Brasil, tô chegando! Ass. Influenza Aviária Posted on 15/10/200516/10/2005 by Mathieu Struck Autor: Indigo Goat Licenciado sob Creative Commons 2.0 by
Dizendo poder, nÃ?£o quero significar “o Poder”, como conjunto de instituiÃ?§Ã?µes e aparelhos garantidores da sujeiÃ?§Ã?£o dos cidadÃ?£os em um Estado determinado. TambÃ?©m nÃ?£o entendo poder como modo de sujeiÃ?§Ã?£o que, por oposiÃ?§Ã?£o Ã? violÃ?ªncia, tenha a forma da regra. Enfim, nÃ?£o o entendo como um sistema geral de dominaÃ?§Ã?£o exercida por um elemento ou grupo sobre outro e cujos efeitos, por derivaÃ?§Ã?µes sucessivas, atravessem o corpo social inteiro. A anÃ?¡lise em termos de poder nÃ?£o deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da lei ou a unidade global de uma dominaÃ?§Ã?£o; estas sÃ?£o apenas e, antes de mais nada, suas formas terminais. (…) — que lÃ?¡ onde hÃ?¡ poder hÃ?¡ resistÃ?ªncia e, no entanto (ou melhor, por isso mesmo) esta nunca se encontra em posiÃ?§Ã?£o de exterioridade em relaÃ?§Ã?£o ao poder. Deve-se afirmar que estamos necessariamente “no” poder, que dele nÃ?£o se “escapa”, que nÃ?£o existe, relativamente a ele, exterior absoluto, por estarmos inelutavelmente submetidos Ã? lei? Ou que, sendo a histÃ?³ria ardil da razÃ?£o, o poder seria o ardil da histÃ?³ria — aquele que sempre ganha? Isso equivaleria a desconhecer o carÃ?¡ter estritamente relacional das correlaÃ?§Ã?µes de poder. Elas nÃ?£o podem existir senÃ?£o em funÃ?§Ã?£o de uma multiplicidade de pontos de resistÃ?ªncia que representam, nas relaÃ?§Ã?µes de poder, o papel de adversÃ?¡rio, de alvo, de apoio, de saliÃ?ªncia que permite a preensÃ?£o. Esses pontos de resistÃ?ªncia estÃ?£o presentes em toda a rede de poder. Portanto, nÃ?£o existe, com respeito ao poder, um lugar da grande Recusa — alma da revolta, foco de todas as rebeliÃ?µes, lei pura do revolucionÃ?¡rio. Mas sim resistÃ?ªncias, no plural, que sÃ?£o casos Ã?ºnicos: possÃ?Âveis, necessÃ?¡rias, improvÃ?¡veis, espontÃ?¢neas, selvagens, solitÃ?¡rias, planejadas, arrastadas, violentas, irreconciliÃ?¡veis, prontas ao compromisso, interessadas ou fadadas ao sacrifÃ?Âcio; por definiÃ?§Ã?£o, nÃ?£o podem existir a nÃ?£o ser no campo estratÃ?©gico das relaÃ?§Ã?µes de poder. Mas isso nÃ?£o quer dizer que sejam apenas subproduto das mesmas, sua marca em negativo, formando, por oposiÃ?§Ã?£o Ã? dominaÃ?§Ã?£o essencial, um reverso inteiramente passivo, fadado Ã? infinita derrota. As resistÃ?ªncias nÃ?£o se reduzem a uns poucos princÃ?Âpios heterogÃ?ªneos; mas nÃ?£o Ã?© por isso que sejam ilusÃ?£o, ou promessa necessariamente desrespeitada. Elas sÃ?£o o outro termo nas relaÃ?§Ã?µes de poder; inscrevem-se nestas relaÃ?§Ã?µes como o interlocutor irredutÃ?Âvel. TambÃ?©m sÃ?£o, portanto, distribuÃ?Âdas de modo irregular: os pontos, os nÃ?³s, os focos de resistÃ?ªncia disseminam-se com mais ou menos densidade no tempo e no espaÃ?§o, Ã? s vezes provocando o levante de grupos ou indivÃ?Âduos de maneira definitiva, inflamando certos pontos do corpo, certos momentos da vida, certos tipos de comportamento. Grandes rupturas radicais, divisÃ?µes binÃ?¡rias e maciÃ?§as? Ã?â?¬s vezes. Ã?â?° mais comum, entretanto, serem pontos de resistÃ?ªncia mÃ?³veis e transitÃ?³rios, que introduzem na sociedade clivagens que se deslocam, rompem unidades e suscitam reagrupamentos, percorrem os prÃ?³prios indivÃ?Âduos, recortando-os e os remodelando, traÃ?§ando neles, em seus corpos e almas, regiÃ?µes irredutÃ?Âveis. Da mesma forma que a rede das relaÃ?§Ã?µes de poder acaba formando um tecido espesso que atravessa os aparelhos e as instituiÃ?§Ã?µes, sem se localizar exatamente neles, tambÃ?©m a pulverizaÃ?§Ã?£o dos pontos de resistÃ?ªncia atravessa as estratificaÃ?§Ã?µes sociais e as unidades individuais. E Ã?© certamente a codificaÃ?§Ã?£o estratÃ?©gica desses pontos de resistÃ?ªncia que torna posÃ?Âvel uma revoluÃ?§Ã?£o, um pouco Ã? maneira do Estado que repousa sobre a integraÃ?§Ã?£o institucional das relaÃ?§Ã?µes de poder. — HistÃ?³ria da Sexualidade, vol. I. Michel Foucault. Responder
Dizendo poder, nÃ?£o quero significar “o Poder”, como conjunto de
institui�§�µes e aparelhos garantidores da sujei�§�£o dos cidad�£os em um
Estado determinado. Tamb�©m n�£o entendo poder como modo de sujei�§�£o
que, por oposi�§�£o � viol�ªncia, tenha a forma da regra. Enfim, n�£o o
entendo como um sistema geral de domina�§�£o exercida por um elemento ou
grupo sobre outro e cujos efeitos, por deriva�§�µes sucessivas,
atravessem o corpo social inteiro. A an�¡lise em termos de poder n�£o
deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da
lei ou a unidade global de uma domina�§�£o; estas s�£o apenas e, antes de
mais nada, suas formas terminais.
(…)
— que lÃ?¡ onde hÃ?¡ poder hÃ?¡ resistÃ?ªncia e, no entanto (ou melhor, por
isso mesmo) esta nunca se encontra em posi�§�£o de exterioridade em
relaÃ?§Ã?£o ao poder. Deve-se afirmar que estamos necessariamente “no”
poder, que dele nÃ?£o se “escapa”, que nÃ?£o existe, relativamente a ele,
exterior absoluto, por estarmos inelutavelmente submetidos � lei? Ou
que, sendo a hist�³ria ardil da raz�£o, o poder seria o ardil da
histÃ?³ria — aquele que sempre ganha? Isso equivaleria a desconhecer o
car�¡ter estritamente relacional das correla�§�µes de poder. Elas n�£o
podem existir sen�£o em fun�§�£o de uma multiplicidade de pontos de
resist�ªncia que representam, nas rela�§�µes de poder, o papel de
advers�¡rio, de alvo, de apoio, de sali�ªncia que permite a preens�£o.
Esses pontos de resist�ªncia est�£o presentes em toda a rede de poder.
Portanto, nÃ?£o existe, com respeito ao poder, um lugar da grande Recusa — alma da
revolta, foco de todas as rebeli�µes, lei pura do revolucion�¡rio. Mas
sim resistÃ?ªncias, no plural, que sÃ?£o casos Ã?ºnicos: possÃ?Âveis,
necess�¡rias, improv�¡veis, espont�¢neas, selvagens, solit�¡rias,
planejadas, arrastadas, violentas, irreconcili�¡veis, prontas ao
compromisso, interessadas ou fadadas ao sacrifÃ?Âcio; por definiÃ?§Ã?£o, nÃ?£o
podem existir a n�£o ser no campo estrat�©gico das rela�§�µes de poder.
Mas isso n�£o quer dizer que sejam apenas subproduto das mesmas, sua
marca em negativo, formando, por oposi�§�£o � domina�§�£o essencial, um
reverso inteiramente passivo, fadado � infinita derrota. As
resistÃ?ªncias nÃ?£o se reduzem a uns poucos princÃ?Âpios heterogÃ?ªneos; mas
n�£o �© por isso que sejam ilus�£o, ou promessa necessariamente
desrespeitada. Elas s�£o o outro termo nas rela�§�µes de poder;
inscrevem-se nestas relaÃ?§Ã?µes como o interlocutor irredutÃ?Âvel. TambÃ?©m
sÃ?£o, portanto, distribuÃ?Âdas de modo irregular: os pontos, os nÃ?³s, os
focos de resist�ªncia disseminam-se com mais ou menos densidade no
tempo e no espa�§o, � s vezes provocando o levante de grupos ou
indivÃ?Âduos de maneira definitiva, inflamando certos pontos do corpo,
certos momentos da vida, certos tipos de comportamento. Grandes
rupturas radicais, divis�µes bin�¡rias e maci�§as? ��s vezes. �� mais
comum, entretanto, serem pontos de resist�ªncia m�³veis e transit�³rios,
que introduzem na sociedade clivagens que se deslocam, rompem unidades
e suscitam reagrupamentos, percorrem os prÃ?³prios indivÃ?Âduos,
recortando-os e os remodelando, tra�§ando neles, em seus corpos e
almas, regiÃ?µes irredutÃ?Âveis. Da mesma forma que a rede das relaÃ?§Ã?µes de
poder acaba formando um tecido espesso que atravessa os aparelhos e as
institui�§�µes, sem se localizar exatamente neles, tamb�©m a pulveriza�§�£o
dos pontos de resist�ªncia atravessa as estratifica�§�µes sociais e as
unidades individuais. E �© certamente a codifica�§�£o estrat�©gica desses
pontos de resistÃ?ªncia que torna posÃ?Âvel uma revoluÃ?§Ã?£o, um pouco Ã?Â
maneira do Estado que repousa sobre a integra�§�£o institucional das
rela�§�µes de poder.
—
Hist�³ria da Sexualidade, vol. I. Michel Foucault.