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  1. Dizendo poder, nÃ?£o quero significar “o Poder”, como conjunto de
    institui�§�µes e aparelhos garantidores da sujei�§�£o dos cidad�£os em um
    Estado determinado. Tamb�©m n�£o entendo poder como modo de sujei�§�£o
    que, por oposi�§�£o �  viol�ªncia, tenha a forma da regra. Enfim, n�£o o
    entendo como um sistema geral de domina�§�£o exercida por um elemento ou
    grupo sobre outro e cujos efeitos, por deriva�§�µes sucessivas,
    atravessem o corpo social inteiro. A an�¡lise em termos de poder n�£o
    deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da
    lei ou a unidade global de uma domina�§�£o; estas s�£o apenas e, antes de
    mais nada, suas formas terminais.

    (…)

    — que lÃ?¡ onde hÃ?¡ poder hÃ?¡ resistÃ?ªncia e, no entanto (ou melhor, por
    isso mesmo) esta nunca se encontra em posi�§�£o de exterioridade em
    relaÃ?§Ã?£o ao poder. Deve-se afirmar que estamos necessariamente “no”
    poder, que dele nÃ?£o se “escapa”, que nÃ?£o existe, relativamente a ele,
    exterior absoluto, por estarmos inelutavelmente submetidos �  lei? Ou
    que, sendo a hist�³ria ardil da raz�£o, o poder seria o ardil da
    histÃ?³ria — aquele que sempre ganha? Isso equivaleria a desconhecer o
    car�¡ter estritamente relacional das correla�§�µes de poder. Elas n�£o
    podem existir sen�£o em fun�§�£o de uma multiplicidade de pontos de
    resist�ªncia que representam, nas rela�§�µes de poder, o papel de
    advers�¡rio, de alvo, de apoio, de sali�ªncia que permite a preens�£o.
    Esses pontos de resist�ªncia est�£o presentes em toda a rede de poder.
    Portanto, nÃ?£o existe, com respeito ao poder, um lugar da grande Recusa — alma da
    revolta, foco de todas as rebeli�µes, lei pura do revolucion�¡rio. Mas
    sim resist�ªncias, no plural, que s�£o casos �ºnicos: poss�­veis,
    necess�¡rias, improv�¡veis, espont�¢neas, selvagens, solit�¡rias,
    planejadas, arrastadas, violentas, irreconcili�¡veis, prontas ao
    compromisso, interessadas ou fadadas ao sacrif�­cio; por defini�§�£o, n�£o
    podem existir a n�£o ser no campo estrat�©gico das rela�§�µes de poder.
    Mas isso n�£o quer dizer que sejam apenas subproduto das mesmas, sua
    marca em negativo, formando, por oposi�§�£o �  domina�§�£o essencial, um
    reverso inteiramente passivo, fadado �  infinita derrota. As
    resist�ªncias n�£o se reduzem a uns poucos princ�­pios heterog�ªneos; mas
    n�£o �© por isso que sejam ilus�£o, ou promessa necessariamente
    desrespeitada. Elas s�£o o outro termo nas rela�§�µes de poder;
    inscrevem-se nestas rela�§�µes como o interlocutor irredut�­vel. Tamb�©m
    s�£o, portanto, distribu�­das de modo irregular: os pontos, os n�³s, os
    focos de resist�ªncia disseminam-se com mais ou menos densidade no
    tempo e no espa�§o, � s vezes provocando o levante de grupos ou
    indiv�­duos de maneira definitiva, inflamando certos pontos do corpo,
    certos momentos da vida, certos tipos de comportamento. Grandes
    rupturas radicais, divis�µes bin�¡rias e maci�§as? ��s vezes. �� mais
    comum, entretanto, serem pontos de resist�ªncia m�³veis e transit�³rios,
    que introduzem na sociedade clivagens que se deslocam, rompem unidades
    e suscitam reagrupamentos, percorrem os pr�³prios indiv�­duos,
    recortando-os e os remodelando, tra�§ando neles, em seus corpos e
    almas, regi�µes irredut�­veis. Da mesma forma que a rede das rela�§�µes de
    poder acaba formando um tecido espesso que atravessa os aparelhos e as
    institui�§�µes, sem se localizar exatamente neles, tamb�©m a pulveriza�§�£o
    dos pontos de resist�ªncia atravessa as estratifica�§�µes sociais e as
    unidades individuais. E �© certamente a codifica�§�£o estrat�©gica desses
    pontos de resist�ªncia que torna pos�­vel uma revolu�§�£o, um pouco � 
    maneira do Estado que repousa sobre a integra�§�£o institucional das
    rela�§�µes de poder.

    Hist�³ria da Sexualidade, vol. I. Michel Foucault.

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