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Quais são as máscaras e máquinas que a dominação capitalista veste? Aonde elas estão?

A dominação cultural é um efeito de longa data, que se move de forma subterrânea. Antes mesmo do capitalismo, já existiam os problemas relativos í s raças, í s castas, ao gênero, determinantes e perpetuados na formação da sociedade tal qual ela é hoje. Valores que são introjetados e, conscientemente ou não, reproduzidos.

O estado é, sem dúvida, um dos principais meios de dominação polí­tica do capitalismo, através de exércitos, polí­cias, escolas, legislaturas, geração de empregos, construções faraônicas, cooptação de ativistas e militantes, manutenção de sistemas corporativos etc. Obviamente este não é o único, nem o maior ou mais eficiente destes meios, que também é fortificado por instituições como as igrejas e a famí­lia, autônomas em relação ao primeiro, com seus próprios mecanismos de decisão e controle, onde cabe ao patriarcalismo gestionar as normas entre os macro-sistemas.

Ubí­quo, o capital neoliberal global é conjurado em entidades como a Organização Mundial para a Propriedade Intelectual (OMPI), a Organização Mundial do Comércio (OMC), os Tratados de Livre Comércio (TLC), como a ALCA (írea de Livre Comércio das Américas), o Convênio de Diversidade Biológica ou a CNTBio, no Brasil, dentre muitas outras.

Os meios de comunicação de massa são também parte constituitiva do poder capitalista neoliberal. Estes detêm hegemonia na produção, manipulação, circulação e difusão das informações. Têm o poder de determinar a opinião pública e, quando em discordância com o estado, subordina-o a seus próprios interesses. Constroem as regras do jogo. E o jogo. Têm autonomia sagrada de funcionamento e funcionam de acordo com o lucro e poder. Operam a dominação a partir de duas coordenadas: a cultural, na reprodução dos valores, modos de vida, preconceitos; e a polí­tica, cotidianamente alterada através da informação.

Atualmente o capital, tendo quase exaurido as possibilidades para uma expansão colonial geográfica, bem como ampliadas as limitações ao espaço virtual, apresenta sua invasão de uma nova fronteira – o espaço molecular orgânico vital. O capitalismo pós-industrial, como o próprio nome sugere, já não possui mais bens materiais para se apropriar, mas um punhado de outras coisas: os bens imateriais. O conhecimento, a transmissão dos mesmos, as expressões artí­sticas e culturais e até mesmo a vida se converteram em matéria desejável e apropriável. Esta apropriação também tira dos nossos corpos o direito í  escolha reprodutiva, coibe-nos com sistemas alimentares industrializados genocidas, prende-nos a meios de transportes automotores, varre-nos a apartamentos em grandes metrópoles ou salas em subúrbios de pequenas cidades. E assistimos sentados í  espetacular apropriação do conhecimento comum.

Investigar quais os diferentes formatos de apropriações capitalistas, sobre quais termos, sob quais circustâncias e quais as reais consequências destas. Táticas de resistência (sobrevivência) consistentes só poderão se formar quando questões culturais forem trabalhadas ao lado das questões polí­ticas, por não se tratarem de diferentes naturezas. Será preciso, ainda que precariamente, desdobrar esta ampla dominação, para conhecer pontos fortes e fracos e traçar estratégias de uma convivência em busca de autonomia, não só de sistemas estatais, mas de toda a complexa malha que mobiliza a atual formação do Capital e suas diversas táticas de apropriação.

consideramos essencial que se aprofunde esta discussão de forma inesgotável

Wanderllyne Selva, cartas vindas do Acre, 18 de outubro de 2004