and get one into the back seat of your car. At some point in the Goldberg theremin’s history, probably in the “Hippy Era” of the late 1960’s, it had been painted a sickly green colour in order to contemporize it. When I acquired the theremin, its previous owner, John Snyder, had stripped off the green paint but had never refinished the cabinet.

Julius Goldberg “kid proofed” his theremin, perhaps following the birth of his children. He added a lock and key to the cabinet doors in order to keep little hands from getting big electric shocks while poking around inside the cabinet. When I restored this instrument, I asked a number of fellow thereminists if they thought I should replace the victorian ormolu fixtures with original vintage RCA doorknobs and everyone felt I should leave them, since they are a part of the instrument’s history.

Although the RCA theremin was originally a mass produced, factory made instrument, they do not all sound the same. Over time, the slow degrading of parts, the addition of different elements, replacements, etc., have contributed to the distinctive voices of these electronic treasures. In a way, this process could be compared to the changes that take place in acoustic instruments as wood, glue and varnish begin to undergo certain natural transformations and repairs and restorations are made sometimes over several centuries.

I affectionately call this theremin “Goldie”. Her voice is exceptionally bright and clear which, to my ears, makes her sound particularly appropriate for certain types of music. If you would like to hear a sample of this sound, click on the link below. This is “Goldie” singing the opening section of Orpheus’ lament, CHE FARO SENZ’ EURIDICE from ORFEO by the Austrian composer, C. W. Gluck (1714 – 1787). This is a short excerpt from the entire piece which can be heard on MANY VOICES.