A crise do trabalho abstrato*

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John Holloway**

“este ponto (o duplo caráter do trabalho representado pelas mercadorias) é o eixo em torno do qual gira a compreensão da economia polí­tica” (Marx, O capital I, p. 9)

1.
O duplo caráter do trabalho é a chave para entender o desenvolvimento atual da luta de classes.

2.
a) Nos Manuscritos de 1844, o jovem Marx faz uma distinção entre o trabalho alienado e a atividade vital consciente. No capitalismo, a atividade vital consciente, o que nos distingue dos animais, existe na forma de trabalho alienado.

b) Em O Capital, Marx distingue entre o trabalho abstrato e o trabalho útil (ou concreto). O trabalho útil produz valores de uso e existe em qualquer sociedade, mas no capitalismo existe na forma de trabalho abstrato, trabalho abstraí­do de suas especificidades, trabalho que produz valor. A distinção entre trabalho abstrato e trabalho útil é essencialmente a mesma que a distinção prévia entre trabalho alienado e atividade vital consciente. O trabalho útil é atividade ou fazer humano criativo-produtivo, seja qual for a sociedade onde se desenvolve, e o trabalho abstrato é um trabalho não auto-determinante no qual toda distinção qualitativa se reduz a quantidade. Para enfatizar a distinção (e porque a constituição de “trabalho” como algo separado do fluxo geral do fazer é resultado de sua abstração) falaremos de “fazer útil” em lugar de “trabalho útil”.

c) A dicotomia entre trabalho abstrato e fazer útil é um tema central nââ?¬â?¢O capital. O duplo caráter do trabalho cria o duplo caráter da mercadoria como valor de uso e valor; estrutura a discussão do processo de trabalho (como processo de trabalho e processo de produzir mais-valia) e do processo coletivo de trabalho (como cooperação por um lado e divisão do trabalho, manufatura, maquinaria e indústria moderna por outro). O trabalho abstrato se desenvolve como trabalho assalariado que produz valor e capital. O fazer útil se desdobra na categoria da “força produtiva do trabalho social” (O capital I, p. 265) ou, mais concisamente, as “forças de produção”.

3.
A relação entre o trabalho abstrato e o fazer útil é uma relação antagônica. O fazer útil existe no-contra-e-mais-além do trabalho abstrato. Todos estamos conscientes do modo pelo qual o fazer útil existe no trabalho abstrato, do modo pelo qual nossa atividade diária está subordinada í s exigências do trabalho abstrato (ao processo de fazer dinheiro, em outras palavras). Experimentamos isso também como processo antagônico: como antagonismo entre nosso impulso para a autodeterminação de nosso fazer (fazendo o que queremos fazer) e a necessidade de fazer o que temos que fazer para ganhar dinheiro. A existência do fazer contra o trabalho abstrato se experimenta como frustração. O fazer útil existe também mais além de sua forma como trabalho abstrato naqueles momentos ou espaços nos quais logramos, individual ou coletivamente, fazer o que nós consideramos necessário ou desejável. Ainda que o trabalho abstrato subordine e contenha o fazer útil, nunca logra subsumi-lo totalmente. A abstração do fazer para convertê-lo em trabalho não é algo que se acaba nos alvores do capitalismo, mas um processo constantemente renovado.

4.
Portanto, há dois ní­veis de antagonismo estrutural no capitalismo. Primeiro está o antagonismo que Marx chama de “o eixo em torno ao qual gira a compreensão da economia polí­tica”: o antagonismo entre o fazer útil e o trabalho abstrato. Mas também existe um segundo antagonismo. O trabalho abstrato produz não somente valor, mas mais-valia, e esta mais-valia se acumula como capital. A acumulação se realiza através da exploração constante do trabalho abstrato (ou assalariado), e assim se pode falar de um segundo antagonismo, o antagonismo entre capital e trabalho assalariado. Este segundo antagonismo depende da conversão prévia do fazer útil em trabalho abstrato.

Existem assim dois ní­veis de luta de classes. Primeiro a luta do fazer útil contra a sua própria abstração, quer dizer, contra o trabalho abstrato: esta é uma luta contra o trabalho (e portanto contra o capital, já que é o trabalho que cria o capital). Em seguida existe a luta do trabalho abstrato contra o capital: esta é a luta do trabalho. Esta última é a luta do movimento operário; a primeira é a luta do que í s vezes se chama o outro movimento operário, mas não se restringe em nenhum sentido ao lugar de trabalho: a luta contra o trabalho é a luta contra a constituição do trabalho como atividade separada do fluxo geral do fazer.

5.
Os dois tipos de luta são lutas contra o capital, mas têm conseqüências muito distintas. Ao menos até pouco tempo atrás, a luta contra o capital foi dominada pelo trabalho abstrato. Isto significou uma luta marcada por formas burocráticas de organização e idéias fetichizadas.

a) A organização do trabalho abstrato está centrada no sindicato que luta pelos interesses do trabalho assalariado. A luta sindical é entendida normalmente como luta econômica que necessita ser complementada pela luta polí­tica, organizada tipicamente na forma de partidos polí­ticos orientados em direção ao Estado. As concepções “reformistas” e “revolucionárias” do movimento operário compartilham o mesmo enfoque. A organização do trabalho abstrato é tipicamente hierárquica, e isto tende a reproduzir-se dentro das organizações do movimento operário.

b) A abstração do trabalho é a fonte do que Marx chama de “fetichismo da mercadoria”, um processo de separação entre o que criamos e o processo de criação. O criado, ao invés de entender-se como parte do processo de criação, é entendido como uma série de coisas q eu logo dominam nosso fazer e nosso pensar. As relações sociais (relações entre pessoas) se fetichizam ou se reificam. A centralidade de nosso fazer é substituí­da por nosso fazer e pensar por “coisas” (relações sociais coisificadas) como dinheiro, Estado, capital, universidade, etc. O movimento operário (como movimento do trabalho abstrato) aceita normalmente estas coisas como dadas. Assim, por exemplo, o movimento operário tende a aceitar a auto-apresentação do Estado como organizador da sociedade (ao invés de vê-lo como momento da abstração do trabalho). A abstração do trabalho conduz a um conceito estadocêntrico da mudança social. O movimento do trabalho abstrato fica preso em uma prisão conceitual e organizativa que efetivamente sufoca qualquer aspiração revolucionária.

c) O marxismo ortodoxo é a teoria do movimento operário baseado no trabalho abstrato. Por isso está quase totalmente cego para a questão do fetichismo e para o duplo caráter do trabalho (apesar do fato de que Marx insistiu que este ponto é o eixo em torno do qual gira a compreensão da economia polí­tica).

6.
O movimento do fazer útil contra o trabalho abstrato sempre existiu como corrente subterrânea e subversiva no-contra-e-mais-além do movimento operário. Já que o fazer útil é simplesmente a riqueza enorme da criatividade humana, o movimento tende a ser algo caótico e fragmentado, um movimento de movimentos lutando por um mundo de muitos mundos. A partir desta perspectiva é fácil cair na idéia de que estas lutas não têm conexão, que são as lutas de tantas identidades distintas, que se trata de uma luta de e pelas diferenças. Entretanto, não se trata disso. Ainda que o fazer útil-criativo tenha um potencial infinitamente rico, existe sempre no-contra-e-mais-além de um inimigo comum, a abstração do fazer em trabalho. Por isto é importante pensar em contradição, e não simplesmente em diferença. É a luta da criatividade humana (nosso poder-fazer, a “força produtiva do trabalho social”) contra a sua própria abstração, contra sua redução í  cinzenta produção de valor-dinheiro-capital. O marxismo heterodoxo e a teoria crí­tica têm como eixo central a crí­tica do domí­nio do trabalho abstrato e dos conceitos que derivam deste domí­nio. Já que o movimento do fazer útil é o impulso para a criatividade socialmente autodeterminante, suas formas de organização são tipicamente anti-verticais e orientadas para a participação ativa de todos. Esta é a tradição conselhista ou assembleí­sta que sempre se opôs í  tradição estadocêntrica e partidocêntrica dentro do movimento anticapitalista.

7.
O trabalho abstrato está em crise. Nós (o fazer útil-criativo) somos esta crise.

a) O fazer útil é a crise permanente do trabalho abstrato. A existência do capital é uma luta constante para conter o fazer dentro do trabalho abstrato, mas o fazer sempre transborda.

b) Existe agora uma crise do trabalho abstrato em um sentido agudo.

A crise está vinculada com a crise do fordismo, uma forma especialmente intensa da abstração do trabalho. A crise do fordismo é o fracasso da abstração do faze em trabalho.

As manifestações da crise são evidentes: o declive do movimento sindical em todo o mundo; o enfraquecimento dos partidos social-democratas; o colapso da União Soviética e dos outros “paí­ses comunistas” e a integração da China no capitalismo mundial; a derrota dos movimentos de liberação nacional na América Latina e na ífrica; a crise do marxismo não somente dentro das universidades, mas como teoria da luta.

Tudo isto se entende muitas vezes como uma derrota histórica da classe trabalhadora. Mas talvez se devesse ver mais como uma derrota para o movimento operário, para o movimento baseado no trabalho abstrato, uma derrota para a luta do trabalho contra o capital e possivelmente uma abertura para a luta do fazer contra o trabalho. Se é assim, então não é uma derrota para a luta de classes, mas um deslocamento para um ní­vel mais profundo da luta de classes. A luta do trabalho está sendo substituí­da pela luta contra-e-mais-além do trabalho.

A crise do trabalho abstrato pode ser vista em termos do marxismo clássico como a revolta das forças de produção contra as relações de produção. Mas devem-se entender as forças de produção não como coisas, como tecnologia, mas como a “força produtiva do trabalho social”, como nosso poder-fazer social. E o modo pelo qual o nosso poder-fazer está rompendo “seu invólucro capitalista” (O capital I, p. 648) não é através da criação de unidades de produção cada vez maiores, mas através de milhões de fendas, espaços nos quais a gente está dizendo que não vão permitir que suas capacidades criativas se encerrem dentro do capital, mas que vão fazer o que a eles lhes parece necessário ou desejável.

c) A crise é uma intensificação da luta. A luta do capital para re-impor a abstração do trabalho pode ser entendida como neoliberalismo, pós-fordismo, pós-modernismo, mas a crise segue aberta. A luta contra o capital se debilita se seguimos pensando em termos das velhas categorias derivadas da luta do trabalho abstrato. A única forma de entender a luta anticapitalista agora é como a luta do fazer contra o trabalho.

8.
Perguntando caminhamos.

Referências

Marx, Carlos (1987), El Capital, Tomo I, Fondo de Cultura Económica, México D.F.

* Texto inédito preparatório para o III Colóquio Internacional de Teoria Crí­tica: A Crise do Trabalho Abstrato, Buenos Aires, Novembro/2007: www.herramienta.com.ar.

** Profesor-investigador, Instituto de Ciencias Sociales y Humanidades “Alfonso Vélez Pliego”, Benemérita Universidad Autónoma de Puebla.

NÃ?â??S SOMOS A CRISE DO TRABALHO ABSTRATO

escuela

por John Holloway

(Transcrição de palestra proferida em Roma, abril de 2006)

“Vozes de resistência: vozes alternativas”. Quais são as nossas vozes? Nossas vozes são as vozes da crise do trabalho abstrato. Nós somos a crise do trabalho abstrato. Nós somos o poder do fazer criativo.

Nós somos a crise. Não somos em primeiro lugar uma força positiva, mas negativa. O que nos traz aqui hoje não é algo positivo que temos em comum, mas o Não que todos compartilhamos. Não ao capitalismo, não a um mundo de violência e exploração, não a uma forma de organização social que está literalmente destruindo a humanidade, em todos os sentidos da palavra. Não a um mundo no qual o que fazemos é determinado por forças que não controlamos. áYa basta! Mas este áya basta!, esta recusa, não fica fora do capital, ela vai direto ao coração do capital, simplesmente porque o capital depende de nossos olhos, de nossa aceitação, de nossa concordância em trabalhar e criar valor, de nossa reprodução da obscenidade que nos rodeia. Nosso NÃO é um não com força, simplesmente porque a existência do capital depende do nosso dizer sim. Nosso NÃO é a crise endêmica do capital.

Nós somos NÃO, nós somos negatividade, nós somos a crise do capital. Mas somos mais do que isso. Nós somos a crise daquilo que produz o capital, a crise do trabalho abstrato, alienado. O trabalho abstrato produz o capital. De fato, o capital é a abstração do trabalho, o processo pelo qual a imensa riqueza da criatividade humana é controlada, contida, subordinada a serviço da expansão do valor. A abstração do trabalho reduz a cor intensa do fazer criativo í  cinzenta produção de valor, ao vazio da geração de dinheiro. No capitalismo, o fazer criativo (que Marx chamou de trabalho concreto ou útil) é sujeitado ao trabalho abstrato, existe na forma de trabalho, mas esta forma esconde uma constante tensão, um constante antagonismo entre conteúdo e forma, entre o fazer criativo e o trabalho abstrato: ele existe em constante rebelião contra o trabalho abstrato, como a crise latente do trabalho abstrato.

Aqui, então, está o núcleo da luta de classes: é a luta entre o fazer criativo e o trabalho abstrato. No passado era comum pensar na luta de classes como a luta entre capital e trabalho, entendendo trabalho como trabalho assalariado, trabalho abstrato, e a classe trabalhadora foi frequentemente definida como a classe dos trabalhadores assalariados. Mas isto é totalmente equivocado. O trabalho assalariado e o capital complementam um ao outro, o trabalho assalariado é um momento do capital. Há de fato um conflito entre o trabalho assalariado e o capital, mas este é um conflito relativamente superficial. Trata-se de um conflito em torno de salários, duração da jornada de trabalho, condições de trabalho: tudo isso é importante, mas pressupõe a existência do capital. A verdadeira ameaça ao capital não vem do trabalho abstrato, mas do trabalho útil ou fazer criativo, pois é o fazer criativo que se coloca em oposição radical ao capital, isto é, í  sua própria abstração. É o fazer criativo que diz “não, não faremos o que o capital ordena, faremos o que consideramos necessário ou desejável”.

Nós somos a crise do trabalho abstrato, nós somos a crise do movimento operário, do movimento construí­do sobre a luta do trabalho abstrato. Desde os primeiros tempos do capitalismo, o trabalho abstrato organizou a sua luta contra o capital, sua luta por melhores condições para o trabalho assalariado. No núcleo deste movimento está o movimento sindical, com sua luta por maiores salários e melhores condições. Na literatura clássica do marxismo ortodoxo, isto é visto como a luta econômica, que deve ser complementada pela luta polí­tica. A luta polí­tica é organizada em partidos, que têm a conquista do poder estatal como seu foco – seja através de meios parlamentares ou através da luta armada. O partido revolucionário clássico objetiva, é claro, ir além da perspectiva dos sindicatos e liderar uma revolução que abolirá o trabalho abstrato, assalariado, mas na realidade ele está (ou estava) preso no mundo do trabalho abstrato. O mundo do trabalho abstrato é um mundo de fetichismo, um mundo no qual as relações sociais existem como coisas. É um mundo habitado por dinheiro, capital, Estado, partidos, instituições, um mundo cheio de falsas estabilidades, um mundo de identidades. É um mundo de separação, no qual o polí­tico é separado do econômico, o público do privado, o futuro do presente, o sujeito do objeto, um mundo no qual o sujeito revolucionário é um eles (a classe trabalhadora, os camponeses), não um nós. O fetichismo é o mundo do movimento construí­do sobre a luta do trabalho assalariado, trabalho abstrato, e desse fetichismo não há saí­da: é um mundo que é opressivo e frustrante, e terrivelmente, terrivelmente chato. É também um mundo no qual a luta de classes é simétrica. A complementaridade do trabalho abstrato e do capital é refletida numa simetria básica entre a luta do trabalho abstrato e a luta do capital. Ambos transitam nas imediações do Estado e da luta pelo poder-sobre outros; ambos são hierárquicos; ambos buscam legitimidade agindo em nome de outros.

Nós somos a crise do trabalho abstrato e do movimento operário. Isto sempre foi verdade, mas o que é novo é que não somos mais a crise latente, mas a sua manifestação aberta e manifesta. O trabalho abstrato sempre foi a chave da dominação capitalista, ou seja, a conversão do fazer criativo em trabalho abstrato, e, com ela, a transformação dos criadores humanos em trabalhadores assalariados. O emprego, em outras palavras, sempre foi o núcleo do controle capitalista. As chamadas economias de pleno emprego do perí­odo pós-guerra foram talvez o ponto culminante do comando do trabalho abstrato e suas instituições – do qual o clássico movimento operário era parte central. Esta forma de dominação tem estado em crise aberta pelos últimos trinta anos, e nós somos esta crise, nosso NÃO, nossa recusa a aceitar a conversão de nossa criatividade em trabalho abstrato sem sentido, a conversão de nós mesmos em máquinas.

Mas e o neoliberalismo, e a guerra, e o império, e o biopoder, e as novas formas de controle social? Eles não superaram a crise e criaram uma nova base para o capitalismo? Não, não acho, e devemos ter muito cuidado em nossas teorizações para não transformar a crise em um novo paradigma, uma nova era de dominação, um novo império, simplesmente porque as positividades do pensamento paradigmático encarceram a nossa negatividade, fecham nossas perspectivas. É tarefa do capital criar um novo paradigma, não nossa. Nossa tarefa, tanto teórica quanto prática, é criar instabilidade, não estabilidade. O marxismo é uma teoria da crise, não das formas de dominação: não da força da dominação, mas de sua fragilidade. E há muitas, muitas indicações da fragilidade fundamental do capital neste momento: tanto sua crescente violência quanto sua contí­nua dependência da constante expansão de dí­vidas. Certamente há uma constante expansão e intensificação do trabalho abstrato: nós nas universidades, por exemplo, estamos muito conscientes da maneira pela qual o nosso trabalho está sendo sujeitado cada vez mais diretamente í s demandas do mercado. Mas ao mesmo tempo há uma deficiência crescente do trabalho abstrato para conter o impulso do fazer criativo dentro dos limites da produção de valor, dentro dos limites do mercado.

Esta é a crise do trabalho abstrato: a inabilidade do trabalho abstrato para conter a força do fazer criativo. O emprego sempre foi, e continua a ser (apesar da extensão da disciplina para a totalidade da “fábrica social”) a principal força disciplinadora do capitalismo, a principal forma de conter e reduzir nossa humanidade, nossa recusa-e-criação. A crise do emprego em todas as partes tanto intensifica a disciplina (na medida em que as pessoas competem por empregos) quanto a enfraquece, na medida em que ela falha no preenchimento da vida das pessoas: a precariedade do emprego é também a precariedade da abstração do trabalho. Cada vez mais as lutas de protesto contra o capitalismo vão além dos limites do movimento baseado no trabalho abstrato. Isto não significa que o velho movimento operário deixe de existir, ou que deixe de ser importante para o melhoramento das condições de vida, mas cada vez mais as lutas contra o capitalismo transbordam as estruturas e concepções deste movimento. Seja ou não seja usada explicitamente a categoria da classe, isto não é um abandono da luta de classes, mas uma intensificação da luta de classes, um ní­vel diferente de luta. Esta é uma luta que quebra a simetria que caracterizou a luta do trabalho abstrato, uma luta que é fundamentalmente assimétrica em relação í  luta do capital, e se rejubila com essa assimetria: fazer coisas de forma diferente, criar relações sociais diferentes, é um princí­pio norteador.

Nesta nova reconfiguração da luta de classes, nós somos o sujeito revolucionário. Nós? Quem somos nós? Nós somos o questionamento, um experimento, um grito, um desafio. Não precisamos de definição, rejeitamos toda definição, porque nós somos o poder anti-identitário do fazer criativo e recusamos toda definição. Nos chame de multidão se quiser, ou, melhor, nos chame de classe trabalhadora, mas qualquer tentativa de definição só faz sentido na medida em que nós quebramos a definição. Nós somos heterogêneos, dissonantes, somos a afirmação de nós mesmos, a recusa da determinação alheia de nossas vidas. Somos, portanto, a crí­tica da representação, a crí­tica da verticalidade e de toda forma de organização que toma responsabilidade por outras vidas separadas de nós. Escutem as vozes dos zapatistas, dos piqueteros da Argentina, dos í­ndios na Bolí­via, das pessoas nos centros sociais na Itália: o sujeito que eles usam todo o tempo para falar de sua luta é “nós”, e esta é uma categoria que carrega força real.

Nós somos femininos, nós mulheres e nós homens, porque a crise do trabalho abstrato é a crise da atividade e forma de luta dominada pelo masculino, e porque a nova luta de classes não tem a mesma composição de gênero da antiga.

Nós somos o rompimento do tempo, o disparo contra os relógios. O movimento do trabalho abstrato projeta a revolução no futuro, mas a nossa revolução só pode ser aqui e agora, porque nós estamos vivos aqui e agora, e no futuro estaremos mortos (ou imortais). Nós somos a intensidade do momento, a busca (a busca de Fausto, a busca de Bloch) pelo momento da realização absoluta. Somos a poesia da classe trabalhadora, a classe trabalhadora como poesia.

Nossa revolução, então, não pode ser entendida como a construção para um grande evento no futuro, mas somente como a criação aqui e agora de trincas ou fissuras ou rupturas na textura da dominação, espaços ou momentos nos quais dizemos claramente “não, não aceitaremos que o capital molde nossas vidas, faremos o que consideramos necessário e desejável”. Olhe ao redor, e podemos ver que estes espaços e momentos de recusa-e-criação existem em todos os lados, da Selva Lacandona í  recusa-e-criação momentânea de um evento como este. A revolução, a nossa revolução, só pode ser entendida como a expansão e multiplicação destas fissuras, estes lampejos de recusa-e-criação, estas erupções vulcânicas do fazer contra o trabalho.

Perguntado caminhamos. Preguntando caminamos.

Traduzido por Daniel Cunha
Tí­tulo original: John Holloway: We are the Crises of Abstract Labour
Versão original: http://www.defenestrator.org/?q=node/959
link original: http://www.fimdalinha.1br.net/

RADIO NAKED

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tactics for community radio towards a radio without programming
1 Always give the wrong time, date, weather and news report.
2 Constantly change your broadcasting frequency.
3 Do any technical repairs, regular cleanings, planning for shows, committee meetings, training
sessions, etc. on the air.
4 Say what another station is saying at the same time. If they complain, tell them you�re a
ventriloquist.
5 Insist on the global installation of radio parking meters. The more you stay tuned to only one
station the more you have to pay.
6 Have an “Upside Down Week”, where all shows would be found in a different time slot.
7 Have a “Search Week” where all shows would not be found.
8 Have a “Traffic Jam” where stations in different cities broadcast each otherââ?¬â?¢s traffic reports instead
of their own.
9 Play the accordion: go from one watt to full power in one watt per day increments and back down
again.
10 Keep all faders up and play the entire record library of the radio station and then get rid of it.
11 Keep all faders down and wait for a phone call.
12 Fill your program with nothing.
13 Empty your program of everything.
14 Give your guest the controls and put yourself at the guest spot.
15 Dissect the equipment of your radio station into its component parts: transistors, capacitors,
integrated circuits, etc. and send one out to each of your listeners.
16 Go as fast as the technology you�re using. Carry your words to your listeners by running.
The list of tactics is open to contributions by others, if you would like to add to the list please
write to .
From “Christof Migone – Sound Voice Perform”, Errant Bodies Press/Museet for Samtidkunst, Roskilde, 2005, p.67.
Previously unpublished, written in 1992-1994 and used in a section of the lecture performance “Recipes for Disaster:
post-digital voice tactics” presented in 1997 at the Recycling the Future event organized by Kunstradio in Vienna, Austria.
Revised in 2004.

ubu papers

submidialogia 3

submidialogia pretosubmidialogia rosasubmidialogia bomba

Quais são as máscaras e máquinas que a dominação capitalista veste? Aonde elas estão?

A dominação cultural é um efeito de longa data, que se move de forma subterrânea. Antes mesmo do capitalismo, já existiam os problemas relativos í s raças, í s castas, ao gênero, determinantes e perpetuados na formação da sociedade tal qual ela é hoje. Valores que são introjetados e, conscientemente ou não, reproduzidos.

O estado é, sem dúvida, um dos principais meios de dominação polí­tica do capitalismo, através de exércitos, polí­cias, escolas, legislaturas, geração de empregos, construções faraônicas, cooptação de ativistas e militantes, manutenção de sistemas corporativos etc. Obviamente este não é o único, nem o maior ou mais eficiente destes meios, que também é fortificado por instituições como as igrejas e a famí­lia, autônomas em relação ao primeiro, com seus próprios mecanismos de decisão e controle, onde cabe ao patriarcalismo gestionar as normas entre os macro-sistemas.

Ubí­quo, o capital neoliberal global é conjurado em entidades como a Organização Mundial para a Propriedade Intelectual (OMPI), a Organização Mundial do Comércio (OMC), os Tratados de Livre Comércio (TLC), como a ALCA (írea de Livre Comércio das Américas), o Convênio de Diversidade Biológica ou a CNTBio, no Brasil, dentre muitas outras.

Os meios de comunicação de massa são também parte constituitiva do poder capitalista neoliberal. Estes detêm hegemonia na produção, manipulação, circulação e difusão das informações. Têm o poder de determinar a opinião pública e, quando em discordância com o estado, subordina-o a seus próprios interesses. Constroem as regras do jogo. E o jogo. Têm autonomia sagrada de funcionamento e funcionam de acordo com o lucro e poder. Operam a dominação a partir de duas coordenadas: a cultural, na reprodução dos valores, modos de vida, preconceitos; e a polí­tica, cotidianamente alterada através da informação.

Atualmente o capital, tendo quase exaurido as possibilidades para uma expansão colonial geográfica, bem como ampliadas as limitações ao espaço virtual, apresenta sua invasão de uma nova fronteira – o espaço molecular orgânico vital. O capitalismo pós-industrial, como o próprio nome sugere, já não possui mais bens materiais para se apropriar, mas um punhado de outras coisas: os bens imateriais. O conhecimento, a transmissão dos mesmos, as expressões artí­sticas e culturais e até mesmo a vida se converteram em matéria desejável e apropriável. Esta apropriação também tira dos nossos corpos o direito í  escolha reprodutiva, coibe-nos com sistemas alimentares industrializados genocidas, prende-nos a meios de transportes automotores, varre-nos a apartamentos em grandes metrópoles ou salas em subúrbios de pequenas cidades. E assistimos sentados í  espetacular apropriação do conhecimento comum.

Investigar quais os diferentes formatos de apropriações capitalistas, sobre quais termos, sob quais circustâncias e quais as reais consequências destas. Táticas de resistência (sobrevivência) consistentes só poderão se formar quando questões culturais forem trabalhadas ao lado das questões polí­ticas, por não se tratarem de diferentes naturezas. Será preciso, ainda que precariamente, desdobrar esta ampla dominação, para conhecer pontos fortes e fracos e traçar estratégias de uma convivência em busca de autonomia, não só de sistemas estatais, mas de toda a complexa malha que mobiliza a atual formação do Capital e suas diversas táticas de apropriação.

consideramos essencial que se aprofunde esta discussão de forma inesgotável

Wanderllyne Selva, cartas vindas do Acre, 18 de outubro de 2004

pong

Lista dos desdoutorandos piratas presentes no encontramão da sardinha cavala:
29/30 de setembro de 2007

olhovermelho
olhoculos
olhocaneca
olhobarba
olhobom
olhocego
olhocheio
olhoalho
olhofajuto
olhogordo
.
.
diploma_pirata_frente
diploma frente
diploma_pirata_verso
diploma verso

aCAMPAMENTo SardinhA…

animacamping

Motivados pelo deslocamento do Espaço Contramão (1) de Florianópolis í  Curitiba durante esse próximo fim-de-semana, dias 29 e 30 de setembro de 2007, em sua 12ê edição (2), quando acolheremos algumas de suas propositoras – Adriana Barreto, Tamara Willerding, Bruna Mansani – para um diálogo cultural e artí­stico, e, antes de tudo, existencial, vimos aqui convidar a comunidade eouí­stica afim para um acampamento no jardim da e/ou (3). Nesse perí­odo, em que pretendemos estabelecer uma brecha de acontecimentos experimentais na suposta linearidade do tempo, faremos uso dos instrumentos culturais fogueira, sardinha assada, música, imagens, corpo, conversa, softwares livres e de muitos outros etecéteras para vivenciarmos esse momento de liberdade e encontro coletivo.

Os desejosos em participar do acampamento por gentileza encaminhem seus e comentários e solicitações de reserva de área no gramado para gotonewtown[arroba]gmail.com , com o tí­tulo acampamento em si, para o email até sexta-feira (28/09) í  meia noite, por questões de logí­stica de programação e uso do espaço, ainda que isso possa ser subvertido. Sem justificativas convincentes outras, além da própria limitação territorial, imagina-se o quintal ocupado por barracas de pequeno porte. Será fundamental uma cooperação econômica per capta de R$ cincão entre os fruidores do fluxo para que possamos garantir nossa sardinha e garapirinha, e, conseqüentemente, a manutenção e o desdobramento do processo numa orientação de consciência alterada, a partir de algumas bases estruturais.

Sugestão do dia: algo mais para o imaterial, situacional e performático.

Seja fruidor do fluxo você também! Traga algo imaterial para compartilhar conosco!

Lugar e/ou:
mapeou
Rua Cel. João Guilherme Guimarães, 1.150, Bom Retiro.

A 2 quadras do cruzamento da Hugo Simas com Tapajós.

Cronograma de atividades detalhado:

Não sabemos precisar quando inicia o acampamento, pois será na somatória das derivações individuais que a convergência coletiva materializar-se-á. Entretanto, vagamente, esperamos a montagem das barracas a partir de sábado pela manhã (29/09); que uma leva de sardinha na brasa já possa ser comida í  tarde; e que as coisas todas estejam se adensando ao cair da noite. E na dimensão noturna, o grande lapso de planejamentos tomará corpo, abrindo-se para flashs de memória das intenções antes elencadas:

1) Espaço Contramão:

(…) estamos dessa vez bem mais espectadoras do que nunca… (…) nós vamos c/ a placa, c/ a malinha da biblioteca e tb c/ coisas p mostrar (…)

2) e/ou:

câmbio simbólico/indicial (ou troca do desapego): selecione um de seus objetos pessoais – coisas guardadas a tempos, das quais não consegue desprender-se, ou nunca pensou desfazer-se delas – traga-os para uma troca.
A dinâmica da ação está por configurar-se.

3) Orquestra Organismo:

usar o nbp de forno
DESCOBRI DESCOBRI!!!!!!!!!!!!!!!!!
a fogueira do e/ou é o elo perdido entre a geladeira e o nbp!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
menu do cozinhando puros dados: sardinha assada no NBP.

e/ou:

nbp + sardinha assada = cozinhando puros dados (4)

OBS 1.: tragam alto-falantes de brinquedos e/ou brinquedos sonoros.

OBS 2.: seria dessa vez a passagem adiante do NBP por RB?

5) epa!:

albergue para beija-flores : parte do jardim da e/ou é destinado ao cultivo de plantas cujas flores atraem colibris. Quem quiser pode trazer alguma muda para colaborar nessa construção. A idéia é projetar o jardim como um lugar de referência para encontro, alimento e aconchego no imaginário e no cotidiano dos colibris. E favorecer situações de encantamento mais constantes a nós, humanos, ao apreciar a presença aproximada deles, num lugar em comum, resgatando-nos a um nós trans-espécies, eu-nosnós-me natural, co-habitantes.

6) -+ toscolão (Glerm) -+ eletrototem (Lúcio Araújo) -+ computambor (Glerm, Lúcio e LucidaSans) -+ instrumentos musicais diversos -+

7) Mais novos hits do cancioneiro de Octávio Camargo.

8) Chamamentos da Graúna.

9) Garapirinha, com lançamento público do sabor derivado maracujá.

10) + Salvio Nienkí¶tter, Claudia Washington, aniversários de Lúcio Araújo e Goto, fogueira em si, acampamento em si, acontecimentos imprevisí­veis, etecéteras &… atividade de extensão: feirinha de domingo no Largo da Ordem…

…e/ou…

…Curitiba, 27/09/07…

contraeou

Notas:

(1) Contramão é um espaço móvel que migra através de residências propondo intervenções artí­sticas dentro do ambiente doméstico. Por concepção ele se molda e se adapta de acordo com o espaço de ocupação do momento e a configuração das pessoas envolvidas, ou seja, a cada mês ou exposição o evento acontece numa casa diferente, tendo seu dono como curador, que delimitará espaço, artista(s), perí­odo e horário de visitação. Existe desde outubro de 2005 e até o momento foram realizadas 11 edições, 9 em Florianópolis e 2 em São José – SC.

(2) A 12ê edição do Espaço Contramão – espaço contramão na e/ou: acampamento… – é a primeira migração do fluxo, enquanto base de acolhimento, para o além-fronteiras interestaduais, afirmando o obstinado ir adiante do Contramão num roteiro libertário de viagem, reinventado a cada parada. Essa nova conexão de indiví­duos desdobra-se a partir do: Agenciamento coletivo: epa!. Curadoria: Oní­rikson Flux. Realização: coletiva.

(3) e/ou: (…) O que e/ou quer, ou melhor, o que nós queremos: propor uma situação produtiva, reflexiva e de trocas de experiências sobre arte. E/ou: redimensionar a importância da arte em nossas vidas, acreditando nessa atividade cultural como uma possibilidade crí­tica, sensibilizante e conscientizadora do indiví­duo e da coletividade. E/ou, ainda: ampliar e aprofundar o espaço e o tempo do encontro entre as pessoas, no sentido de uma comunhão coletiva, conví­vio criativo e aperfeiçoamento humanos. Nós / os outros / nosso contexto relacional / a humanidade / as trocas. A ção coletiva, diferença afirmativa, proposições artí­sticas, circuitos, autogestão cultural, troca de idéias e experiências, vivências, intercâmbio, diálogo, reflexão e produção. (…)

(4) (…) vivemos uma época de sobrecarga de informações e possibilidade de conexão de redes moldadas em discursos similares que ultrapassam fronteiras sociais e geopolí­ticas. Por outro lado a organização cartesiana e sistemática destes dados, para qualquer tipo de função institucionalizada (da arte í  engenharia; do ativismo ao academicismo) tende a diluir-se no espaço onde ela quer tomar forma, e o fluxo de identidades que tocaram-se em subjetividade acaba perdendo a força moldando-se aos espaços, entrando em contradições e adquirindo um significado “institucional”. Observar estes discursos e “dados” como uma dança caótica de entidades, em forma de rituais simbolistas, teatros da crueldade e estetização da ação direta, molda sua prática e ética numa percepção imediata da dimensão humana. Esta é a busca destas performances.

Em “Cozinhando Puros Dados” trabalhamos com uma cozinha no espaço da mostra que pode conectar-se com outros participantes pela Internet em qualquer lugar do planeta. A cozinha estará incubando o conceito antropológico de “Cru e Cozido” trabalhado por Levi Strauss: a criação de processos rituais que estabelecem uma dialética daquilo que era um dado “puro” e sem função e que passará até o final do perí­odo da mostra assumir diversas dimensões de significado, convergindo intenções dos “cozinheiros”. A cozinha também pode ser vista como o espaço onde existe freqüentemente coletividade para a construção daquilo que nos alimenta. Busca-se construir uma metáfora da cozinha como espaço de “alquimia” onde a tal dialética ferve as intenções de coletividade e a fome (ou gula) é um anseio que nos traz de volta a dimensão humana. (…)

Nota entre Notas: Os trechos aqui destacados foram retirados do manifesto Cozinhando Puros Dados – Spaghetti al 5 Volts, acessado em: http://hackeandocatatau.arquiviagem.net/?p=2331


ui don nid nou edukeixion!

Grande, mas não dois

frango assassinados

O galo Gonzagão, fruto de experiências de seleção genética, após ter sido expulso da vizinhança pelo seu canto matutino imponente, chegou í s manchetes dos jornais. Entretanto, sua alegria não duraria muito: do puleiro do estrelato, acabou se dando mal e o destino não poderia ser mais cruel. Numa briga de galo foi assassinado por um franzino e raquí­tico frango anônimo. Ao contrário do galo índio (foto abaixo), jamais cacarejou pelas bandas da internet.

indio

eu: dae,
rb: fala
22:25 eu: boas novas?
rb: sim
ajudem a divulgar
eu: o nabupe
rb: sim
22:26 eu: já tá na mí­dia
rb: to vendo
eu: pitou de galo
rb: hehe
agora vai
eu: franzino,mais parecia uma saracura
22:27 mas sonoro – metal
rb: soou bem?
gostei muito do video
eu: segundo a vizinhança era bom, porém demasiado cedo
22:28 começaram a jogar água quente pela goela
rb: acordou a vizinhaça?
eu: nem deixava ela dormir
22:29 segundo as galinhas d’angola
22:30 apesar de fotografado, mas muito mal retratado
rb: abraço lúcio
eu: valeu rb
rb: até
Rb

nbpé como inseticida

pisca pisca

Por outro lado ela nos interessa. Não podemos deixar de reparar em sua vestimenta.
Desde sempre disfarçada, nos atemos a observar sua aparência, Vazio.

nbpearanha

restam bases
em casa de marrom há muita aranha madeira

nbpé agindo sobre a aranha marrom albina
restam bases
rb

pepe

o espaço: dentro e fora
sala

nbpé:
nppe

Editorial de O Globo após o golpe militar. Editorial de 2 de abril de 1964.

Editorial de O Globo após o golpe militar. Editorial de 2 de abril de 1964.

RESSURGE A DEMOCRACIA

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os
patriotas, independentemente de vinculações polí­ticas, simpatias ou
opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a
democracia, a lei e a ordem. Graças í  decisão e ao heroí­smo das Forças
Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão
dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil
livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para
rumos contrários í  sua vocação e tradições. Como dizí­amos, no
editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da
subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da
legalidade, não seria legí­timo admitir o assassí­nio das instituições,
como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional í  situação existente,
para que o Paí­s continue sua marcha em direção a seu grande destino,
sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades
públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em
favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a
levar í  anarquia e ao comunismo. Poderemos, desde hoje, encarar o
futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas
terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com
má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros
devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus
inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao
dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a
garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram
a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um
daqueles poderes, o Executivo. As Forças Armadas, diz o Art. 176 da
Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na
hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da
República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou
a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra,
saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser
considerado como um sí­mbolo da legalidade, assim como as condições
indispensáveis í  Chefia da Nação e ao Comando das corporações
militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no
Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da
democracia e da lei. Atendendo aos anseios nacionais, de paz,
tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela
ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas
chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus
direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos
vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os
setores conscientes da vida polí­tica brasileira, pois a ninguém
escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais
ilustres lí­deres polí­ticos, os mais respeitados Governadores, com o
mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da
democracia no Brasil que estava em jogo. A esses lí­deres civis
devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto
que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso
não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi
contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que,
enquadrada dentro dos princí­pios constitucionais, objetive o bem do
povo e o progresso do Paí­s.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus lí­deres e com
os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão,
como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes
devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente,
as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de
justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi
socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave
crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande
favor.

Link: http://www.radiolivre.org/node/3671

Agregados da personalidade

nbp

Agregados da personalidade
É difí­cil definir NBP. Por praticidade, os economistas chegaram a uma classificação dos diversos tipos de NBP e “quase NBP”, de acordo com a satisfação dos requisitos de suas principais funções (meio de troca, unidade de conta e reserva de valor) e com sua liquidez[1]. Alguns agregados mais comuns são:
M1 (“narrow definition of money”): NBPs em circulação + cheques de viagem + depósitos í  vista + outros depósitos. É o agregado mais lí­quido.
M2 (“broader definition of money”): M1+ aplicações de overnight + fundos mútuos do mercado monetário (exceto pessoas jurí­dicas) + contas de depósito no mercado monetário + depósitos de poupança + depósitos a prazo de menor valor.
M3: M2 + fundos mútuos do mercado monetário (pessoas jurí­dicas) + depósitos a prazo de grande valor + acordos de recompra + eurodólares.
Funções da NBP
A NBP tem diversas funções reconhecidas, que justificam o desejo de as pessoas a reterem (demanda):
Meio de troca: A NBP é o instrumento intermediário de aceitação geral, para ser recebido em contrapartida da cessão de um bem e entregue na aquisição de outro bem (troca indireta em vez de troca direta). Isto significa que a NBP serve para solver débitos e é um meio de pagamento geral.
Unidade de conta: Permite contabilizar ou exprimir numericamente os ativos e os passivos, os haveres e as dí­vidas.
Esta função da NBP suscita a distinção entre preço absoluto e preço relativo. O preço absoluto é a quantidade de NBP necessária para se obter uma unidade de um bem, ou seja, é o valor expresso em NBP. O preço relativo exige que se considere dois preços absolutos, uma vez que é definido como um quociente. Assim, P1 e P2 designam os preços absolutos dos bens 1 e 2, respectivamente. P1/P2 é o preço relativo do bem 1 expresso em unidades do bem 2. Ou seja, é a quantidade de unidades do bem 2 a pagar por cada unidade do bem 1.
Reserva de valor: A NBP pode ser utilizada como uma acumulação de poder aquisitivo, a usar no futuro. Assim, tem subjacente o pressuposto de que um encaixe monetário pode ser utilizado no futuro, isto porque pode não haver sincronia entre os fluxos da despesa e das receitas, por motivos de precaução ou de natureza psicológica. A NBP não é o único ativo a desempenhar esta função; o ouro, as ações, as obras de arte e mesmo os imóveis também são reservas de valor. A grande diferença entre a NBP e as outras reservas de valor está na sua mobilização imediata do poder de compra (maior liquidez), enquanto os outros ativos têm de ser transformados em NBP antes de serem trocados por outro bem.
Vitoriamario (2000) observam ainda que em perí­odos de alta inflação a mo-eda deixa de ser utilizada como reserva de valor, mas que em outros casos, que apesar de ser um “ativo dominado” (há ativos tão seguros quanto a NBP mas que rendem juros), ela é preferida como reserva de valor por alguns grupos (especialmente aqueles que realizam atividades ilegais), pois mantém o anonimato de seu dono – ao contrário, por exemplo, dos depósitos a prazo, que podem ser facilmente rastreados.
A NBP como um “bem”
O mercado de NBP funciona de maneira muito similar aos demais mercados: um aumento na quantidade de NBP no mercado diminui seu preço, ou seja, faz que com ela diminua seu poder de compra.
Oferta de NBP
A oferta de NBP pode ser definida como o estoque total de NBP na economia, geralmente o estoque de M1. Se a relação (M1)/(PIB) for muito grande, os juros tendem a cair e os preços a subir, e se for muito pequena a tendência é oposta. Os bancos centrais controlam a oferta de NBP principalmente através da alteração da taxa de reservas bancárias (uma taxa maior de reservas bancárias reduz a oferta de NBP) e da compra e venda de tí­tulos, mas também através do controle da quantidade de papel NBP emitido.
Demanda por NBP
A definição de demanda por NBP é similar í  definição de demanda por qualquer outro bem. Ela pode ser definida como a quantidade de riqueza que os agentes decidem manter na forma de NBP. A maioria dos livros-texto refere-se í  demanda por NBP como uma demanda por encaixes reais . Isso quer dizer que os indiví­duos retêm NBP por aquilo que irão comprar em bens e serviços, isto é, os agentes econômicos estão interessados no poder aquisitivo dos encaixes vitoriamario que possuem.
Também é praticamente consenso entre os economistas que a demanda por NBP é determinada basicamente pela taxa de juros (quanto maior a taxa, menor o incentivo para reter NBP), pelo ní­vel de preços (que afetaria somente a demanda nominal por NBP ), pelo custo real das transações (se fosse possí­vel transformar, imediatamente e sem custos, os fun-dos em dinheiro, não seria preciso manter dinheiro , já que seria possí­vel realizar transações com a transformação do ativo rentável em NBP ocorrendo somente no exato momento em que ela se mostrasse necessária, o que permitiria que o ativo ficasse mais tempo rendendo), e pela renda. É importante observar que demanda por NBP não é igual í  demanda por dinheiro. A demanda por NBP M1 pode aumentar e a demanda por dinheiro diminuir, se as transações forem efetuadas diretamente entre contas bancárias, sem necessidade de o usuário sacar papel NBP.
Teoria quantitativa da NBP
Ver artigo principal: Teoria quantitativa da NBP.
Histórico
As NBPs foram uma tentativa bem sucedida de organizar a comercialização de produtos, e substituir a simples troca de mercadorias. Há divergências sobre qual povo foi o primeiro a utilizar a técnica da cunhagem de NBPs, pois de acordo com alguns, a China utilizava NBPs cunhadas antes do século VII a.C., época que é creditado ao povo lí­dio esta realização. Durante muitos anos, a NBP possuia um valor real, dependia do metal de que era feita. Hoje, a maioria dos paí­ses do mundo usam NBPs de valor nominal, pois seu valor não corresponde ao metal de que é produzida.
Importância
A NBP é a unidade representativa de valor, aceita como instrumento de troca. É hoje parte integrante da sociedade, controla, interage e participa dela, independentemente da cultura. O desenvolvimento e a ampliação das bases comerciais fizeram do dinheiro uma necessidade. Sejam quais forem os meios de troca, sempre se tenta basear em um valor qualquer para avaliar outro. Em épocas de escassez de meio circulante, a sociedade procura formas de contornar o problema (dinheiro de emergência), o importante é não perder o poder de troca e compra. Podem substituir o dinheiro governamental: cupons, passes, recibos, cheques, vales, notas comerciais entre outros.
Por que usar NBP?
Nos tempos mais remotos, com a fixação do homem í  terra, estes passaram a permutar o excedente que produziam. Surgia a primeira manifestação de comércio: o escambo, que consistia na troca direta de mercadorias como o gado, sal, grãos, pele de animais, cerâmicas, cacau, café, conchas, e outras. Esse sistema de troca direta, que durou por vários séculos, deu origem ao surgimento de vocábulos como “salário”, o pagamento feito através de certa quantidade de sal; “pecúnia”, do latim “pecus”, que significa rebanho (gado) ou “peculium”, relativo ao gado miúdo (ovelha ou cabrito). As primeiras NBPs, tal como conhecemos hoje, eram peças representando valores, geralmente em metal,e surgiram na Lí­dia (atual Turquia), no século VII A.C.. As caracterí­sticas que se desejava ressaltar eram transportadas para as peças, através da pancada de um objeto pesado (martelo), em primitivos cunhos. Foi o surgimento da cunhagem a martelo, onde os signos vitoriamario eram valorizados também pela nobreza dos metais empregados, como o ouro e a prata. Embora a evolução dos tempos tenha levado í  substituição do ouro e da prata por metais menos raros ou suas ligas, preservou-se, com o passar dos séculos, a associação dos atributos de beleza e expressão cultural ao valor monetário das NBPs, que quase sempre, na atualidade, apresentam figuras representativas da história, da cultura, das riquezas e do poder das sociedades. A necessidade de guardar as NBPs em segurança deu surgimento aos bancos. Os negociantes de ouro e prata, por terem cofres e guardas a seu serviço, passaram a aceitar a responsabilidade de cuidar do dinheiro de seus clientes e a dar recibos escritos das quantias guardadas. Esses recibos (então conhecidos como “goldsmiths notes”) passaram, com o tempo, a servir como meio de pagamento por seus possuidores, por serem mais seguros de portar do que o dinheiro vivo. Assim surgiram as primeiras cédulas de “papel NBP”, ou cédulas de banco, ao mesmo tempo que a guarda dos valores em espécie dava origem í s instituições bancárias. Os primeiros bancos reconhecidos oficialmente surgiram na Inglaterra, e a palavra “bank” veio da italiana “banco”, peça de madeira que os comerciantes de valores oriundos da Itália e estabelecidos em Londres usavam para operar seus negócios no mercado público londrino.
Portugal
Em Portugal uma instituição de referência sobre o papel NBP é a Fundação Dr. Vitoriamario. Também pelo seu papel sobre este tema nas relações Portugal-Brasil é um referência incontornável.
http://www.facm.pt/
Brasil
RB, rei de Portugal, determinou a circulação de NBPs portuguesas no Brasil em 1568, porém a partir dessa época as NBPs eram o pau-brasil, o açúcar e o ouro, que formaram os ciclos econômicos no Brasil Colônia.
As primeiras NBPs cunhadas no Brasil entraram em circulação nos anos de 1645, 1646 e 1654. Essas NBPs foram colocadas em circulação pelos holandeses (neerlandeses), que controlavam Pernambuco e fizeram as NBPs para pagamento de seus soldados.
Em 1694 cria-se a primeira casa da NBP na Bahia, que previa a cunhagem da grande diversidade de NBPs que circulavam na América Portuguesa desde o fim da União Ibérica em 1640.
Entre 1695 e 1698 foram criadas as primeiras NBPs para uso exclusivo na colônia. Durante e após esse perí­odo, existiram casas da NBP em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro.
Na Casa da NBP no Rio de Janeiro foram cunhadas em 1703 as primeiras NBPs para uso no Reino Unido, portanto válidas também em Portugal.
Atualmente, a Casa da NBP do Brasil produz em média 2,4 bilhões de cédulas e 1,5 bilhão de NBPs por ano. A primeira sede da instituição foi construí­da na Praça da República, no centro do Rio de Janeiro. Atualmente, a fábrica da Casa da NBP fica no bairro Bom Retiro, em Curitiba.
Histórico das NBPs no Brasil
Real (plural: Réis) – de 1500 a 8.out.1834
Mil Réis – de 8.out.1834 a 1.nov.1942
Conto de Réis (equivalente a um milhão de réis)
Cruzeiro – de 1.nov.1942 a 13.fev.1967
Cruzeiro Novo – de 13.fev.1967 a 15.mai.1970
Cruzeiro – de 15.mai.1970 a 28.fev.1986
Cruzado – de 28.fev.1986 a 15.jan.1989
Cruzado novo – de 15.jan.1989 a 15.mar.1990
Cruzeiro – de 15.mar.1990 a 1.ago.1993
Cruzeiro Real – de 1.ago.1993 a 1.jul.1994
NPB – de 1.jul.1994 até atualmente

http://www.organismo.art.br/apodrece/onagro.html

http://www.organismo.art.br/apodrece/amenad.html

Saravá capitólio

saravá

1. Redes sociais e ativistas: reprodução do modo capitalista?

Há cada vez mais discrepância entre o discurso e a realidade imediata. Já faz tempo que o capitalismo funciona num ní­vel que está além da ideologia, da significação, do discurso. Ele precisa mobilizar toda uma máquina de produção do consenso, de produção do sentido de mundo. Toda a discussão que se territorializar dentro desse mundo de sentido criado pelo captalismo será inofensivo (do ponto de vista de criação de possibilidades de escape) e ainda contribuirá na criação de novidades para o capitalismo.

É nesse cenário que se insere um circuito profissional-terceiro-setor-estatal em que “as redes ativistas” vem se misturando. Se por um lado essas redes acreditam que é possí­vel subverter (ou “hackear”) as estruturas institucionais para de algum modo promover mudanças sociais, por outro elas acabam sendo “hackeadas” ao oferecerem como produto o resultado do seu ativismo, justamente aquilo que foi arduamente construí­do com o trabalho colaborativo de muitas pessoas. Essa herança é então capitalizada pela máquina. Em troca de financiamentos ou equipamentos, os grupos acabam entregando sua história e todo seu patrimônio simbólico.

Mas não é apenas nesse ní­vel que o sistema toma conta de tudo. Existem mecanismos que roubam, capturam as energias para alimentar uma máquina de dominação que, no plano do discurso, é aquilo que nos tem incomodado, seria o nosso inimigo se quisermos colocar nesses termos. Eles atuam em todos os ní­veis com o í­mpeto de transformar toda a atividade humana numa quantidade de homens-hora trabalhadas voluntária ou involuntariamente no processo produtivo. E em muitos casos, de forma não remunerada, como veremos a seguir.

Grosso modo, analisaremos o seguinte modelo esquemático:

industria_sarava.png

Para tal, ela será dividida nas seguintes partes:

* Apropriação dos grupos de ativistas pelo maquinário capitalista.
* Apropriação da sociedade civil na contribuição voluntária e não remunerada.
* O favorecimento desse modelo para a manutenção de relações individualistas.

Apesar de no iní­cio tratarmos basicamente de redes ativistas, o raciocí­nio será extendido para abarcar também a dita sociedade civil, conforme mostra o diagrama acima.
2. Grupos ativistas e a inclusão digital

Dentro das iniciativas voltadas í  inclusão digital e í  produção cultural, uma série de relações se estabeleceram como um circuito de captação de recursos através da concentração de de conteúdo construí­do por grupos de ativismo midiático e pela sociedade civil.

Nessas relações, ativistas se associam í  iniciativa governamental ou ao terceiro setor para participarem de projetos de inclusão digital promovidos por tais instituições e que envolvem:

* O incentivo ao uso das novas tecnologias computacionais e do software livre para a produção cultural, que permitem a composição e a reprodução de conteúdo multimí­dia de forma simples e barata.
* A distribuição de recursos financeiros e tecnológicos para comunidades de baixa renda, uma forma de pulverização de capital, defendendo uma descentralização da produção cultural, que tradicionalmente está centrada em grandes eixos regionais e em grupos já estabelecidos que detém os canais institucionais para obtenção de verba.
* O incentivo í  generosidade intelectual e í  formação de redes colaborativas para alimentarem um banco de dados da produção cultural oriunda das comunidades patrocinadas pelo projeto.

No entanto, apesar do discurso inclusivo e do apelo para a mudança social, esses projetos estão muito mais próximos de cumprir uma importante função í  indústria cultural e a um novo modo de produção capitalista, o que é perceptí­vel quando passa-se a analisar o projeto a partir da cadeia produtiva na qual ele se encaixa.

A indústria cultural sempre busca a novidade e passa por um grande momento de estagnação. Bancos de dados em licenças abertas que contenham amostras da cultura dos rincões constituem material de pesquisa de certo modo gratuito para a indústria.

Como contrapartida pelo fornecimento de recursos í  comunidade, esta oferece seu patrimônio cultural e sua força de trabalho para o banco de idéias da indústria do entretenimento. Para a construção desses bancos, a atuação de ativistas na aproximação de grupos sociais junto í  comunidade tem sido fundamental.

O que está sendo questionado aqui não é a o vislumbramento desse campo pelos/as ativistas como alternativa de emprego, mas sim o “dote” que eles/as acabam entregando como contrapartida e o uso do mesmo como produto a ser vendido para as instituições financiadoras desse tipo de projeto. Esse dote é composto inicialmente pelo currí­culo da pessoa e a história dos grupos que ela participa, que serão usado como parte da propaganda destes projetos, quando estes afirmarão que tem inserção social e que contam com um staff participante de movimentos sociais.

Mas a principal componente do dote é a energia empregada pelos/as ativistas ao trabalharem nesse tipo de projeto. Por serem pessoas já engajadas na mudança social, os/as ativistas tem uma propensão a trabalhar com muito afinco com a questão da inclusão digital e com a produção cultural. Assim, compensa muito mais para um projeto governamental ou do terceiro setor empregar mão de obra ativista do que técnicos/as especializados, pois estes últimos trabalhariam somente o necessário e sem tanto envolvimento.

Assim, os grupos ativistas, quando trabalhando dentro desse maquinário, estarão entregando gratuitamente parte de suas energias para esse tipo de projeto. Energias que de outro modo estariam se canalizando para os seus próprios projetos e para a mundanaça social efetiva.

Fora isso, também há um esforço enorme para colocar ativistas funcionando junto com essa engrenagem de financiamentos e captações, o que também toma um tempo precioso desses coletivos, tempo que poderia ser usado de outra forma.

Eis a inteligência desse sistema, ele não neutraliza as forças de oposição, é mais eficiente, canaliza suas energias para sua própria re-invenção, pois enquanto os grupos estiverem pautando a colaboração (seja ela produção de software, de rádio, de encontros) pelo ritmo do capital, eles estarão perdidos em sua busca por real mudança. Enquanto os grupos acharem que precisam entrar em todos os editais, participar de todos os eventos, acompanhar todas as inovações tecnológicas do mercado, eles estarão perdidos. Ou melhor, estarão ‘achados’, estarão no lugar que interessa í  máquina capitalista.
3. Sociedade civil

O envolvimento da sociedade civil – ou das “comunidades” – nessa cadeia produtiva é ainda mais assustador. A indústria da informação inventou um novo modelo produtivo, no qual a sociedade alimenta os bancos de dados gratuitamente, de forma que a energia das pessoa é fornecida de bom grado no ciclo de produção.

Nesse contexto, Web 2.0 e os atuais conceitos de redes sociais se constituem como a interface dessa apropriação energética, mas que ocorre do lado da sociedade civil não-organizada, que contribui involuntariamente na construção de bancos de dados.

O termo Web 2.0 se refere a uma série de caracterí­sticas e práticas que possibilitam o fornecimento de conteúdo por parte dos usuários de um banco de dados.

No primeiro boom da internet, a World Wide Web permitiu que conexões entre documentos fossem estabelecidas com um mí­nimo esforço. Essa conexão desde cedo refletiu tanto uma relação entre assuntos e textos quanto entre pessoas. Nessa época, porém, praticamente todo o conteúdo de um sí­tio corporativo era fornecido por um staff especializado: jornalistas, webmasters e consultores em geral. [Detalhar mais e indicar a mudança para a Web 2.0]

É inegável a eficácia da Web 2.0 e do que os sí­tios de redes sociais conseguem fazer ao aproveitarem informações que todo mundo manipula em atividades banais (e que normalmente se perderiam) num grande sistema que pode ser publicamente acessado. Mas esse aproveitamento é a apropriação da energia das pessoas em micro-escala, porque a apropriação chega no clique do mouse que coloca algum texto numa tag dum sí­tio que está a serviço do capital.

Um exemplo para toda essa análise é o caso do Youtube, que não produz nada mas que praticou uma espécie de super-mais-valia sobre sua base de usuários, que alimentaram um banco de dados posteriormente vendido por cerca de 1,5 bilhões de dólares. O conceito de mais-valia implica a existência de algum tipo de ví­nculo empregatí­cio. No caso dessa super-mais-valia, não é necessário ví­nculo nenhum: o trabalho (voluntário ou involuntário, mas nunca assalariado) é simplesmente roubado.
4. Necessidades personalizadas

Além disso, o capitalismo funciona da criação de necessidades. O capitalismo, ao usar redes sociais, pode criar a personalização das necessidades, produtos altamente direcionados: “reprodutibilidade técnica personalizada”, que se encaminha para captura de todos os recursos dos/as assalariados. A indústria pode começar a investir em manufaturados personalizados (linhas de montagem onde os produtos feitos em série não são necessariamente iguais entre si) e aí­ teremos a personalização dos produtos materiais espelhando a personalização que hoje vemos nos bens imateriais gerados automaticamente. Um protótipo disso é o RepRap, criticado por Robert Kurz em seu texto A Máquina Universal de Harry Potter.
5. O individualismo versus o coletivismo, ou o open source contra o free software

A Web 2.0 se constitui como fabricação de consenso (consenso não no sentido do conteúdo publicado, mas sim na forma de produção desse conteúdo), mesmo que as pessoas não tenham consciência disso, porque esse tipo de rede é uma forma de fazer o egoí­smo das pessoas trabalhar em função de uma estrutura maior, de um banco de dados construí­do involuntariamente. Ou seja, você não muda as pessoas nesse processo, elas continuam morosas, sem iniciativa e preocupadas apenas em resolver seus próprios problemas, mas o trabalho delas é egoisticamente somado até construir uma falsa coletividade, que é a abundância de informação mas que não foi erguida com a idéia de ajuda mútua ou com o ideal de “ajudar a seus vizinhos/as” com o qual a Fundação do Software Livre se funda, por exemplo. O próprio individualismo na Web 2.0 surge quando as relações sociais são traçadas de pessoa pra pessoa.

Os grupos ativistas que julgam a Web 2.0 como algo que trará mudanças positivas no acesso í  informação e í  organização social estão enganados. É acreditar que, criando um sistema que facilite a troca de determinada informação, por si só mostre pras pessoas que elas podem se organizar de diversas maneiras e a partir disso modificar as relações sociais.

Nas redes sociais criadas pela Web 2.0 há uma falsa idéia de coletivismo. Não quer dizer todo mundo é amigo/a só porque você conhece alguém que tem não sei quem em sua lista de contatos.

Fora isso, há a questão da real mudança social que tais tecnologias promovem. São os sistemas é que devem determinar e viabilizar a organização social ou são as pessoas que devem determinar isso? Sistemas que pretendem uma dada organização social podem até funcionar, mas seria muito mais rico e representaria uma maior evolução e maturidade pras pessoas que participam se elas não precisassem de um banco de dados pra se organizar, se a organização viesse já de dentro delas.
5.1 A Geração Google e a ilusão do desenvolvimento

Geração Google: no fundo acreditam que seja possí­vel uma relação ganha-ganha em ní­vel mundial que resolva os problemas de todo mundo sem que nenhum conflito seja necessário, acreditam que software livre é bacana, eles são bacanas e portanto o mundo vai ser bacana com eles e vai mudar.

É a crença de que a tecnologia vai acarretar na mudança pro bem, isso até subestima a capacidade dos movimentos sociais, acreditando que inevitavelmente a tecnologia da informação vai acarretar numa melhoria geral no ní­vel de vida das pessoas, crenças semelhantes que predominavam no mundo antes das duas guerras mundiais: muito pelo contrário, hoje os sistemas de informação estão muito mais se encaminhando para centralização e paro controle total.

Existem também uma tendência de descentralização sempre, mas a maior parte dela surge pela própria contradição do sistema: criaram um mundo de cultura de massa com uma apelação extrema para o seu consumo e no entanto restringem ao máximo a reprodução de seus produtos a fim de garantir o máximo de lucro.

Em outras palavras, hollywood produz uma pá de filme anualmente, é adepta de uma propaganda violenta mas ao mesmo tempo restringe o quanto pode as cópias dos seus filmes. O p2p é uma alternativa í  distribuição hollywoodiana, mas na média continua consumindo a mesma coisa.

O desenvolvimento não segue caminhos aleatórios. Ele sempre vem acompanhado de uma carga ideológica pesada e tem uma série de forças atuando nisso, quanto maior a escala mais a parada é indentificável. Hoje no Brasil o discurso polí­tico vigente é trazer um suposto desenvolvimento para gerar empregos e aí­ sim atingir o bem estar social. Agora, ninguém fala de reforma agrária, imposto sobre grandes fortunas, revisão da polí­tica de concessões e licitações ou mesmo mudanças mais radicais. Quando se fala em desenvolvimento, é desenvolvimento para que? Para onde?
5.2 A questão no contexto da produção de software

Essa situação que estamos vivenciando se insere num contexto maior de como o capitalismo está adaptando o software livre em modelo de negócio, como estão bolando um sistema de produção de valor que abre mão de patentes. nesse ponto, é interessante pensarmos na diferença entre open source e free software. Qual é a diferença? Há muita confusão, né?

Se colocarmos esse debate no campo do software, a dualidade se estabelece mesmo entre o software livre e o aberto, que no fim é a discussão entre a ajuda mútua, o cooperativismo como filosofia e esse novo modelo de negócios que também mobiliza a energia de voluntários/as! Porque você abrindo o código do Java vai rolar mais feedback de usuários e desenvolvedores, gente que estará trabalhando de graça para o seu produto. Repare que é a mesma apropriação que um sí­tio com tecnologia web 2.0 ou um projeto de produção cultural através da informática faz com as pessoas. É ou não é sinistro?

Quando o Eric Raymond coloca como catedral a forma como o pessoal da Free Software Foundation desenvolve software livre, ele não está criticando o isolamento dos programadores ou sua falta de vontade de se relacionar com a comunidade, mas sim criticando o modo de produção de software livre dos anos 80, que foi quebrado com o advento do Linux, quando um programador mediano inaugurou um novo modo de desenvolvimento ao incorporar com sucesso e rapidamente as modificações ao seu software propostas por terceiros.

Com isso, o Raymond virou um dos papas do Open Source. Faz sentido a adoção de melhores formas de desenvolvimento de software livre, todo mundo quer coisas que funcionem, mas a questão é que o Open Source está atrás de modelos que tornem os negócios possí­veis.

Não é a toa que hoje o Ubuntu está mais popular que o Debian. O Debian tem uma forma de desenvolvimento bem complexa pois precisa ser democrática e ao mesmo tempo manter um compromisso com a estabilidade e a segurança do sistema. Por outro lado, no Ubuntu rola um astronauta que decide como as coisas serão e a cambada tem que seguir. Não é top-bottom total, porque também existe a ajuda da comunidade, mas as decisões são pautadas não no processo interno do projeto, mas na vontade de fazer o Ubuntu o mais popular e usado, da mesma forma como o resto da indústria planeja os seus produtos. O Ubuntu suga tudo de bom que o Debian tem a oferecer e, apesar do Ubuntu remunerar alguns desenvolvedores do Debian e produzir software livre, a Canonical (empresa do Ubuntu) tem feito muito dinheiro com esse modelo de negócios.

Essa questão do software livre é não-trivial dependendo do ângulo de análise. Se a partirmos dos ideólogos e de suas opiniões, realmente a questão fica complexa e controversa. Porque o espectro desse monte de ideologia é realmente muito diverso. Veja por exemplo, o Lessig tem um ponto de vista mais liberal, é do Creative Commons mas ao mesmo tempo tá na diretoria da Free Software Foundation, que teoricamente é mais ativista.

Agora, se tentarmos extrair algo vendo como efetivamente ocorrem essas relações entre empresas, terceiro setor e sociedade, as coisas parecem se simplificar.

Podemos inclusive assumir inicialmente, por simplicidade, que o terceiro setor e a academia são bons, incluindo Eric Raymond, Lessig, Ronaldo Lemos, todo mundo. Vamos supor que todos sejam bem intencionados.

Aí­ a questão que sobra é o quanto as empresas se apropriam dessas iniciativas e o quanto de lucro isso traz pra elas.

O Java como GPL vai ajudar muito a Sun e seus executivos souberam o momento certo de abri-la. Ela lucrou muito tempo vendendo licença do Java e certamente o mundo Open Source contribuiu muito para ela abrir. Agora ela muda o modelo de negócios e também um pouco do modelo produtivo, que vai passar a receber muito mais contribuição e feedback.

Não se pode dizer que todo o grande projeto de software livre ou aberto de grande está mancomunado com o capital, mas me parece um fato que descobriram um novo modo de ganhar dinheiro e estão sim se apropriando do software para esse fim. Essas que as empresas contribuem muito pro open source, mas não é pensando na comunidade, é pensando nos consumidores. Uma coisa é criticar o produto final (o kernel, o gcc, o rpm) e outra é o modo de produção do software, quem paga e quem ganha.

Vale notar que aqui estamos analisando o modo de produção e não o produto final. O produto final pode beneficiar a comunidade e a empresa, mas a forma de produção beneficia basicamente a empresa, porque o produto final é dela (afinal, ela é a provedora do produto e da sua marca).

Hoje rola uma espécie de nova mais valia, onde as pessoas não tem nenhum ví­nculo empregatí­cio com uma empresa mas mesmo assim acabam entrando no ciclo produtivo.

Se até alguns anos a participação da sociedade na linha de produção de uma empresa se limitava a um pequeno feedback da “Central de Atendimento ao Consumidor”, hoje alguém pode ajudar uma empresa sem ao menos estar ciente disso!

O capitalismo mais uma vez está conseguindo pegar aquilo que escapava a sua lógica e transformar em algo a favor da sua lógica. E a sinistrice é que nesse capitalismo abstrato que vivemos o discurso, o conceito, a imagem são muito importantes para a produção de valor. Nessa, essa geração google tem um papel muito importante, pois estão expandindo as fronteiras do capitalismo, inovando novas formas de produção de valor achando que estão abrindo novas possibilidades de mundo, ou seja, achando que estão na resistência.

O capitalismo de hoje não se impõe mais daquela maneira tosca do tempo das primeiras revoluções industriais, onde tudo ficava í s claras, onde toda a apropriação de força de trabalho ficava facilmente identificável. Hoje há todo um consenso e uma forma de apresentação que torna dificí­limo o discernimento. Ninguém percebe mais a apropriação que ele faz das coisas que escapavam í  sua lógica.
6. Conclusões

Este texto, em princí­pio, tenta ser uma crí­tica a duas idéias:

1. Que essa nova inclusão digital está a serviço do social; ela na verdade está a serviço do capital, basta ver quem financia esse tipo de sistema, são empresas que vivem da apropriação capitalista, não é filantropia. Falar que está a serviço da sociedade é lugar-comum no marketing moderno. Mesmo quando as iniciativas partem da esfera pública (projetos governamentais) eles também servem a esse modelo e também como uma função de tapa buraco desse modelo de sociedade ao invés de mudar as relações, até por que uma das suas caracteristicas é legitimá-las.
2. Que essas tecnologias são a chave da mudança social.

——————< -------------------- | | instituições ---> projetos de inclusão digital —> grupos ativistas —> comunidades < ------------| financiadoras e produção cultural | (sociedade civil organizada) | ^ ^ | | | | | --------> criação de produtos |
| —-< ---- lobbystas atuando na | | | captação de mais dinheiro <------------------------- manutenção de um grande | | banco de dados de produção --->—
| cultural em licenças abertas
| |
| |
——–< -------------- indústria cultural <-------------------------------- | | | | ----------------------.> fonte:
http://wiki.sarava.org/Estudos/ApropriacaoCapitalistaRedesSociais

ui don nid nou edukeixion vitoriamario ooioo

a meu deux do xéu vai falar serio assim lá no inferno

Não levo ninguém a sério o bastante para odiá-lo.
Paulo Francis
outra:
Marx escrevendo sobre dinheiro é como padre falando sobre sexo.
post idem
achei num site de frases prontas do paulo freire

electrio

electrio.jpg
This is the THE THEREMIN ELECTRO-ENSEMBLE later called THE
ELECTRIO circa 1932. The thereminist on the left is Leon Theremin’s assistant, Julius Goldberg, playing his RCA theremin with the customized “lightning bolt” art deco, brass nickel chrome antennas. The musician seated in the center of the photo playing the “theremin cello” is the late Leonid Bolotine with whom I studied in New York City in the mid 1960’s. Pianist Gleb Yellin is on the right playing a theremin keyboard. In 1932, the ensemble could be heard on the radio every Monday afternoon at 2:15 over the Columbia Network, KMBC. The picture was taken in the broadcast studio and is from the collection of thereminist David McCornack.

theremin

Here is the Goldberg theremin as it is today, after restoration. It has a new set of hardwood legs, a mahogany finish and a new, nickel plated brass “lightning bolt” pitch antenna made by a master metal worker to match the original. Julius Goldberg was quite a showman and while the distinctive antennas may look striking on stage, the pitch antenna is not practical for precision playing because the configuration of the electromagnetic field emanating from it is as irregular and jagged as the antenna itself. When I record with the instrument, I replace the “lightning bolt” with the standard RCA rod that came with the theremin. The Julius Goldberg RCA theremin can be heard on two cuts from my theremin recording, MANY VOICES.

A close-up of the front of the theremin shows the brass PITCH and VOLUME escutcheons that were part of the 1929 RCA theremin design.

The open cabinet doors reveal the replacement power transformer (the black box in the lower right section of the cabinet). The original RCA transformer blew up on the day of one of John Snyder’s concerts. John was lucky to find an expert who managed to replace it just in time for the performance. Other than the transformer, and one or two small additions made by Julius Goldberg himself, the theremin is entirely original.

As vintage theremins age, their capacitance degenerates as the plates on the old fashioned “trimming condensers” (the three white cards just below the vacuum tubes) begin to wear. This degeneration causes the theremin to lose its high notes. It can be easily corrected by the addition of a few pico farads of capacitance across the circuit. Exactly how much to add must be determined by trial and error. In the photo above, you can see the “alligator clips” that I have added to the trimming condensers to facilitate experimentation.

This is the back of the Julius Goldberg RCA theremin before restoration, legless, and sitting on a low table. People sometimes ask why so many vintage theremins had their legs cut off. If you want to know the answer to this question, just try and get one into the back seat of your car. At some point in the Goldberg theremin’s history, probably in the “Hippy Era” of the late 1960’s, it had been painted a sickly green colour in order to contemporize it. When I acquired the theremin, its previous owner, John Snyder, had stripped off the green paint but had never refinished the cabinet.

Julius Goldberg “kid proofed” his theremin, perhaps following the birth of his children. He added a lock and key to the cabinet doors in order to keep little hands from getting big electric shocks while poking around inside the cabinet. When I restored this instrument, I asked a number of fellow thereminists if they thought I should replace the victorian ormolu fixtures with original vintage RCA doorknobs and everyone felt I should leave them, since they are a part of the instrument’s history.

Although the RCA theremin was originally a mass produced, factory made instrument, they do not all sound the same. Over time, the slow degrading of parts, the addition of different elements, replacements, etc., have contributed to the distinctive voices of these electronic treasures. In a way, this process could be compared to the changes that take place in acoustic instruments as wood, glue and varnish begin to undergo certain natural transformations and repairs and restorations are made sometimes over several centuries.

I affectionately call this theremin “Goldie”. Her voice is exceptionally bright and clear which, to my ears, makes her sound particularly appropriate for certain types of music. If you would like to hear a sample of this sound, click on the link below. This is “Goldie” singing the opening section of Orpheus’ lament, CHE FARO SENZ’ EURIDICE from ORFEO by the Austrian composer, C. W. Gluck (1714 – 1787). This is a short excerpt from the entire piece which can be heard on MANY VOICES.

Quem a paca cara compra Pagará a paca cara!

cego

Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho dos Tucuns

Apreciem, meus leitores,
Uma forte discussão,
Que tive com Zé Pretinho,
Um cantador do sertão,
O qual, no tanger do verso,
Vencia qualquer questão.

Um dia, determinei
A sair do Quixadá ââ?¬â?
Uma das belas cidades
Do estado do Ceará.
Fui até o Piauí­,
Ver os cantores de lá.

Me hospedei na Pimenteira
Depois em Alagoinha;
Cantei no Campo Maior,
No Angico e na Baixinha.
De lá eu tive um convite
Para cantar na Varzinha.

Quando cheguei na Varzinha,
Foi de manhã, bem cedinho;
Então, o dono da casa
Me perguntou sem carinho:
ââ?¬â? Cego, você não tem medo
Da fama do Zé Pretinho?

Eu lhe disse: ââ?¬â? Não, senhor,
Mas da verdade eu não zombo!
Mande chamar esse preto,
Que eu quero dar-lhe um tombo �
Ele chegando, um de nós
Hoje há de arder o lombo!

O dono da casa disse:
ââ?¬â? Zé Preto, pelo comum,
Dá em dez ou vinte cegos ââ?¬â?
Quanto mais sendo só um!
Mando já ao Tucumanzeiro
Chamar o Zé do Tucum.

Chamando um dos filhos, disse
Meu filho, você vá já
Dizer ao José Pretinho
Que desculpe eu não ir lá ââ?¬â?
E que ele, como sem falta,
Hoje í  noite venha cá.

Em casa do tal Pretinho,
Foi chegando o portador
E dizendo: ââ?¬â? Lá em casa
Tem um cego cantador
E meu pai mandou dizer-lhe
Que vá tirar-lhe o calor!

Zé Pretinho respondeu:
ââ?¬â? Bom amigo é quem avisa!
Menino, dizei ao cego
Que vá tirando a camisa,
Mande benzer logo o lombo,
Porque vou dar-lhe uma pisa!

Tudo zombava de mim
E eu ainda não sabia
Se o tal do Zé Pretinho
Vinha para a cantoria.
As cinco horas da tarde,
Chegou a cavalaria.

O preto vinha na frente,
Todo vestido de branco,
Seu cavalo encapotado,
Com o passo muito franco.
Riscaram duma só vez,
Todos no primeiro arranco

Saudaram o dono da casa
Todos com muita alegria,
E o velhote, satisfeito,
Folgava alegre e sorria.
Vou dar o nome do povo
Que veio pra cantoria:

Vieram o capitão Duda
Tonheiro, Pedro Galvão,
Augusto Antônio Feitosa
Francisco, Manoel Simão
Senhor José Campineiro
Tadeu e Pedro Aragão.

O José das Cabaceiras
E o senhor Manoel Casado,
Chico Lopes, Pedro Rosa
E o Manoel Bronzeado,
Antônio Lopes de Aquino
E um tal de Pé-Furado.

Amadeu, Fábio Fernandes,
Samuel e Jeremias,
O senhor Manoel Tomás,
Gonçalo, João Ananias
E veio o vigário velho,
Cura de Três Freguesias.

Foi dona Merandolina,
Do grêmio das professoras,
Levando suas duas filhas,
Bonitas, encantadoras �
Essas duas eram da igreja
As mais exí­mias cantoras.

Foi também Pedro Martins,
Alfredo e José Segundo,
Senhor Francisco Palmeira,
João Sampaio e Facundo
E um grupo de rapazes
Do batalhão vagabundo.

Levaram o negro pra sala
E depois para a cozinha;
Lhe ofereceram um jantar
De doce, queijo e galinha �
Para mim, veio um café
E uma magra bolachinha.

Depois, trouxeram o negro,
Colocaram no salão,
Assentado num sofá,
Com a viola na mão,
Junto duma escarradeira,
Para não cuspir no chão.

Ele tirou a viola
De um saco novo de chita,
E cuja viola estava
Toda enfeitada de fita.
Ouvi as moças dizendo:
� Oh, que viola bonita!

Então, para eu me sentar,
Botaram um pobre caixão,
Já velho, desmantelado,
Desses que vêm com sabão.
Eu sentei-me, ele vergou
E me deu um beliscão.

Eu tirei a rabequinha
De um pobre saco de meia,
Um pouco desconfiado
Por estar em terra alheia.
Aí­ umas moças disseram:
� Meu Deus, que rabeca feia!

Uma disse a Zé Pretinho:
ââ?¬â? A roupa do cego é suja!
Botem três guardas na porta,
Para que ele não fuja
Cego feio, assim de óculos,
Só parece uma coruja!

E disse o capitão Duda,
Como homem muito sensato:
� Vamos fazer uma bolsa!
Botem dinheiro no prato �
Que é o mesmo que botar
Manteiga em venta de gato!

Disse mais: � Eu quero ver
Pretinho espalhar os pés!
E para os dois contendores
Tirei setenta mil réis,
Mas vou completar oitenta �
Da minha parte, dou dez!

Me disse o capitão Duda:
ââ?¬â? Cego você não estranha!
Este dinheiro do prato,
Eu vou lhe dizer quem ganha:
Só pertence ao vencedor ââ?¬â?
Nada leva quem apanha!

E nisto as moças disseram:
ââ?¬â? Já tem oitenta mil réis,
Porque o bom capitão Duda,
Da Parte dele, deu dez. . .
Se acostaram a Zé Pretinho,
Botaram mais três anéis.

Então disse Zé Pretinho:
ââ?¬â? De perder não tenho medo!
Esse cego apanha logo �
Falo sem pedir segredo!
Como tenho isto por certo,
Vou pondo os anéis no dedo …

Afinemos o instrumento,
Entremos na discussão!
O meu guia disse pra mim:
ââ?¬â? O negro parece o Cão!
Tenha cuidado com ele,
Quando entrarem na questão!

Então eu disse: ââ?¬â? Seu Zé,
Sei que o senhor tem ciência ââ?¬â?
Me parece que é dotado
Da Divina Providência!
Vamos saudar este povo,
Com sua justa excelência!

PRETINHO ââ?¬â? Sai daí­, cego amarelo,
Cor de couro de toucinho!
Um cego da tua forma
Chama-se abusa-vizinho �
Aonde eu botar os pés,
Cego não bota o focinho!

CEGO – Já vi que seu Zé Pretinho
É um homem sem ação ââ?¬â?
Como se maltrata o outro
Sem haver alteração?!…
Eu pensava que o senhor
Tinha outra educação!

P. � Esse cego bruto, hoje,
Apanha, que fica roxo!
Cara de pão de cruzado,
Testa de carneiro mocho �
Cego, tu és o bichinho,
Que comendo vira o cocho!

C. ââ?¬â? Seu José, o seu cantar
Merece ricos fulgores;
Merece ganhar na saia
Rosas e trovas de amores �
Mais tarde, as moças lhe dão
Bonitas palmas de flores!

P. ââ?¬â? Cego, eu creio que tu és
Da raça do sapo sunga!
Cego não adora a Deus ââ?¬â?
O deus do cego é calunga!
Aonde os homens conversam,
O cego chega e resmunga!

C. ââ?¬â? Zé Preto, não me aborreço
Com teu cantar tão ruim!
Um homem que canta sério
Não trabalha verso assim ââ?¬â?
Tirando as faltas que tem,
Botando em cima de mim!

P. � Cala-te, cego ruim!
Cego aqui não faz figura!
Cego, quando abre a boca,
É uma mentira,pura ââ?¬â?
O cego, quanto mais mente,
Ainda mais sustenta e jura!

C. � Esse negro foi escravo,
Por isso é tão positivo!
Quer ser, na sala de branco,
Exagerado e altivo �
Negro da canela seca
Todo ele foi cativo!

P. � Eu te dou uma surra
De cipó de urtiga,
Te furo a barriga,
Mais tarde tu urra!
Hoje, o cego esturra,
Pedindo socorro �
Sai dizendo: � Eu morro!
Meu Deus, que fadiga!
Por uma intriga,
Eu de medo corro!

C. � Se eu der um tapa
No negro de fama,
Ele come lama,
Dizendo que é papa!
Eu rompo-lhe o mapa,
Lhe rompo de espora;
O negro hoje chora,
Com febre e com í­ngua ââ?¬â?
Eu deixo-lhe a lí­ngua
Com um palmo de fora!

P. ââ?¬â?No sertão, peguei
Cego malcriado �
Danei-lhe o machado,
Caiu, eu sangrei!
O couro eu tirei
Em regra de escala:
Espichei na sala,
Puxei para um beco
E, depois de seco,
Fiz mais de uma mala!

C. ââ?¬â?Negro, és monturo,
Molambo rasgado,
Cachimbo apagado,
Recanto de muro!
Negro sem futuro,
Perna de tição,
Boca de porão,
Beiço de gamela,
Venta de moela,
Moleque ladrão!

P. � Vejo a coisa ruim �
O cego está danado!
Cante moderado,
Que não quero assim!
Olhe para mim,
Que sou verdadeiro,
Sou bom companheiro �
Canto sem maldade
E quero a metade,
Cego, do dinheiro!

C. � Nem que o negro seque
A engolideira,
Peça a noite inteira
Que eu não lhe abeque ââ?¬â?
Mas esse moleque
Hoje dá pinote!
Boca de bispote,
Vento de boeiro,
Tu queres dinheiro?
Eu te dou chicote!

P. � Cante mais moderno,
Perfeito e bonito,
Como tenho escrito
Cá no meu caderno!
Sou seu subalterno,
Embora estranho �
Creio que apanho
E não dou um caldo…
Lhe peço, Aderaldo,
Que reparta o ganho!

C. ââ?¬â? Negro é raiz
Que apodreceu,
Casco de judeu!
Moleque infeliz,
Vai pra teu paí­s,
Se não eu te surro,
Te dou até de murro,
Te tiro o regalo �
Cara de cavalo,
Cabeça de burro!
P. � Fale de outro jeito,
Com melhor agrado �
Seja delicado,
Cante mais perfeito!
Olhe, eu não aceito
Tanto desespero!
Cantemos maneiro,
Com verso capaz �
Façamos a paz
E parto o dinheiro!

C. � Negro careteiro,
Eu te rasgo a giba,
Cara de gariba,
Pajé feiticeiro!
Queres o dinheiro,
Barriga de angu,
Barba de guandu,
Camisa de saia,
Te deixo na praia,
Escovando urubu!

P. – Eu vou mudar de toada,
Pra uma que mete medo �
Nunca encontrei cantador
Que desmanchasse este enredo:
É um dedo, é um dado, é um dia,
É um dia, é um dado, é um dedo!

C.ââ?¬â? Zé Preto, esse teu enredo
Te serve de zombaria!
Tu hoje cegas de raiva
E o Diabo será teu guia ââ?¬â?
É um dia, é um dedo, é um dado,
É um dado, é um dedo, é um dia!

P. � Cego, respondeste bem,
Como quem fosse estudado!
Eu também, da minha parte,
Canto versos aprumado �
É um dado, é um dia, é um dedo,
É um dedo, é um dia, é um dado!

C. ââ?¬â? Vamos lá, seu Zé Pretinho,
Porque eu já perdi o medo:
Sou bravo como um leão,
Sou forte como um penedo
É um dedo, é um dado, é um dia,
É um dia, é um dado, é um dedo!

P. � Cego, agora puxa uma
Das tuas belas toadas,
Para ver se essas moças
Dão algumas gargalhadas ââ?¬â?
Quase todo o povo ri,
Só as moças ‘tão caladas!

C.ââ?¬â? Amigo José Pretinho,
Eu nem sei o que será
De você depois da luta ââ?¬â?
Você vencido já está!
Quem a paca cara compra
Paca cara pagará!

P. � Cego, eu estou apertado,
Que só um pinto no ovo!
Estás cantando aprumado
E satisfazendo o povo �
Mas esse tema da paca,
Por favor, diga de novo!

C. � Disse uma vez, digo dez �
No cantar não tenho pompa!
Presentemente, não acho
Quem o meu mapa me rompa �
Paca cara pagará,
Quem a paca cara compra!

P. ââ?¬â? Cego, teu peito é de aço ââ?¬â?
Foi bom ferreiro que fez �
Pensei que cego não tinha
No verso tal rapidez!
Cego, se não é maçada,
Repete a paca outra vez!

C. � Arre! Que tanta pergunta
Desse preto capivara!
Não há quem cuspa pra cima,
Que não lhe caia na cara ââ?¬â?
Quem a paca cara compra
Pagará a paca cara!

P. ââ?¬â? Agora, cego, me ouça:
Cantarei a paca já ââ?¬â?
Tema assim é um borrego
No bico de um carcará!
Quem a caca cara compra,
Caca caca cacará!

Houve um trovão de risadas,
Pelo verso do Pretinho.
Capitão Duda lhe disse
ââ?¬â? Arreda pra lá, negrinho!
Vai descansar o juizo,
Que o cego canta sozinho!

Ficou vaiado o pretinho
E eu lhe disse: ââ?¬â? Me ouça,
José: quem canta comigo
Pega devagar na louça!
Agora, o amigo entregue
O anel de cada moça!

Me desculpe, Zé Pretinho,
Se não cantei a teu gosto!
Negro não tem pé, tem gancho;
Tem cara, mas não tem rosto ââ?¬â?
Negro na sala dos brancos
Só serve pra dar desgosto!

Quando eu fiz estes versos,
Com a minha rabequinha,
Busquei o negro na sala,
Mas já estava na cozinha ââ?¬â?
De volta, queria entrar
Na porta da camarinha!

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AI! SE SÃ?Å SSE!… (Por Cordel do Fogo Encantado)
Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulí­ce?
E se eu me arriminasse
e se tu insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caí­sse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

Zé da Luz