Fiz o Diabo


Em sabatina, Autran critica Gilberto Gil

MARY PERSIA
da Folha Online

paulo-autran
Arte: William Medeiros

Um apanhado da carreira, elogios a personalidades do teatro e crí­ticas í  polí­tica cultural. A sabatina da Folha realizada na tarde desta segunda-feira com Paulo Autran, 83, reuniu uma platéia que pôde conhecer um pouco mais da visão do ator e diretor de teatro sobre o mundo.

Entre histórias memoráveis e comentários sobre o mundo das artes cênicas, Autran não deixou de expressar sua opinião a respeito da atuação do ministro da Cultura. “O [Gilberto] Gil está ganhando muito dinheiro, tem cantado no mundo inteiro, encantado platéias. Mas, no Brasil, não sei o que ele fez. Pelo teatro, então, acho que ninguém sabe”, disparou o veterano.

A polí­tica cultural de um modo geral, e especialmente as leis de incentivo, também não foram poupadas. “Antes, quando eu fazia uma peça, ia ao banco e assinava dez notas promissórias. Pagava mês a mês, com o dinheiro da bilheteria, e ainda sobrava algum. Hoje em dia, as peças estão muito caras”, afirma Autran. “As leis de incentivo tiveram como efeito colateral o aumento do custo do teatro. Todo mundo [como equipe técnica e infra-estrutura] aumentou seu preço.”

Sua história com as artes cênicas é antiga. Autran contou que seu primeiro personagem foi encenado aos sete anos, em uma peça escrita pela irmã. “Fiz o diabo, com chifres de papelão, calção vermelho e tudo. Entrei mudo e saí­ calado”.

Cusparada

Ele, que cursou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (Universidade de São Paulo) em 1945, estreou em um palco (ainda amador) em 1947. Em 1967 fez seu trabalho mais substancial para o cinema, “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Ele integra o elenco de “A Máquina”, de João Falcão, que estréia em breve nos cinemas brasileiros. Seu último trabalho na TV foi na minissérie “Hilda Furacão”, da Globo.

Da longa carreira, colheu boas histórias, como a vez em que deu uma cusparada em Paulo Francis em defesa da amiga Tônia Carrero.

“Juntei bastante cuspe e cuspi com prazer”, recorda ele. Em outra oportunidade, tentou dar um soco no crí­tico pelo mesmo motivo, mas não foi muito bem-sucedido. “Nunca havia dado um soco em ninguém. É difí­cil, sabe? O corpo se contrai, o braço fica sem força”, revelou, bem-humorado.

Para o futuro, Autran revelou que irá ensaiar “O Avarento”, de Molií¨re, a partir de julho de 2006. Sobre o teatro, diz que não vai deixá-lo tão cedo. “Vou largar o teatro quando a natureza me tirar a voz ou o movimento das pernas. Se bem que uma peça em cadeira de rodas eu faria. Vou trabalhar até não poder mais.”

Autran é o nono entrevistado da série de sabatinas da Folha. Participaram do evento o crí­tico da Folha, dramaturgo e professor de teatro Sergio Salvia Coelho, o diretor e dramaturgo Aimar Labaki e Lí­gia Cortez, atriz e diretora da escola de teatro Célia Helena. A mediação fica a cargo do jornalista Nelson de Sá, titular da coluna “Toda Mí­dia”, da Folha, e autor de “Divers/idade – Um Guia para o Teatro dos Anos 90” (ed. Hucitec).

4 comments

  1. Impressiona que o William Medeiros declara que para fazer acaricatura usou a T�©cnica: Pintura Digital / Photoshop. Novos tempos mesmo.

  2. A suposta cr�­tica, �© sem f�´lego. E contraditoriamente cai no lugar comum.
    Explico: se era mais f�¡cil quando n�£o havia o estado, e o teatro se valia do seu gesto independente. Por que exigir, ou at�© mesmo criticar sua posi�§�£o ? Culpar o estado (governo/ministro), ou seja l�¡ o que for me parece f�¡cil. J�¡ que �© not�³rio a falta de per�­cia do mesmo para com a arte. Talvez esteja mal acustumado, com outras gest�µes que j�¡ o contemplaram com um bom incentivo a cultura. O nosso estado que o diga.
    Penso que quando o artista entra nas quest�µes pol�­ticas, acaba por se atrapalhar tanto no exerc�­cio, quanto na cr�­tica.

  3. culpa �© desculpa.
    linguagem �© liberdade.
    desculpa a culpa e segue a rima…
    assembler?
    assembleia?
    assemblei.
    machina ex m�¡quina.
    que baile o robot.

    main(:){

    (:)-> conduzem luz.

    };

  4. Bom saber que algu�©m teve coragem de cuspir no Francis, aquele que lia 200 jornais por semana mas era incapaz de enxergar a um palmo do seu nariz. gra�§as a ele que hoje temos os mainardis da vida, p�©ssimos escritores, mas �³timos polemistas de plant�£o. Descanse em paz, Francis. Descanse em paz, mainardi. Com leminski:

    dia, dai-me
    a sabedoria de caetano
    nunca ler jornais
    a loucura de glauber
    sempre uma cabe�§a cortada a mais
    a f�ºria de d�©cio
    nunca fazer versinhos normais

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